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Por uma história social da experiência dirigencial: trajetos e eventos

2.4. As profissões no „campo dirigencial” dos clubes

Apresento a seguir uma primeira estatística comparada das ocupações dos presidentes em cargos efetivos nos clubes do Estudiante e Gimnasia, desde a sua fundação; esse levantamento deixa claro que a variedade de profissões que integram as CD também se manifesta nas presidências ao longo da história institucional dos clubes.

Valendo-nos de uma estatística dos Presidentes que têm passado por ambos os clubes ao longo de sua história institucional, pode se comprova a variedade de tipos de ocupações profissionaiss que têm coexistido desde sua fundação. Esta diversidade profissional pode ser tipificada em três grandes grupos socialmente reconhecidos e associados com o universo laboral:

profissionais liberais, empresários e diretivos de estado. Assim, uma ligeira comparação entre as ocupações dos presidentes do Estudiantes e do Gimnaisia exposta no Gráfico 1, a seguir, mostra quais são as diferenças do peso relativo com que cada clube contribui em relação ao volume total de identidades profissionais.

Gráfico 1. Profissões dos presidentes. Peso relativo de ambos os clubes *

26% 74% 43% 57% 68% 32% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 3. Diretivos de estado 2. Empresários 1. Profissionais liberais O c u p a ç a o Universo: 85 presidentes 1 = 31 2 = 35 3 = 19 Estudiantes Gimnasia

Fonte: vid Anexo, Tabela 2.

* Tomando desde a fundação dos clubes até o ano de 2008.

Apesar de não contarmos com a totalidade dos dados dos mais de 100 anos de história dos clubes, este gráfico é suficientemente claro para evidenciar o maior peso relativo que tem o universo das profissões liberais no Estudiantes (68%) em relação ao Gimnasia (32%), comparado com o relativo equilíbrio –com leve vantagem para o Ginnasia- qua há entre os empresários de ambos os clubes (43% a 57%). Esta distância na categoria de profissionais liberais se deve a que, muito cedo, durante os primeiros cinqüenta anos do século XX, no Estudiantes, se verifica uma majoritária presença de profissionais liberais, enquanto no Gimnasia este período se vê dominado por diretivos de estado. Esta tendência estatística permite, porém, um ancoramento objetivo de uma auto-imagem dos dirigentes, em relação com as profissões, em cada clube para além do relativo equilíbrio entre ambas as ocupações em cargos presidenciais depois da décadade 1960. 140

140 Em La Plata, cidade fortemente marcada pela sua condição de capital administrativa da Província de

Buenos Aires, muitos advogados, contadores, médicos, formam parte do gigantesco aparelho estatal. Assim, tal como acontece com os funcionários do aparelho judiciário, sua participação nas CD resulta dos impedimentos objetivos e subjetivos à militância dentro dos partidos políticos como conseqüência de sua identificação com o Estado. Tomando a década de ‗60 como ponto de inflexão, uma curva temporal mostraria, primeiro, que a presença dos funcionários de estado em cargos de presidente é claramente anterior a esses anos, especialmente no Gimnasia, onde efetivamente se percebe um maior vínculo entre o clube e as organizações político- partidárias (especialmente entre 1916 e 1930 e entre 1945 e 1955). Em segundo lugar, que essa tendência modernizadora do futebol afeta os clubes por igual, fazendo da incorporação de

Efetivamente, como vimos no inicio da tese, na Tabela 1, que mostra as ocupações dentro das respectivas Comissões Diretivas (p. 29), há uma distribuição relativamente flexível em relação às classificações ocupacionais.

O mais significativo, porém, surge quando - assim como acontece no

Gráfico 1 que evidencia um maior peso relativo de presidentes de ambos os

clubes cuja ocupação é a de profissional liberal no Estudiantes e a de empresário no Gimnasia - um segundo gráfico reafirma esta tendência quando as comparamos internamente em cada clube, separadamente.

Gráfico 2. Profissões dos presidentes em cada clube*

51% 23% 37% 45% 12% 32% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% Professionais liberais Empresários Diretivos de estado Universos: Estudiantes: 41 presidentes Gimnasia: 44 presidentes Estudiantes Gimnasia

Fonte: vid Anexo, Tabela 2.

