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Políticas de educação a distância para a formação de professores

3.5. Educação a distância e formação continuada docente

3.5.1. Políticas de educação a distância para a formação de professores

distância, configuradas como programas formativos, e diversas delas evidenciam a formação docente, como o IRDEB, o projeto SACI, LOGOS I e II, o projeto Ipê, o Programa de Educação Continuada etc. Além dessas, destaco as iniciativas recentes do Ministério da Educação, como o Proformação, TV Escola, ProInfo, Licenciatura em Educação Básica etc.

O projeto Satélite Avançado de Comunicações Interdisciplinares (SACI) foi idealizado pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) entre 1967 e 1968. Porém, as atividades educativas foram iniciadas somente em 1972 com a formação de alguns supervisores e professores, os quais atuaram como formadores na primeira experiência de educação a distância desse projeto. Entre os anos de 1973 e 1974 o SACI inaugurou uma experiência piloto no Rio Grande do Norte, baseada na difusão via satélite de aulas pré-gravadas, estruturadas como telenovelas, acompanhadas de material impresso, que era enviado pelo correio a todos os alunos. Essas aulas destinavam-se a alunos das séries iniciais e professores sem formação específica para exercer a função docente.

O Instituto de Rádio Difusão Educativa da Bahia (IRDEB), fundado em 1969 e em funcionamento até 1977, concebeu, produziu e veiculou inúmeros programas de rádio e televisão educativos em nível de ensino fundamental e médio, bem como programas para professores visando a sua formação em serviço e continuada. O IRDEB utilizou, além do rádio e do correio, a televisão como veículo de difusão das aulas ministradas e divulgação das atividades pedagógicas destinadas ao público envolvido [professores e alunos]. Esse projeto dispunha de apoio pedagógico aos alunos e professores, promovido em sessões de monitoria, que eram realizadas presencialmente, em unidades-sede, ou por telefone.

O projeto LOGOS I e II foi criado pelo Ministério da Educação em 1973, mediante o parecer 699/72. As atividades desse projeto principiaram em 1975, quando foi realizada uma experiência piloto no Paraná com o objetivo de habilitar professores leigos do ensino fundamental e médio, utilizando-se de material impresso e de sessões de tutoria local, realizadas por meio de uma central de atendimento postal e telefônica. Essa iniciativa foi planejada e promovida pela Secretaria de Educação do Paraná em conjunto com o Centro de Treinamento de Professores do Paraná (CETEPAR) e formou mais de 10 mil professores. Em 1976 foi desenvolvido o LOGOS II, visando expandir o projeto para outros estados

brasileiros. De acordo com Sganzerla (2002), o projeto LOGOS foi implementado em 19 estados brasileiros, atendendo cerca de 50 mil alunos, dos quais 70% receberam certificação.

O projeto Ipê foi instituído em 1984 pela Fundação Padre Anchieta e pela Secretaria do Estado de São Paulo. Pautava-se na produção e distribuição de cursos de atualização e capacitação para professores do ensino fundamental e médio, antigos 1º e 2º graus respectivamente, que eram transmitidos pela TV Cultura. O projeto Ipê funcionou até 1992, período esse em que capacitou cerca de 400 mil professores alfabetizadores no Estado de São Paulo. Este projeto é considerado um dos precursores do TV Escola.

Com a criação da Secretaria de Educação a Distância (SEED) em 1996, vinculada ao Ministério da Educação, foram desenvolvidos vários programas de formação inicial e continuada de professores, como o TV Escola, ProInfo, Proformação, Rádio Escola, Mídias na Educação etc. A SEED tem por meta formular e implementar, em todos os níveis e modalidades de ensino da rede pública de ensino brasileira, políticas de universalização e democratização da educação e do conhecimento, por meio da infoinclusão e de programas de formação inicial e continuada, promovidos na modalidade a distância (BRASIL, 2004).

A TV Escola é um canal de televisão aberto, essencialmente destinado à educação, que é transmitido via satélite para todo o Brasil desde 1996. Sua programação exibe, durante 24 horas diárias, séries e documentários, produções do próprio TV Escola, abrangendo educação básica, Salto para o Futuro e Escola Aberta. Esse canal visa capacitar, atualizar, aperfeiçoar e valorizar os professores da rede pública da educação básica e qualificar a educação, assim como incentivar o uso dos programas transmitidos na prática de sala de aula. Para usufruir desse canal as escolas públicas foram equipadas, ao longo da década de 90, com antena parabólica (analógica ou digital) e aparelhos de televisão e vídeo. Devido à falta de formação para uso desses recursos, no RS esses recursos foram pouco utilizados.

Mídias na Educação15 é um programa de educação a distância com estrutura modular, que visa proporcionar formação continuada para o uso pedagógico das diferentes tecnologias – TV e vídeo, informática, rádio e impresso e é destinado aos professores da educação básica. Seus objetivos são: destacar as linguagens de comunicação mais adequadas aos processos de ensino e aprendizagem; incorporar programas da SEED (TV Escola, Proinfo, Rádio Escola, Rived), das instituições de ensino superior e das secretarias estaduais e municipais de educação no projeto político-pedagógico da escola e desenvolver estratégias de autoria e de formação do leitor crítico nas diferentes mídias.

