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As necessidades e gratificações proporcionadas pelo cinema e a

2. QUADRO TEÓRICO

2.3 Audiência, apreciação e satisfação no contexto dos estudos sobre televisão

2.3.1 A escolha, apreciação e satisfação do espectador

2.3.1.6 As necessidades e gratificações proporcionadas pelo cinema e a

Propomos no âmbito deste capítulo fazer referência a algumas teorias sobre visionamento de televisão e cinema. Para tal faremos referência a propostas que equacionam as necessidades e gratificações dos espectadores segundo Friedson (1952), Klapper (1960), McQuail (1972), Katz, Gurevitch e Hass (1973), Lull (1990) e Plantinga (1994).

Os estudos sobre usos e gratificações tem o objectivo de identificar o que os espectadores procuram satisfazer quando compram ou vêm media. Katz (1959) descreve este novo ponto de vista do seguinte modo:

Um factor que determina a experiência de ver TV ou cinema e toda a avaliação que o espectador vai fazer do filme reside nas motivações que levam uma pessoa a comprar

Tabela 3. Quota de audiência dos quatro canais hertzianos que emitem em sinal aberto e audiência dos outros canais da TV por Cabo. Fonte Marktest.

Nós devemos prestar menos atenção ao que os meios de

comunicação fazem às pessoas e mais atenção ao que as pessoas fazem com os meios de comunicação.

um bilhete para um determinado filme em vez de outro, ou ficar e ver um programa em vez de outro.

Quando uma pessoa deseja coisas pelas quais está disposta a despender esforços ou dinheiro diz-se que esta pessoa está motivada. O desejo por sua vez deriva das necessidades humanas.

Maslow (1970) propõe não só uma listagem de necessidades humanas bem como uma hierarquia, que as coloca em cinco níveis de relevância. (ver figura 14)

Maslow sustenta a tese de que um indivíduo experimenta numerosas necessidades que não têm todas a mesma importância, além disso Maslow defende que as necessidades mais importantes são as primeiras a satisfazer e que uma necessidade deixa de existir assim que é satisfeita.

Rosengren (1989) baseia-se na pirâmide das necessidades de Maslow e propõe uma adaptação porque segundo ele as necessidades para levarem a alguma acção têm que ser compreendidas pela pessoa como problemas. Além disso algumas soluções para os problemas também têm de ser percepcionadas como fonte de satisfação.

Vamos ver agora como é que as necessidades humanas se aplicam ao uso da televisão e cinema.

A aplicação da teoria das necessidades ao uso da televisão significa que a percepção dos problemas e a antecipação de possíveis soluções levam ao uso de meios de comunicação social por parte do espectador.

Existem três níveis de estudos no âmbito da teoria das necessidades e gratificações sobre televisão. A um nível mais geral procura-se resposta para as causas que levam os espectadores a consumirem televisão e não outros tipos de média. A um nível mais concreto do estudo de audiências de televisão a questão é identificar as causas que levam os espectadores a preferir ver uns programas / canais em vez de outros. E por fim a um nível ainda mais concreto o objectivo do estudo é detectar as partes específicas e pontuais dos programas que proporcionam satisfação ao espectador. Comecemos por encontrar resposta para o que leva a consumir televisão e não outros meios de comunicação?

Segundo Denis Mcquail (1994) não existe uma razão única para todos os

espectadores usarem a televisão. A razão porque as pessoas vêm televisão depende do estado de desenvolvimento intelectual do espectador, do respectivo passado do ponto de vista da classe social, raça, religião, etc. Além disso as personalidades do espectador podem influenciar as respectivas necessidades pelo que por exemplo uma pessoa racional e curiosa pode satisfazer-se com um documentário, enquanto que uma pessoa extrovertida e exibicionista pode satisfazer-se com um concurso de perguntas e respostas.

Além das diferenças a nível do espectador a forma como se vê filmes no cinema e na televisão condiciona profundamente o uso que o espectador dá ao filme.

A sala de cinema tem algumas características próprias que a distinguem do contexto onde se visiona televisão como sejam:

- A sala está às escuras.

- Os espectadores estão sentados de forma a que a parte central do seu campo de visão seja ocupada pelo ecrã.

- Os outros espectadores também estão no escuro, e não é socialmente aceite que se façam notar durante a projecção do filme.

- O único local onde há luz é no ecrã. - O único som que se ouve é o do filme.

Todas estas características da sala de cinema exercem um enorme condicionamento sobre o espectador. Porque ele só vê e ouve o que o filme lhe mostra e é restringida ao máximo a relação entre os espectadores.

O voyeurismo está ligado ao exibicionismo quando quem vê também é visto, como é o caso do teatro ou da opera. No entanto na sala de cinema se o actor nunca olha o público, é como se nunca tivesse consentido ser visto.

Este factor é ainda mais forte no caso da televisão quando vista individualmente porque nestas condições o espectador vê e tem a certeza que não é visto. No cinema ainda existe a hipótese de o espectador ser visto na sala por outros espectadores enquanto as luzes não se apagam.

