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Devido à crescente expansão da educação a distância e das inúmeras possibilidades de interação dela advindas, a implementação de programas formativos baseados nessa modalidade de educação constitui-se, hoje, em iniciativa favorável ao desenvolvimento dos profissionais do ensino e à mobilização de mudanças no âmbito das escolas em face as atuais condições de trabalho do professor. Além disso, Peters (2004) preconiza que a educação a distância possibilita meios de se lidar com as exigências sociais, com os novos objetivos educacionais e os distintos grupos de aprendizes.

A EaD, em conseqüência dos estudos e investimentos que têm sido realizados em torno de sua viabilidade e limites, assumiu nova definição no decreto 5.622, de 19 de dezembro de 2005, no qual passou a ser concebida como

modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos.

A concepção presente na legislação nacional evidencia um modelo de educação que toma os recursos de interação e comunicação como elemento mediador nos processos de ensino e aprendizagem, enquanto que o docente e o aluno encontram-se em extremidades opostas desse sistema de interação e o conhecimento sequer é mencionado. A meu ver, essa definição desloca o foco da EaD para a questão da superação dos limites geográficos e atemporalidade da comunicação entre os interlocutores.

Ainda, pode-se verificar que a concepção proposta nesse decreto tornou-se o paradigma vigente em termos de educação a distância no Brasil. Com isso, a EaD constitui-se hoje em uma modalidade de educação de fácil abrangência geográfica, relativamente flexível em termos de cronograma e horários e favorável à divulgação de experiências entre interlocutores online e offline. Isso posto, compreendo que as distintas formas de interação, favorecidas pelos ambientes de EaD, podem propiciar a formação pessoal e profissional dos sujeitos envolvidos. Por essa razão, considero a EaD adequada aos processos de formação continuada de professores, segundo a concepção assumida nessa pesquisa.

A educação a distância, consonante Rumble (2003, p.107), constitui-se atualmente em “um meio de atender às diferentes necessidades de formação, constituindo, algumas vezes, uma alternativa ao ensino regular; em outros casos, atende às demandas que não podem ser satisfeitas de outra forma”. Aponto nessa definição a ênfase posta na inviabilidade da educação presencial como sendo um imperativo à expansão da EaD.

A respeito da expansão da EaD, Gouvêa e Oliveira (2006) esclarecem que “nas últimas décadas ela foi revisitada em decorrência das TICs e o computador e a Internet são os principais atores envolvidos no grande impulso que ela sofreu, além das políticas públicas para a área” (p.53) e que “o impulso sofrido pela EaD nas últimas décadas do século XX reacendeu as discussões em torno de suas qualidades e/ou deficiências em comparação com o ensino presencial” (p.61). Ainda, postulam que os programas

de formação na modalidade a distância estão sempre apoiando-se em recursos atualizados das Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC. Vale destacar que desde o envio de correspondência escrita até o uso da web, programas em educação a distância vêm adotando tecnologias mais avançadas, que constituíram um grande facilitador do processo de implementação de tais programas (p.59).

Discutindo o papel das tecnologias na educação, Kenski (2007, p.66) pontua que as “TICs e o ciberespaço, como um novo espaço pedagógico, oferecem grandes possibilidades e desafios para a atividade cognitiva, afetiva e social dos alunos e dos professores de todos os níveis de ensino, do jardim de infância à universidade”.

Partindo dessa realidade e visando favorecer o desenvolvimento profissional docente, considero necessário e adequado promover práticas formativas baseadas no uso de recursos como os ambientes de bate-papo virtual, teleconferências, videoconferências, correios eletrônicos, e-mails, fóruns de discussão etc., pois esses podem favorecer a interação entre sujeitos e o acesso ao conhecimento, potencializando as práticas formativas e contribuindo no desenvolvimento profissional docente e mudanças na cultura escolar.

Por outro lado é relevante considerar que muitas das propostas de formação continuada planejadas pelos gestores da educação, não são colocadas em prática por falta de apoio das equipes diretivas das instituições de ensino, aceitação do corpo docente da necessidade de investir em formação, ausência de infraestrutura adequada e de um projeto político pedagógico favorável às mudanças educacionais. Em outros casos, muitos dos programas implementados e que se baseiam na EaD, são inviabilizados por essas e outras razões, como a limitação de tempo na agenda docente, que é agravada com as atuais condições de trabalho do professor.

