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4.6. A evolução da prática formativa promovida

4.6.2. Evolução das atividades do Curso

Após rever os encaminhamentos do primeiro encontro, retomei a seqüência dos encontros presenciais. No segundo encontro presencial exploramos o software Graphmatica, na versão português, retomando a sintaxe matemática. Depois dessa revisão o grupo mostrou- se animado com as possibilidades gráficas do software e sentiu-se confortável na interação com o mesmo e no desenvolvimento das atividades matemáticas. Tendo em vista as possibilidades gráficas desse software, foi necessário dedicar mais uma sessão à abordagem do tema funções, visando explorar outras famílias, além das polinomiais.

No terceiro encontro presencial comecei a notar uma disparidade no ritmo de trabalho dos professores. Embora houvesse dificuldades comuns em manusear o Graphmatica, em buscar as funções nos menus e dúvidas em relação à sintaxe, havia um grupo que avançava nas discussões em torno das questões propostas, enquanto outros trabalhavam de forma individualizada, evitando participar dos debates.

Esse aspecto, para a pesquisa, constituiu-se em problema, pois aqueles docentes mais tímidos sentiram-se inibidos diante dos debates dos grupos mais ativos e dinâmicos. Esse desnível, ao invés de fomentar reflexões, tornou-se, para alguns docentes, elemento desmotivador e pode ter contribuído para que duas docentes decidissem abandonar o Curso.

Preocupada com a insegurança demonstrada por alguns professores com relação aos recursos tecnológicos apresentados, busquei formas de auxiliá-los. Para isso, realizei sessões extras entre um sábado e outro, em horários noturnos, para aqueles que quisessem retomar atividades de familiarização e matemáticas. Nessas, retomávamos as funcionalidades dos softwares, desenvolvíamos atividades matemáticas, visitávamos o ambiente TelEduc e conferíamos as novidades postadas nas ferramentas e, também, conversávamos sobre a realidade profissional de cada um, concepções sobre a profissão docente, perspectivas profissionais, etc. Tais atividades foram promovidas ao longo do Curso, na modalidade presencial e a distância.

Considero que esses momentos, de interação informais, foram saudáveis para o entrosamento dos sujeitos e contribuíram para a solidificação do grupo, enquanto profissionais comprometidos com sua formação e desenvolvimento profissional.

No quarto encontro presencial iniciamos as atividades com o Geometricks, focando conteúdos de geometria plana e analítica. Nesse, procedi de forma diferente, pois constatei que a estratégia adotada até então não era coerente com as necessidades e o ritmo do grupo. Mostrei rapidamente a interface do software e em seguida iniciamos o desenvolvimento das atividades, as quais eram desenvolvidas e exibidas com projetor multimídia e reproduzidas pelos professores. Avaliei que esse encaminhamento poderia facilitar a familiarização com as funcionalidades do Geometricks. Como não concluímos o plano de trabalho com esse software, foi necessário promover mais um encontro para que outras atividades fossem exploradas. Assim, o quinto encontro presencial ocorreu no dia 1º de setembro.

Ao longo desses cinco encontros presenciais foram realizados, alternadamente, três mini-debates (em torno de 30 minutos cada) usando a sala de bate-papo do TelEduc, visando familiarizar os professores com esse ambiente, sendo que numa dessas houve a participação do orientador da pesquisa. Além desses momentos, promovi conversas informais, via chat, aos finais de semana, nas quais apenas uns poucos professores participavam. Tais encontros foram sugeridos pelo grupo, pois muitos demonstraram total falta de familiaridade com o ambiente e com essa forma de interação, incluindo-se a própria dinâmica que perpassa as discussões síncronas em EaD.

Dando continuidade ao programa do Curso, iniciamos as sessões a distância. Ocorreu no dia 08 de setembro a primeira sessão a distância usando chat. Essa sessão foi realizada no turno da manhã, das 9 às 12 horas, e as reflexões desencadeadas pautaram-se nas leituras dos textos de Kenski (2007)23 e Penteado(2004)24, cujo eixo temático evidencia as possibilidades educacionais e formativas emanadas do uso das tecnologias, em particular da Internet.

Essa sessão foi marcada por vários imprevistos. Houve atrasos, dificuldades de acesso ao ambiente TelEduc, problemas de conexão, dispersão nas discussões, baixo fluxo de participações, etc. Porém, esses conflitos não me preocuparam, pois sabe-se que tais dificuldades são comuns em cursos realizados nessa modalidade, uma vez que é necessário um período de adaptação com as ferramentas e com a especificidade pedagógica desse espaço. E, considerando a realidade do coletivo dessa pesquisa e a falta de experiências de muitos professores com EaD, avaliei que esse primeiro encontro foi razoavelmente produtivo, pois todos procuraram participar, a seu modo, do debate.

