• Nenhum resultado encontrado

Segurança e gestão de riscos na atividade pericial

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Segurança e gestão de riscos na atividade pericial"

Copied!
130
0
0

Texto

(1)

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS MESTRADO EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIAL

ANDREIA CRISTIANE STANGER

SEGURANÇA E GESTAO DE RISCOS NA ATIVIDADE PERICIAL

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE

(2)

ANDREIA CRISTIANE STANGER

SEGURANÇA E GESTAO DE RISCOS NA ATIVIDADE PERICIAL

Dissertação apresentada à Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (EBAPE/FGV), como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração.

Orientador: Prof. Dr. Marco Tulio Fundão Zanini

(3)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV

Stanger, Andreia Cristiane

Segurança e gestão de riscos na atividade pericial / Andreia Cristiane Stanger. – 2013.

128 f.

Dissertação (mestrado) - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa.

Orientador: Marco Túlio Fundão Zanini. Inclui bibliografia.

1. Administração de risco. 2. Risco (Seguros). 3. Perícia (Exame técnico). 3. Peritos. 4. Criminalística. 5. Segurança do trabalho. I. Zanini, Marco Túlio Fundão. II. Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas. Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa. III.Título.

(4)
(5)

Aos peritos criminais que perderam suas vidas quando

(6)

Credo da Segurança

Cremos que todo homem tem consigo a responsabilidade incontestável de afastar-se de caminhos de baixo padrão. É seu dever para consigo mesmo e com seus colegas de trabalho;

Cremos que nenhum homem vive ou trabalha absolutamente só; envolve-se com todos, é influenciado pelas realizações e marcado pelo fracasso dos companheiros. Cada homem que falha com o próximo, falha consigo mesmo e partilhará o peso do fracasso. O verdadeiro horror do acidente é a constatação de que o homem fracassou e, ainda, de que fracassaram também seus companheiros;

Cremos que o acidente é gerado pelas práticas de baixo padrão, nasce dos momentos de ação impensada e só deixará de existir quando o hábito da prática segura assumir suficientemente o controle da ação;

Cremos que a prevenção de acidente é um objetivo inerente a todo e qualquer nível hierárquico, organização ou procedimento;

Cremos que viver livre dos riscos não é simplesmente um privilégio, mas a meta a ser atingida e perpetuada por todos, no seu dia a dia;

Cremos que eliminar o sofrimento ocasionado pelos acidentes é um dever MORAL, e seu sucesso depende diretamente do nosso desempenho.

(7)

RESUMO

Os riscos fazem parte da vida das pessoas quaisquer que sejam suas profissões ou atividades. No caso dos policiais estes riscos são ampliados devido às situações as quais estão sujeitos e em particular no caso dos peritos criminais federais, que além dos relacionados às suas atividades policiais tem outras que são inerentes à perícia. Esta dissertação teve como objetivo identificar os principais riscos de segurança no ambiente de trabalho dos peritos criminais da Polícia Federal. A pesquisa, sob seu ponto de vista metodológico foi classificada quanto à sua natureza como aplicada; no tocante à abordagem do problema se classifica como qualitativa e quanto aos seus objetivos trata-se de pesquisa descritiva. A respeito dos procedimentos técnicos a pesquisa foi classificada como bibliográfica, pesquisa de levantamento e estudo de caso com aplicação na perícia criminal federal. Para tanto foram utilizados instrumentos de coleta de dados online os quais foram disponibilizados para peritos criminais de todas as áreas e unidades de federação. Os dados demonstraram que apesar de existirem diversos riscos relacionados com a atividade-fim pericial há outros com potencial para se transformarem em acidentes, principalmente os relacionados com questões policiais como abordagens, missões e operações. Os riscos foram mapeados por áreas da perícia utilizando-se como base a NR-5 que trata dos mapas de riscos. Com a pesquisa provocou-se a discussão a respeito dos riscos a que estão sujeitos os peritos e com isso criou-se uma conscientização da necessidade de tratamento dos mesmos. Com a participação dos peritos de todas as áreas de formação e unidades da federação, conseguiu-se numa perspectiva qualitativa identificar os principais riscos por grupos (físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes). Conclui-se que se faz necessário, em caráter de urgência, maior aprofundamento e discussões a respeitos dos riscos, bem como a criação de procedimentos mínimos a serem adotados para que os mesmos não se concretizem. A visão necessária para tratar estes riscos não pode ficar restrita a área pericial, mas precisa ser estendida para toda a Polícia Federal, e precisa ser inserida na filosofia, práticas e processos que permitam criar uma verdadeira cultura de gestão estratégica de riscos.

(8)

ABSTRACT

Risks are part of life for people engaged in all kinds of professions and activities. In the case of the Police personnel, these risks are magnified due to the situations which they are exposed during their duties. For the Forensic Specialists of the Brazilian Federal Police, there are not only the risks of law enforcement itself, but also the ones related to their own expertise. This thesis aims to identify the main safety risks in the work environment of the Forensic Specialists in the Brazilian Federal Police. This research, under its methodological point of view is classified as having an applied nature; its approach to the problem is classified as qualitative and regarding its goals it is classified as a descriptive research. The technical procedures of this research have been classified as bibliographic, survey research and case study with application in the Federal Forensic Expertise. This research collected its data with online data gathering tools, which have been made available to forensic experts of all areas and units of the Brazilian territory. Data analysis has demonstrated that besides all sorts of risks that are related to the forensic activity there are others with the potential to become accidents, especially the ones related with police duties like approaches, missions and operations. Risks have been mapped by forensic area using as reference the NR-5, which regards risk maps. With the research it has been proved the discussion about the risks to which the forensic professionals are exposed and with that it has been created a necessity of treating them. With the participation of forensic specialists of all areas of the Brazilian territory, it was possible to acquire a qualitative perspective that allowed to identify the main risks by groups (physical, chemical, biological, ergonomic and accidents). It was possible to conclude that if is needed, as an urgency, to explore and discuss about the risks, as well to create minimal procedures to be adopted so that they do not become concrete. The needed vision to trat these risks cannot be restricted to the forensic area, mas need to be extended to all the Brazilian Federal Police, and needs to be inserted into philosophy, practices and procedures to allow the creation of a true culture of strategic management of risks.

(9)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

DITEC Diretoria Técnico‐Científica DPF Departamento De Polícia Federal EPI Equipamentos De Proteção Individual INC Instituto Nacional De Criminalística NUTEC Núcleo Técnico‐Científica

PCF Perito Criminal Federal PF Polícia Federal

POP Procedimento Operacional Padrão SETEC Setor TécnicoCientífico

(10)

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: RELACIONAMENTO DO RISCO COM A INFORMAÇÃO E INCERTEZA

... 23

FIGURA 2: RELAÇÃO ENTRE RISCO, INCERTEZA E NÍVEIS DE INFORMAÇÃO ... 23

FIGURA 3: ETAPAS REALIZADAS NA PESQUISA ... 65

FIGURA 4: RELAÇÃO ENTRE O TOTAL DE PERITOS E RESPONDENTES ... 71

FIGURA 5: RESPOSTAS POR ÁREAS DE ATUAÇÃO ... 72

FIGURA 6: EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL DOS RESPONDENTES ... 73

FIGURA 7: PERCEPÇÃO QUANTO AOS RISCOS FÍSICOS ... 74

FIGURA 8: PERCEPÇÃO QUANTO AOS RISCOS QUÍMICOS ... 75

FIGURA 9: PERCEPÇÃO QUANTO AOS RISCOS BIOLÓGICOS ... 75

FIGURA 10: PERCEPÇÃO QUANTO AOS RISCOS ERGONÔMICOS ... 76

(11)

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: CONTRIBUIÇÕES PARA OS ESTUDOS DO RISCO ... 29