Partindo dessa premissa e das considerações de Gouvêa e Oliveira (2006), entendo que as propostas de formação docente devem ser fomentadas pelas políticas públicas, receber apoio dos gestores e dirigentes do ensino e, principalmente, envolver os professores em todas as etapas desse processo, pois a partir desse envolvimento coletivo e da criação de condições para formação e implementação de novas práticas, avanços em termos de qualificação docente e mudanças educacionais tornam-se possíveis.

Analogamente, considero essencial que esses programas adotem um modelo de educação/formação adequado à realidade e às necessidades dos sujeitos para os quais são destinados, quer seja por meio de cursos totalmente a distância ou híbridos, mas que estejam em consonância com as necessidades do público focado. É nessa perspectiva que ações formativas isoladas têm sinalizado avanços em termos da compreensão do processo de desenvolvimento profissional, promovido na modalidade a distância e/ou semipresencial.

Em síntese, conforme Arcavi e Schoenfeld (2006), para que as propostas de formação docente, pautadas em EaD, priorizem a qualidade da educação, precisam promover a mobilização e o engajamento do corpo docente em atividades formativas diversas, bem como propor estratégias pedagógicas que levem em conta a especificidade do contexto de atuação dos professores. Precisam, ainda, considerar os conhecimentos relativos à prática que estes profissionais dispõem, incluindo o conhecimento específico e tecnológico, assim como promover o entrelaçamento entre esses conhecimentos e as necessidades específicas desses professores por meio da realização de ações formativas em sinergia com o movimento de mudanças manifestadas no contexto social. Igualmente, para fomentar e qualificar a interação entre os interlocutores o formador precisa assumir distintos papéis, atuando como mediador, moderador e estimulador nas interlocuções.

3.6.1. Mediação do formador e a qualidade das interlocuções em EaD Para Alves (2007) o formador assume importante papel em EaD, pois ele precisa estimular a argumentação, problematizar as discussões visando fomentar as interações, incentivar cada um dos participantes (até aqueles mais tímidos) a entrar no debate e manter o grupo na discussão. Em síntese, ele precisa promover o “estar junto virtual”.

Abordando aspectos relativos às particularidades da educação a distância, Borba, Malheiros e Zulatto (2007) comentam que a natureza da prática docente na EaD é modificada de acordo com as interfaces que são utilizadas, pois a especificidade de cada uma dessas pressupõe estratégias pedagógicas diferenciadas. Complementando, esses autores destacam alguns aspectos como sendo primordiais para a efetivação da educação a distância, como, a agilidade na digitação nas interações via chat, a oralidade clara e pausada nas interlocuções mediadas por videoconferências e a habilidade em lidar com os diversos recursos do ambiente virtual concomitante à fala.

Embora as competências mencionadas por esses autores sejam importantes em EaD, sublinho que elas, somente, não asseguram a qualidade das interações entre os interlocutores ou da educação provida. Complementando o domínio da técnica (digitar, falar) na realização

da EaD, considero que o professor precisa dispor de tempo, muito tempo, para fomentar a discussão entre os sujeitos e a interação entre professor e aluno, quer seja enviando/respondendo correio eletrônico; propondo e comentando fóruns de discussão; criando e disponibilizando atividades ou postando material de apoio.

Ainda, saliento que o professor formador em EaD precisa usufruir de certa autonomia no gerenciamento da prática pedagógica online, pois freqüentemente ele é surpreendido por imprevistos de ordem técnica, pedagógica, institucional, ética e profissional, que requerem decisões imediatas. Precisa ter paciência e espírito motivador para manter o grupo ativo e, sobretudo, precisa ter diplomacia para lidar com questões éticas, políticas ou mesmo de comprometimento e responsabilidade profissional, envolvendo alunos engajados em uma comunidade virtual, que podem surgir no decorrer dos debates aí promovidos.

