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Aspectos metodológicos destacáveis 1 A constituição da amostra

4 BASES TEÓRICAS PARA A INVESTIGAÇÃO

4.2 A SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA

4.2.2 Aspectos metodológicos destacáveis 1 A constituição da amostra

Os estudos pioneiros realizados por Labov, citados anteriormente, estabeleceram como procedimento principal para a obtenção dos dados sociolinguísticos a observação direta dos dados da fala. Os instrumentos de coleta a serem utilizados devem ser estruturados de modo a obter ocorrências da variável em análise.

Esses instrumentos podem estar estratificados em diferentes gêneros textuais e podem seguir um espectro variado, no que tange ao grau de formalidade ou estilo contextual (elocuções espontâneas, temas para discursos semidirigidos, perguntas com vistas a eliciar respostas específicas, leituras de textos, listas de palavras etc.), possibilitando a obtenção de dados referentes a diferentes situações de interação.

Ao buscar estudar o vernáculo, ou “[...] a enunciação de fatos, proposições, idéias [...] sem a preocupação de como enunciá-los” (TARALLO, 2007, p. 19), o pesquisador se vê diante

de um grande desafio, pois a sua presença, bem como a exposição a um gravador ou qualquer outro instrumento de registro dos seus usos linguísticos, inibirá o informante, que poderá passar a prestar mais atenção à sua fala.

A pesquisa sociolinguística se depara, dessa maneira, com o que Labov (2008 [1972], p. 144) designou de paradoxo do observador: “[...] o objetivo da pesquisa lingüística na comunidade deve ser descobrir como as pessoas falam quando não estão sendo sistematicamente observadas – no entanto, só podemos obter tais dados, por meio da observação sistemática.”.

Esse problema ao estudo da variação pode ser parcialmente superado, justamente, quando a entrevista é composta de uma gama variada de estilos, quando o pesquisador se mune de artifícios que façam com que o informante desvie a sua atenção do contexto (como, por exemplo, narrativas que envolvam emoções, descontração no decorrer dos trabalhos etc.) ou quando se opta pela realização de gravações secretas. Nesse último caso, a utilização das amostras deve ser mediada por questões éticas.

No que concerne à delimitação da variável linguística a ser escolhida para o estudo, alguns critérios são, em geral, levados em conta, segundo Labov (2008 [1972], p.26):

(i) a variável deve ser frequente na fala espontânea;

(ii) quanto mais integrada ao sistema, quanto mais implicações sobre outras variáveis, maior o interesse sobre ela;

(iii) investigações prévias devem informar sobre sua possível estratificação social, interessando, assim, as variáveis que refletem uma maior estratificação.

Entende-se, aqui, no entanto, que esses critérios se tornam relativos ao se considerar a realidade de línguas e comunidades de fala particulares, fazendo com que, muitas vezes, as formas linguísticas em estudo não estejam implicadas nesses três aspectos. Ademais, já se argumentou no sentido de que as ideias labovianas foram engendradas nos Estados Unidos e se voltam ao inglês norte-americano, não podendo ser aplicadas, sem restrições, a outras realidades.

Alguns estudos realizados no âmbito da morfossintaxe do PB, sobretudo aqueles que lidam com variedades linguísticas populares, frutos de amplos processos de contato entre línguas, reforçam e exemplificam as ressalvas aos critérios apresentados. O trabalho de Lucchesi e Mello (2009), referente ao processo de alternância dativa em comunidades rurais da

Bahia (Sapé, Helvécia, Cinzento e Rio de Contas), representantes do Português Afro- Brasileiro75, é exemplar, a esse respeito.

Os autores identificam o conflito entre duas variantes:

(i) construção de dativo preposicionado, verificada em “Eu dei o remédio aos meninos” e

(ii) construção de “objeto duplo”, como em “Eu dei os meninos o remédio”.

A primeira delas é a variante padrão do PB, enquanto a outra seria encontrada apenas em tais variedades, constituindo-se, desse modo, como um elemento distintivo dessas comunidades.

No estudo, contabilizam poucas ocorrências da variável, sendo a maior parte delas equivalentes à variante inovadora. Revela-se que o fenômeno está fortemente correlacionado à natureza do verbo e a fatores sociais como a faixa etária dos informantes. Mostra-se, com isso, que, ainda que seja uma variável pouco frequente na fala espontânea, havendo distância, portanto, de um dos critérios propostos para a escolha da variável em análise, trata-se de um fenômeno que encontra relevância de estudo, pois se presta a particularizar as referidas comunidades no conjunto do PB como um todo.