QUADRO 2: NORMAS REGULAMENTADORAS ... 52

QUADRO 3: TABELA DESCRITIVA DOS RISCOS AMBIENTAIS ... 54

QUADRO 4: SISTEMA DE GESTÃO DA SEGURANÇA DO TRABALHO ... 60

QUADRO 5: RISCOS E ACIDENTES POR ÁREAS ... 79

(12)

LISTA DE TABELAS

(13)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 13

1.1 PROBLEMA DA PESQUISA ... 13

1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA ... 16

1.3 HIPÓTESES ... 17

1.4 JUSTIFICATIVA E DELIMITAÇÃO ... 17

1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ... 21

2 RISCO ... 22

2.1 CONCEITO DE RISCO ... 22

2.2 GERENCIAMENTO DE RISCOS ... 26

2.3 HISTÓRICO DE RISCO ... 28

2.4 TIPOS DE RISCO ... 37

2.5 RISCOS E A ATIVIDADE POLICIAL ... 39

3 SEGURANÇA DO TRABALHO ... 41

3.1 CONCEITO DE ACIDENTE DE TRABALHO ... 41

3.2 BREVE HISTÓRICO DA SEGURANÇA NO TRABALHO... 46

3.3 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE ACIDENTES DE TRABALHO ... 49

3.4 NORMAS REGULAMENTADORAS ... 51

3.5 MAPA DE RISCOS ... 53

3.6 ASPECTOS PSICOLOGICOS ... 56

3.7 GESTÃO DA SEGURANÇA DO TRABALHO ... 59

4 METODOLOGIA ... 63

4.1 TIPO DE PESQUISA ... 63

4.2 UNIVERSO E AMOSTRA ... 64

4.3 COLETA DE DADOS ... 65

5 ESTUDO DE CASO ... 67

5.1 PERICIAL CRIMINAL FEDERAL ... 67

5.2 APRESENTAÇÃO DOS DADOS OBTIDOS ... 70

5.2.1 PERFIL DOS RESPONDENTES ... 71

5.2.2 GRUPOS DE RISCOS ... 73

(14)

5.2.4 MEDIDAS PREVENTIVAS ... 89

5.2.5 INDICADORES DE SAÚDE ... 91

5.2.6 PERCEPÇÃO QUANTO AO RISCO ... 93

5.3 PROPOSTAS DE MELHORIA ... 100

6 CONCLUSÃO ... 104

6.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 104

6.2 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ... 106

REFERÊNCIAS ... 107

APÊNDICE A PESQUISA PRELIMINAR... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. APÊNDICE B – PRÉ-TESTE ... 113

(15)

1 INTRODUÇÃO

Gerenciar o risco é uma atividade cotidiana, mesmo que as pessoas não percebam que estão a todo momento realizando atividades como identificação, análise, selecionando alternativas, mitigando e gerindo os riscos. Na esfera policial este tipo de situação é ainda mais premente, pois a atividade, por si só, apresenta riscos inerentes à profissão e, dentre eles, o perito, que além dos riscos da atividade policial está sujeito a outros que são específicos de sua área de perícia.

O risco faz parte do cotidiano dos policiais e, para que se tenha um profissional produtivo, que consiga atender aos anseios da sociedade e da justiça, são necessários muitos anos de treinamento, investimento e experiência. Assim, fazer uma correta gestão dos riscos e propor procedimentos que possam diminuir, mitigar ou mesmo eliminá-los torna-se relevante para a gestão e, principalmente, como salvaguarda da própria vida destes profissionais.

A questão da segurança tornou-se tema comum em várias áreas, com discussões, teorias, aplicações práticas por diferentes profissionais e organizações. Percebe-se, entretanto, que não há uma política e, muito menos uma cultura de segurança consolidada junto aos profissionais que lidam com ela de forma cotidiana. Desta forma, esta dissertação buscou discutir estas questões, identificar os principais riscos de segurança na atividade pericial, fazer uma gestão do risco e sugerir procedimentos que possam ser adotados não apenas pela Polícia Federal que será utilizada como estudo de caso, mas também por outras forças policiais que tenham em seu corpo, profissionais que atuem na perícia.

1.1 PROBLEMA DA PESQUISA

(16)

Neste ínterim, a atividade pericial também apresenta riscos e, considerando que há variados tipos de exames realizados em diferentes contextos e que, somente na Polícia Federal há 17 áreas periciais distintas, identificar os principais riscos de segurança e propor procedimentos que tornem esta atividade mais segura justifica a realização dos estudos destes riscos, que é a proposta desta dissertação de mestrado.

Há que se considerar, por exemplo, a inequívoca existência de riscos para os peritos nas atividades laboratoriais onde são realizadas análises e estão expostos a produtos tóxico/químicos; em exames de campo como florestas, cerrados, locais de incêndio etc.; perícias em obras concluídas, abandonadas ou mesmo em andamento; exposição constante aos ruídos em perícias audiovisuais; exames de balística em armas antigas ou com procedência questionável; entre tantas outras que são inerentes ao trabalho pericial e que podem apresentar, inclusive, risco de vida pessoal, como nos casos de investigações de cartéis, grupos de extermínio, tráfico internacional entre outros.

Assim como em outras áreas, os relatos de acidentes de trabalho, ou situações de risco, nem sempre são divulgados a não ser nos casos onde há consequências fatais como no ocorrido em fevereiro de 2009 em Manaus, quando 3 peritos perderam a vida durante a realização de exames em laboratório. Os demais casos, como incidentes de pequeno porte ou que não causaram danos significativos são, na grande maioria das vezes, ignorados e não se tem um registro formal de sua ocorrência.

Segundo o artigo 131 do Decreto Lei 2.171 05/03/1997, acidente de trabalho é aquele que ocorre pelo exercício do trabalho, a serviço da empresa, provocando lesão corporal, perturbação funcional ou doença que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

(17)

Conforme Affonso Júnior (2011) o trabalho por si só, não gera acidente, sendo necessário que algo ocorra para que se concretize, o que é chamado de risco profissional.

Já numa acepção mais prevencionista, um conceito bastante adotado é de que o acidente de trabalho pode ser toda e qualquer ocorrência não programada, estranha ao andamento normal do trabalho, da qual possa resultar danos físicos e/ou funcionais ou morte do trabalhador e/ou danos materiais e econômicos à empresa. Neste contexto, o incidente é um “quase acidente”.

Segundo Campos (1999, p. 49) o incidente é tudo que atinge exclusivamente os objetos e que, portanto, provoca prejuízos materiais. Cita como exemplo de incidente a queda de material de uma ponte, sem atingir os trabalhadores. Apesar dos incidentes muitas vezes passarem despercebidos existem programas de prevenção que levam em conta esse tipo de ocorrência. Como cita Campos (1999) “os incidentes

sinalizam que algo está errado. O não-tratamento desses sinais compromete o sistema, deixando-o vulnerável à ocorrência de acidentes”.

A Norma Regulamentadora – NR01 que trata das disposições gerais relativas à segurança e medicina do trabalho diz que cabe ao empregador:

a) cumprir e fazer cumprir as disposições legais e regulamentares sobre medicina do trabalho;

b) elaborar ordens de serviço sobre segurança e saúde no trabalho, dando ciência aos empregados por comunicados, cartazes ou meios eletrônicos;

c) informar aos trabalhadores:

I. os riscos profissionais que possam originar-se nos locais de trabalho;

II. os meios para prevenir e limitar tais riscos e as medidas adotadas pela empresa;

III. os resultados dos exames médicos e de exames complementares de diagnóstico aos quais os próprios trabalhadores forem submetidos; IV. os resultados das avaliações ambientais realizadas nos locais de

trabalho.

d) permitir que representantes dos trabalhadores acompanhem a fiscalização dos preceitos legais e regulamentares sobre a segurança e medicina do trabalho;

e) determinar os procedimentos que devem ser adotados em caso de acidente ou doença relacionada ao trabalho. [Grifo nosso]

(18)

laboratorial, porém nas demais áreas há poucos, ou nenhum destes POP´s que estejam claramente definidos e conhecidos pelos peritos.

