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As Principais Descobertas sobre a Estrutura Tributária Brasileira dados da

CAPÍTULO 2 A ESTRUTURA DA DESIGUALDADE TRIBUTÁRIA

2.1 EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS SOBRE A ESSÊNCIA DO STB

2.1.4 Concentração de Renda e Capital versus Estrutura Tributária Brasileira

2.1.4.2 A Estrutura Tributária Brasileira

2.1.4.2.1 As Principais Descobertas sobre a Estrutura Tributária Brasileira dados da

Como anteriormente mencionado, após a liberação por parte da RFB das tabelas sobre as declarações do imposto sobre a renda das pessoas físicas, passaram a surgir relevantes e reveladores estudos, que, para além da evidenciação da desigualdade e concentração de renda antepostas, esforçaram-se em tentar entender a estrutura tributária causadora de tais dissemelhanças.

2.1.4.2.1.1 Iniquidades de Renda por Gênero

Um desses estudos foi o de Lettieri (2017), uma vez que este descobriu “uma questão de gênero” (p.122) desvelada por meio da compreensão dos dados da DIRPF, em especial sobre o ano-calendário 2014, sobre o qual se debruçou. Em 2014, 58% do total de declarantes foram do sexo masculino, auferindo 64% do total da renda fiscal, assim, às mulheres restaram apenas 36% do total de rendimentos declarados, mesmo estas representando 42% da população declarante do tributo. Conforme Lettieri (2014), as mulheres receberam 79% da média de rendimento dos homens, os quais respectivamente foram: R$: 75.195,32 e R$: 95.5520,44. Intrigou o pesquisador o fato de que, embora os homens possuíssem rendimentos tributáveis na ordem de 1,5 vezes a mais do que as mulheres, a isenção que beneficiou as pessoas do sexo masculino foi 2,2 vezes maior do que as pessoas do sexo oposto, assim, no total, o rendimento tributável das mulheres no ano de 2014 ficou em torno de 14,4% maior do que o dos homens, ainda que estes tenham renda superior a 20% se comparados com elas.

Gráfico 18 - Estrutura dos rendimentos declarados no ano-calendário de 2014 – por gênero

Fonte: Lettieri (2017, p.124), por meio dos dados da RFB: Grandes Números das Declarações do Imposto de Renda das Pessoas Físicas, ano-calendário 2014, exercício 2015.

De modo a poder verificar se tais médias vêm se mantendo, extraíram-se, da mesma base de dados utilizada pelo autor acima referenciado, as informações prestadas pela RFB referentes ao ano-calendário 2016, exercício 2017, assim expostas:

Tabela 11- Resumo das declarações por gênero, ano-calendário de 2016

Gênero Qtde Declarantes Rendim. Tribut. R$ bilhões Rendim. Tribut. Exclus. R$ bilhões Rendim. Isentos. R$ bilhões Rendim. Total. R$ bilhões Masculino 16.081.452 966,06 187,29 567,88 1.721,24 Feminino 11.915.759 653,68 94,00 276,02 1.023,70 NI / Inválido 6.436 0,35 0,04 0,14 0,53 Total 28.003.647 1.620,10 281,32 844,05 2.745,47

Fonte: Elaboração do autor a partir dos dados da RFB (Grandes Números das Declarações do Imposto de Renda das Pessoas Físicas. Ano-calendário 2016, exercício 2017).

Em relação às proporções de declarantes por gênero, não houve alteração significativa, permanecendo praticamente os mesmos percentuais encontrados por Lettieri (2017) para o ano-calendário de 2014. Os rendimentos totais do ano- calendário de 2016 foram representados pela participação de 62,7% para os homens e 37,27% para as mulheres, demonstrando uma aparente redução na desigualdade entre gêneros se comparado com o ano-calendário de 2014. As mulheres, que antes

recebiam em média o equivalente a 78,72% dos salários dos homens, em 2016 receberam 80,27%, uma diminuição de disparidade na ordem de 1,97%. No ano- calendário de 2016, a RFB possibilitou a avaliação por gênero para os rendimentos acima de 320 salários mínimos mensais, momento em que se percebeu a presença de 232 mulheres frente a 1438 homens. Para poder apontar ou contestar uma probabilidade de tendência da redução nas desigualdades de renda por gênero, compararam-se as médias da participação de cada gênero dos anos de 2014 e 2016, com o ano de 2007, limiar de informações prestadas pela RFB. No ano-calendário de 2007, a participação das mulheres, na média da renda total anual, foi de apenas 73,4% do rendimento dos declarantes do sexo masculino, indicando que as mulheres passaram a receber 9,36% a mais em relação a essa mesma média encontrada para o ano-calendário de 2016. Não há nada que comprove que essa tendência irá se confirmar, mas ao menos demonstrou-se um avanço na mitigação da desigualdade de renda entre gêneros. Por certo, ainda há um bom caminho para haver a paridade entre gêneros, já que, conforme apontou Lettieri (2017), os homens detinham uma riqueza líquida de 1,89 vezes a mais do que as mulheres em 2014, e essa base de incidência recebe muito pouca influência tributária (no Brasil), tendendo a ser bem mais impermeável a alterações.

