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PONTOS DO ALiB

3.2 AS LOCALIDADES: PASSADO E PRESENTE 1 Juazeiro

3.2.18 Vitória da Conquista

Vitória da Conquista, uma das grandes cidades do Estado da Bahia, está localizada na porção sudoeste do mesmo. Aproximadamente 600 quilômetros distanciam, geograficamente, Salvador e Vitória da Conquista. Está a apenas 168 quilômetros de Pedra Azul, em Minas Gerais, por outro lado.

O acesso à localidade é facilitado, haja vista o seu terminal rodoviário receber ônibus de diversas partes do país, diariamente. Para alcançá-lo, trafega-se pela BR-116 (caminho preferencial para quem parte da capital baiana), pela BR-407 e pela BA-263. Ademais, o Aeroporto Pedro Otacílio Figueiredo, situado na localidade, recebe voos de Salvador, São Paulo, Brasília, Barreiras e outras cidades.

Em tempos pregressos, como informa a Prefeitura de Vitória da Conquista, o território era habitado por índios ymboré (botocudo), mongoyó (kamakan) e pataxó. Essas aldeias se estendiam das margens do Rio Pardo até o Rio de Contas. O povoamento e a exploração do território de Vitória da Conquista pelo colonizador estão associados à busca por metais preciosos, não encontrados, e à política de ocupação dos territórios no interior da Colônia.

A constituição do Arraial da Conquista se estabelece à volta do ano de 1720, sob a liderança do bandeirante português João Gonçalves da Costa, após o esgotamento do ouro na região do Rio de Contas e nas Minas Gerais. A ocupação da região, todavia, não foi imediata. Registram-se muitos e intensos conflitos entre os bandeirantes e os indígenas. Destaca-se, sobretudo, a resistência dos ymboré e dos pataxó. Os primeiros acabaram escravizados, enquanto os outros se refugiaram no sul do Estado, onde ainda há pequenos aglomerados desses indivíduos.

A mais intensa batalha aconteceu em 1752, quando os colonizadores finalmente conseguiram submeter os indígenas. Nesse ano, construíram a antiga igreja de Nossa Senhora das Vitórias, não mais existente na cidade, mas que marcava não somente a derrota dos nativos como também o firmamento do povoado.

Os conflitos persistiram no início do século XIX. À volta de 1803, os índios mongoyó, antes associados aos desbravadores, foram envenenados pelos mesmos, tendo, então, sucumbido. O desenvolvimento da cidade deu-se, mais plenamente, a partir daí. No início, destacava-se a pecuária como atividade que movimentava a área.

O crescimento inicial, porém, foi lento. Apenas em 1840, estabeleceu-se oficialmente a Vila Imperial da Vitória, antigo distrito de Caetité. Em 1891, passou à categoria de cidade. A partir daí, o papel de Vitória da Conquista nos contextos regional e estadual passou a ser cada vez mais expressivo e a cidade passou a se desenvolver cada vez mais velozmente, consoante informa a página oficial da cidade:

Em 1920, Conquista já era considerada uma cidade grande. Dezesseis distritos foram integrados à sede. O comércio se destacou principalmente na venda de produtos agrícolas e pecuários, não só para a população local, mas para os moradores de outros municípios. Em troca, os conquistenses compravam dos tropeiros tecidos, perfumes e novidades vindas da Europa. A localização geográfica é favorável ao comércio e Conquista tornou-se conhecida em outras regiões do Estado. (PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA DA CONQUISTA, 2016, p.4).

Desse momento em diante, Vitória da Conquista cresceu cada vez mais. Nas décadas seguintes, esse crescimento foi impulsionado pela construção de rodovias, como a BR-116, que atravessa a cidade, assumindo a designação, no trecho urbano de Avenida Presidente Dutra.

Esse fato não só permitiu o trânsito pela localidade com mais facilidade, mas reforçou a sua posição no cenário nacional.

Deve-se destacar, ainda, que a construção da estrada levou novos contingentes humanos para Conquista, sobressaindo, além dos baianos, os mineiros, paulistas e nordestinos de Estados variados. A relação dos nativos com os Estados de Minas Gerais e São Paulo é, ainda hoje, algo que merece ser enfatizado. Muitos migram para tais localidades por questões empregatícias ou de saúde.

A década de 1970 assistiu ao impulsionamento da cultura cafeeira em Vitória da Conquista. Dez anos mais tarde, porém, com a crise em tal cultivo, a cidade começou a se destacar como polo industrial e também nos setores do comércio e dos serviços, dentre os quais sobressaem a saúde e a educação.

Vitória da Conquista é, hoje, a terceira maior cidade da Bahia em termos de economia e urbanização, estando atrás apenas de Salvador e Feira de Santana.