A seleção dos informantes é feita de modo que se considerem os interesses e objetivos da investigação proposta. Esses sujeitos, como se depreende do que já se explicitou acerca da disciplina, são tomados com base em suas singularidades sociais, situados em um tempo e um espaço específicos.

Diante dessas questões, a triagem dos informantes deve atentar para a estratificação social dos indivíduos, levando em conta aspectos definidos de acordo às necessidades do estudo e às feições da comunidade em análise. Essa última pode ser parte de diferentes contextos, sendo contempladas desde pequenas localidades rurais a grandes centros urbanos. A seleção deve prezar, então, pela representatividade do perfil sociodemográfico das comunidades, tanto em relação à quantidade de sujeitos quanto às suas características.

Não obstante, as investigações podem ser baseadas em uma escolha aleatória ou “ao azar”. Nesse caso, pautam-se em informações disponibilizadas por listas telefônicas, censos eleitorais etc. Essa técnica, porém, é pouco oportuna, visto que os informantes escolhidos podem não representar, com eficácia, o quadro linguístico, social e cultural a ser investigado.

75 O termo é usado em referência às variedades do PB cultivadas em comunidades rurais isoladas, marcadas, do ponto de vista histórico e étnico, pela presença maciça de escravos africanos e seus descendentes, que sobrevivem de atividade agrícola e que permaneceram relativamente isoladas até a segunda metade do século XX. Essa investigação se filia ao projeto Vertentes do Português Popular do Estado da Bahia (Vertentes), vinculado à UFBA.

Como informam Campoy e Almeida (2005, p. 59), a eleição dos informantes é mais qualificada quando baseada em uma amostra seletiva qualificada, porque se anula o risco de seleção desequilibrada e casual, não existindo, além disso, um consenso sobre o tamanho da mesma.

4.2.2.2 A análise de regras variáveis

Na medida em que concebe o fenômeno da variação como algo inerente ao sistema linguístico, a Sociolinguística entende que há determinados elementos linguísticos que comportam em si múltiplas possibilidades de realização, as quais, de um ponto de vista distintivo, operam o mesmo valor estrutural, apresentando, porém, significados socioculturais diferentes.

De acordo com o que se expôs na Seção 4.2.1, a esses elementos da língua cuja realização é diversa se dá o nome de variável linguística. Cada uma de suas realizações, por sua vez, é designada variante. Cada variante, porém, está limitada por condicionamentos:

[...] la variable lingüística constituye una entidad que fluctúa según parámetros socio- demográficos (como la edad, sexo, clase social, estatus, etnia, etc.), estilísticos (espontáneo, cuidadoso, formal etc.) y/o lingüísticos (ya segmentales o ya supra- segmentales). Aquellos rasgos lingüísticos que presenten variabilidad de formas en su uso y cuyas variantes denoten un significado social y/o contextual son variables sociolingüísticas […]. (CAMPOY; ALMEIDA, 2005, p. 46).76

As variáveis perpassam os diferentes níveis de análise da língua, permeando desde o universo dos sons ao discurso. As variáveis fonético-fonológicas são, de modo geral, mais recorrentes do que as de outra natureza. Nesse sentido, as suas variantes aparecem com maior frequência na fala, o que torna a investigação de os seus possíveis condicionamentos, algo mais produtivo.

As formas fônicas em variação são de grande interesse à pesquisa sociolinguística, haja vista o fato de estarem diretamente relacionadas à fala, cenário principal da variação e da mudança. Além disso, as investigações no campo fonético-fonológico são frutíferas em razão do fato de se poder atribuir com maior facilidade equivalência semântica a essas variáveis do que às de cunho sintático, pragmático e lexical, por exemplo.