Procedimentos, segundo o glossário da NR-10, são sequências de operações a serem desenvolvidas para realização de determinado trabalho, com a inclusão dos meios materiais e humanos, medidas de segurança e circunstâncias que impossibilitem sua realização.

Questões interessantes são propostas por Zamith (2007, p. 18) em sua dissertação de mestrado da FGV a respeito da responsabilidade sobre a segurança, quais sejam:

Ora, o que regula então as atividades gerenciais de segurança das organizações que não sejam de responsabilidade do Estado e que não tenham como solução a contratação de um prestador de serviço? A quem cabe preservar a atividade-fim em relação a riscos que possam trazer danos para as organizações? Qual atividade é responsável por preservar pessoas

e patrimônio das organizações? A quem cabe, permanentemente, monitorar eventos causadores de perdas para as organizações, que necessariamente não precisam de contratação de prestadores de serviço? [Grifo nosso]

Considerando o contexto da Polícia Federal frente ao que propõe a NR-01 verifica-se que há muito o que ser elaborado, no sentido de que se faz necessário mapear os riscos e, principalmente informar quais são os principais a que estão expostos os peritos, bem como preveni-los. Entre as disposições da NR-01, pode-se

destacar a alínea “b” e os incisos “i” e “ii” da alínea “c” como motivadores desta

dissertação. Desta forma, o problema de pesquisa é o seguinte: quais são os principais riscos de segurança que estão expostos os peritos criminais federais de cada uma das áreas de perícia?

1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA

Com base nesta problemática apresentada, o objetivo geral do trabalho é identificar os principais riscos de segurança relacionados à atividade pericial.

Como objetivos específicos têm-se os seguintes:

(19)

- Analisar as normas regulamentadoras de segurança e saúde do trabalho e sua aplicabilidade na área pericial;

- Coletar dados a respeito de acidentes e incidentes de trabalho na atividade pericial a partir da perspectiva dos peritos;

- Mapear os grupos de riscos a que estão expostos os peritos criminais federais em cada uma das áreas;

- Propor melhorias para a gestão de riscos periciais.

1.3 HIPÓTESES

Como hipóteses têm‐se que:

- A existência de Procedimentos Operacionais Padrão (POPs) em determinadas áreas periciais não significa que os peritos tenham conhecimento de seu conteúdo nem tampouco que as utilizem.

- A inexistência de POPs faz com que laudos sejam elaborados e gerados de diferentes formas, não existindo padronização em sua execução o que pode acarretar em riscos em diferentes níveis.

- Há desconhecimento dos principais riscos a que estão expostos os peritos e a não formalização de (pequenos) incidentes faz com que se tenha uma falsa sensação de segurança.

1.4 JUSTIFICATIVA E DELIMITAÇÃO

(20)

e engenharia de minas. Verifica-se que em cada uma destas áreas há vários riscos facilmente identificados bem como outros que somente a experiência e a vivencia na área poderão demonstrar.

Quanto aos limites, esta pesquisa foca o gerenciamento de riscos em atividades periciais, com a identificação dos principais riscos e elaboração de sugestão de procedimentos mínimos visando mitigálos. A dissertação tem campo em um contexto particular, qual seja, estudo de caso na perícia criminal federal, porém pretende‐se gerar informações e conhecimentos que sejam universais e transponíveis para outras forças policiais ou organizações que exerçam atividades de perícia. Assim, a aplicabilidade da abordagem elaborada se dará através da validação do modelo na área de Perícias da Polícia Federal.

A Polícia Federal possui uma diretoria responsável pelas perícias Diretoria Técnico Científica (DITEC) que tem como função elaborar laudos periciais e outros documentos técnicos relacionados ao processamento de vestígios. Os peritos criminais federais são policiais federais especializados em diversas áreas e que trabalham no Instituto Nacional de Criminalística (INC) e outros setores/núcleos/unidades técnico‐científicas (SETEC, NUTEC e UTEC) em todo o território nacional realizando perícias forenses.

Importante considerar que a originalidade do estudo realizado deve se ao fatoda transposição de conceitos da segurança do trabalho para o ambiente pericial, assunto este que até o presente momento não foi abordado pela Polícia Federal. O gerenciamento de riscos, geralmente, é percebido como uma atividade específica, e isolada, realizada por especialistas, com o auxílio de ferramentas e técnicas. Porém, para que se consiga efetivar todos os benefícios que podem decorrer do processo de implantação do gerenciamento de riscos, é necessário que o mesmo se torne integrado em todos os níveis da organização.

(21)

Observou‐se a partir de levantamento1 realizado a respeito do gerenciamento de riscos nas diferentes áreas periciais, que não há, até o presente momento, procedimentos normatizados bem como há a necessidade de se mapear os riscos e criar mecanismos para monitorálos e mitigar, caso venham a ocorrer.

A abordagem a ser trabalhada neste projeto e sua originalidade, fundamenta se na teoria sistêmica, com foco no gerenciamento de riscos, a partir da complexidade das interações, bem como na visão holística a ser adotada na gestão dos riscos. Esta visão vem em contraponto aos modelos apresentados que possuem uma aproximação reducionista quanto ao gerenciamento de riscos, haja vista que o mesmo não pode ser gerenciado simplesmente a partir de um ponto de vista de causa-efeito.

Tratase de um novo paradigma no gerenciamento de riscos onde ocorre integração com os níveis estratégicos, gerenciamento através de um processo contínuo e que envolve todas as áreas de gestão da organização.

Com base no exposto, verificase a relevância deste estudo no sentido de que, em termos científicos, poderá contribuir no mapeamento dos riscos periciais que propiciem o seu gerenciamento de forma mais eficaz e menos sujeito a incertezas.

Diante destas constatações, este projeto destacase quanto:

- à originalidade – por focar a área pericial sob perspectiva de gerenciamento de riscos, baseada em uma visão mais sistêmica e na complexidade das interações;

- ao ineditismo – na abordagem do tema sob ótica de integração da segurança do trabalho e gestão de riscos na atividade perícia/policial;

- contribuição quanto à prática gerencial – na oferta de uma sistemática que auxilie no processo de gerenciamento de riscos e conseguinte melhoria na gestão das atividades periciais;

- contribuição acadêmica – o tema apresenta uma aplicação dos conceitos de segurança e gerenciamento de riscos em uma atividade policial porém a metodologia e procedimentos a serem adotados podem

1 Foi realizado um levantamento preliminar com aplicação de questionário online como atividade da

(22)

encontrar campo em diversas outras áreas, inclusive com aplicações na área acadêmica.

Este trabalho justificase à luz da lei natural a partir do fato de que o mapeamento de riscos permitirá um maior equilíbrio nas atividades laborais, propiciando uma vida melhor e mais segura. O bem a ser atingido alcançará a vida pessoal e profissional dos peritos oficiais, conciliando e conseguindo equilíbrio entre elas.

Considerando o trabalho no tocante à utilidade verifica‐se que todos os peritos oficiais podem se beneficiar com o resultado deste trabalho haja vista que a partir do mapeamento dos riscos poderá se evitar situações potenciais de riscos e acidentes contribuindo para a execução das atividades com maior segurança. Outro ponto importante é que a partir da participação direta e experiência de todos os peritos se conseguirá mapear os riscos em diferentes regiões e permitir realizar estudos comparativos entre estas bem como através de experiências de outros países.

Sob o ponto de vista do universalismo, verifica‐se que todos os peritos criminais serão beneficiados com o mapeamento de riscos para evitar que tragédias ocorram. Acreditase que todos os peritos almejam realizar seu trabalho com segurança e, portanto, os procedimentos periciais devem ser os mais seguros possíveis. O mapeamento de riscos poderá gerar um checklist que pode servir de ferramenta para que os riscos sejam identificados o mais cedo possível e, se possível, mitigados. O objetivo final é de que, caso haja situações de riscos, os peritos tenham o conhecimento necessário para saber agir com a razão em situações de crise.

