• Nenhum resultado encontrado

6.3 As tecnologias digitais na EJA: por onde caminham as possibilidades?

6.3.2 As tecnologias digitais como possibilidade para a aprendizagem

Ao discutir as tecnologias digitais vinculadas à aprendizagem, a compreensão que mais se destaca na fala dos professores entrevistados é de que a aprendizagem é o resultado do ensino, de um ensino que ocorreu subsidiado pelas tecnologias. Ou seja, é o uso das tecnologias que ajuda a promover uma boa aula, que por sua vez resulta na aprendizagem do aluno.

Em se tratando das tecnologias digitais na EJA, destaca-se como principal uso o computador/notebook acoplado ao datashow, para apresentação de PowerPoint, filmes ou vídeos disponibilizados no YouTube. Os conteúdos são projetados e discutidos, e a resposta/participação do aluno representa um termômetro para a avaliação do uso das tecnologias na aprendizagem.

Quando eu começo a preparar o material eu vou vinculando aos outros conteúdos, de tal maneira que eu vou ver a questão desse sujeito com o conteúdo sim, mas também como é a ação dele, e como é a ação sobre ele. A partir do conteúdo e a partir do que ele aprende, ou seja, você com o mundo, com o outro, e com o saber (P24).

Outra forma de avaliar a aprendizagem, decorrente do uso das tecnologias digitais na EJA, é se o aluno produz (re)escrita baseada nos conteúdos projetados. Se ele é capaz de reelaborar conhecimento. E o que por vezes surpreende os professores, ao fazer uso das tecnologias em sala, é a aprendizagem espontânea do aluno.

Às vezes é a leitura espontânea de eu colocar uma frase na projeção do datashow, e ele já vão dizendo "tenham calma, eu nem terminei, vocês querem adivinhar?" (P 32).

Ao questionarmos na entrevista se o uso das tecnologias digitais na EJA poderia proporcionar mudanças ao processo de ensino e aprendizagem, os professores respondiam positivamente a questão, mas só conseguiam refletir/justificar as mudanças a partir do ensino.

Sim, porque antes o que a gente tinha? Quadro, giz ou mimeógrafo, que dependia da nossa capacidade... tem professor que tem uma capacidade incrível, um senso artístico, estético e artístico, e que faz aqueles desenhos todos. Que não é o meu caso, como de inúmeras pessoas, então, quando você não tem essas habilidades, você fica ou ao quadro e o giz, ou simplesmente ao mimeógrafo onde você também transcreve textos para o seu aluno. Quando você tem o computador e a internet, você muda, introduz inovações, mudanças, novidades na sua sala de aula (P8).

Modificar? Para o bem, né? Acrescenta, desenvolve, aumenta a potencialidade de você passar a ideia. Facilita muito. Com certeza, se tiver alguma dúvida com relação a tecnologia em sala de aula, tem que vir para a sala de aula para ver como se precisa (P23).

Ao analisar as entrevistas percebemos que para os professores refletir aprendizagem com tecnologias, ou seja, o aluno fazendo uso, ainda se configura uma realidade distante do chão da escola da EJA. A análise das entrevistas nos aponta que, em sua maioria, os professores conseguem refletir o ensino, mas não a aprendizagem por meio das tecnologias digitais. É o ensinar com tecnologia em detrimento do aprender com tecnologias. Aprender com tecnologia e ensinar com tecnologia são linhas paralelas que podem ou não vir a se encontrar.

Para além do datashow, uma tecnologia digital que tem adentrado a sala de aula da EJA é o celular/smartphone. Por ser uma tecnologia que pertence ao aluno, ela vem em um movimento contrário ao da tecnologia como recurso do professor: é trazida pelo aluno.

Os professores têm utilizado o celular/smartphone na EJA como meio de comunicação e, de forma exploratória, como meio de aprendizagem. Ao criar grupos de comunicação com o aluno, especialmente através da rede whatsapp, os professores compreendem que estão estimulando a leitura e a escrita e, portanto, gerando aprendizagem.

a gente usa mais são mensagens de texto no celular, envio de fotos que tiramos nas programações, que eles pedem “professora, envia as fotos”. As programações da escola mesmo, eu envio, faço uma legenda, peço para eles comentarem “eita, ninguém comentou” para provoca-los a escrever. Quando eu pego as palavras erradas, eu vou pego a mesma palavra e tento em outro momento repeti-las sem corrigi-las, sem dizer que eles erraram. (P30).

Chama a atenção dos professores o fato dos alunos não alfabetizados utilizarem o celular/smartphone, e a vontade que eles têm em fazer uso com propriedade do seu aparelho. A professora P32 visualiza esta vontade do aluno como possibilidade de aprendizagem e exemplifica:

Durante a semana eu passo mensagens para eles, aí os que não conseguem ler ver que sou eu e liga “a senhora queria dizer o que mesmo na mensagem? ” Aí eu digo “ você se esforce um pouquinho que vai descobrir o que eu queria na mensagem”. Quando eles não conseguem “eu fui na casa de fulano”, aí eu digo “conseguiu descobriu o que eu queria? ”, “A senhora só queria dizer que gosta da gente, que ama a gente” “e você acha isso pouco, é? É pouco não. É muito, viu? ” [...] Eles não se sentem tão excluídos do mundo “ é porque o meu neto usa, passa a mensagem, joga e liga” aí eles dizem “ah, professora, eu quero! Eu quero aprender nem que seja ligar e desligar”. E eu digo “não vai aprender só a ligar e desligar não que assim é muito fácil, é só apertar o vermelho e o verde”, aí eu vou ensinando. Tinham números que tinham símbolos “uma florzinha era dona Maria” aí eu disse “vamos tirar! Quero não nada de símbolo aqui, é nome! Todo mundo tem um nome! Se quiser colocar apelido ainda deixo, mas símbolos não”. (P32).

Na fala da professora P32 identificamos um ensino e uma aprendizagem desvinculados dos conteúdos formais, porém diretamente relacionados às necessidades do aluno. Não obtivemos dos entrevistados nenhum relato de atividade sequenciada realizada através do celular/smartphone, mas os professores nos colocaram que este se constitui um recurso que impacta a forma de comunicação dos sujeitos e amplia o acesso à informação. E que os têm feito refletir como utilizá-los com fins pedagógicos.

6.3.3 As tecnologias digitais na EJA como suporte para a produção de material