Ao se encaixar a variação nos limites da estrutura linguística e no meio social, descarta- se a ideia de variação livre. Segundo essa perspectiva, cultivada no âmbito da fonologia pós- saussuriana, fenômenos como a alternância entre consoantes fricativas alveolares [s, z], palato-

76 “[...] a variável linguística constitui uma entidade que flutua segundo parâmetros sócio demográficos (como idade, sexo, classe social, status, etnia etc.) e/ou linguísticos (sejam segmentais ou suprassegmentais). Aqueles traços linguísticos que apresentam variabilidade de formas em seu uso e cujas variantes denotem um significado social e/ou contextual são variáveis sociolinguísticas [...].” (CAMPOY; ALMEIDA, 2005, p. 46, tradução nossa).

alveolares [S, Z] e glotais [h, ˙], em coda silábica (como em caspa, caSpa e cahpa), seriam

exemplos de variação livre, uma vez que não haveria claros condicionamentos da estrutura linguística, que justificassem a neutralização da oposição entre alveolares e palato-alveolares, por exemplo.

Para a Sociolinguística Variacionista, todo processo de variação é encarado como uma “regra variável”, o que implica dizer que a heterogeneidade não é aleatória e a ocorrência de uma ou outra variante depende de condições específicas que a favoreçam ou não. Essas condições, por sua vez, podem ser internas ou externas à língua e operam em vieses variados.

Por meio da utilização de métodos quantitativos, investiga-se o grau de interferência de determinado fator na ocorrência de uma ou outra variante. Acerca da análise de regras variáveis, Guy (2007) esclarece:

A análise de regra variável foi desenvolvida na lingüística como uma forma de dar conta da variação estruturada, governada por regras, no uso da língua. Trata-se da variação lingüística que regularmente mostra taxas mais altas ou mais baixas de ocorrência em determinados ambientes, ou que regularmente predomina em determinados grupos sociais ou estilos de fala. (GUY, 2007, p. 48).

O arcabouço estatístico possibilita que o pesquisador, diante de material numérico, identifique a sistematicidade das regras variáveis com maior precisão e objetividade. Quando se fazem interpretações qualitativas dos valores, os resultados obtidos podem indicar as relações da variação com o processo de mudança e aclarar questões referentes ao encaixamento linguístico das variantes. Ao se agregarem esses valores a outros dados, como as reações subjetivas dos falantes ou o conhecimento da história sociocultural das comunidades estudadas, podem-se revelar questões pertinentes à identidade social de indivíduos e grupos e à atribuição de prestígio a uma ou outra forma linguística.

Os modelos matemáticos utilizados em Sociolinguística sofreram alterações, do início da disciplina à atualidade. Hoje, são mais comuns os trabalhos que utilizam o modelo probabilístico de regressão logística, proposto em 1974 por Henrietta Cedergren e David Sankoff.

Para essa modelagem, as frequências de ocorrências são preteridas por pesos relativos. Através desse modelo é possível calcular não somente os pesos relativos de um fator isolado sobre o uso da variante em análise, mas evidencia-se, sobretudo, a possibilidade de calcular a interferência conjunta das variáveis sobre as realizações, com base em equações logísticas, bastante complexas.

Atualmente, com o avanço dos recursos tecnológicos, esses cálculos são facilmente realizados, com o apoio de programas específicos para tal fim, tendo como exemplo mais

conhecido o pacote de programas VARBRUL (do inglês Variable Rules Analysis), desenvolvido também por Cerdergren e Sankoff. A análise aqui proposta é baseada nos valores fornecidos pelo GoldVarb 2001, cujas operações serão explanadas no capítulo referente à metodologia da análise variacionista. Lá serão expostas, também, com mais detalhamento, as principais noções referentes ao modelo de regressão logística.

A propósito da análise de regras variáveis, são estabelecidos os conceitos de variáveis dependentes e variáveis independentes.

As primeiras são as formas linguísticas em variação, que são consideradas dependentes, pois o emprego de cada uma das variantes é determinado por grupos de fatores sociais, estilísticos e estruturais, ou variáveis independentes. A teoria compreende a esse respeito que não se pode alegar uma preponderância dos fatores linguísticos sobre os sociais e nem o contrário: ambos estão relacionados e as explicações devem considerar os elos entre eles.

A seguir, expõem-se dados acerca do controle de variáveis independentes, destacando aquelas de maior relevância a esta tese.

4.2.2.2.1 Variáveis independentes de natureza intralinguística

Variáveis intralinguísticas são os fatores estruturais que dizem respeito ao entorno linguístico em que ocorre a variável dependente em análise e que podem exercer pressões na escolha entre uma ou outra variante.