2.1.4.2.1.2 Iniquidades de Renda por Região

Aparentemente inquieto com as iniquidades que antes do fornecimento dos dados da DIRPF, por parte da RFB, ficavam mais à mercê da sensibilidade ou da intuição, Lettieri (2017) explicitou a desigualdade tributária que delimita (e separa) as fronteiras de cada região do país. É manifesto, ao se analisar o gráfico 19, que os estados mais ricos — por meio das tabelas disponibilizadas pela RFB é possível observar a renda total de cada estado e o rendimento médio de cada habitante — possuem maiores benefícios fiscais. São Paulo, por exemplo, tem 36% de toda sua arrecadação isenta de IRPF, possuindo a menor base tributável em relação aos demais estados (53%), seguido pelos pares mais desenvolvidos como é notório no gráfico 19.

Gráfico 19 - Composição do rendimento total por estado – Ano-calendário 2014

Fonte: Lettieri (2017, p.130), por meio dos dados da RFB: Grandes Números das Declarações do Imposto de Renda das Pessoas Físicas, ano- calendário 2014, exercício 2015.

No outro polo, encontram-se os estados mais pobres, por exemplo, o estado do Amapá, com 84% dos rendimentos tributáveis. Lettieri (2017) concluiu — não optando pelo simples acaso — que, nos estados mais ricos e com maiores benefícios fiscais, é onde estão os contribuintes com as maiores rendas e patrimônio157. O autor também pesquisou a concentração de riqueza por estado, descobrindo, por exemplo, que São Paulo e Amapá representam o topo e a base tanto na renda quanto na riqueza. Enquanto a riqueza média per capita dos contribuintes do estado de São Paulo é de 301 mil reais, os contribuintes do estado do Amapá possuem pouco mais de 38 mil reais, o que não representa uma pequena diferença, mas um abismo regional (LETTIERI, 2017).

2.1.4.2.1.3 Iniquidades: renda do trabalho versus renda empresarial

Outro estudo elaborado a partir das divulgações dos dados imanentes às declarações de imposto sobre a renda das pessoas físicas foi desenvolvido por Gobetti e Orair no ano de 2015 e atualizado no ano de 2017. Em sua primeira edição, o estudo chegou a ser premiado pelo Tesouro Nacional. Dentre as várias descobertas, tentar-se-á expor as principais. Intrigados em descobrir quem de fato estava no topo da concentração da renda e se haveria algum tipo de ligação desse estrato com possíveis benefícios fiscais, Gobetti e Orair (2015; 2017) perceberam que os rendimentos dos empresários158 por lucros e dividendos passou de 149 bilhões em 2007 para 287 bilhões em 2013159, crescimento superior em 41% do crescimento do PIB do mesmo intervalo, representando 2,1 milhões de declarantes, tendo boa parte deles sido identificados no topo da renda fiscal.

A exemplo de Lettieri (2017), Morgan (2017b), Introíni e Moretto (2017) e Salvador (2014; 2016)160, o estudo aponta a tributação bem mais incisiva sobre os rendimentos dos trabalhadores se comparada com a tributação que recai sobre o

157 O “coração” do empresariado brasileiro localiza-se nesses estados.

158 Os autores evitam o uso de tal expressão. Na maioria das vezes os denominam como acionistas,

sócios, ricos e/ou titulares. Semelhante ocorre nos escritos de Morgan (2017b), Introíni e Moretto (2017).

159 Ano-calendário dos seus estudos publicados em 2015 e 2017.

160 As afirmações destes estudos do autor não se baseiam nos dados da DIRPF, disponibilizados no

capital, aliás, majoritariamente a renda advinda do trabalho é submetida à tributação progressiva, mesmo quando tributada exclusivamente na fonte, enquanto a renda do capital, mais especificamente a renda dos empresários que recebem lucros e dividendos, é contemplada predominantemente por isenções. De acordo com Gobetti e Orair (2015; 2017), essas nuances tendem a realçar a polarização da renda oriunda do trabalho frente à renda dos mais “ricos”. Continuando na análise dos dados e mantendo o olhar atento ao topo da distribuição de renda no Brasil, especificamente sobre o décimo de maior renda (uma ampla e heterogênea população de aproximadamente 14,2 milhões de pessoas), os autores descobriram que no cume da renda brasileira estão 71.440161 pessoas, as quais auferiram rendimentos superiores a 1,3 milhão no ano-calendário de 2013. Dessas, 51.419 pessoas são recebedoras de rendas empresariais, ou seja: o topo da renda é majoritária e predominantemente dominado por indivíduos que possuem rendas advindas das empresas.