A cidade abriga a sede da UESB, instalada na cidade em 1980, mesmo ano em que se fundou a Academia Conquistense de Letras. Hoje, a UESB oferece diversos cursos aos moradores de Vitória da Conquista e região, dentre os quais, Medicina. Esse aspecto atrai indivíduos de outras regiões do Brasil para a cidade, bem como retém os nascidos em Conquista em sua área de origem, uma vez que a migração para outras cidades em busca de educação superior pública deixou de ser obrigatória.

Além da UESB, o Instituto Multidisciplinar de Saúde / Campus Anísio Teixeira da UFBA garante educação superior gratuita aos moradores de Vitória da Conquista. Inaugurado em 2006, o campus foi criado com o intuito de fomentar a formação, no sudoeste da Bahia, de recursos humanos para a atuação no SUS (LOBO; SANTOS, 2010, p.448). Oferece, nesse sentido, aulas para os cursos de Enfermagem, Nutrição, Farmácia, Biologia e Biotecnologia.

Cita-se, ainda, a implantação do campus do IFBA na cidade, em 1996.

Os seus hospitais públicos, inaugurados ao longo da década de 1990, atendem não só à população local, mas também aos moradores do entorno.

Aponta-se, por fim, como atrativo, o seu clima frio, o que lhe aproxima das localidades do Sudeste brasileiro, que lhe são vizinhas. Grupos de turistas são levados anualmente a Vitória da Conquista, durante o inverno, em especial após a primeira edição do Festival de Inverno Bahia, realizado em 2005 e repetido desde então.

Figura 20 – A cidade de Ilhéus no Estado da Bahia

O município de Ilhéus, localizado no litoral sul do Estado da Bahia, distancia-se cerca de 460 quilômetros de Salvador (há rotas mais curtas, de aproximadamente 310 quilômetros). Chega-se a Ilhéus, preferencialmente, trafegando pela BR-101. Ao alcançar a cidade de Itabuna, sua vizinha (30 quilômetros de distância), parte-se para Ilhéus pela BA-415. Partindo de Salvador, a viagem pela BA-001 é mais curta.

O Aeroporto Jorge Amado recebe voos desde 1938, garantindo o acesso aéreo a Ilhéus e demais áreas da chamada Costa do Cacau. Chegam nesse terminal aéreo, todos os dias, voos das principais companhias aéreas brasileiras, vindos de Belo Horizonte, Brasília, Campinas, São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Cite-se, ainda, a existência do porto de Ilhéus que, atualmente, recebe cruzeiros de todo o mundo.

A história de Ilhéus remonta ao sistema de capitanias hereditárias. A Capitania de São Jorge dos Ilhéus, citada anteriormente, foi doada a Jorge de Figueiredo Correia, português, que nunca esteve em suas terras, em 1534. Em 1535, chegaram os primeiros colonos, atracados no Morro de São Paulo. A cidade foi fundada na Baía do Pontal.

Os primeiros momentos do povoamento em Ilhéus foram marcados pelos conflitos com os índios tupiniquim e aimoré, nativos da região. Com a fundação de quatro engenhos de cana-

de açúcar, originou-se, assim, a vila de São Jorge dos Ilhéus, que chegou a ser a mais rica e próspera do primeiro século do Brasil Colônia.

A respeito do desenvolvimento econômico de Ilhéus e sua proeminência no contexto colônia, Dias (2007) argumenta que os trabalhos historiográficos apontam, em geral, para um isolamento da região com relação a Salvador, entre os séculos XVI e XVIII, além de uma ausência de destaque na economia agrária, naquele momento. A economia cacaueira, cujo auge se deu no século XIX, teria sido uma espécie de redentora de Ilhéus.

Através de dados demográficos e de testemunhos históricos, o autor demonstra, porém, que havia atividades em pleno desenvolvimento em Ilhéus, nos primeiros séculos coloniais.

No início, a cultura do açúcar garantia a sobrevivência de Ilhéus, cujo auge se deu entre 1550 e 1559. Ainda que precariamente, os engenhos conseguiam se manter. Os problemas existentes gravitavam, justamente, em torno dos conflitos com os indígenas e de uma epidemia de varíola, que afligiu a vila, no ano de 1563. Aos poucos, o cultivo da cana-de-açúcar foi sendo substituído por outros produtos, como a mandioca, o arroz e o algodão.

