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Em 03 de outubro de 2009, o ato nº 379/2009 da presidência do Senado Federal instituiu uma comissão de juristas, incumbindo-lhe a missão de apresentar, ao cabo de cento e oitenta dias, um anteprojeto de Código de Processo Civil. A presidência da comissão coube ao ministro Luiz Fux, do STJ (à época) e a relatoria geral dos trabalhos, à professora Teresa Arruda Alvim Wambier. Também compunham a referida comissão os juristas Adroaldo Furtado Fabrício, Bruno Dantas, Benedito Cerezzo Pereira Filho, Elpídio Donizete Nunes,

393 Brasil. Congresso Nacional. Senado Federal. Exposição de motivos do anteprojeto de Código de Processo

Civil. Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. – Brasília: Senado Federal, Presidência, 2010. p. 10-11.

394 Valter Pereira apresenta relatório sobre novo Código de Processo Civil, Portal de notícias do Senado

Federal, 21 nov. 2010. Disponível em <http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2010/11/24/valter- pereira-apresenta-relatorio-sobre-novo-codigo-de-processo-civil>. Acesso em: 09 set. 2013.

395 O sítio eletrônico e-democracia dispõe de comunidades temáticas sobre os projetos debatidos na Câmara dos

Deputados. A comunidade temática do projeto do novo código de processo civil está disponível em <http://edemocracia.camara.gov.br/web/codigo-de-processo-civil/inicio>, mas não aceita mais sugestões, pois já está encerrada.

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Humberto Theodoro Junior, Jansen Fialho de Almeida, José Miguel Garcia Medina, José Roberto dos Santos Bedaque, Marcus Vinícius Furtado Coelho e Paulo Cezar Pinheiro.397

Conforme dito na exposição de motivos do novo CPC, os trabalhos da comissão se orientaram na busca de cinco objetivos: 1) estabelecer uma sintonia fina com a Constituição Federal; 2) aproximar a prestação jurisdicional da realidade dos fatos; 3) simplificar o sistema processual; 4) maximizar o rendimento de cada processo; e 5) proporcionar mais organicidade e coesão ao sistema.398

Após a 14ª e última reunião da comissão, em 1º de junho de 2010, o anteprojeto foi encaminhado ao Senado Federal399, onde começou a tramitar em 08 de junho daquele ano. Pelo texto apresentado, o novo CPC era organizado em cinco livros: Parte Geral, Do Processo de Conhecimento, Do Processo de Execução, Dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais, e Das Disposições Finais e Transitórias, distribuídos em 970 artigos. Dentre as principais inovações, surgiam como destaque a criação do instituto de resolução de demandas repetitivas, a extinção dos embargos infringentes e do agravo retido, a possibilidade genérica do recurso apenas da sentença, a criação da sucumbência recursal e o estímulo e assunção do processo eletrônico.400

A partir daí o anteprojeto foi designado como nº PLS nº 166/2010, cuja apreciação foi entregue a uma comissão temporária especialmente constituída para tal fim, cuja presidência coube ao senador Demóstenes Torres (DEM/GO) e relatoria-geral ao Senador Valter Pereira (PMDB/MS). Pela grandiosidade do assunto, foram designados relatores parciais. Assim, a Parte Geral coube ao Senador Romeu Tuma (PTB-SP); o Processo de Conhecimento ficou a cargo do Senador Marconi Perillo (PSDB-GO); os Procedimentos Especiais ficaram a cargo do Senador Almeida Lima (PMDB-SE); a Execução e o Cumprimento De Sentença são de

397 BRASIL. Senado Federal. Ato do Presidente nº 379/2009, publicado no Diário Oficial da União nº 149, Seção

nº2, de 02/10/2009, p. 49. Disponível em < http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/ index.jsp?data=02/10/2009&jornal=2&pagina=49&totalArquivos=56 >. Acesso em: 11 out. 2013.

O nome de Benedito Cerezzo Pereira Filho não aparece nesta publicação. Sua inclusão na comissão se deu pelo ato do Presidente nº 411/2009, Senado Federal, publicado no Diário Oficial da União nº 202, Seção nº2, de 22/10/2009, p. 48. Disponível em < http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data= 22/10/2009&jornal=2&pagina=48&totalArquivos=56>. Acesso em: 11/10/2013 às 20h43min.

