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PERCEPÇÃO QUANTO AO RISCO

5.2 APRESENTAÇÃO DOS DADOS OBTIDOS

5.2.6 PERCEPÇÃO QUANTO AO RISCO

No último bloco de perguntas foram elencadas sentenças e foi solicitado que os peritos marcassem as que houvesse concordância, considerando os 140 (cento e quarenta) peritos que responderam, obteve-se o seguinte resultado:

Tabela 2: Percepção dos peritos quanto ao risco

Sentença Concordância Percentual

O risco faz parte do cotidiano dos peritos criminais 116 83%

Há riscos no trajeto para o trabalho 105 75%

Há riscos nas atividades internas 112 80%

Há riscos nas atividades externas 137 98%

As atividades periciais apresentam riscos 130 93% As atividades policiais ampliam os riscos para o

perito 119 85%

Existem POP´s na minha área 51 36%

A existência de um POP não significa que os peritos

tenham conhecimento do seu conteúdo 91 65%

A existência de um POP não significa que os peritos

os utilizem 101 72%

A inexistência de POP's acarretam em não

padronização na confecção dos laudos 73 52%

A inexistência de POP's acarretam em riscos em

diferentes níveis 84 59%

Há desconhecimento dos principais riscos aos quais

os peritos estão expostos 87 62%

Não há formalização de incidentes ocorridos na

atividade pericial 91 65%

Sentença Concordância Percentual

Há uma sensação de segurança na atividade

pericial 47 34%

Os peritos estão conscientes dos riscos aos quais

estão expostos 33 24%

A experiência profissional facilita a identificação dos

riscos 107 76%

A experiência faz com que o perito não siga

determinados procedimentos 61 44%

A criação de checklist facilitaria o trabalho do perito

e diminuiria a exposição ao risco 110 79%

Verifica-se que a sentença a respeito dos riscos em atividades externas obteve 98% da concordância dos peritos, seguido da conscientização de as atividades periciais apresentam riscos (93%). O fato de também exercer atividades policiais faz com que os riscos sejam ampliados (85%) e, portanto, o risco faz parte do cotidiano dos peritos criminais (83%).

Não apenas nas atividades externas há a percepção dos riscos, mas também nas atividades internas (80%). A criação de check list facilitaria a atividade do perito (79%), bem como a experiência profissional para a identificação dos riscos (76%). Há a percepção de que os riscos também estão no trajeto para o trabalho (75%).

Quanto aos POP´s, a sua existência não significa que os peritos utilizam (72%) ou que o conheçam (65%). A inexistência, por sua vez, acarretam em riscos em diferentes níveis (59%) e na não padronização na confecção de laudos (52%).

Quanto aos incidentes ocorridos na atividade pericial não há uma formalização (65%) e há desconhecimento dos principais riscos aos quais os peritos estão sujeitos (62%)

As sentenças que tiveram menos de 50% de concordância foram: a) a experiência faz com que o perito não siga determinados procedimentos (44%), b) existem POP´s na minha área (36%), c) há sensação de segurança na atividade pericial (34%), d) os peritos estão conscientes dos riscos aos quais estão expostos (24%) e apenas 3% afirmaram já terem recebido treinamento para fazer gestão de riscos.

A questão seguinte perguntava ao respondente o que ele entende por risco, incidente e acidente. Apenas 2 (dois) peritos não responderam à questão. Entre

aqueles que falaram que não sabiam o conceito de incidente, todos os demais apresentaram sua compreensão a respeito de riscos e acidentes. Houve casos de respostas onde o respondente deixou claro que fez pesquisas para poder responder ao questionado, citando inclusive a fonte. O Quadro 6 a seguir apresenta as principais palavras e conceitos relacionados a cada um dos itens, utilizadas pelos peritos em suas respostas:

Quadro 6: Compreensão dos conceitos

Conceito Palavras e conceitos relacionados

Risco Situação provável. Ameaça. Probabilidade de ocorrer acidentes. Perigo. Perigo potencial. Afeta a segurança. Danos. Combinação de fatores. Podem ser controlados. Potencial de ocorrência.

Incidente Ocorrência inesperada sem danos. Fato inseguro sem consequências. Danos materiais. Ato proposital. Evento que pode gerar acidente. Fato secundário. Ocorrência anormal. Dano de pequena proporção. “Quase acidente”. Sem ferimentos. Acidente não consumado. Imprevisto menos grave. Episódio casual. Eventos não desejados de menor gravidade. Ocorrência de evento que pode levar a um acidente. Situação inusitada. Dano ao patrimônio.

Acidente Falha de procedimentos. Danos. Desvio. Ocorrência inesperada. Danos pessoais. Consequência danosa. Casualidade. Situação com ferimentos. Sucessão de falhas. Ocorrência que não pode ser evitada. Materialização do risco. Danos graves. Dano à pessoa. Negligência ou imperícia. Desastre. Acontecimento desagradável. Gera dano ou lesão.