E mais, considero que o professor formador necessita dispor de amplo conhecimento sobre os temas pedagógicos e os conteúdos específicos da sua área de atuação abordados nas “aulas virtuais”, precisa mostrar competência na elaboração de dinâmicas de aprendizagem diferenciadas, assim como um bom conhecimento sobre os recursos técnicos e tecnológicos utilizados na prática docente em EaD. Ressalto que as exigências mencionadas nesse parágrafo se aplicam, igualmente, à aula presencial, pois tanto presencial quanto a distância, uma docência qualificada pode assegurar uma educação de qualidade.

Sobre os programas de formação em EaD, dados provenientes de estudos mostram que há certa resistência por parte dos participantes em permanecerem ativamente envolvidos nas atividades via chat, fórum de discussão etc. Relatos sobre a dificuldade de manter grupos ativos, bem como de elevar a assiduidade dos participantes são bastante freqüentes entre pesquisadores e promovedores de EaD, de modo que dados oficiais revelam que a média de evasão em cursos a distância, baseados na Internet, ultrapassa o índice de 40%.

Essa questão pressupõe uma análise acerca do planejamento e desenvolvimento de dinâmicas formativas pautadas em EaD, visando identificar quais fatores são determinantes na mobilização dos participantes e quais aspectos contribuem à dissipação desses grupos. E, portanto, esse conjunto de questões sugere um pensar, também, sobre a formação de formadores que promovem educação a distância.

A respeito das dificuldades comentadas nos parágrafos anteriores, penso que aspectos como interesse pessoal, atuação do formador, valorização do conhecimento da prática do professor e estrutura metodológica e pedagógica da atividade proposta podem fomentar o engajamento dos participantes. Além disso, considero conveniente promover situações que favoreçam a investigação dos recursos que estão disponíveis no ambiente utilizado nas

interações, bem como aqueles que podem ser incorporados às atividades desenvolvidas pelos interlocutores. Não menos importante, destaco a relevância de adaptar o cronograma de atividades à realidade do público focado, uma vez que a incompatibilidade de horários inviabiliza as interlocuções entre os membros desse coletivo.

Gouvêa e Oliveira (2006) consideram que em EaD a interação entre formador e aprendizes, no sentido de pessoas em formação, assume um contorno diferenciado, visto que essa modalidade possibilita a superação da distância geográfica entre os interlocutores envolvidos. Desse modo, entendem que as tecnologias modificam a relação entre as três instâncias da EaD, isto é, entre formadores, aprendizes e a interação entre ambos. Na visão dessas autoras, a possibilidade de superar distâncias físicas é uma forma de intensificar a interação entre os interlocutores e, portanto, pode qualificar a educação provida em EaD.

A consistência e a freqüência da interação entre membros de um grupo dependem das possibilidades de acesso dos participantes, das suas condições de trabalho, do comprometimento de cada um com as atividades propostas, da familiaridade dos interlocutores com os recursos presentes nas interações, bem como da capacidade de mobilização e engajamento daquele que assumir a função de coordenar, gerir e liderar as atividades (papel esse assumido pelo formador).

Em Bairral (2007) há uma relevante discussão acerca das interações promovidas em fóruns de discussão, na qual esse autor busca evidenciar nós cognitivos presentes na dinâmica interativa envolvendo professores em formação. Nesse estudo, o autor defende que em fóruns de discussão, entendidos como “lugar de resposta mais flexível temporalmente e de socialização contínua de práticas” (p.66), diversos pontos de interatividade utilizados por docentes – conteúdos abordados, fatores sociais internos e externos que interferem no desenvolvimento desses profissionais – são identificados. Contudo, esse autor não discute a especificidade da mediação docente na comunicação assíncrona e a forma como essa atuação pode interferir na aprendizagem matemática promovida nesse espaço virtual.

Em se tratando da formação continuada docente semipresencial em matemática, pondero que ainda há desafios a serem enfrentados em função da dinamicidade do processo de produção do conhecimento matemático baseado no uso de tecnologias, da articulação entre os conhecimentos da prática dos professores e da dinamicidade do próprio processo de desenvolvimento profissional docente, bem como da especificidade no modo de produzir matemática nesses ambientes.