Em relação ao ano-calendário 2016, a RFB detalhou ainda mais os dados constantes nas declarações das pessoas físicas, segregando em 17 faixas de rendimentos que vão de ½ salário mínimo (SM) até mais de 320 (SM) mensais. Abaixo serão apresentadas duas tabelas (12 e 13) extraídas da RFB: a primeira é referente aos rendimentos totais; a outra, aos rendimentos dos sócios e titulares de empresas, para que ambas possam ser comparadas. Ao analisar os rendimentos que extrapolam 320 SM mensais, percebe-se a quantia ínfima da população, representada por apenas 25.785 pessoas. Porém, o que é mais revelador para esta pesquisa é que, desse pequeno número em relação à população total do Brasil, 73,93% ou 19.063 pessoas auferem rendimentos oriundos dos ganhos empresariais, demonstrando e ratificando claramente que a composição majoritária da renda dos mais “ricos” do país tem origem nos lucros empresariais.

161 Segundo os pesquisadores, esse número de pessoas representa apenas 0,05% da população

Tabela 12 - Resumo das declarações por faixa de rendimentos totais (em salários mínimos) – em milhões de reais

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da RFB. Grandes Números das Declarações do Imposto de Renda das Pessoas Físicas – Ano-Calendário 2016, Exercício 2017.

Tabela 13 - Resumo das declarações de recebedores de lucros e dividendos + Rend. Sócio e titular microempresa por faixa de rendimento total (em salários mínimos) – em milhões de reais.

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da RFB. Grandes Números das Declarações do Imposto de Renda das Pessoas Físicas – Ano-Calendário 2016, Exercício 2017.

Esses empresários, identificados no topo da distribuição da renda fiscal, receberam em média, no ano de 2016, 11.9 milhões, representando 14,42% a mais do montante auferido pelos seus pares no ano de 2014162. Os empresários que estão no topo da distribuição de renda foram agraciados, no ano de 2016, com 70,22% de rendimentos isentos, apenas 6,69% de rendimentos tributados e 23,09% tributados exclusivamente na fonte. Em contraste, na faixa de rendimentos que vai de 3 a 5 SM mensais e que acomoda 7,4 milhões de pessoas, o cenário tributário é o oposto: 67,9% dos rendimentos são tributáveis enquanto apenas 23,38% são isentos, e 8,71% são tributados exclusivamente na fonte. Em consonância com a conclusão de Introíni e Moretto (2017), a percepção sobre essas revelações levam, preliminarmente, a duas consequências da política tributária atual. A primeira é a desoneração tributária desproporcional a favor do empresariado, e a segunda — e de forma complementar — visou eleger o “público” que teria de sustentar os gastos estatais garantidos pela CF/88 bem explanados por Salvador (2014). Cabe, aqui, uma pequena observação: para muito além dos “gastos” estatais intrínsecos à CF/88, está a inexorabilidade do pagamento da dívida pública, a qual representa a maior fatia no orçamento. Além disso, há todos os benefícios fiscais (que não são poucos) inclinados ao empreendedorismo. No entanto, aos que lecionam em favor da teoria de que os que ocupam os serviços públicos é que deveriam pagá-los, certamente ignoram o fato de que, para muito além de pagá-los, esses, acabam arcando com os benefícios e as mazelas construídas no Estado em favor da classe que os dominam.

Bem, mas as lacunas tributárias não param por aí. Além da segregação dos rendimentos (em isentos, tributados exclusivamente na fonte e tributáveis), outra análise possível de ser feita é sobre as deduções por faixas de renda. No ano de 2016, as pessoas que receberam mais de 320 SM por mês puderam deduzir em média 232,4 mil reais, enquanto a faixa de tributação que concentra o maior número de pessoas (de 3 a 5 SM/mês) puderam deduzir apenas 4,8 mil reais, ou seja, proporcionalmente 97,93% a menos do que os contribuintes da renda superior.