A averiguação de tais fatores fornece respostas acerca da relação entre variação e estrutura linguística. Esses fatores podem ser de natureza fonético-fonológica, morfológica, sintática e também podem se referir aos itens lexicais específicos em que ocorre um dado aspecto fônico, por exemplo, haja vista os processos de difusão lexical.

A escolha dessas variáveis está diretamente ligada à natureza do fenômeno em estudo. A sua definição se pauta em aspectos como as impressões do pesquisador diante dos dados que constituem a sua amostra e o conhecimento de estudos prévios que lidam com o processo em análise.

Ainda que se tenha conhecimento de que a verificação de possíveis condicionamentos linguísticos e sociais deva ser feita em concomitância e sem privilegiar um ou outro tipo de variável, os trabalhos iniciais em Sociolinguística, muitas vezes, priorizavam os aspectos externos, em geral relacionados a macrocategorias sociais, como se comentou.

Hoje, todavia, as questões estruturais “[...] desafiam os pesquisadores a encontrar novas soluções, acabam por atrair mais e mais atenção dos variacionistas [...] ultrapassando o interesse

pelos fatores sociais convencionais, já estabelecidos e/ou mais testados.” (PAREDES DA SILVA, 2007, p. 71).

Nos estudos sobre o português do Brasil, o controle de variáveis independentes linguísticas ganha destaque em boa parte dos estudos realizados. Exemplificam-se, adiante, alguns desses trabalhos.

A tese de Mota (2002) trata da realização do <S> em coda na norma urbana culta de Salvador, Bahia, baseada em dados do Projeto NURC (Projeto de Estudo da Norma Linguística Urbana Culta no Brasil). Averigua as possíveis implicações linguísticas e sociais que condicionam o uso das quatro variantes fonéticas em análise: consoantes contínuas coronais anteriores ou alveolares [s , z], não anteriores ou palato-alveolares [S , Z], não anteriores e não coronais ou laríngeas [h , ˙] e zero fonético.

Dentre as variáveis linguísticas observadas pela autora, está a posição da sílaba, no vocábulo em que se encontra a variável. Os valores percentuais encontrados revelam que as palato-alveolares são mais frequentes em posição medial, predominando as anteriores em posição final. A variante laríngea está condicionada à presença de segmento subsequente, seja em posição interna ou final, e o zero fonético, por sua vez, é mais frequente em final de palavra.

Adentrando as características articulatórias dos segmentos diante dos quais se encontra o <S> em coda, em sua tese, Santos (2012) delimita dois grupos de fatores: (i) características da consoante que inicia a sílaba seguinte77 e (ii) sonoridade da consoante que inicia a sílaba seguinte.

O estudo em questão se volta à observação da consoante em coda na cidade de Helvécia, Bahia. Lida com as mesmas quatro variantes trabalhadas por Mota (2002), executando as análises quantitativas a partir de três arquivos distintos. Separa: consoante em final absoluto diante de pausa, consoante em final absoluto diante de outra consoante e consoante interna ao vocábulo, em posição medial.

Para a posição medial – contexto em que predominam, na amostra, as alveolares, seguidas pelas palatais – no que tange às características da consoante que inicia a sílaba seguinte, as consoantes oclusivas velares [k, g] e as fricativas labiodentais [f, v] favorecem as realizações alveolares do <S> em coda. As consoantes africadas [tS, dZ], por sua vez, retraem as sibilantes. Quanto à sonoridade, os segmentos desvozeados favorecem as consoantes alveolares.

77 A variável se constitui dos seguintes fatores: oclusivas labiais [p, b], oclusivas alveolares [t, d], oclusivas velares [k, g], fricativas labiais [f, v], africadas [tS, dZ], nasal labial [m], nasal alveolar [n] e laterais [l, ¥].

Outro exemplo é retirado do estudo de Brescancini (2009), que lida com o processo de monotongação de ditongos fonológicos diante de <S>, ocorrida em dados como [»sejS] ~ [»seS] e [de»pojS] ~ [de»poS]. A autora analisa dados recolhidos na fala de informantes nativos de três distritos do município de Florianópolis, em Santa Catarina.