Em 1952 Friedson publicou um livro com o título “an audience and its taste: a study of 79 children” onde detectou que o uso do cinema satisfazia necessidades de

convívio social uma vez que existiam espaços específicos para certo tipo de relações e para certos grupos. A conclusão de Friedson (1950). foi que as crianças vêm

televisão com as respectivas famílias, lêem livros de banda desenhada sozinhos e vão ao cinema com o seu grupo de amigos. Quando começam a crescer o cinema

aumenta de importância como o local onde eles podem estar longe da família e sozinhos com os amigos.

Klapper (1960) descreveu o uso dos media por os consumidores e as duas ultimas razões confirmam a tese de Friedson. Os motivos identificados por Klapper foram que os media providenciavam relaxamento, estimulavam a imaginação,

desempenham uma função semelhante à da missa e proporcionavam um terreno comum para confraternização social.

Katz, Gurevitch e Hass (1973, citado por Fiske, 1993, p37) fizeram uma lista ordenada do meio de comunicação preferido para satisfazer sete tipos diferentes de necessidades. Os meios de comunicação considerados foram os livros, cinema televisão, rádio e jornais.

Para tal fizeram uma pesquisa de larga escala junto do público para descobrirem por que razão as pessoas optavam por um determinado meio em detrimento dos outros.

A tendência das pessoas era a de utilizarem os jornais, a rádio e a televisão para se ligarem à sociedade, usando os livros e o cinema para se evadirem da realidade durante algum tempo.

Além disso a televisão aparecia como meio preferido para fortalecer as ligações com a família uma vez que era consumida no contexto familiar e na presença de todos os elementos do agregado familiar.

Catorze anos mais tarde do estudo de Katz, Gurevitch e Hass, sobre os motivos do uso dos media McQuail (1987 p.73) detectou que o uso da televisão alterou-se e as necessidades passaram a estar ordenadas da seguinte forma.

1º A satisfação de necessidades de informação. 2º Reforço da identidade pessoal.

3º Integração e interacção social. 4º Entretenimento.

Lull (1990) baseia a sua explicação sobre as necessidades que a televisão satisfaz baseado em pesquisas etnográficas e que são conhecidas por usos estruturais da televisão.

Lull (1990, p.35) define nos seguintes termos o que quer dizer com uso estrutural da televisão:

A televisão é uma companhia para acompanhar rotinas feitas em casa e é usada para criar um ruído de fundo no lar.

Necessidades

1º 2º 3º 4º 5º

Necessidades pessoais

Compreensão de si Livro Jornal Rádio Televisão Cinema

Prazer Cinema Televisão Livro Rádio Jornal

Escapismo Livro Cinema Televisão Rádio Jornal

Necessidades sociais

Conhecimento do mundo Jornal Rádio Televisão Livro Cinema

Autoconfiança, estabilidade, amor-próprio Jornal Rádio Televisão Livro Cinema

Fortalecimento das ligações com a família Televisão Cinema Rádio Jornal Livro

Fortalecimento das ligações com os amigos Cinema Televisão Jornal Rádio Livro

Ordem de preferência do meio para satisfazer as necessidades.

Este conceito de uso estrutural da televisão é semelhante ao que McQuail define como necessidades de integração e interacção social no entanto a grande inovação proposta por Lull em relação às funções propostas por McQuail é que o primeiro sugere que a televisão funciona como um regulador do comportamento do espectador. Se esta tese estiver certa, actividades como a escolha das horas das refeições, ou os períodos de conversação entre os membros da família podem ser condicionados pela programação televisiva.

Outra função que Lull propõe para a televisão é a do uso relacional. Esta função designa a capacidade da televisão de facilitar a comunicação entre os espectadores e proporcionar conhecimento sobre saberes sociais.

A televisão facilita a comunicação dos espectadores porque lhe transmite saberes e acontecimentos da vida real que os espectadores nunca viveram na realidade.

Por outro lado pelo facto de os assuntos e temas referidos na televisão serem comuns a todos os espectadores permite que seja possível aos espectadores falarem sobre um tema de conhecimento comum. A esta função Lull designa por “criar uma agenda para conversar”41 (Lull, 1990, p.37)

Segundo este autor a televisão também tem a capacidade de unir ou afastar as

pessoas no sentido que junta no espaço e no tempo duas ou mais pessoas a partilhar o mesmo texto. Por outro lado quando a televisão é vista isoladamente pode servir para afastar o espectador dos outros e deste modo evitar o mundo real.

Em relação à função de aprendizagem social proporcionada pela televisão Lull usa os mesmos argumentos de McQuail considerando que a TV ajuda a tomar decisões, modelar o comportamento, aprender a resolver problemas e distribuir a informação. Lull acrescenta dois factores novos nesta categoria funcional. O primeiro defende que a TV promove a auto aprendizagem que pode em certos casos substituir a escola. O segundo é de que a TV legitima e reforça os valores pessoais do espectador

quando mostra alguém comportar-se de igual modo como o espectador se iria portar se estive envolvido na situação.

Outra função proposta por Lull e que McQuail não considerou é a capacidade de a televisão fornecer um substituto de algo ou alguém que o espectador perdeu. O

exemplo dado é o da criança que perdeu o pai e usa um determinado personagem da televisão que representa o papel de pai para preencher a falta da relação real.