398 Brasil. Congresso Nacional. Senado Federal. Exposição de motivos do anteprojeto de Código de Processo

Civil. Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. – Brasília: Senado Federal, Presidência, 2010. p. 4.

399 BRASIL. Congresso Nacional. Senado Federal. Anteprojeto de Código de Processo Civil. Comissão de

Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil.. Disponível em <http://www.humbertodalla.pro.br/novo%20cpc.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2014.

400 Comissão de juristas entrega anteprojeto do novo CPC ao presidente do Senado, Sala de Notícias - STJ.

Disponível em <http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=97584>. Acesso em: 11 out. 2013.

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atribuição do Senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) e os Recursos ficaram para o Senador Acir Gurgacz (PDT-RO); o Processo Eletrônico foi atribuído ao Senador Antonio Carlos Júnior (DEM-BA). As relatorias da Parte Geral e dos Procedimentos Especiais, contudo, acabaram sendo assumidas pelo relator-geral.

Depois de 15 sessões da comissão temporária, em 24 de Novembro de 2010 foi entregue o relatório do projeto, que obteve aprovação pela comissão em 01 de Dezembro de 2010 e, após três sessões regimentais para discussão, foi aprovado em 15 de Dezembro de 2010 pelo plenário da casa legislativa.

Na versão relatada do projeto pelo senador Valter Pereira, o Código passou a conter 1.007 artigos, mantendo-se a divisão em cinco livros: Livro I – Da Parte Geral; Livro II – Do Processo de Conhecimento e Cumprimento de Sentença; Livro III – Do Processo de Execução; Livro IV – Dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais; Livro V – Das Disposições Finais e Transitórias.

Basicamente, não houve modificações substanciais aos institutos e novidades do anteprojeto. No entanto, pontos polêmicos, como a possibilidade dos juízes alterarem ou adaptarem os ritos no caso concreto, foram suprimidos, sob a alegação de que isso seria um risco para segurança jurídica, já que cada juiz poderia acabar criando seu próprio código. Por outro lado, foram estabelecidos honorários regressivos, conforme o valor da causa, nas ações contra a Fazenda Pública. A obrigatoriedade de mediadores advogados também foi suprimida para permitir que profissionais de outras áreas também atuar na mediação.401

O projeto chegou à câmara dos deputados em 22 de dezembro de 2010, onde recebeu o nº PL 8046/2010.402 Naquela casa legislativa, os trabalhos foram entregues a uma comissão especial, cuja presidência foi atribuída ao deputado Fábio Trad (PMDB/MS), com relatoria- geral de Sérgio Barradas Carneiro (PT/BA). Assim como aconteceu no senado federal, também foram designados relatores parciais para o projeto. Dessarte, da parte geral, foi relator Efraim Filho (DEM-PB); do processo de conhecimento e cumprimento da Sentença, Jerônimo Goergen (PP-RS); dos procedimentos especiais), Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), do processo de Execução, Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP); do processos nos tribunais e meios de impugnação das decisões judiciais, bem como das disposições finais e transitórias, Hugo Leal

401 Relator termina redação de novo CPC no Senado. Revista Consultor Jurídico, 24 nov. 2010. Disponível em

<http://www.conjur.com.br/2010-nov-24/relator-termina-redacao-cpc-senado-votacao-adiada >. Acesso em: 12 out. 2013.

402 BRASIL. Senado Federal. Versão final do projeto PLS nº 166/2010. Disponível em

<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=831805&filename=PL+8046/2010>. Acesso em: 12 abr. 2014.

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(PSC-RJ). Em março de 2012, houve a substituição do relator geral – que era suplente do deputado Marcos Medrado (PDT/BA). Para substituí-lo, foi nomeado o deputado Paulo Teixeira (PT/SP).