Sobre as deduções, que representam um benefício tributário concedido pelo Estado, volta-se o olhar novamente para os empresários, os quais, como

162 A comparação referenciou o ano-calendário de 2014 devido ao fato de que a RFB disponibilizou

somente após essa data os rendimentos superiores a 320 SM. Além disso, esclarece-se que o percentual exposto não acomoda o efeito da inflação entre os anos de 2014 e 2016.

demonstrado, são e estão predominante e respectivamente no topo da renda e no topo das isenções. Contudo, não se pode imaginar que essa classe social seja homogênea ou que todos possuam a mesma renda e os mesmos benefícios. Assim, seguindo a metodologia de Marcelo Lettieri (2017), cotejar-se-á os empresários com renda mensal superior a 320 SM versus os empresários cuja renda mensal seja entre 15 e 20 SM. Isso porque, como Lettieri inferiu, não dá para conceber que os contribuintes (empresários) que vivam com a renda delimitada entre 3 a 5 SM assim o façam, todos, exclusivamente com a renda advinda de suas empresas. Em suma, constatou-se que a desigualdade de benefícios tributários permeia a mesma classe social: no ano-calendário de 2016, os empresários cujo rendimento mensal foi superior a 320 SM beneficiaram-se em média com 122 mil reais de deduções da base de cálculo do imposto sobre a renda, enquanto os empresários enquadrados na faixa de 15 a 20 SM foram beneficiados com apenas 10,7 mil de deduções sobre a base de cálculo do imposto, o mesmo que 91,23% a menos que seus pares mais ricos “dotados de maiores méritos”. E é preciso fazer uma ressalva: a verificação acima limitou-se a verificar a tributação do IRPF, porém os dados que serão demonstrados no decorrer desta pesquisa revelarão incentivos trilionários às grandes empresas, fato que não ocorre às pequenas empresas, devido ao limitado poder de influência das mesmas.

A desigualdade interna e inerente ao empresariado (na pessoa física) em partes é assim evidenciada: se o topo da renda empresarial é beneficiado pelo Estado com 70,22% de rendimentos isentos, 6,69% dos rendimentos tributados e 23,09% tributados exclusivamente na fonte, os empresários, cujos rendimentos vão de 15 a 20 SM, encontram uma estrutura tributária menos favorecida em relação aos seus pares e por vezes ídolos. Em média, possuem 59,98% de seus rendimentos isentos, 34,30% de rendimentos tributados e 5,72% dos rendimentos tributados exclusivamente na fonte. Notadamente, o topo da renda empresarial possui maior isenção e maior tributação exclusiva na fonte, cujas alíquotas (em parte163) são neutras. Isso deve-se principalmente ao fato de possuírem mais capital a ser tributado pelo ganho de capital, assim como maior renda oriunda dos JSCP e das aplicações financeiras em renda fixa ou variável.

163 Em partes, pois a tributação sobre o ganho de capital na pessoa física recebeu alterações por meio

da Lei 13.259/16, passando a ser tributado observando as seguintes alíquotas: 15%, 17,5%, 20% e 22,5%.

Ainda assim, os empresários que recebem de 15 a 20 SM, por terem essa condição (de empresários) se comparados com as pessoas que não percebem renda por tal condição e estão na mesma faixa, são bastante agraciados pelo Estado: essas últimas possuem 67,02% de rendimentos tributáveis, 8,56% de rendimentos sujeitos à tributação exclusiva na fonte e 24,42% de rendimentos isentos.

Na tributação dos rendimentos tributáveis predominantemente oriundos da renda do trabalho assalariado, segundo Gobetti e Orair (2015), é onde se localiza a maior progressividade do IRPF; já, no tocante aos rendimentos tributados exclusivamente na fonte, menos da metade é de fato progressivo, sendo que ambos estão intimamente ligados com a renda dos trabalhadores e dos benefícios sociais.

A tabela 14 é minuciosa na mensuração da progressividade do IRPF por faixa de renda relativa ao ano-calendário de 2013. Por meio dela, percebe-se que as alíquotas médias são progressivas até a faixa de rendimentos que vai de 162,7 a 325,4 mil reais, atingindo o ápice aos 11,8% e regredindo a partir dessa faixa até 6,7%, justamente nos rendimentos que extrapolam 1,3 milhões de reais e onde é predominante a presença dos empresários.

Tabela 14 - Alíquotas médias (%) e valores per capita por faixas de renda – ano-calendário 2013

Ao entender que as alíquotas médias do total ofuscariam a heterogeneidade inerente às faixas de renda, Gobetti e Orair (2015) voltaram a pesquisar o decil de maior renda, uma vez que esse décimo se apropriou de 54,1% de toda a renda fiscal do ano de 2013 e acomodou 14,2 milhões de pessoas, tornando-se sensível a ideia de que internamente existiriam dissemelhanças.