Considerando a justificativa à luz do contrato verificase a necessidade oferecer segurança para a realização de atividades arriscadas, seja por meio de procedimentos, materiais e outros recursos. Não deve haver em diferentes localidades, diferenças de materiais à disposição, pois mesmo em localidades ermas precisam ter à sua disposição os meios necessários para executar suas atividades com segurança. O conhecimento e técnicas para realização das atividades também faz parte do contrato, assim como a necessidade constante de treinamentos.

(23)

atitudes sejam condizentes com sua realidade. É importante passar uma imagem de credibilidade e de boa execução de seu papel para a sociedade, porém mais importante é que na realização destas atividades seus servidores estejam protegidos e menos expostos aos riscos. Apesar de apresentar como tipo de gestão dominante a gestão burocrática, fazse necessário adotar um estilo administrativo mais flexível haja vista que no ambiente operacional da organização a incerteza impera.

1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Este trabalho está dividido em 6 capítulos, sendo que no primeiro foram apresentados o tema, problema, hipóteses, justificativa, objetivos e a delimitação da pesquisa.

O segundo capítulo demonstra os aspectos conceituais e históricos do risco, seu gerenciamento, tipos de riscos e os riscos da atividade policial no Brasil.

O terceiro capítulo apresenta as questões normativas de segurança do trabalho, destacando os conceitos, breve histórico da segurança do trabalho, legislação brasileira sobre acidentes de trabalho, normas regulamentadoras, mapa de riscos, alguns aspectos psicológicos e questões de gestão da segurança do trabalho.

O quarto capítulo destaca a metodologia de pesquisa adotada neste trabalho, classificando-a, definindo a população, amostra e os instrumentos utilizados para a coleta de dados.

O quinto capítulo demonstra o estudo de caso, apresentando a perícia criminal federal, os resultados obtidos a partir da coleta de dados e sugestões de melhorias.

(24)

2 RISCO

Verifica-se que todas as atividades, sejam elas quais forem, possuem riscos associados, algumas, mais do que outras, porém constantemente as pessoas e organizações estão fazendo análises de riscos em suas vidas haja vista que todas as ações possuem riscos associados a elas. Nos mundo dos negócios isto também ocorre haja vista que no processo de tomada de decisão há riscos envolvidos, e para tanto as consequências devem ser avaliadas, a probabilidade de perda deve ser calculada, os riscos devem ser analisados e só então uma escolha deve ser feita (KRAMER, 2003, p. 6).

2.1 CONCEITO DE RISCO

De acordo com o ISO Guide 73, risco é a “combinação da probabilidade de

um evento e de suas consequências” e, em alguns casos, o risco pode decorrer da

possibilidade de desvio em relação ao evento ou resultado esperado. Deve-se

observar que o termo “risco” é utilizado somente quando há, pelo menos, a possibilidade de consequências negativas (DE CICCO, 2003). Por outro lado, há definições que apresentam o risco como sendo tanto uma ameaça como uma oportunidade.

A palavra “risco” significa “ousar” que é uma derivação de uma palavra do italiano antigo, chamada risicare que por sua vez deriva do latim risicu, riscu. Sob esta ótica, o risco é uma opção, resultado das ações que são tomadas, que dependem do grau de liberdade de que opta (BERNSTEIN, 1997, p. 8)

Assim, neste contexto fazse necessário entender o conceito de incerteza.

Segundo Heerkens (2002, p. 142), a incerteza é definida como “ausência de

(25)

decisão ou acontecimento” e o risco é uma medida da quantidade de incerteza que existe diretamente relacionado à informação, conforme pode ser verificado na Figura 1 a seguir:

Figura 1: Relacionamento do risco com a informação e incerteza

Fonte: Heerkens (2002, p. 142)

De acordo com Frame (2003, p. 8) é comum a distinção entre os conceitos de risco e de incerteza entre pesquisadores e peritos. Esta distinção foi feita pela primeira vez por Frank Knight da Universidade de Chicago em 1921. Segundo o autor, quando se toma decisões sob condições de risco, é possível saber a probabilidade do acontecimento e consequentemente ter mais informação disponível. Por outro lado, quando se toma decisões sob condições de incerteza, não se tem informações e as decisões têm um forte elemento de conjectura construído a partir dela. A relação entre o risco, a incerteza e os níveis de informação pode ser visualizada na Figura 2 a seguir:

Figura 2: Relação entre risco, incerteza e níveis de informação

Fonte: Frame (2003, p. 8)

(26)

(qual a frequência); d) qual a certeza das três perguntas anteriores? (demonstra o grau de confiança). De acordo com o autor, o elemento chave é a origem da incerteza capturada na quarta pergunta, uma vez que se não há nenhuma incerteza, não há

“risco” em si.

Hayes (1992) observa que o conceito de risco é um campo acadêmico sem fronteiras definidas onde são comuns as lacunas entre os conceitos em diferentes produções que falam sobre o tema. No século XVII, o risco, a partir de uma ótica e lógica de jogo, designava a probabilidade de um evento ocorrer, combinado à magnitude de perdas e ganhos inerentes ao jogo. Atualmente este conceito estaria

associado apenas aos resultados negativos, onde a ação de “correr risco” tem

conotação negativa e exclui qualquer reconhecimento dos benefícios, sejam eles reais ou percebidos.

Gerber e Von Solms (2005, p. 17) dissertam quanto à complexidade inerente ao conceito de risco, que causa muita ambiguidade entre cientistas sociais e naturais. Em sua evolução, o risco, teve seu significado modificado no decorrer do tempo, iniciou no século XVII associado à matemática e aos jogos, onde se referia a uma combinação entre a probabilidade e a magnitude de ganhos potenciais e perdas. No século XVIII ao risco foi atribuído um conceito neutro, considerando tanto ganhos quanto perdas e foi utilizado no mercado de seguros marítimos. No século XIX esteve associado ao estudo da economia, e teve uma conotação mais negativa no sentido de indicar os incentivos associados ao “aceitar o risco” envolvido em um investimento.

No século XX, a conotação se tornou totalmente negativa se referindo às consequências dos riscos na engenharia e ciência, em particular quanto aos perigos causados por desenvolvimentos tecnológicos modernos como nas indústrias petroquímicas e nucleares.

Outra questão relacionada a respeito do comportamento frente ao risco refere

se a “escolha individual” baseada numa lógica racionalista, onde o indivíduo

devidamente informado seria capaz de escolher, frente a muitas opções, aquela que

não lhe trará danos. Neste aspecto Weber (1992, p. 418) diz que “[...] age de modo

(27)

aos fins, os fins com relação às consequência simplificadas e os diferentes fins

possíveis entre si”.

Gerber e Von Solms (2005, p. 17) apresentam duas abordagens diferentes quanto à percepção em relação ao risco: riscos individuais e riscos sociais. O risco individual se refere a um indivíduo em particular e o risco social (entendido como comunidade, comunal, público, comum, compartilhado, coletivo ou grupal), por outro lado, representa um risco à sociedade e pode ser medido pela possibilidade de um grande acidente causa um número definido de mortes.

Para Warner (1993 apud GERBER e VON SOLMS, 2005, p. 18) estas definições de riscos são elaboradas a partir da forma que cientistas e engenheiros conduzem seus trabalhos de forma prática, principalmente atribuindo os números envolvidos no risco. Estes números são baseados em primeiro lugar nos cálculos de probabilidade e, em segundo, no uso de informações obtidas a partir de banco de dados de fracassos e de credibilidade para determinar as consequências em termos de fatalidades.

A forma como o risco é tratado depende dos paradigmas envolvidos. Gerber e Von Solms (2005, p. 1819) apresentam três diferentes paradigmas: ciência natural, ciências sociais e ciências teóricas.