* Tomando desde a fundação dos clubes até o ano de 2008.

O clube Estudiantes mostra a presença de uma maioria de profissionais liberais no cargo de presidente, em relação ao Gimnasia (51% contra 23%). E ainda que não seja possível falar de uma diferença ―significativa‖ em termos estatísticos quanto à presença de empresários, sendo que 45% dos presidentes de Gimnasia correspondem a este grupo ocupacional contra o 37% em Estudiantes, quando obervamos o peso relativo, as porcentagens evidenciam uma tendência que mostra que 57% de todos os empresários eleitos como presidentes nos dois clubes pertencem ao Gimnasia.

empresários aos cargos de presidentes uma constante. Como bem mostra Christian Bromberger (1995) a respeito do que se verifica nos grandes centros futebolísticos, como Itália, Espanha e Inglaterra, durante este período o Estudiantes e o Gimnasia entraram de forma igual em uma tendência mundial. Entretanto, apesar de se constatar um forte aumento de presidentes cuja principal atividade profissional é a empresarial em detrimento dos funcionários estatais, a partir da década de´60, também se verifica uma alternância relativamente constante entre os três tipos de campos profissionais em ambos os clubes, inclusive depois do período mencionado, e não aparece uma profissão que seja determinante nos cargos máximos dos clubes.

Inicialmente, este dado dificultaria qualquer afirmação das que estão tipicamente presentes no senso comum da cidade, inclussive entre os dirigentes: ―Gimnasia, o clube dos empresários. Estudiantes, o dos

profissionais liberais‖ (Cdr. Fuentes). Como se poderá observar após

distribuir estas categorias de ocupação segundo as formas de acesso ao cargo presidencial, - se bem que, este fato não é de modo algum a confirmação de uma ―estirpe‖ própria em cada clube, o grafico fala sim, da existência de identificações profissionais que dão sustento material à ordem simbólica, das ―taxonomias e representações do mundo social‖ que permitem a capitalização de suas qualidades em uma ―voz própria‖ em situações de exposição e concorrência ao poder (Boltanski 1982: 259 t.m.).

Dado que a maioria destes dirigentes reside e trabalha na cidade, este fato estatístico liga-se estreitamente ao espaço local de ação identitária para cada clube, influenciando uma valoração abstrata na ordem coletiva sobre a ―dirigência‖ e a ―profissão‖. E, como num desdobramento desta última dimensão, mas com ênfase nos aspectos práticos, estarão então as identificações feitas pelos pares –especialmente sócios, mas também colegas de trabalho e jornalistas- quanto ao seu desempenho em entidades da mesma natureza, como os clubes de bairro, as entidades profissionais, empresariais, etc. A combinação entre um ―status desejado‖ da profissão e o papel dirigencial será interpretado publicamente a partir das expectativas postas em jogo pelos atores sociais que participam deste universo.

Todavia, conforme constatei em numerosas entrevistas, a passagem destas entidades para clubes de dimensões institucionais e econômicas como os aqui tratados, acaba sendo ―um divisor de águas‖ para os dirigentes. Não porque essa passagem mude sua identidade profissional, Mas porque, como afirma Esc. Olivera, ela representa um ―pulo‖ considerável no que se refere à dimensão simbólica da mesma:

Yo fui dirigente toda mi vida, yo fui dirigente de bien público. Yo estuve en clubes de barrio, el club Etcheverry. Porque mi viejo fue un dirigente de bien público nato, viste… El toda la vida estuvo en las sociedades de fomento, en el club Etcheverry, en una serie de cosas a sí. Y yo, que era mas leído que él, era Mas estudioso, estaba en la facultad, yo le hacia las actas. Me reunía con lo amigos de mi viejo, en una de esas reuniones vecinales que había y les confeccionaba el acta… boludeces… pero me fue dando… despertando la misma vocación que mi viejo. Y un día me metí con un grupo de amigos, muy amigos, que íbamos siempre a la cancha a ver la época del campeón del mundo, y dos tres de ellos se acercaron al club por su apellido, los llevaron… Yo había estado en el Colegio de Escribanos, había estado en el Consejo, en otras instituciones. Pero en un