Tabela 15 - Alíquotas médias do décimo do topo da distribuição de renda no ano de 2013

Fonte: Gobetti e Orair (2015, p. 26), por meio dos dados extraídos da DIRPF e das contas nacionais.

Os dados acima tabelados são valiosos na comparação da renda advinda do capital frente à renda oriunda do trabalho. Por meio deles, percebe-se, por exemplo, que, no decil superior à alíquota média total, é progressiva até o limiar da metade do centésimo mais rico, quando passa a decair, promovendo a derrocada da possibilidade de equidade vertical. Nesse decil, também se percebe que as rendas do trabalho possuem a alíquota média 200% mais elevada do que as alíquotas médias advindas do rendimento do capital, desmontando com qualquer tese de equidade horizontal.

2.1.4.2.1.4 Iniquidades na concentração de capital – trabalhadores x empresários

É inimaginável que a desigualdade seja de renda apenas, e não de riqueza. Assim, por meio das tabelas 12 e 13, é possível observar que as pessoas que recebem mais de 320 SM/mês concentram 1,3 trilhão em bens e direitos, que, quando diminuídos pelas dívidas, resultam em uma riqueza líquida de 1,2 trilhão. Ao examinar o resumo das declarações do IRPF elaboradas pelos empresários constantes no topo da distribuição da renda, no tocante à base capital, percebe-se novamente a

hegemonia destes, uma vez que, dos 1,3 trilhão de reais em bens e direitos pertencentes à última faixa de rendimentos, 1.1 trilhão podem ser identificados nas declarações das pessoas que auferem rendas oriundas das atividades empresariais, resultando na média de 50,1 milhões por empresário. Por outro lado, na faixa que vai de 3 a 5 SM, onde se encontram mais de 7,6 milhões de declarantes, predominantemente trabalhadores assalariados ou pessoas que sobrevivem direta ou indiretamente desta renda, a riqueza líquida total era de 532,4 bilhões de reais, perfazendo uma média de apenas 70 mil reais por declarante.

2.1.4.2.1.5 A Evolução das Pesquisas

Bem, a maioria dos estudos que foram investigados pela presente pesquisa fizeram proposições para que o STB se tornasse o que de fato ele poderia ser: um meio capaz de promover maior equidade e de diminuir a concentração de renda. Dos estudos verificados, seis164 são os que mais teceram indicações sobre o que deveria ser reformado na legislação tributária para que o STB deixasse de acentuar a concentração e a desigualdade de renda e fosse alocado ao lado do que Piketty (2014) recomendou por meio de sua obra, elevando a progressividade, a equidade vertical e horizontal e consequentemente intervindo nas injustiças sociais.

Em comum, ambos propuseram o fim da isenção do imposto sobre a renda advinda dos lucros e dividendos, concebendo esse imposto como o principal tributo garantidor da progressividade e consequentemente promotor da equidade. Orientaram para haver maior tributação sobre o patrimônio e menor sobre o consumo, com destaque, referente a essa orientação, aos estudos elaborados por Salvador (2014; 2016). Cinco165 deles, recomendam o fim da possibilidade de remunerar os empresários com juros sobre o capital próprio. Um deles166, em especial, realizou simulações demonstrando cenários distintos inclusive com estimativas de impacto orçamentário.

É preciso deixar claro que as experiências empíricas demonstradas por essas pesquisas — reveladoras — não deixam dúvidas quanto à relevância do imposto

164 Salvador (2014; 2016), Gobetti e Orair (2015; 2017), Morgan (2017b) e Introíni e Moretto (2017). 165 Salvador (2014; 2016) e Gobetti e Orair (2015; 2017) e Introíni e Moretto (2017).

sobre a renda no alcance da progressividade tributária, da equidade vertical e horizontal, bem como dos malefícios tributários e consequentemente sociais ocasionados pela isenção nos lucros e dividendos concomitantes com a remuneração dos sócios por meio de JSCP.

Contudo, se tais reformas forem feitas somente às expensas da revogação da isenção dos lucros e dividendos das pessoas físicas dos empresários, conteria certo grau de ingenuidade imaginar que estes, principalmente os que estão no topo da distribuição de renda, rodeados de contadores, advogados, economistas, administradores e tributaristas, manter-se-iam inertes. Não está a se falar em pressões para novas alterações ou reformas tributárias pró-empresas — o que, sem dúvida, iria ocorrer —, mas sim de profundos estudos tributários que permitiriam a elisão167 fiscal.

O primeiro e quase natural caminho que seria indicado aos empresários é (para