• Nenhum resultado encontrado

Segundo Scadelai (2012, p. 13) os “fatores comportamentais causadores de acidentes geralmente estão relacionados às características pessoais do trabalhador, à dinâmica de relacionamentos existentes no setor de trabalho, à cultura, aos valores e às políticas da empresa”. Todos estes fatores estão associados à família e aos contextos políticos, culturais, sociais e econômicos do país.

Para a autora há que se considerar cincos esferas que determinar maior ou menor grau de segurança no ambiente de trabalho que são o indivíduo, seu setor de trabalho, a empresa, o cenário externo e a família.

O trabalhador é o elemento central de todo processo de prevenção de acidentes de trabalho e um dos pontos que merecem destaque do gestor é em obter o comprometimento dele para que possa garantir os resultados do que foi planejado. Segundo Scadelai (2012, p. 14) “as melhores tecnologias de trabalho são ineficazes nas mãos de profissionais desmotivados ou sem a capacitação adequada para executar suas funções”. Acrescenta ainda:

Compreender a individualidade do ser e a complexidade que envolve a dinâmica das relações ajuda a diagnosticar os comportamentos que levam à prática de atos de baixo padrão que colocam o trabalhador em situação de risco. É necessário compreender o trabalhador como um ser holístico e

integral.

Há que se considerar que o processo de prevenção de acidentes deve se iniciar no recrutamento e seleção de trabalhadores e deve continuar por todo o período em que o trabalhador permaneça na empresa. Segundo Scadelai (2012, p. 15) o treinamento inicia “no programa de integração, antes mesmo de assumir o posto de trabalho, e deve ser extensivo aos prestadores de serviços de empresas contratadas”, acrescenta que faz-se necessário uma reciclagem sempre que o funcionário mudar de função ou quando houver alteração no processo de trabalho.

Outros pontos apontados pela autora são a condição socioeconômica do trabalhador pode ser um fator de risco, os longos trajetos entre a residência e trabalho como fatores geradores de estresse e o “constante estado de intranquilidade interna do trabalhador que reside em áreas de risco social” (SCALDELAI, 2012, p. 16). Aliado a isto tem questões de baixa autoestima:

Para reverter este quadro, é necessário olhar o profissional além das suas funções ocupacionais; é preciso enxerga-lo como um ser pleno e integrado, que traz para o trabalho aquilo que ele realmente é, inclusive a sua história de vida. Neste caso, é necessário um trabalho para resgate da autovalorização, estimulação do autoconhecimento e do fortalecimento da autoestima, para que ele se perceba como alguém que vale a pena e que, portanto, merece ser cuidado e preservado.

Quanto à segunda esfera, o setor de trabalho, que corresponde aos fatores associados à dinâmica da área na qual o profissional trabalha e que podem colocá-lo em situação de risco. Neste item estão inseridos os aspectos técnicos da função como os tipos de máquinas, ferramentas e equipamentos que opera, produtos e materiais que manuseia, processo e natureza do trabalho, bem como as condições ambientais e ergonômicas.

Dois pontos importantes são explicitados pela autora: a questão de atividades repetitivas que levam ao acionamento do “piloto automático interno” que ocorre quando o corpo está presente no posto de trabalho, mas o raciocínio está distante, o que pode colocar o trabalhador em situações de risco e o segundo caso que são aquelas tarefas pesadas que geram exaustão e fadiga, tornando tanto os reflexos lentos como as respostas do organismo.

A dinâmica dos relacionamentos também é fator importante pois atinge a equipe de trabalho, a qualidade do clima organizacional no setor e na interface com as demais áreas. O estímulo para que haja coesão da equipe é uma ferramenta de gestão que estimula a maturidade profissional, que segundo Scadelari (2012) faz com que todos cuidem de todos.

Há que se considerar um ponto de atenção que é o excesso de confiança: O excesso de confiança é um ingrediente que pode gerar risco de acidente e, geralmente, são os profissionais mais antigos que cometem este equívoco. Por julgarem-se experientes na função, subestimam os riscos e colocam-se em situação de perigo. São comuns expressões como ‘eu conheço o tempo da máquina’, ‘faço isso rapidinho, pois já estou acostumado’, ‘trabalho nisso faz tempo’. O fato é que tais atitudes, de extrema confiança, geram graves consequências para o próprio trabalhador. A terceira esfera, a empresa, é responsável pelas crenças, valores e postura da alta administração e, portanto, preocupa-se por estabelecer a cultura de prevenção de acidentes na organização.

Para demonstrar esta preocupação a empresa deve adotar ações que vão além do cumprimento da legislação:

(...) valoriza a saúde do trabalhador, estabelece procedimentos de trabalho seguro, investe em EPI de qualidade e efetua treinamentos contínuos. Mobiliza esforços para manter um sistema de comunicação transparente e revela atenção especial na divulgação dos processos de mudanças internas, pois sabe que as distorções nas informações impactam negativamente no clima organizacional e afetam a estabilidade do trabalhador. (SCADELARI, 2012, p. 19-20)

As outras duas esferas tratam do cenário externo e família. Quanto ao cenário externo, são fatores que afetam o trabalhador e que vão além do contexto interno da organização e que estão relacionados ao social, político, cultural e econômico da comunidade onde está inserido. Quanto à família, é necessário que os gestores estejam atentos, pois problemas nesta esfera interferem no estado emocional do profissional e alteram sua rotina de trabalho. Segundo Scadelari (2012, p. 20) é na família que o profissional encontra as raízes do seu bem-estar ou das suas inquietações internas, pois “conhecendo o ambiente e a relação familiar dos profissionais, é possível acessar um mundo infinito de informações que explicam muitas das suas atitudes e comportamentos no trabalho”.

Outros pontos que merecem destaque é a questão da participação dos funcionários no processo de gestão de riscos, pois com sua participação há uma valorização do conhecimento e ele se sentirá parte integrante do processo de prevenção, aspecto este essencial.

Ao contrário dos mitos do passado que utilizavam a teoria da “personalidade com predisposição para acidentes” que preconizava que certos grupos de indivíduos se envolviam frequentemente em acidentes, e a teoria do “Dominó” (também chamada de teoria de Heinrick, 1959) onde o acidente e a lesão seriam causados pela ocorrência de diversos eventos encadeados no tempo (personalidade com predisposição para acidentes, atos inseguros, condições inseguras, acidente e lesão), os estudos mais recentes apontam que os acidentes não ocorrem de forma gratuita e nem isoladamente, nem tampouco são decorrentes de indivíduos predispostos aos acidentes, mas são resultados da conjugação de outras falhas menores (IIDA, 1991).