15Disponível <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12333&Itemid=682>. Acesso em: 30 set. 2009.

O Programa de Formação de Professores em Exercício (Proformação) se constitui num curso em nível de ensino médio, na modalidade Normal (curso de magistério), que habilita profissionais sem formação para a docência para atuar nas séries iniciais do ensino fundamental. Esse programa é promovido pelo Ministério da Educação em conjunto com os estados e municípios e está em execução desde 1999.

O público focado no Proformação são professores que atuam até o 5º ano do ensino fundamental, bem como nas classes de alfabetização ou Educação de Jovens e Adultos de escolas públicas, que não dispõem da formação mínima exigida. Esse programa inclui atividades à distância, orientadas por material vídeo-gráfico, e atividades realizadas presencialmente, as quais são concentradas em períodos de férias escolares ou distribuídas ao longo do ano em encontros quinzenais aos sábados. Abrange, também, atividades de prática pedagógica nas escolas dos professores em formação, as quais são supervisionadas por tutores ou monitores e diluídas ao longo do período letivo. Devido às características relatadas o Proformação se constitui num curso de formação de caráter semipresencial.

O Proformação iniciou as atividades oferecendo cursos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país. A primeira turma foi implantada em 1999, como um projeto piloto, nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, habilitando 1.323 professores até 2001. Em 2000, foram implantados os Grupos I e II, envolvendo os estados do Acre, Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rondônia, Sergipe e Tocantins. Com essa expansão foram diplomados cerca de 22 mil professores.

No que se refere à formação inicial, considerada uma iniciativa pioneira no Brasil, está a Licenciatura em Educação Básica da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). O Núcleo de Educação Aberta e a Distância (NEAD) da UFMT iniciou em 1995 o primeiro curso de graduação na modalidade a distância do país, com vistas a formar professores para as quatro primeiras séries do ensino fundamental. Essa Licenciatura inclui atividades à distância e presenciais, baseadas em videoconferências, aulas pré-gravadas e instantâneas e interações mediadas por computador. Ainda, conta com um orientador acadêmico16, que tem por função auxiliar os licenciandos em trabalhos acadêmicos.

De acordo com informações apresentadas no Anuário Estatístico de Educação Aberta e a Distância da ABED (Associação Brasileira de Educação a Distância), publicado em 2008, existem no Brasil, atualmente, 349 cursos de graduação a distância credenciados no MEC, atendendo 435 mil alunos e 255 cursos de pós-graduação, em nível lato sensu, com 390 mil

16 Profissional escolhido pela universidade em processo seletivo que envolve professores da rede pública. Após seleção esse professor recebe capacitação para atuar, em período integral, nos Centros de Apoio aos Estudantes.

alunos inscritos e muitos projetos de criação de novos cursos a distância já aprovados. Sobre isso, considero que a expansão da EaD, juntamente com a criação de novas universidades públicas, centros tecnológicos federais e ampliação das universidades existentes evidenciam a preocupação do poder público com a educação nacional, à medida que o governo federal assume o compromisso de democratizar o ensino superior no Brasil.

O Programa de Educação Continuada para formação universitária, criado em 2001, é desenvolvido pela Secretaria do Estado de São Paulo e visa prover formação, em nível superior, a professores do 1º ao 5º ano do ensino fundamental da rede pública estadual. Esses cursos são semipresenciais, com duração de 18 meses e subdividem-se em salas de aprendizagem, constituídas de 30 ou 40 alunos. Nessas salas atuam: um tutor, que acompanha os cursistas presencial e diariamente; um professor orientador; um professor assistente e os vídeoconferencistas. As formas de comunicação utilizadas são: teleconferências (transmitidas pela TV Cultura), videoconferência, interação online baseada na plataforma LearningSpace e material impresso, que é elaborado por docentes de instituições públicas como Unesp e USP.

Dos programas oficiais de formação docente baseados em EaD, destacados ao longo dessa seção, apenas o IRDEB, o Ipê e o TV escola referem-se a formação continuada na perspectiva do desenvolvimento profissional. Os demais programas apresentam uma concepção de formação continuada, que é, na verdade, formação em serviço, visto que buscavam (e buscam) certificar professores em exercício que não dispunham (e não dispõem) de formação específica à docência. Ou seja, há poucas iniciativas que priorizam a formação continuada de professores da escola pública, com ênfase no desenvolvimento profissional.

Com relação à formação continuada de professores, realizadas na modalidade semipresencial ou a distância, constatei que poucas experiências têm sido realizadas no Brasil. Dentre as mais citadas, está a Rede Nacional de Formação Continuada, criada em 2006, comentada anteriormente. Contudo, iniciativas isoladas estão sendo promovidas por pesquisadores da área de educação (em diversas áreas do conhecimento), que investigam a formação profissional docente, assim como por universidades públicas e privadas que realizam ações formativas com professores da rede pública em parceria com as secretarias estaduais e municipais de educação.

Em síntese, as ações de formação continuada pautadas em EaD, na perspectiva do desenvolvimento profissional docente, têm sido limitadas e restringem-se as ações que são promovidas por instituições destinadas a formação de profissionais da educação, em geral universidades públicas, assumindo caráter de cursos de extensão. Esse aspecto sinaliza que as possibilidades pedagógicas da educação a distância têm sido pouco exploradas para esse fim.