club de fútbol nunca. Lo tomé en joda en serio… la cuestión es que fuimos un día en un acto en el club hípico, y éramos 300 personas, y 299 me apuntaban e insistían… Viste cuando vos entrás en ese estado de inconciencia, donde hasta te parece posible que vos puedas hacerlo… porque si eso un tipo de mi trayectoria lo estudia fría y concientemente creo que no lo puede aceptar… Fue un acto de inconciencia, siempre lo digo, porque a raíz de eso nunca Mas volví, aunque me lo pedian. Porque un acto de inconciencia dos veces es de imbecilidad… yo tenia que ocuparme de lo mío, y ya no era tan joven…

Apesar de que, inicialmente, uma trajetória anuncia uma interpretação relativamente coerente do acesso à presidência do clube a partir de um amplo percurso em diversas entidades sociais, este acontecimento emerge como uma contradição, como um ―freio‖ profissional, e como um ―ato de inconsciência‖ em que novamente adquire sua dimensão instituinte ou de poder de uma assembléia como instante fatídico. O Eng. Del Franco também assume este aspecto disjuntivo na sua trajetória profissional como contador, como uma marca pessoal em sua trajetória:

Yo tenía dos empresas, y como consecuencia de los últimos tres años de mi presidencia, las fui dejando de atender y cuando quise acordarme, yo me retiraba en el mes de noviembre, me di cuenta que no las tenía Mas las empresas, que habían desaparecido. Mi participación en las empresas no estaba Mas. Me fui del club y me quedé sin ninguna actividad, tuve que empezar ―de cero‖, a los cincuenta años. Volver a trabajar al tribunal de cuentas, del que me había ido hacia unos cuantos años, y empezar de nuevo mi carrera…

Assim, em numerosas ocasiões, o acesso aos altos cargos dirigenciais se apresenta aos olhos dos protagonistas como a mistura de um destino que lhes estava reservado por algo externo, um mérito, e de um desejo interno que desconheciam, uma virtude. Naturalmente, esta percepção se traduz em uma espécie de ambiguidade entre ter sido sujeito de uma manipulação dos pares e, ao mesmo tempo, um instigamento dos seus sentimentos para com o clube, tanto institucional (em forma abstrata) como emblemática (em forma concreta). Ainda que, num primeiro momento, a decisão não apareça como racional, ela tende a ser vista como uma pulsão a ser racionalizada.

Entre o mérito (externo) e a virtude (interna) há, então, uma ―arte da política clubística‖ que sustenta a teatralização dirigencial sobre as condições de liderança e seus vínculos experimentais - e pragmáticos - com as condições de pessoa e de especialização dos cargos de gestão e dos papéis ocupacionais a eles associados. Desta forma, a maneira como a trajetória pessoal é vista por

eles próprios, em condições de interação pública, tem a ver com uma visão escalonada da trajetória que os levou até esse lugar como indivíduos capacitados para responder às necessidades que a dramatização do modelo de representação do poder põe, implicitamente, em cena. Em inúmeras ocasiões, encontrei dirigentes que não tinham, antes, passado, pelo menos, por posições de certa importância dentro de algum clube ou entidade ou que não tinham ocupado anteriormente lugares de liderança por subcomissões e comissões de algum tipo. Existem pelo menos três ―grupos de trabalho‖ que apresentam maior nível de visibilidade e identificação profissional para colocar em prática suas qualidades e traçar uma trajetória: aquele do qual depende o futebol de categorias de base, o do futebol profissional e o de assuntos financeiros e de infra-estrutura. Certamente, a tendência a um tipo de distribuição coletiva de gestão está se modificando, nos últimos anos, com a aparição da figura do gerente de esportes, de infra-estrutura, etc. Claro está que nem todos estes ―subgrupos de trabalho‖, como eles definem estas formações, têm a mesma importância e projeção.