Com exceção de alguns casos, há uma compreensão dos conceitos de riscos e acidente. Quanto ao conceito de incidente, muitos assinalaram como uma situação menos grave se comparada com o conceito de acidente, ou situações que podem levar ao acidente.

Quanto ao questionamento se o perito já havia enfrentado alguma situação de risco na atividade policial, em abordagem, operação e missão, os relatos foram variados sendo que as questões mais frequentes nas respostas foram as seguintes:

- Abordagem de outras forças policiais confundindo os peritos com suspeitos,

- Cumprimento de missão em que não havia sido feito o levantamento de que o alvo da prisão possuía armamentos;

- Pericia em local em que a população estava revoltada com a situação e foi necessária a intervenção da força policial;

- Emboscadas, ameaças das partes, violência física e outras situações de ameaças e enfrentamentos com armas de fogo de portes variados; - Operações em favelas, garimpo ilegal, erradicação de maconha, grupos

de extermínio entre outras em que estão presentes riscos de enfrentamento com relatos de ameaças com armas, motosserras e facões,

- Operações em navios: confinamento, exposição a gases, exposição a pessoas com sinais de intoxicação, exposição a cadáveres em diferentes estados de decomposição, risco de queda em navio em mar revolto, risco de queda devido a condições escorregadias do piso; - Operações em estruturas colapsadas, queimadas, exames em biotérios

incendiados (material putrefeito, doenças, gases);

- Desativação de artefatos explosivos, recolhimento de agrotóxicos e de produtos contaminados;

- Situações diversas de deslocamento como cansaço, estradas desconhecidas e/ou em condições precárias, sem sinalização, excesso de velocidade, direção imprudente, pane de veículos em lugares ermos, perseguições, acidentes de trânsito, travessias em rios;

- Situações em aeronaves: pane no motor, esquecimento de uso de cinto de segurança em voo com a porta aberta (helicóptero);

- Situações em embarcações: deriva por falha de motor, abordagem em alto mar;

- Falta de comunicação, lugares ermos, assalto, etc.

Alguns dos relatos demonstram a gravidade dos riscos a que estão sujeitos os peritos, como as seguintes:

Participei de operação de erradicação de plantação de maconha no estado do Maranhão. Foi utilizado deslocamento de helicóptero para a plantação, que ficava isolada na floresta amazônica. Houve disparo de armas de fogo na chegada ao local. As plantações, em nas trilhas de acesso, armadilhas que disparavam armas de fogo em quem passasse.

Não ocorreu comigo, mas com colegas, em Santos. O exame era em um navio incendiado. Para adentrar ao local foi necessário utilizarem máscaras e entrarem agachados, pois o gás que tomou conta do navio era tóxico e chegou a matar uma das primeiras pessoas que pensou em buscar vítimas no interior do navio.

Inúmeras vezes, algumas delas: rompimento de mangueira de freio durante um comboio causando a saída do veículo da via; destruição de uma ponte de madeira por fadiga sob o trânsito de um veículo apreendido; choque das hélices de um helicóptero com a vegetação durante um pouso em área de erradicação de maconha; queda de uma árvore morta sobre um policial na aproximação de um helicóptero.

O risco do ponto de vista policial ocorre a todo momento em que por exemplo coloquemos a roupa de policial federal e andemos em viatura oficial, estamos correndo risco de passar por bandidos que estejam bem armados e nos tratem como ameaça e efetuem disparos. Mas do ponto de vista mais direto por exemplo em Operações de Erradicação de Maconha no Nordeste, voamos de helicóptero (risco 1) pousamos em locais não preparados para tal (risco 2) e as vezes saltamos da aeronave em sobrevoo ou embarcamos na aeronave em sobrevoo (risco 3) e ao chegarmos nas roças estamos entrando em um local não protegido sem nenhuma proteção adicional (risco 4).

"Em uma operação de combate ao descaminho e contrabando, ao cumprir mandado de busca e apreensão na casa de um dos alvos, houve uma situação em que não se localizava o alvo no interior da casa e eu o localizei em um closet. Não houve incidentes ou acidentes pois o alvo não estava armado mas caos estivesse, ele teria todas as condições favoráveis para me alvejar pois ele pôde acompanhar todos os meus passos e movimentos no closet até chegar até ele."

Quanto à questão que pedia a opinião dos peritos quanto ao que poderia ser feito para diminuir os riscos, verificou-se que boa parte dos itens apontados referem- se às atividades policiais e não periciais. Quanto a estas, as sugestões se resumem ao bom senso, conscientização dos riscos das áreas periciais, fornecimento do uso de EPIs para cada caso, suporte de outros policiais no caso de perícias em campo e treinamentos com maior frequência.