Dentre as variáveis independentes de cunho estrutural, inclui a posição da consoante no vocábulo, o contexto fônico seguinte, a sonoridade da consoante fricativa realizada e o papel morfológico do <S>. Parte da hipótese de que esse tipo de monotongação seria pouco recorrente na fala dos florianopolitanos e teria relações com a presença de migrantes dos Açores para essa região, por ocasião de seu povoamento.

A análise quantitativa revela, porém, que apenas a variável papel morfológico do <S> foi estatisticamente relevante. Conclui-se, então, que “[...] a redução do ditongo decrescente diante de /S/ caracteriza-se como um processo condicionado lexicalmente, mas que ainda apresenta resquícios de condicionamento estrutural, especificamente o de cunho morfológico.” (BRESCANCINI, 2009, p. 48).

Desse último estudo se destaca o fato de que, embora os grupos de fatores estabelecidos pela pesquisadora privilegiem o entorno fônico, a análise dos dados demonstra que os condicionamentos linguísticos não necessariamente se encontram nesse nível: relacionam-se à morfologia e ao léxico.

Da observação desses exemplos, corrobora-se a ideia de que a seleção de variáveis linguísticas atende às necessidades do fenômeno em análise. Não há, portanto, consenso quanto aos fatores eleitos.

4.2.2.2.2 Variáveis independentes de natureza extralinguística

Partindo da premissa de que a diversidade de usos linguísticos é fruto dos diferentes perfis sociolinguísticos de falantes identificados em uma comunidade e das necessidades sociodiscursivas desses, acredita-se que a definição de variáveis extralinguísticas não deve ser feita de modo genérico. Cada grupo de sujeitos apresenta uma realidade específica.

Entende-se, outrossim, que essas variáveis atuarão sobre os processos linguísticos de modo peculiar. Não é possível prever tais ou quais elementos proporcionarão o uso de dada variante. A esse respeito esclarece Fernández (1998):

[...] en realidad no es posible conocer de antemano qué tipo de variables sociales van a actuar sobre unos elementos lingüísticos en una comunidad dada. Y esto por dos motivos: porque los factores sociales actúan sobre la lengua de una forma irregular, es decir, en dos comunidades de habla diferentes la variación sociolingüística de un mismo fenómeno no tiene por qué manifestarse de la misma manera; en segundo lugar, porque los factores non están configurados de forma idéntica en todas las

comunidades, aunque ellas se hablen modalidades cercanas de una misma lengua. (FERNÁNDEZ, 1998, p. 33-34).78

Escolher variáveis com base nas peculiaridades das comunidades torna-se uma tarefa de difícil execução, quando se parte para a análise da variação com base em bancos de dados da língua falada, consoante se esclareceu previamente. Essas dificuldades advêm de sua abrangência. Assim sendo, muitos desses bancos optam pela categorização dos informantes em classes macroscópicas, de modo a recobrir todos os grupos pesquisados.

Essas dificuldades, porém, não devem ser consideradas como um demérito para os trabalhos com os bancos de dados já constituídos acerca do PB. Esses empreendimentos possibilitam comparações entre dados encontrados em comunidades distintas e, muitas vezes, permitem uma visão panorâmica da situação linguística de um Estado, região ou, até mesmo, de um país, como se propõe o ALiB, por exemplo.

Ao se trabalhar com bancos de dados, crê-se que caiba ao pesquisador, investigar a representatividade dos perfis de informantes eleitos dentro daquele contexto, diante do que se sabe acerca das realidades históricas, culturais e sócio demográficas, dos grupos em análise. Não obstante, a consulta a fichas de informantes e a apreciação qualitativa de aspectos não sistematizados pelo banco de dados, como é o caso das profissões dos informantes, no Projeto ALiB, devem ser opções para o pesquisador.

Ao passo em que se estudam dados pertinentes a uma capital e outras 21 localidades do interior da Bahia, cujos perfis socioeconômicos e histórias são divergentes e múltiplos, procura- se, aqui, entender as variáveis sociais sexo79 e faixa etária, contempladas pelo Projeto ALiB80, à luz do contexto brasileiro contemporâneo, marcado pela estratificação decorrente da distribuição desigual dos meios de trabalho, de acesso à instrução etc. Além disso, busca-se compreender, na medida do possível, esses fatores no panorama social dessas comunidades específicas.

Assim, ressalta-se que não é conveniente englobar diferentes realidades em uma perspectiva unitarista de análise, justificando as distribuições sociais das variantes com base em