Em 17 de julho de 2013, a comissão especial aprovou o texto final do projeto403 e remeteu-o a plenário para apreciação e votação. Por determinação regimental, a análise do texto final do projeto, é feita após cinco sessões dedicadas ao debate do novo Código.404 Em 26 de novembro de 2013, após acordo de lideranças405, o plenário da câmara aprovou a emenda aglutinativa nº 06 à versão da comissão especial, que contém o texto-base do Código de Processo Civil.406

Devido a dificuldades na composição política sobre determinados temas, como honorários de advogados públicos ou o regime de prisão para os devedores de pensão alimentícia, a votação dos destaques não pôde ser concluída em 2013, tendo sido adiada para 2014.407

O resultado da análise quase definitiva do projeto perante a Câmara dos Deputados é um texto que agora contém 1.082 artigos, divididos em duas partes, geral e especial, o que foi feito segundo a técnica legislativa preconizada no art. 10, V, da Lei Complementar nº 95/98.408

A parte geral contém seis livros: Livro I – Das normas processuais civis; Livro II – Da função jurisdicional; Livro III – Dos sujeitos do processo; Livro IV – Dos atos processuais; Livro V – Da tutela antecipada e Livro VI - Formação, suspensão e extinção do processo. A parte especial, por sua vez, contém mais quatro livros: Livro I – Do processo de conhecimento e do cumprimento de sentença; Livro II – Do processo de execução; Livro III – Dos processos nos tribunais e dos meios de impugnação das decisões judiciais; e um Livro complementar - Das disposições finais e transitórias.

403 BRASIL. Câmara dos Deputados. Versão do PL nº 8.046/2010 aprovada pela comissão especial da câmara

dos deputados. Disponível em <http://www.migalhas.com.br/arquivo_artigo/art20130719-01.pdf>. Acesso em: 12/01/2014 às 10h25min.

404 BRASIL. Câmara dos Deputados. Regimento interno, art. 207, §§2º e 3º.

405 Câmara conclui votação do texto-base do novo CPC. Revista Consultor Jurídico, Brasília, 27 nov. 2013.

Disponível em <http://www.conjur.com.br/2013-nov-27/camara-conclui-votacao-texto-base-cpc-adia- polemicas>. Acesso em: 08 jan. 2014.

406 BRASIL. Câmara dos Deputados. Emenda aglutinativa nº 06 do PL 8.046/2010. Disponível em

<http://professormedina.files.wordpress.com/2013/11/emenda-6.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2014.

407 Plenário adia votação de destaques do novo CPC. Câmara notícias – Política, Brasília, 17 dez. 2012.

Disponível em <http://www2.camara.gov.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/459670-PLENARIO-ADIA- VOTACAO-DE-DESTAQUES-DO-NOVO-CPC.html>. Acesso em: 08 jan. 2014.

408 BRASIL. Câmara dos Deputados. Emenda nº 492/2011 ao PL 8.046/2010, de autoria do presidente da

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O projeto, como já é amplamente comentado, “aperfeiçoa o nosso sistema jurídico em vários pontos, merecendo aplausos porque garante o contraditório e a ampla defesa, do início ao fim.”409 O novo CPC também pretende operar “o abandono do formalismo-excessivo e a

imperiosidade de se aproveitar os atos processuais em sua plenitude, priorizando a resolução do meritum causae.”410 Neste passo, o legislador tem procurado se alinhar ao formalismo-

valorativo de Carlos Alberto Álvaro de Oliveira, onde se vislumbra que “a técnica passa a segundo plano, consistindo em mero meio para atingir o valor. O fim último do processo já não é mais apenas a realização do direito material, mas a concretização da justiça material, segundo as peculiaridades do caso.”411 Procura-se ainda imprimir maior organicidade e

simplicidade à normativa processual, sendo certo ainda que houve uma clara tentativa de incentivar a uniformidade e a estabilidade à jurisprudência, extraindo a maior efetividade de cada processo, individualmente considerado.412

Depois dessa fase, será ainda devolvida para o Senado Federal, a casa iniciadora do projeto, para a conclusão do processo de votação, de onde partirá, enfim, para a promulgação pela Presidência da República. Assim, o texto final ainda poderá ser substancialmente modificado até que entre em vigor.