A vila de São Jorge dos Ilhéus assistiu, porém, a formas diferenciadas de trabalho, no que tange ao contexto colonial mais amplo. As dificuldades de produção enfrentadas pela lavoura não permitiam a compra e a manutenção de escravos, desembarcados em Salvador. Dentre outras alternativas, estabeleceu-se, com isso, um sistema de roças, designado “brecha camponesa”:

Ao que parece, diferentemente da maioria dos senhores de engenho do Recôncavo, mais capitalizados, os produtores da capitania de Ilhéus não detinham os meios para comprar no mercado os produtos necessários à sobrevivência da escravaria. [...] Foi justamente a ‘fraqueza’ dos proprietários, aliada à insegurança que pairava pela Capitania, que teria estimulado o sistema de roças na região [...] (DIAS, 2007, p.80- 81).

Esse sistema consistia na concessão de uma parcela de terra e de tempo para que o escravo trabalhasse para o seu sustento e de sua família e, eventualmente, vendesse o que sobrasse no mercado ou para o próprio senhor. Pensa-se que esse sistema, de certo modo, possibilitava uma relativa integração do escravo negro ao contexto produtivo e, igualmente, lhe proporcionava mais acessos aos dados de língua portuguesa, foco deste estudo. Assim, esse aspecto deve ser considerado na compreensão da realidade linguística de Ilhéus e região.

Segundo Santana et al (2014), a cultura do cacau foi introduzida em Ilhéus no século XVIII, pelos jesuítas – importantes personagens da economia ilheense –, como base para a produção do chocolate. Plantado pela primeira vez no ano de 1746, o cacau foi se alastrando através da mão de migrantes do Norte e Nordeste do país, que chegavam em razão de secas prolongadas e outras mazelas. Aos poucos, as pequenas plantações do fruto foram sendo

submetidas à lógica do capital e se iniciou a concentração da propriedade de terra, que também marcou a história da cidade.

A lavoura cacaueira fez com que a população de Ilhéus tenha se concentrado, por muito tempo, no meio rural. Além disso, aglutinou mão-de-obra direta e indiretamente. As formas produtivas, contudo, foram diversas. Com o fim do tráfico negreiro, Lyra (2007) aponta, por exemplo, a formação de colônias agrárias.

Sobre os colonos, citam-se brasileiros brancos, pobres lavradores, vindos, principalmente, do centro e do norte da Província da Bahia, com vistas à eliminação da mendicância e da criminalidade do ambiente citadino. Visava-se, com isso, não somente à existência de braços atuantes na lavoura cacaueira, mas também ao povoamento do sul da Bahia. Comenta a autora:

Foram incentivadas [...], na segunda metade do século XIX, duas formas de colonização: a colonização nacional e a colonização estrangeira. Esses dois tipos de colonização tiveram características próprias. No entanto, não parece que os dirigentes da Província estavam apenas interessados em resolver um problema social. O direcionamento desse contingente pobre para a região Sul da Bahia deveria estar ligado a razões econômicas. Não devemos esquecer que, a partir do final do século XIX e princípio do XX, foi exatamente nessa região que a lavoura do cacau veio substituir o açúcar nas pautas de exportação do Estado da Bahia. (LYRA, 2007, p.249).

Dessa maneira, a existência de colônias agrícolas no sul da Bahia obedeceu a princípios semelhantes à formação de colônias no Brasil oitocentista, de modo geral: povoamento, mão- de-obra e economia.

Sobre as colônias estrangeiras, a autora informa que foram estabelecidas entre Ilhéus e Canavieiras (município baiano desmembrado de Ilhéus). Eram, sobretudo, formadas por famílias de alemães e poloneses, chegados à volta de 1825.

Além desses, de acordo com o IBGE, a partir do século XIX, vieram também levas de sírios e libaneses para Ilhéus, no mesmo período. Registra-se, igualmente, a chegada, em 1818, de suíços que adquiriram terrenos na área.

O cacau proporcionou não só a chegada de migrantes ou a prosperidade econômica de Ilhéus, mas também modificações mais profundas na cultura, na estrutura e na sociedade local. Menciona-se, primeiramente, a esse respeito, o porto de Ilhéus.

Santos (2016) revela que a história portuária de Ilhéus é longa e rica; remonta ao início do século XX. Em razão das demandas da economia cacaueira, objetivava-se criar um porto que concorresse com o de Salvador. Apesar do vigor econômico proporcionado pelo fruto, ainda havia dificuldades com relação ao transporte e exportação do mesmo. O primeiro contrato para a construção do porto data de 1911, porém as obras só se iniciariam em 1923. Problemas

referentes ao assoreamento da Baía do Pontal, porém, fizeram com que esse primeiro porto passasse por sucessivas reformas, até a sua desativação e construção de um novo porto, em mar aberto, em 197147.