Esta distinção é importante haja vista que as abordagens do risco se distinguem a partir do paradigma adotado, uma vez que existem várias técnicas para avaliar os riscos existentes. Estas técnicas se originam de diferentes abordagens da engenharia, economia, ciências comportamentais e ciências políticas. No campo da

engenharia, relacionado ao paradigma da ciência natural a avaliação do risco é “um

campo objetivo, de análise científica” (MAYO e HOLLANDER, 1991 apud GERBER e

VON SOLMS, 2005).

(28)

risco, e a decisão sobre a existência do risco sem uma avaliação científica, como subjetiva ou percepção do risco.

Desta forma, o conceito de risco no paradigma das ciências naturais é visto como objetivo ou risco avaliado, devido aos métodos científicos usados para avaliar o risco. Em uma avaliação objetiva do risco não há julgamentos uma vez que utiliza cálculos precisos, fórmulas e exige experimentos exatos. Dentro do paradigma das ciências sociais, no entanto, o risco é visto como subjetivo ou percebido, pois é uma decisão que é obtida sem avaliação cientifica. A avaliação subjetiva do risco é baseada em percepção, heurísticas ou regras gerais que são decisões baseadas mais na experiência, juízo e perspicácia do que na matemática pura (KIRKWOOD, 1994, p. 1719).

2.2 GERENCIAMENTO DE RISCOS

Neste contexto, o gerenciamento de riscos tem como objetivo identificar oportunidades e reduzir os riscos dos stakeholders e também os riscos de não se alcançar os objetivos. A gerência de riscos auxilia os gestores a colocar prioridades, alocar recursos e implementar ações e processos que reduzam os riscos (COOPER et. al., 2005, p.1).

Para De Cicco (2003) a Gestão de Riscos é uma disciplina que se encontra em constante evolução e diversas tentativas foram realizadas no sentido de alcançar uma padronização que permitissem aos stakeholders administrar os riscos empresariais pautados nas mesmas definições.

De acordo com Hillson (2004, p. 3), a origem da incerteza encontra respaldo em muitos autores, através de suas citações. Caius Plinus Secundus, mais conhecido como Plínio, o velho (23 a.C. – 79 d.C.) expressou em sua obra História Natural que

“a única certeza é que não há nada certo” (solumcertumnihil esse certi). E, Benjamin Franklin (17061790), um ano antes de sua morte escreveu que “neste mundo nada é certo, exceto a morte e os impostos”. Para Oscar Wilde (1854‐1900) “só o passado é

(29)

Assim como em outras áreas, a prevenção pode ser uma alternativa eficiente para o gerenciamento de riscos. De acordo com Brasiliano (2003, p. 25‐6), “a maneira

mais correta de gerenciar uma crise é tentar diminuir o impacto através de medidas preventivas e de implantação de sistemas que venham efetivamente a combater o referido risco”.

Gerenciar o risco faz com que os negócios sejam bem sucedidos haja vista que riscos imprevistos podem ser desastrosos para uma organização. Desta forma, entender e aceitar o risco são decisões gerenciais, onde se têm a garantia de controle quanto à escolha e a forma para usar e gerenciar o risco (KRAMER, 2003, p. 7). Por sua vez, Tippett (2002, p. 1195), observa que é necessário ter foco no gerenciamento de risco através de medidas que sejam realmente mensuráveis, e não em profilaxia para riscos que sejam teoricamente interessantes, raros ou inexistentes, entendendo que se trata de um processo de segurança holístico e dinâmico.

Verificase, desta forma, que não basta saber sobre a importância dos riscos, mas também conhecer e entendê‐los para que o gerenciamento seja eficiente.

De acordo com De Cicco (2003) esta preocupação foi o que originou a norma AS/NZS 4360, uma norma de âmbito mundial, sobre os sistemas de gestão de riscos empresariais, elaborada na Austrália e Nova Zelândia, que propõe um processo estruturado para o gerenciamento de diversos tipos de riscos relativos à segurança, meio ambiente, qualidade de produtos e serviços, riscos financeiros, seguros e políticas públicas. Além desta, há várias outras normas e metodologias que tratam diferentes aspectos do risco.

(30)

2.3 HISTÓRICO DE RISCO

De acordo com Bernstein (1997, p. 1), “a idéia revolucionária que define a

fronteira entre os tempos modernos e o passado é o domínio do risco: a noção de que o futuro é mais do que um capricho dos deuses e que homens e mulheres não são

passivos ante a natureza”. Para o autor, até o momento onde os homens descobriram

como transpor esta fronteira, o futuro era um espelho do que ocorria no passado ou ainda resultado do conhecimento de adivinhos que através de oráculos previam o acontecimento de eventos. Porém, através da visão de vários pensadores, o futuro foi posto a serviço do presente, mostrando como compreender o risco, como medi-lo e

como avaliar suas consequências. Desta forma, converteram “o ato de correr riscos em um dos principais catalisadores que impelem a sociedade ocidental moderna”.

Neste contexto, a capacidade de ser capaz de definir o que poderá ocorrer no futuro e permitir optar entre várias alternativas faz parte das sociedades contemporâneas, onde a administração do risco orienta frente uma ampla gama de tomada de decisões que estão presentes em todas as esferas. Entre elas, a capacidade de administrar o risco, a vontade de correr risco e de fazer opções ousadas (BERNSTEIN, 1997, p. 2-3).

De acordo com Bernstein (1997, p. 3), a concepção moderna do risco teve sua origem no sistema de numeração indo-arábico e alcançou o ocidente há cerca de setecentos a oitocentos anos. Porém, um estudo mais aprofundado e sério iniciou no

Renascimento, a partir do momento que “as pessoas se libertaram das restrições do passado e desafiaram abertamente as crenças consagradas”.

(31)

interesses e praticar o comércio, porém “sem uma compreensão real do risco ou da natureza da tomada de decisões” (BERNSTEIN, 1997, p. 3).

Observa-se que muitas das ideias mais sofisticadas sobre a administração de risco e sobre o processo de tomada de decisão foram desenvolvidas a partir da análise de jogos. Os jogos de azar, que em sua essência representam o próprio ato de correr riscos, uma vez que ninguém enfrenta um risco na expectativa do fracasso, têm fascinado os seres humanos e aparecem em vários pontos da história da humanidade. Foi um destes jogos que inspirou Pascal e Fermat a uma incursão na lei das probabilidades (BERNSTEIN, 1997).

Houve vários acontecimentos que propiciou o conhecimento que se tem atualmente sobre o risco, sua administração e sobre a tomada de decisão, originadas, a princípio, a partir de competições entre matemáticos para a invenção de tabelas de expectativas de vida, e, também, a partir do conceito de seguro que surgiu em Londres, a partir dos seguros Marítimos. De forma resumida, o Quadro 1, a seguir, apresenta os principais acontecimentos:

Quadro 1: Contribuições para os estudos do risco

Período Autor(es) Descrição Contribuição

1202 Leonardo Pisano (Fibonacci)

Livro Liber abaci

Série de Fibonacci Numeração indo-arábico

História dos números no ocidente. Além de teoria apresentava aplicações práticas.

O Líber abaci foi o primeiro passo na

transformação da medição no fator-chave do controle sobre o risco, porém a sociedade da época ainda não estava preparada para associar números ao risco.

1494 Luca

Paccioli Livro geometria et proportionalità Summa de arithmetic,

Apresenta princípios da álgebra, tabuadas de multiplicação e da contabilidade por partidas dobradas.

Para a resolução do Problema dos pontos (como dividir as apostas em um jogo interrompido) marcou o início da análise sistemática da probabilidade.

1525 Girolamo

Cardano Livro (Livro dos jogos de azar) Liber de ludo aleae A palavra e aleatoriusalae refere-se a jogos de azar, e se refere aos jogos de dados

ambas se referem a palavra aleatório que descreve eventos cujo resultado é incerto. Desenvolveu os princípios estatísticos de probabilidade2, porém o autor se refere a “chances”.

