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3.2 Inglaterra – group litigation orders

3.2.1 Aspectos procedimentais

Como dito, a GLO está devidamente regulamentada na Part 19 – Parties and Group Litigation do CPR, estando seu funcionamento mais detalhadamente descrito na seção III – Group Litigation, regras nos itens 19.10 a 19.15 daquela codificação. 152 Além do CPR, a operacionalização das GLOs também obedece ao disposto na Practice Direction 19B – Group Litigation.

A regra 19.10 estabelece que a GLO é uma ordem da corte, proferida segundo certas condições específicas, cujo objetivo é proporcionar o gerenciamento de demandas (case management) com questões de fato ou de direito comuns ou relacionadas entre si. São as questões GLO (GLO issues).

Esta regra deixa evidente o foco eminentemente gerencial das ordens e a possibilidade do enfrentamento de questões de fato e de direito, numa perspectiva pragmática, própria da common law. Nesse sentido, caracteriza-se a GLO por ser “um instituto de administração de

149 Imagem digitalizada da CF Arch cru GLO. Disponível em <http://www.harcus-

sinclair.co.uk/images/uploads/documents/Sealed_Group_Litigation_Order.pdf>. Acesso em: 29 dez. 2013.

150 Informações mais completas sobre a CF Arch cru GLO podem ser obtidas no sítio eletrônico inglês FT

ADVISER. Disponível em < http://www.ftadviser.com/topic/arch-cru>. Acesso em: 29 dez. 2013.

151 LÉVY, Daniel de Andrade. O incidente de resolução de demandas repetitivas no anteprojeto do novo código

de processo civil. Revista de Processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 35, v. 196, p. 165-206. jun. 2011. p. 186.

152 INGLATERRA. Civil Procedure Rules. Part 19 – Parties and Group Litigation. Disponível em

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causas, mais gerencial do que jurídico, cujo objetivo é possibilitar que uma estrutura do poder judiciário possa confrontar-se com uma quantidade enorme de demandas”. 153

Os critérios para admissão da GLO estão previstos na regra 19.11. A ordem pode ser exarada pela corte onde tenham sido ajuizadas as demandas que contenham as questões GLO ou mesmo naquela onde haja o potencial para o seu surgimento, segundo o disposto na regra 19.11(1).

Note-se que não há uma quantidade mínima de demandas definida em lei. O número de dez ações, como proposto Law Society inglesa, a entidade que equivale à OAB na Inglaterra, foi endossado por Lord Woolf em seu relatório, mas na condição de simples referência, podendo até serem aceitos apenas cinco processos nos casos locais.154

Uma GLO deve determinar a constituição de um registro onde as ações identificadas sejam inscritas, bem como de que maneira serão inseridas as informações. É o Registro de Grupo (Group Register), que deve especificar quais as Questões GLO a serem tratadas e também especificar qual é a Corte de Gerenciamento (Management Court) responsável pela condução das demandas ali incluídas, como se determina na regra 19.11(2).

A GLO também deve ser restringida, de tal modo que o juiz possa “lidar de forma justa” com os casos nela abrangidos, em obediência ao previsto na regra 1.1(1) das CPRs.155

Além do mais, é importante assinalar a natureza subsidiária da GLO, já que ela só será admitida se não houver alguma outra forma mais eficiente para a resolução do conflito.156 Este requisito, previsto na regra 2.3 das PD 19B, resgata o conceito de superiority, onde a técnica escolhida deve se “mostrar superior aos outros métodos disponíveis para o justo e eficiente julgamento da controvérsia coletiva.”157

A legitimidade para a propositura da GLO é do autor, do réu ou do próprio magistrado ex officio. Neste último caso, há necessidade de consentimento de certas autoridades do poder judiciário, conforme o item 3.3 das PD 19B, o que pode ser percebido como um “resquício de

153 LÉVY, Daniel de Andrade. O incidente de resolução de demandas repetitivas no anteprojeto do novo código

de processo civil. Revista de Processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 35, v. 196, p. 165-206. jun. 2011. p. 186.

154 INGLATERRA. The National Archives. WOOLF, Acess to Justice - Final Report, Section IV – Special

Areas, Chapter 17 – Multi-party Actions, parágrafos 19 e 20. Disponível em <http://webarchive.nationalarchives.gov.uk/+/http://www.dca.gov.uk/civil/final/sec4c.htm#c17>. Acesso em: 16 abr. 2013.

155 LÉVY, Daniel de Andrade. op. cit., p.188. 156 Ibid. p. 188.

157 GIDI, Antonio. A class action como instrumento de tutela coletiva dos direitos: as ações coletivas em uma

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autoritarismo.”158. No caso das partes que pretendem formalizar a criação de um grupo, seu

advogado deve primeiramente verificar junto à Law Society´s Multi-Party Action Information Service se já existe um grupo que trate das mesmas questões, exigência encontrável na regra 2.1 das referidas practice directions.

A ordem pode ser criada no juízo onde tenham sido ajuizadas as demandas que contenham questões GLO ou mesmo naquela onde haja o potencial para o seu surgimento, segundo o disposto na regra 19.11(1). No entanto, é preferencialmente instaurada perante um juízo de primeiro grau, o que favorece a proximidade com as partes na gestão e na administração das demandas coletivas.159

A petição inicial deve apresentar um sumário da controvérsia, o número de demandas já existentes e o número de partes que potencialmente podem ser incluídas na GLO. Também deverão ser discriminados, se houver, elementos e categorias que possam vir a formar subgrupos, a teor do disposto no art. 3.2 da practice direction 19B.

Se alguma das partes na demanda registrada apresentar documento novo, este aproveitará a todas as outras demandas inseridas no grupo, bem como das que forem inseridas subsequentemente (regra 19.12.(4) do CPR).

A legislação inglesa prevê certos requisitos para a constituição do incidente, sendo que os obrigatórios estão elencados na regra 19.11(2) e os facultativos na regra 19.11(3) do CPR.

Desta forma, é certo que a ordem deve determinar a constituição de um cadastro onde as ações identificadas sejam inscritas, bem como de que maneira serão inseridas as informações. É o Registro de Grupo (Group Register) que deve especificar quais as Questões GLO a serem tratadas e também especificar qual é o Juízo-Administrador (Management Court) responsável pela condução das demandas incluídas no Registro de Grupo, conforme o regramento da regra 19.11.(2).

A GLO poderá facultativamente conter instruções dispondo sobre a transferência imediata de demandas para o juízo-administrador, a permanência no tribunal de origem até uma segunda ordem e, ainda, sobre a inscrição ou exclusão do Grupo de Registro. Igualmente, poderá determinar que demandas que contenham Questões GLO, iniciadas após determinada

158 ROSSONI, Igor Bimkowski. O “incidente de resolução de demandas repetitivas” e a introdução do

Group Litigation no Direito Brasileiro: Avanço ou Retrocesso? Disponível em: <

http://www.tex.pro.br/tex/listagem-de-artigos/50-artigos-dez-2010/7360-o-incidente-de-resolucao-de-demandas- repetitivas-e-a-introducao-do-group-litigation-no-direito-brasileiro-avanco-ou-retrocesso>. Acesso em: 18 abr. 2011.

159 LÉVY, Daniel de Andrade. O incidente de resolução de demandas repetitivas no anteprojeto do novo código

de processo civil. Revista de Processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 35, v. 196, p. 165-206. jun. 2011. p.192.

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data, sejam ajuizadas diretamente perante o juízo-administrador e incluídas no Registro de Grupo. A GLO também poderá dispor sobre a forma de sua publicização, conforme estabelecido pela regra 19.11.(3).