Segundo o autor, esse primeiro porto nunca garantiu a autonomia de Ilhéus com relação a Salvador:

[...] a exportação de cacau jamais pode prescindir do porto de Salvador e, concretamente, havia poucas condições de ampliação da infraestrutura do Porto da Baía do Pontal, considerando os atrasos e dificuldades da Companhia Industrial de Ilhéus em honrar os compromissos firmados no contrato de concessão. (SANTOS, 2016, p.385).

Nota-se, assim, que, em boa parte do século XX, a economia do cacau dependia de Salvador para o transporte e exportação da produção.

Como dito, as práticas culturais ilheenses também sofreram a interferência do cacau, cuja lavoura passou por crises cíclicas. Já com a instalação do primeiro porto, iniciou-se uma espécie de intercâmbio com a Europa, de onde vieram dançarinas, mágicos e outros artistas. Cabarés, clubes noturnos, bares e cassinos passaram a fazer parte da paisagem local e, até hoje, graças à imortalização proporcionada pelas obras do escritor Jorge Amado, atraem turistas durante todo o ano.

Além desses, citam-se bancos e órgãos públicos instalados na cidade. A demanda por educação superior para os filhos da elite cacaueira, que antes migravam, para tal finalidade, motivou a criação da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), na década de 1960. Hoje, a UESC é a segunda instituição mais importante no âmbito da produção científica na Bahia, e, para ela, afluem estudantes de todo o país. No ano de 2011, passou a funcionar, também em Ilhéus, um campus do IFBA.

Além do cacau, cuja última crise se deu entre as décadas de 1980 e 1990, em razão da praga conhecida como vassoura de bruxa, Ilhéus vive do turismo, na atualidade. Suas praias, construções históricas e a memória de Jorge Amado são os pontos de interesse dos visitantes. Ademais, tem-se o município vizinho, Itacaré (70 km ao norte de Ilhéus), como uma atração importante.

Destacam-se, ainda, atividades industriais, sobretudo aquelas que se desenvolvem no campo da informática, como um aspecto relevante para a vida contemporânea de Ilhéus.

47 Segundo a página da Companhia das Docas do Estado da Bahia (CODEBA), o primeiro porto de Ilhéus foi construído na foz do Rio Cachoeira e desativado na década de 1940. O novo porto, Porto de Malhado, é o primeiro porto em alto mar construído no Brasil. Por ele, hoje, passam toneladas de cargas e milhares de turistas.

3.2.20 Itapetinga

Figura 21 – A cidade de Itapetinga no Estado da Bahia

Itapetinga, localizada no centro-sul do Estado da Bahia, está afastada, aproximadamente, 600 quilômetros de Salvador. Situa-se nos arredores de Vitória da Conquista, estando separadas por 100 quilômetros. Essas cidades guardam as mesmas origens históricas.

O acesso a Itapetinga se dá prioritariamente mediante viagens pela BR-116, para quem parte de Salvador, pela BR-415, para quem se dirige à cidade via Vitória da Conquista, e pela BA-001, passando por Ilhéus.

O povoamento da região de Itapetinga, primeiramente ocupada por índios de etnia não tupi, remonta à tentativa de desbravamento da estrada que ligaria Ilhéus a Vitória da Conquista, proporcionando, assim, uma ligação entre o sudoeste e o sul do Estado. Esse fato se deu à volta de 1910. Em 1912, diz-se que Bernadino Francisco de Souza, desbravou matas locais e estabeleceu residência no território que viria a constituir Itapetinga. A partir daí, consolida-se um arraial subordinado a Vitória da Conquista.

Anos mais tarde, em 1923, o povoado de “Itatinga” se consolidou, após o desmatamento de dez hectares de terra por Augusto de Carvalho. Com o desenvolvimento das atividades agropecuárias no local, passou à condição de distrito em 1933.

Nos primeiros anos, atraiu muitos migrantes, por conta da criação de gado. A cidade se destaca ainda pelo gado de corte, havendo grandes exposições. Chegou a ser considerada um centro agropecuário do Brasil, na década de 1960. Hoje, ainda possui o status de maior produtora bovina da Bahia e do Nordeste (SOUZA, 2009).

Itapetinga passou por um rápido crescimento econômico, elevando-se a cidade, emancipada de Vitória da Conquista, em 1952.

Hoje, é um importante centro econômico e social da sua região. A indústria, em especial as fábricas de calçados, constitui-se como um centro gerador de empregos da cidade. A tomada de espaço pela indústria se deveu às crises enfrentadas pela pecuária, uma vez que a ausência de chuvas e as condições do solo interferiram nessa prática.

Além do seu parque industrial, destaca-se o campus da UESB, onde são oferecidos cursos como Zootecnia, Ciências Biológicas, Química, Pedagogia e Engenharias. Durante as festas juninas, a cidade atrai muitos turistas.