2 A raiz latina de probabilidade é uma combinação de probare, que significa testar, provar ou aprovar,

e ilis, que significa capaz de ser. Provavelmente foi no sentido de ser “passível de prova” ou “digno

(32)

Período Autor(es) Descrição Contribuição

Definiu a forma de expressar a probabilidade como uma fração.

Reconhecimento das combinações de números para o desenvolvimento das leis das probabilidades.

Primeiro esforço conhecido de pôr a medição a serviço do risco.

1619 Thomas Gataker

Of the nature and use of lots

(Da natureza e do uso dos sorteios)

Argumenta que a lei natural, e não a lei divina, determinava o resultado dos jogos de azar.

1620(?) Galileu Ensaio Sopra le scoperte

dei dadi (Sobre o jogo de

dados)

Trata de jogadas de um ou mais dados, extraindo conclusões sobre a freqüência de diferentes combinações e tipos de resultados.

1654 Blaise Pascal, Pierre de Fermat, Cavaleiro de Meré

Teoria da probabilidade Trabalharam indutivamente na teoria das

probabilidades. A teoria forneceu uma medida de probabilidade em termos de números exatos, rompendo a forma com que eram tomadas decisões baseadas em graus de crença.

1662 Monges do mosteiro parisiense Port-Royal

Produção da obra chamada

Lógica (La logique, ou l’art

de penser)

Produziram esta obra pioneira de filosofia e probabilidade.

Aborda o processo de desenvolvimento de uma hipótese com base em um conjunto limitado de fatos (inferência estatística), base de interpretação de eventos históricos e a aplicação de medições numéricas à probabilidade.

1662 John Graunt Natural and political observations made upon

the bills of mortality

(Observações naturais e políticas sobre os registros de óbito)

Publicou resultados sobre generalização de dados demográficos a partir de uma amostragem estatística de registro de mortalidade.

O livro foi um avanço revolucionário, um salto ousado no uso de métodos de amostragem e no cálculo de probabilidades

– matéria-prima de todo método de administração do risco, dos seguros, etc. Trabalhou com um conjunto completo de registros de mortalidade, e não com uma amostra. A maneira como ele analisou os dados permitiu estabelecer os fundamentos da ciência da estatística3.

Seu trabalho pioneiro revelou os conceitos teóricos básicos necessários à tomada de decisões sob condições de incerteza. 1687 Edward

Lloyd Fundou um café que mais tarde seria o Lloyd’s –

empresa seguradora

Os seguros são negócios que dependem do processo de amostragem, do cálculo de médias, das observações, da noção de normal.

(33)

Período Autor(es) Descrição Contribuição

Quem precisava de um seguro4 procurava

um corretor, que oferecia o risco aos enfrentadores de riscos individuais. Quem assumia o risco confirmava sua concordância em cobrir o prejuízo em troca de um prêmio específico assinando seu nome sob (under) os termos do contrato, foi o surgimento do termo underwriters.

1693 Edmund

Halley Publicação das tabelas de expectativas de vida em

Transactions

A tabela podia ser usada para calcular o preço de seguros de vida para diferentes idades.

A manipulação de números utilizada foi a base para a formação dos bancos de dados utilizados atualmente pelo setor dos seguros de vida.

1703 Gottfried von Leibniz Jacob Bernoulli

“A natureza estabeleceu

padrões que dão origem ao retorno dos eventos, mas apenas na maior parte dos

casos.”

Invenção da lei dos Grandes Números e métodos de amostragem estatística

Aborda a questão da existência do risco em primeiro lugar. Se não houvesse a ressalva, tudo seria previsível, e existiria um mundo onde cada evento é idêntico ao anterior e não haveria mudanças.

1730 Abraham de Moivre

Estrutura da distribuição normal (curva em sino) Descoberta do conceito de desvio padrão

Os dois conceitos constituem a Lei das Médias e são partes essenciais das técnicas modernas de quantificação do risco.

1738 Daniel

Bernoulli Definição sistemático pelo qual a do processo maioria das pessoas realiza escolhas e chega a decisões

Ensaio: Specimen theoriae novae de mensura sortis

(Exposição de uma nova teoria sobre a medição do risco)

Explicou porque as pessoas tendem a ser avessas ao risco e por que os preços têm de cair para que os clientes sejam persuadidos a comprar mais.

“O valor de um item não deve se basear em

seu preço, mas na utilidadeque ele produz”

É um dos documentos mais profundos já escritos, não apenas sobre o tema do risco, mas, também, sobre o comportamento humano.

1754(?) Thomas

Bayes Criou o teorema de Bayes Demonstrou como tomar melhores decisões mesclando matematicamente novas informações com informações antigas. 1875 Francis

Galton Descobriu a regressão à média. Explica por que o orgulho precede uma queda e por que as nuvens tendem a ter superfícies prateadas

Demonstra por que ao tomar uma decisão baseada na expectativa de que as coisas

voltarão ao “normal” está se empregando a

noção de regressão à média.

4 Em um período de prosperidade, os seguradores implantaram inovações no ramo segurador e

emitiam apólices de seguro contra quase todo tipo de risco, como roubos em residências, incêndios,

roubos nas estradas, morte por excesso de gim, morte de cavalos e “seguro da castidade feminina”.

(34)

Período Autor(es) Descrição Contribuição

1952 Harry

Markowitz Demonstrou matematicamente por que colocar todos os ovos na mesma cesta é uma estratégia inaceitavelmente arriscada e por que a diversificação é o melhor negócio.

Desencadeou o movimento intelectual que revolucionou Wall Street, finanças corporativas e decisões empresariais.

Fonte: adaptado de Bernstein (1997)

As ideias sobre risco e probabilidade continuaram a emergir em ritmo acelerado, à medida que também aumentava o interesse no assunto e atingia outros países como França, Suíça, Alemanha e Inglaterra. No início do século XVII, a busca era no sentido de descobrir técnicas de medição que fossem capazes de determinar o grau de ordem que estaria oculto no futuro incerto, sendo que do fim do século XVII boa parte dos problemas da análise das probabilidades estavam resolvidos. A partir de então, o passo seguinte era abordar a questão de como os seres humanos reconhecem as probabilidades que se apresentam e como reagem a elas. De acordo

com Bernstein (1997, p. 55), em última análise, “este é o objeto da administração do

risco e da tomada de decisões e é ai que o equilíbrio entre a medição e a emoção torna-se o ponto focal de toda a história”.

Deve-se observar que todas as ferramentas atualmente em uso na administração do risco e nas análises de decisões e opções, que vão da racionalidade da teoria dos jogos aos desafios da teoria do caos, são resultados das evoluções ocorridas entre 1654 e 1760, com exceção da regressão à média de Galton e dos estudos de Harry Markowitz de 1952 (BERNSTEIN, 1997, p. 5-6).

A teoria da tomada de decisões teria surgido a partir da análise de Pascal do questionamento a respeito da existência, ou não, de Deus. Segundo Ian Hacking “a teoria da decisão é a teoria de decidir o que fazer quando é incerto o que acontecerá”,

e tomar tal decisão é, segundo Bernstein (1997, p. 6869), “o primeiro passo essencial

em qualquer esforço de administração do risco”.

(35)

informação a serviço da tomada de decisões e influenciando o grau de crença sobre as probabilidades de eventos futuros (BERNSTEIN, 1997, p. 83).

Na obra elaborada pelos monges do mosteiro, chamada Lógica, é traçada uma analogia onde as probabilidades de ser atingido por um raio são pequenas,

porém várias pessoas sentem um medo irreal ao ouvir trovões, e explica: “o medo do

dano deveria ser proporcional, não apenas à gravidade do dano, mas também à

probabilidade do evento”. Nisto reside a inovação do pensamento: de que tanto a

gravidade como a probabilidade devem influenciar uma decisão. Da mesma forma poderia inverter essa asserção e afirmar que uma decisão deveria envolver a força do desejo a respeito de um resultado específico, bem como o grau da crença na probabilidade daquele resultado. Esta força de desejar algo passou a ser conhecida como utilidade e se tornaria mais do que uma mera auxiliar da probabilidade. A utilidade viria a assumir um lugar central em todas as teorias de tomada de decisões e de enfrentamento de riscos (BERNSTEIN, 1997, p. 70).

