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2. QUADRO TEÓRICO

2.2 Definição do objecto de comunicação “programa de televisão narrativo”

2.2.7 Os géneros dos programas de televisão

2.2.7.1 As origens históricas do Reality show

O primeiro texto audiovisual que estava na linha dos programas da reality show foi o documentário NANOOK OF THE NORTH realizado por Flaherty (1884-1951) em 1922 onde se pretendia mostrar a realidade da vida de um esquimó tal e qual ela era. Este autor pretendia respeitar os tempos que as acções demoravam e mostrar os locais reais onde a acção decorria.

Esta é uma afirmação polémica, mas que por isso carece primeiro de uma definição do cinema directo e depois de uma comparação formal entre o documentário de cinema directo e o Big Brother, sendo que as intenções dos autores dos dois

programas não têm comparação, uma vez que os documentaristas procuram registar o real sem interferir e os produtores dos reality show procuram captar a atenção e interesse do maior número possível de espectadores.

Vamos começar por destinguir os diferentes tipos de documentário feitos ao longo da história do cinema e da televisão para situar o cinema directo.

Um documentário audiovisual pode distinguir-se dos outros textos audiovisuais porque filma o real, é verdadeiro e autentico, é um documento visual e sonoro do passado, não tem caracter de urgência, frequentemente assume um ponto de vista, a

35 É uma série de ficção do género comédia e emitida semanalmente. A intriga passa-se em torno de uma família ou grupo de amigos, em 4 ou 5 cenários. As personagens mantêm as suas características e caracter ao longo dos episódios. O que se altera são os conflitos interpessoais que nascem entre as

primazia é dada à articulação das imagens, tem quase sempre uma estrutura

narrativa, acaba com uma conclusão analítica e racional e o que é filmado existe para lá do filme.

Dentro dos limites desta definição é ainda possível destinguir três formas diferentes de documentário audiovisual. São eles o documentário de exposição, o cinema directo e o cinema verdade.

O documentário de exposição nasce da escola de Griegson, baseia-se numa estratégia de explicação e tem como traços mais característicos o facto de basear-se numa voz off que dá sentido às imagens que são usadas para comprovar o texto. Os temas escolhidos baseiam-se no pressuposto ético de que a missão do cineasta não é filmar paraísos exóticos mas sim retractar os problemas da sociedade onde vivem e por isso estes documentários fazem um levantamento de questões sociais, apontam soluções para os problemas e usam depoimentos de profissionais.

O documentário de exposição pode ser narrativisado e dramatizado mas sem transgredir as seguintes regras:

- Quem se filma são as pessoas reais e personagens reais nunca actores.

- A vitima do problema social, deve ser o protagonista do documentário social. O Cinema directo adopta uma estratégia da contemplação em vez da estratégia da explicação usada pelo documentário de exposição.

Neste tipo de documentário o autor não interfere no que filma sendo que quem é filmado autoriza e sabe que está a ser filmado, o autor não fala nem faz perguntas e a equipa técnica habitua as pessoas filmadas à presença da câmara.

O cinema directo é semelhante aos filmes narrativos de ficção porque do ponto de vista formal criam a ilusão do real e deixam a técnica invisível (transparência). Além disso em vez de usarem uma lógica temática como os documentários de exposição o cinema directo usa uma lógica narrativa para organizar a informação.

Os autores mais conhecidos do cinema directo são Robert Drew, Albert Maysles, Frederick Wiseman, D.A. Penneabaker e Richard Leacock.

O ultimo tipo de documentário é o cinema verdade, que teve origem no cineasta russo Dziga Vertov (1896 - 1954) e que se caracteriza por recusar a ficção, não omitir a interferência do cineasta e da maquinaria além de que assume e mostra que o autor interfere na acção porque se baseia no princípio de que só há conhecimento quando há um sujeito que “estuda” um objecto.

Em alguns textos fala-se de um tipo de documentário reflexivo mas que do ponto de vista concreto pode considerar-se que é outro nome para o cinema verdade, uma vez que o autor assume-se e aparece no interior do filme a mostrar o seu ponto de vista. Definimos o cinema directo, vamos agora apresentar alguns argumentos para justificar as origens dos reality show neste tipo de documentos etnográficos.

Salientamos novamente que a comparação está ao nível do objecto e não do ponto de vista da intenção e objectivo dos autores destes dois tipos de textos audiovisuais. Uma das principais semelhanças entre o cinema directo e os reality show é que nem num nem noutro género existe a presença de uma voz off autoritária que explica as acções, não existem entrevistas e depoimentos e os acontecimentos são registados tal como acontecem sem planeamento, ensaio e interferência da mise-en-scène.

A comparação que fizemos refere-se ao reality show “puro”, uma vez que as diversas formatos televisivos do reality show usam diferentes formatos de programa ao longo do dia em que alguns são semelhantes ao cinema directo (Big Brother compacto), mas outros são autênticos talk shows (Big Brother directo) e outros são semelhantes aos serviços de informação (Big Brother extra).

Outro programa que de certo modo está associado ao conceito de reality show é o candid camera, conhecido em Portugal por apanhados e que filma pessoas em situações embaraçosas sem que elas saibam que estão a ser filmadas. Segundo Rowen (2000) o candid camera na televisão teve início na estação CBS em 1948, logo no início das emissões e surgiu influenciado por um programa radiofónico de Allen Funt em que este gravava conversas com microfone escondido.

Rowen refere também que o primeiro reality show foi produzido nos estados unidos pela PBS em 1973 e tinha o título An American Family que era catalogada na altura como série documental e que consistia em filmar a casa da família Loud durante sete meses, período durante o qual foram filmadas 300 horas de material das quais foram exibidas apenas 12 e que teve uma audiência de 10 milhões de espectadores. A

família Loud na altura era composta por um casal e um filho e estava a passar por um processo de divorcio.

No final da década de 90 do século XX os reality show introduziram muitas modificações em relação aos documentário designados por cinema directo. A mais importante reside no objectivo do autor do reality show não pretender registar a realidade sem interferência mas sim obter altas audiências com baixos custos de produção.

Outra modificação em relação ao documentário em cinema directo foi a emissão de imagens em directo e ao vivo das pessoas que estavam a ser observadas. Uma terceira diferença é a interactividade no sentido de permitir ao espectador através de votação telefónica, s.m.s. e internet poder votar nos jogadores que devem sair semanalmente do programa.

Os programas que actualmente estão em exibição e se encontram abrangidos pelo conceito reality show são numerosos e com base em desafios diferentes propostos aos jogadores. A página da internet da Reality Television show directory em maio de 2003 referia 158 programas de televisão que já foram ou estão actualmente a ser exibidos nos estados unidos. A mesma fonte indica que os reality show exibidos em Inglaterra foram quinze.

Em Portugal a primeira emissão do Big brother foi feita em 3 de setembro de 2000 no canal TVI. Essa edição e duas outras subsequentes foram feitas com doze concorrentes desconhecidos que permaneciam fechados numa casa e vistos na sua vida quotidiana 24 horas por dia em directo e diferido. O canal SIC emitiu outros reality show como os Acorrentados, o Bar da TV e a Casa do Toy, mas a projecção pública destes programas não atingiu os níveis do Big Brother.