23 KENSKI, V.M. Educação e Tecnologias: o novo ritmo da informação. Campinas: Papirus, 2007. p.15-62. 24 PENTEADO, M. G. Redes de trabalho: Expansão das Possibilidades da Informática na Educação Matemática da Escola Básica. In: BICUDO, M. A. V.; BORBA, M. C. (Orgs.). Educação Matemática: pesquisa em movimento. São Paulo: Cortez, p. 283-295, 2004.

A baixa participação deve-se, em partes, ao receio demonstrado pelos professores em manifestar opiniões, propor novas questões para debate ou, em argumentar sobre temas levantados, bem como pela dificuldade (demora) na digitação. Por fim, alguns docentes sugeriram que a quantidade de leitura (números de páginas) para cada encontro fosse menor, pois em função da densa carga horária de trabalho, muitos não conseguiram ler todo o material destinado para essa primeira sessão de discussão.

Complementando esse encontro foram realizados outros três, nos quais as dificuldades em lidar com o ambiente TelEduc foram diminuindo gradativamente. Por outro lado, alguns professores mostravam-se pouco comprometidos com as atividades e, por vezes, não liam o material para os debates. Somado a isso, observei que havia professores que limitavam-se a ser ouvintes nas discussões mediadas pelo chat. Para trazê-los às discussões, procurava encaminhar mensagens direcionadas, questionava-os acerca de suas opiniões sobre o tema debatido e solicitava que se posicionassem na discussão. Esses encaminhamentos fizeram com que esses professores entrassem, mesmo que timidamente, no debate. Propus, ainda, vários fóruns de discussão para intensificar a interação entre os interlocutores e complementar as atividades realizadas a distância.

A segunda sessão a distância ocorreu no dia 15 de setembro, no turno da tarde, com início às 14 horas e término às 17 horas. Nessa, foram desencadeadas reflexões a partir das discussões sobre textos de Rocha (2002)25 e Oliveira (2000)26, os quais versam sobre as possibilidades do ambiente TelEduc para a educação a distância e a formação continuada de professores.

A terceira sessão a distância foi promovida no dia 29 de setembro no período da tarde. Nessa, disponibilizei leituras sobre o papel das tecnologias na construção do conhecimento, segundo os preceitos teóricos do Construcionismo, tomando como representantes Maltempi (2005)27 e Papert (2003)28.

25 ROCHA, H.V. O Ambiente TelEduc para Educação a Distância Baseada na WEB: Princípios, Funcionalidades e Perspectivas de Desenvolvimento. In: MORAES, M.C. Educação a Distância: Fundamentos e Práticas. Campinas: UNICAMP/NIED, p.197-204, 2002.

26 OLIVEIRA, L.M.P. Educação a Distância: Novas Perspectivas à Formação de Professores. In: MORAES, M.C. Educação a Distância: Fundamentos e Práticas. Campinas: UNICAMP/NIED, 2000. p.91-97.

27 MALTEMPI, M. V. Novas Tecnologias e Construção de Conhecimento: Reflexões e Perspectivas. In: CONGRESSO IBERO-AMERICANO DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA - CIBEM, 5., 2005, Porto, Portugal.

Anais... Porto: APM - Associação de Professores de Matemática de Portugal, 2005. v.1, p.01-11.

28 PAPERT, S. Qual é a grande idéia? Passos em direção a uma pedagogia do poder das idéias. Teoria e Prática

Para a quarta sessão a distância indiquei leituras que focavam as dimensões da educação a distância e a produção matemática no coletivo humanos-com-mídias, disponibilizando os textos de Borba (2002; 2004)29, buscando favorecer reflexões sobre as possibilidades de produzir matemática em ambientes virtuais. Entretanto, esse encontro não ocorreu, pois houve um problema com a Internet no campus da Unesp de Rio Claro e, como o TelEduc encontra-se hospedado nesse provedor, não pudemos acessá-lo. Assim, entrei em contato com o monitor do Curso, que convidou os participantes a reunirem-se no laboratório de informática usado nos encontros presenciais, com o objetivo de desenvolver atividades matemáticas, usando os softwares apresentados anteriormente. A sugestão foi aceita e os professores desenvolveram atividades, que foram postadas no Portfólio do Grupo.