[...] A utilidade foi um conceito tão poderoso que, nos duzentos anos seguintes, formou a base do paradigma dominante que explicava a tomada de decisões humana e das teorias da escolha em área bem além das questões financeiras. A teoria dos jogos – a abordagem inovadora do século XX à tomada de decisões na guerra, na política e na gestão empresarial –

faz da utilidade uma parte integral de todo seu sistema (BERNSTEIN, 1997, p. 110).

De acordo com Bernstein (1997, p. 103), o conceito de utilidade é experimentado intuitivamente e transmite o sentido de utilidade, desejo ou satisfação. Desta forma, os tomadores de decisão racionais buscarão maximizar a utilidade esperada, em vez de o valor esperado. O cálculo da utilidade esperada é feito pelo mesmo método do cálculo do valor esperado, porém com a utilidade servindo de peso. Isto se explica pelo fato de que os sentimentos acabam regendo a medição, e de que as pessoas atribuem ao risco valores diferentes:

(36)

Segundo Bernoulli (1954 apud BERNSTEIN, 1997, p. 105), as considerações subjetivas estão presentes nas decisões com resultados incertos. Enquanto que o papel dos fatos é fornecer resposta única ao valor esperado, haja vista que os fatos são os mesmos para todos, o processo subjetivo produz tantas respostas quanto os seres humanos envolvidos. Além disso, tem a questão de quanto cada indivíduo deseja, conforme a ideia de que “a utilidade resultante de qualquer pequeno aumento

da riqueza será inversamente proporcional à quantidade de bens anteriormente

possuídos”. Esta foi a primeira vez na história em que foi aplicada a medição a algo

que não pode ser contado.

Enquanto que Cardano, Pascal e Fermat forneceram métodos para calcular os riscos, a partir de cada arremesso de dados, Bernoulli apresentou aquele que está disposto a correr riscos, o jogador que escolhe quanto apostar ou mesmo se irá apostar. Ao passo que a teoria das probabilidades estabelece as opções, Bernoulli define quais são as motivações das pessoas que optam. Segundo Bernstein (1997, p. 105; 109), Bernoulli foi responsável por estabelecer uma base intelectual do que se seguiria adiante, não apenas em economia, mas também na teoria de como as pessoas tomam decisões e fazem escolhas em todos os aspectos da vida. Com suas teorias, Bernoulli introduziu uma nova ideia, considerada pelos economistas atuais, como propulsora do crescimento econômico, o capital humano.

De acordo com Bernstein (1997) há uma tensão entre os autores que afirmam que as melhores decisões são baseadas na quantificação e nos números, determinadas a partir de padrões do passado e os que acreditam em decisões mais subjetivas sobre um futuro incerto, sendo esta uma controvérsia jamais solucionada:

A questão reduz-se à visão da extensão em que o passado determina o futuro. Não podemos quantificar o futuro, por ser desconhecido, mas aprendemos a empregar os números para esquadrinhar o que aconteceu no passado. Mas até que ponto devemos confiar nos padrões do passado para prever o futuro? O que é mais importante quando enfrentamos um risco: os fatos como os vemos ou nossa crença subjetiva no que se oculta no vazio do tempo? A administração do risco é uma ciência ou uma arte? Conseguiremos determinar exatamente a linha divisória entre as duas abordagens?

De acordo com Bernstein (1997, p. 116) a “teoria das probabilidades é um

instrumento de previsão sério, mas o diabo, como dizem, está nos detalhes – na

qualidade das informações que formam a base das estimativas probabilísticas”. O

(37)

partir de quantidades limitadas de informações de duas formas: a) ele definiu o problema nestes termos antes que houvesse qualquer reconhecimento da necessidade de uma definição; b) sugeriu uma solução baseada em apenas uma

exigência “sob condições similares, a ocorrência (ou não ocorrência) de um evento no futuro seguirá o mesmo padrão observado no passado”. Neste contexto, Bernstein

(1997, p. 119) apresenta que:

O passado, ou quaisquer dados que optemos por analisar, é apenas um fragmento da realidade. A qualidade fragmentária é crucial na passagem dos dados para uma generalização. Nunca temos ou conseguimos adquirir todas as informações de que precisamos para obtermos o mesmo grau de confiança com que sabemos, além de qualquer sombra de dúvida, que um dado tem seis lados, [...] A realidade é uma série de eventos interligados, cada um dependente de outro, radicalmente diferentes dos jogos de azar em que o resultado de qualquer jogada individual tem influência zero sobre o resultado da próxima jogada.

A partir das ideias de Bernoulli, a gestão do risco converge na aplicação de seus três pressupostos obrigatórios: plena informação, tentativas independentes e a relevância da avaliação quantitativa. Estes pressupostos são relevantes de forma crucial na determinação do grau de sucesso quanto à aplicação da medição e da informação para prever o futuro (BERNSTEIN, 1997).

Bosworth e Jacobson (2002, p. 27) explicitam que o gerenciamento de risco faz parte do mundo dos negócios há séculos. Na renascença, os comerciantes utilizavam com frequência vários navios para carregar simultaneamente porções da mercadoria, de modo que a perda de um único navio não resultaria na perda do lote inteiro. Nesta mesma época foi desenvolvido o conceito de seguro, visando primeiramente proteger economicamente contra as perdas de carga e, posteriormente, como forma de proteção de edifícios contra o fogo, pois os bombeiros e autoridades municipais começaram a exigir adesão para reduzir o risco de catástrofes como o grande incêndio em 1666 na cidade de Londres. Com isto, no ano seguinte, se estabeleceu em Londres o Insurance Institute.

(38)

também sobre períodos mais extensos de tempo, do que em qualquer outra época anterior.

Para Bernstein (1997, p. 21), o comércio também é um negócio arriscado, pois

“à medida que o crescimento do comércio transformou os princípios do jogo em

geração de riqueza, o resultado inevitável foi o capitalismo, a epítome de correr

riscos”. Bosworth e Jacobson (2002, p. 27-8) corroboram com esta ideia ao apresentar que com o surgimento das corporações, na forma de companhias limitadas, com responsabilidade sobre os estoques, o conceito de risco se desenvolveu no sentido de que os diretores das companhias usassem prudência e diligência na proteção dos ativos dos acionistas. Desta forma, os riscos de segurança passaram a ser uma preocupação dos diretores contra as ameaças aos ativos da organização.

O capitalismo surgiu e utilizou duas atividades que até então eram desnecessárias: a contabilidade, atividade humilde que disseminou novas técnicas de numeração e contagem e a previsão, atividade menos humilde e mais desafiadora que associa o ato de assumir riscos com as compensações diretas (BERNSTEIN, 1997, p. 21). Bosworth e Jacobson (2002, p. 28), detalham a participação da contabilidade através do uso do método de partilha dobrada, uma outra invenção da Renascença, que foi usada como ferramenta na contabilidade que tinha como objetivo medir e controlar os ativos das organizações, fazendo com que as fraudes se tornassem mais difíceis de ocultar. O conceito utilizado de separação de obrigações fez com que os procedimentos de processamento exigissem mais de uma pessoa para completar a transação. Os livros de registros tornaram-se padrões importantes na contabilidade e continuam a ser desenvolvidos até hoje, permitindo fazer comparações e garantir que os livros apresentem um quadro exato quanto a sua condição e ativos. Para tanto foi incluída a figura do auditor externo que revisa os livros de registros e os procedimentos de operação.