Este ex-presidente de CELP solicitou ser entrevistado para o documentário utilizando como fundo a piscina inaugurada durante sua longa gestão como presidente do clube de bairro que seu pai fundou na década de 1940. (Foto: vídeo Dirigentes no futebol II)

Com relação a este aspecto, basta referir o quanto a Associação do Futebol Argentino (AFA), em uma espécie de versão ampliada das Comissões Diretivas dos clubes, é um espaço de sociabilidade e negociação onde presidentes e representantes dos clubes criam redes importantes e relativamente duradouras. Motivo pelo qual o representante, nesta instituição, deva, pelo menos, ser capaz de mostrar-se como um par em condições de oferecer um capital simbólico economicamente valorável para o resto. O Esc. Olivera, o histórico dirigente do Estudiantes de La Plata, narra sua experiência nesta instituição, durante os anos ´80, com certo humor:

Cuando yo fui a la AFA com representante de Estudiantes me encontré que el 80% eran así, tipos importantes. Era Santilli en River, el ―turco‖ Jalif en San Lorenzo, era un tal Nieto, que era el dueño de los fideos Matarazo, en Huracán, Benito Noelli en Boca… y yo era ―Minuito Tinguitella‖…

yo era un escibano… absolutamente fuera de conversación entre ellos, porque cuando hablaban entre reuniones, hablaban de ―cuántos toros vendiste ayer en la rural o de qué cargamento trajiste de no se donde…‖, y yo los miraba y no sabía dónde estar… Pero, pero… Estudiantes me servía a mi… digamos el lugar que yo no podía… la importancia… equipararme a ellos, me lo daba Estudiantes, entonces era diferente, si quería, podía hacer negocios, como lo hizo O.N. con la maderera, su empresa, pero por derecha, eso me lo daba el club... (Esc. Olivera)

A AFA não parecia ser um lugar ―cômodo‖ para este simples ―notário‖. Dos cinqüenta (50) membros que compõem atualmente o Comitê Executivo da AFA, o percentual de empresários contra profissionais é de 61% para 35%, respectivamente e ,em ambos os casos, os não classificados em ambas as categorias são também funcionários das instituições. De toda forma- e apesar de ficar claro que aceder a cargos dentro da Associação do Futebol Argentino é importante meio de criar laços econômicos com grandes empresários, em âmbito nacional - o fato da presença da maioria de empresários não deve ser tomado como simples consequência de interesses pessoais. Em realidade, se considera que o fato deles serem capazes de criar laços dentro de uma rede de negócios extra-futebolísticos favorece o clube na hora de realizar gestões institucionais próprias do clube. Em consequência, a tendência natural é a de ―enviar‖ dirigentes que atuem dentro desse ramo de atividade para favorecer os códigos de negociação. Necessidades que devem ser obrigatoriamente dirimidas dentro da AFA, como, por exemplo, mudança de horário dos jogos, extensão de prazos para compra, venda e contratação de jogadores, e até o polêmico Artigo 225141, são, quase sempre, objeto de negociação extra-legal, cheia de suspeitas de manipulação e ―arbitrariedade‖.

Todavia, devo sublinhar que a intensidade com que parecem assumir estas afirmações do ―senso comum‖ faz parte de uma bricolage da qual participam tanto o universo societário como o dos simpatizantes. A tarefa antropológica de verificar como se produzem estas identificações na vida cotidiana daqueles que mencionamos como ―portadores‖ do ―senso comum‖ (sócios e torcedores), parece ser de grande interesse, porém impossível de realizar aqui. Apenas direi que, no nível dirigencial, esta

bricolage também existe, e parece indicar uma associação livre entre as

habilidades e qualidades profissionais, determinados acontecimentos do passado – ―marcas de referência‖ tanto futebolísticos como institucionais - e

141 Este Artigo do regimento do Campeonato Argentino permite a substituição de um jogador

as circunstâncias presentes na hora de elevar ou posicionar, em cargos diretivos, certas pessoas.