Para compensar a não realização do debate no chat, propus um Fórum de Discussão para discutirmos as implicações do uso de softwares de geometria dinâmica na demonstração matemática e sobre o processo de formação de professores na modalidade a distância, além das atividades matemáticas que foram realizadas presencialmente pelos mesmos. O debate sobre os textos citados foi protelado para a sessão a distância seguinte, a qual foi promovida no dia 17 de novembro. Com isso, precisei rever o plano de leituras, de modo que algumas foram excluídas e outras foram transferidas de data, pois me preocupei em contemplar todos os temas do programa do Curso com, pelo menos, uma leitura específica.

Prosseguindo com o cronograma do Curso, promovi mais três encontros presenciais, os quais foram realizados, também aos sábados, ora pela parte da manhã e ora à tarde. Esses ocorreram em 20 de outubro, 03 e 09 de novembro. Nesses dias foram desenvolvidas atividades voltadas à geometria plana, geometria espacial, polinômios, matrizes, plotagem de dados numéricos em duas e três dimensões, bem como foram apresentados os recursos do software Cabri Géomètre, Wingeom e MuPAD.

Observei, ao longo desses três encontros, que os professores sentiam-se mais confortáveis em argumentar e conjecturar nas discussões matemáticas e, também, nas discussões sobre outros assuntos, incluindo-se os debates sobre leituras realizadas. Notei, entre esses docentes, por um lado, resistência em acreditar e arriscar-se na EaD e, por outro, deslumbramento com as possibilidades dessa modalidade de educação.

29 BORBA, M.C. Seres humanos-com-mídias e a produção matemática. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA-SBPEM, 1., 2002, Curitiba, PR. Anais .... Curitiba: UFPR, 2002, v.1. p.135-146.

BORBA, M.C. Dimensões da Educação a Distância. In: BICUDO, M.A.V.; BORBA, M.C. (Orgs.). Educação

Por último, foram promovidas outras três sessões a distância, realizadas nos dias 17 e 24 de novembro e 1o de dezembro de 2007. Nessas, propus atividades de reflexão e discussão sobre as possibilidades da EaD à formação de professores, a construção do conhecimento em sala de aula, bem como sobre questões matemáticas. Para a quinta sessão a distância, retomamos os textos de Borba (2002; 2004). Nesse, o nível de discussões foi bom, uma vez que houve boa participação dos professores.

Em vista de que as participações vinham oscilando, sugeri uma mudança para a sessão de 24 de novembro e 1º de dezembro. Propus que todos deveriam manifestar sua opinião após cada questionamento ou reflexão sugerida por mim ou pelo monitor e, após isso, novas questões poderiam ser lançadas por qualquer interlocutor e debatidas pelo grupo. Esse procedimento estimulou a participação dos professores. Na sexta sessão a distância, debatemos o texto de Richit e Maltempi (2005)30 e desenvolvemos atividades matemáticas.

Na sétima sessão a distância, que foi também a última na modalidade a distância, os professores refletiram e debateram sobre a concepção dialética do conhecimento, a partir da leitura do texto de Vasconcellos (2004)31, procurando relacionar essa visão de conhecimento com o ensino e a aprendizagem de matemática pautado no uso de tecnologias.

Sobre as mudanças sugeridas nas últimas sessões virtuais, esclareço que havia sido previamente definido que em cada sessão teríamos um debatedor e um relator. O primeiro, deveria fomentar o debate e, o segundo, redigir um texto descritivo e crítico sobre a sessão. Porém, como houve resistência entre os professores em assumir esses papéis, após a quinta sessão, essas funções foram assumidas, primordialmente, pela formadora e pelo monitor.

Um aspecto notável no grupo foi a disposição e a receptividade. Havia sempre muita animação e alegria durante as atividades e, até mesmo, os erros e a falta de familiaridade com os recursos mostrados tornavam-se motivos de brincadeira e reflexão entre eles. Devido a essa característica, sempre que uma nova atividade era iniciada ou um novo recurso mostrado, o grupo manifestava expectativa, curiosidade e vontade de aprender. Ainda, distintamente, mostraram-se atentos às explanações sobre os recursos tecnológicos apresentados, envolvidos com as atividades propostas, questionadores sobre as representações gráficas obtidas por meio dos softwares e críticos com a falta de comprometimento docente com a própria atualização e com a necessidade de modificação da prática de sala de aula.

30 RICHIT, A.; MALTEMPI, M.V. A Formação Profissional Docente e as Mídias Informáticas: Reflexões e Perspectivas. In: Boletim Gepem - Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática. Rio de Janeiro, RJ, n.47, v.2, p.73-90, dez.2005.

31 VASCONCELLOS, C.S. Construção do Conhecimento em Sala de Aula. 15.ed. São Paulo: Libertad, 2004. (Cadernos Pedagógicos do Libertad, v.2)