No tocante às atividades que tem cunho policial sugerem-se o estabelecimento de procedimentos de segurança, planejamento mais detalhado das operações policiais, melhoria das condições de viaturas (veículos, embarcações e aeronaves), inspeções às instalações físicas por órgãos fiscalizadores externos, punições para quem não cumpre normas de segurança e de trânsito, melhorar as condições de comunicação e dos procedimentos para casos de emergência, elaboração de POP´s, elaboração de check list, elaboração de mapa de riscos, estímulo à pesquisa na área de riscos, adequação dos ambientes de trabalho, uniformes mais adequados, e finalmente treinamentos periódicos.

Neste sentido, os treinamentos sugeridos vão desde a gestão de riscos a palestras de conscientização, treinamentos de sobrevivência policial, abordagem, postura em viaturas, direção defensiva, primeiros socorros, combate à incêndio, montanhismo, escalada e rapel. Também foram sugeridas palestras e realização de diálogos semanais de segurança, semelhante ao que ocorre em indústrias.

Treinamento em primeiros socorros e combate à incêndio. Aquisição de equipamentos individuais e coletivos de proteção e treinamento de uso. Aquisição de perneiras para os peritos de campo para proteção contra animais peçonhentos. Elaboração de mapas de riscos nas unidades técnico- científicas. Planos de Ação em casos de contaminação com perfuro- cortantes e materiais biológicos. Planos de evacuação de edificações. Implantação de Comissão Internas de Prevenção de Acidentes (CIPA). Implantação de PCMSO adequados às atividades exercidas pelos profissionais. Aquisição de desfibriladores cardíacos segundo lei.

Primeiramente mais informação e normatização. Nenhum perito deveria ser requisitado a fazer exames sobre os quais desconhece os possíveis riscos. Segundo, distribuição ampla de EPIs para todas as situações (risco biológico, físico, elétrico, etc.). Terceiro: toda unidade deve ter mecanismos de respostas a acidentes (o que fazer, que hospital procurar, como evitar). E por último mas não menos importante, o DPF precisa ter um sistema de registro de qualquer acidente, para que a pessoa esteja resguardar em seus direitos. Em alguns casos, como acidentes biológicos ou radiológicos, os efeitos podem aparecer muito tempo depois, dificultando a correlação na ausência de registros claros.

Outro ponto destacado é o “registro e divulgação apropriada das experiências vividas de forma a facilitar a troca das mesmas”,

Acredito que a implantação de uma gestão ampla da direção do DPF, e não ações pontuais, no sentido de tornar a segurança uma preocupação institucional, com o estabelecimento de procedimentos e rotinas em todas as unidades, além de provimento de recursos financeiros e materiais para que esse fim seja alcançado.

Em muitos casos foi citada a criação de programas semelhantes à CIPA para que haja que um “nível de atenção e alerta seja mantido”.

Deveriam ser criadas políticas e implementadas medidas efetivas de proteção individual e coletiva, as quais não é o caso de enumerar pois o espectro é bastante amplo. Desde o levantamento estatísticos de acidentes e incidentes para orientar o estabelecimento de medidas preventivas, passando pela criação de uma espécie de CIPA até o desenvolvimento contínuo de técnicas e procedimentos operacionais com foco na diminuição e mitigação dos riscos, vez que este é inerente à carreira policial e por extensão, pericial.

A última questão do formulário deixava um espaço aberto para que fossem elencados pontos não abordados nas questões anteriores. Vários respondentes sugeriram a ampliação da pesquisa abordando os grupos como o GBE (grupo de bombas e explosivos), DOC (documentoscopia) com os riscos de exposição à luz ultravioleta e o local de crime tratado de forma específica.

O passar do tempo faz com que alguns cuidados básicos sejam deixados de lado, o que aumenta a exposição ao risco de forma desnecessária.

Nos últimos anos presenciamos a morte de diversos colegas peritos criminais federais. Destaco a morte em atividade (colegas de AM), durante a vida normal (colega do PA) e por doença causada pela atividade (colega de RO). Esses três episódios mostram bem o risco envolvido na atividade. Como não há mapeamento de acidentes de trabalho, é difícil comentarmos sobre outros acidentes que não resultaram em morte.

Se existe algum tipo de protocolo de segurança estabelecido pelo DPF, nunca ouvi falar sobre o mesmo. Vários dos riscos aos quais um Perito está exposto são específicos à missão ou Perícia enfrentada. Pode ser mais vantajoso o estabelecimento de protocolos específicos para tipos de missões (por exemplo " kit de equipamentos de segurança necessários + protocolo de segurança para perícias em área rural ou de selva", " kit + protocolo para perícias em área de poluição" etc.) que o estabelecimento de protocolos gerais.

Vários pontos foram elencados pelos respondentes, ampliando a visão que se tem dos riscos restritos às áreas periciais. Como sugestões, o agrupamento de perícias por propósitos, como abordado na última citação pode ser interessante do ponto de vista de agrupar itens indispensáveis a este tipo de perícia, bem como para facilitar o treinamento dos peritos.