Estamos frente a grupos de dirigentes poucos estruturados socialmente e relativamente heterogêneos quanto a sua cultura profissional, uma vez relacionadas estas categorias de trajetórias com a sua atuação como dirigentes dos clubes. O que compartilham pode ser chamado de uma ―forma‖ socialmente reconhecível, capaz de produzir espaços específicos de sociabilidade entre pares e alianças relativamente duradouras por meio do espaço clubístico e as identificaçoes que esse espaço tem construido no tempo através de certas marcas de referência, ou acontecimentos significativos desde o ponto de vista institucional. Esse grupo em processo de constituição difere substantivamente na forma e no conteúdo, do sentido que têm as relações de poder entre eles.

A emergência de ―tipos ideais‖ de dirigentes associados com perfis de gestão mais ou menos deliberativos, mais ou menos decisionistas, mais ou menos autoritários, etc - e inclusive suas transformações no nível das cúpulas - em formações associativas como as do Estudiantes e do Gimnasia, ocorre em um tempo e um espaço delimitado. Existe, então, um tempo diferente daquele circular das Assembléias de Sócios - que ciclicamente permitem a renovação de autoridades e a avaliação dos desempenhos dos dirigentes - tempo esse que é determinado fundamentalmente pela ―opinião pública‖ da cidade, e no interior do qual os dirigentes devem ―fincar o pé‖ se desejam realmente servir de intérpretes aos fluxos simbólicos que os conectam com a posição de superioridade. Deverão criar sua própria trajetória como algo ―razoável‖ ou ―produtivo‖ para as ―sociedades‖ que representam ou desejam representar. Como tal, devem tentar aproximar as expectativas do cargo que ocupam com a performance futebolística e com as demandas institucionais, sem perder de vista um envoltório que constrói as qualidades de ―pessoa‖ que o colocaram em concorrência pública para transformar-se em ―uma autoridade do clube‖. Desse modo, os dirigentes experimentam os significados em que vivem como um sistema cultural, devendo elaborar cuidadosamente os desejos de posicionamento no espaço de poder e autoridade. Do ponto de vista formal, significa produzir momentos de apresentação pública e social a fim de conectar coerentemente a lógica institucional com a representada no cargo (Hughes 1984). Neste sentido, um passo antes desta intencionalidade não declarada, Ervin Goffman afirmava;

…La perspectiva adoptada es la de la história natural: se desatienden los resultados singulares para atenerse a los cambios básicos y comunes que se operan, a través del tiempo, en todos los miembros de una categoría social, aunque ocurran independientemente unos de otros. De una carrera así

concebida, no cabe afirmar que sea brillante o mediocre: tanto puede ser un éxito como un fracaso... Una de las ventajas del concepto de carrera consiste en su ambivalencia: por un lado, se relaciona con asuntos subjetivos tan íntimos y preciosos como la imagen del yo y el sentimiento de identidad, por el otro, se refiere a una posición formal, a relaciones jurídicas y a un estilo de vida y forma parte de un complejo institucional accesible al público (Goffman, 1992: 133).

É claro que fica realmente difícil estabelecer a ciência certa ou que se encontra primeiro na gênese e no circuito de relações necessárias para a valoração exitosa que conecta o status dirigencial com a trajetória pessoal e profissional de um dirigente. Com muita freqüência, este lugar é ocupado por uma identidade profissional ―anterior‖ ao surgimento do ―sujeito dirigente‖, mas que se atualiza em uma aparente ordem de continuidade e coerência para estas pessoas em termos de uma trajetória. Lembremos, contudo, que, como aponta Bertaux (2005: 21), a trajetória não é um objeto social per se, como um percurso definido. Ela contém, em realidade, uma ampla série de mecanismos de conformação que lhe é dada públicamente. Assim como a trajetória de um sujeito que se transformou em enfermeiro, pedreiro, engenheiro, a do dirigente deve ser ajustada primeiro a um tipo particular de contexto ou situação em que a mobilidade social se exprime e revela os aspectos a partir dos quais será possível entender o objeto social concreto que ele exprime ao analisar, por exemplo, a entrada no mundo do trabalho ou aqui, da chamada ―dirigência voluntária‖ de um clube com futebol.

Neste contexto, as ocupações profissionais constituem uma outra marca de referência central para a construção do dirigente como imagem de si