(39)

importância, ameaças também se tornaram um problema devido à própria tecnologia dos sistemas de informação. Quando informações sensíveis eram armazenadas em papel o processo de cópia era limitado e a proteção era relativamente clara. Não obstante, os documentos de controle dos sistemas, procedimentos de classificação de informação e a necessidade de ter controles de acessos não eram infalíveis, e a informação era comprometida com regularidade. A evolução dos sistemas de informação fez com que o controle de acesso à informação se tornasse muito mais complexo e as técnicas de controle não conseguiram acompanhar esta evolução (BOSWORTH; JACOBSON, 2002, p. 28).

Observa-se que como a evolução dos sistemas de informação houve uma evolução paralela na segurança dos sistemas de informação e ao mesmo tempo aumentou a importância em antecipar os impactos das mudanças. Esta visão apresenta os fatores que levam aos sistemas de segurança de informação atuais, as técnicas de mitigação e as alternativas que servem de alerta quanto às implicações de novas técnicas que surjam (BOSWORTH; JACOBSON, 2002, p. 28).

2.4 TIPOS DE RISCO

Frame (2003, p. 9-11) apresenta diversas abordagens na tentativa de classificar os riscos, uma vez que o mesmo pode ser dividido em diferentes perspectivas que não são, necessariamente, mutuamente exclusivas.

Segundo este autor, risco pode ser classificado da seguinte forma:

- Risco puro (ou segurável): neste risco há a possibilidade de dados ou perdas, estando focalizado exclusivamente na ocorrência de coisas más. Muitas vezes é chamado de risco segurável, pois é passível de assegurar através de apólices de seguro, que visam proteger as consequências do dano ou perda.

(40)

- Risco de projetos: os projetos estão sempre envoltos em risco porque são esforços únicos e desta forma o passado é um guia imperfeito para o futuro. Há algumas variações importantes quanto ao nível de risco em

projetos, pois quando se trata de um projeto “estado da arte” os riscos

são grandes, por outro lado, quando é um projeto de rotina, que já foi executado outras vezes, os riscos tornam-se baixos. Uma porção substancial da gerência de risco em projetos está associada com estimativas, pois o tempo de duração de tarefas, estimativas de custos, necessidades de recursos não são identificados e avaliados corretamente os riscos associados aumentam.

- Risco operacional: se relaciona aos riscos associados à execução de operações, e ocorre quando da ocorrência de algum tipo de acontecimento que ameaça as operações de alguma forma.

- Risco técnico: quando uma tarefa está sendo realizada pela primeira vez, corre-se o risco de não estimar de forma correta o orçamento, tempo e as especificações necessárias. No caso de tecnologias avançadas ou novas tecnologias enfrenta-se mais do que os níveis normais de incerteza em seu desenvolvimento.

- Risco político: se refere a situações que existem quando a tomada de decisão é afetada por fatores políticos, que podem ser internos ou externos à organização.

Frame (2003, p. 11) observa que o risco tem origem tanto dentro como fora de uma determinada organização, e esta identificação é importante porque se referem ao nível de controle e de como a organização irá tomar decisões. Se a origem do risco é externa, a organização não tem controle sobre isto e fica limitada nas ações diretas que poderia tomar. O risco interno, por sua vez, ocorre dentro do ambiente da organização e pode-se encontrar a fonte do problema e mitigar o risco. Porém, deve-se obdeve-servar que nem todos os riscos internos são fáceis de deve-ser gerenciados.

Segundo Frame (2003, p. 12-13), uma experiência comum encontrada em

situações de risco é chamada de “concatenação” que é quando um incidente contribui

(41)

acontecimentos não são fatais entre si, porém, o impacto cumulativo dos incidentes pode levar a um desastre.

2.5 RISCOS E A ATIVIDADE POLICIAL

Há poucos estudos que tratem especificamente dos riscos associados à atividade policial no Brasil. Segundo Souza e Minayo (2005) seu artigo pode ser considerado inédito no rol dos pesquisadores de saúde do trabalhador, pois geralmente os estudos se referiam à condições de saúde e trabalho de operários industriais, influenciados por análises marxistas do mundo social. As autoras citam que no caso de compreender os policiais como trabalhadores, falta atenção específica a sua saúde, decorrente da pouca atenção dada pelos pesquisadores à área de serviços, focando sua energia na área industrial.

Constantino et. al. (2012, p. 646) diz que o sentido do risco na profissão

policial “combina a visão epidemiológica relacionada à magnitude das vitimizações e

à visão social pautada na percepção dos profissionais e o enfrentamento do risco”.

De acordo com documento da Organização Mundial de Saúde, citado por Bezerra et. al. (2012) o trabalho em determinadas atividades policiais está vinculado a fatores que causam estresse, decorrentes da concentração constante, turnos, em alguns casos isolados, e sob ameaça constante de violência. Acrescenta que os policiais fazem parte do segmento mais vulnerável a acidentes e mortes no exercício da profissão. Configuram também como uma das profissões que estão mais expostas ao perigo e à agressão, uma vez que intervém em situações cotidianas de conflito e tensão.

Deve-se observar que nem todos os policiais estão expostos aos mesmos riscos, como afirmam Constantino (2012, p. 646), pois alguns podem nunca

enfrentá-lo ao passo que outros o vivem cotidianamente. Acrescenta, porém que “a percepção

do perigo e seus eventuais efeitos sobre a definição pelo policial de sua situação de trabalho são uma construção social em função de suas expectativas em relação ao

ofício que escolheu exercer”. Interessante os relatos a respeito da percepção de risco

(42)

É parte constitutiva da profissão... a qualquer momento você pode se vê numa situação de risco da vida. [...] só pelo fato de estar identificado, já passa a ser um alvo potencial. (Delegado – Interior)

Evidentemente que o risco é maior para aqueles que trabalham diretamente na rua, agora os outros também correm risco [...] só o fato de ter uma carteira policial e o fato também de ter uma arma já é um risco. (Delegado – Baixada Fluminense)

Ponto interessante é abordado por Monjardet (apud CONSTANTINO et. al., 2013) para a questão da solidariedade entre os policiais frente ao risco, segundo as

autoras “é mais ampla que a de qualquer categoria profissional porque ela não resulta

apenas dos riscos do ofício, mas da partilha da condição policial”.

Para Souza e Minayo (2005) a escolha pela profissão de policial carrega em seu bojo o gosto pelo afrontamento e pela ousadia que estão presentes na probabilidade de eventos onde possam ocorrer lesões, traumas e mortes. Para Souza e Minayo (2005) o conceito de risco, seja no sentido de perigo ou escolha, tem um papel estruturante das condições laborais, ambientais e de relação para o grupo

social, “uma vez que seus corpos estão permanentemente expostos e seus espíritos

não descansam”.

(43)

3 SEGURANÇA DO TRABALHO

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), anualmente aproximadamente 2,2 milhões morrem em decorrência de acidentes de trabalho ou de doenças que tem origem profissional. As causas principais são decorrentes de: a) não uso de equipamentos de proteção individual, b) desobediência de normas e procedimentos existentes, c) negligência pessoal, d) imprudência, e) terceirização de serviços (OLIVEIRA, 2013).

O volume financeiro perdido em decorrência desses acidentes, segundo a OIT perfaz cerca de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Sendo assim as empresas têm compreendido a questão de dar enfoque na prevenção de acidentes de trabalho para diminuir as estatísticas e consequentemente os custos. Deve-se observar que além dessa perda financeira, sempre que ocorre algum tipo de acidente onde há lesões e o trabalhador precisa se afastar de suas atividades outros tipos de consequências surgem como a perda de tempo, da produção, da qualidade de vida no trabalho entre muitas outras (OLIVEIRA, 2013).

Esta percepção do aspecto prevencionista bem como a evolução ocorrida na área de Saúde e Segurança do Trabalho demonstram a necessidade da constante manutenção das normas, pois há muitos aspectos pessoais que estão relacionados ao serviço, desde o momento em que o trabalhador inicia suas atividades e que terão reflexo na questão da qualidade do seu trabalho (MANUAL..., 2012).

3.1 CONCEITO DE ACIDENTE DE TRABALHO

De acordo com Cardella (2012) é necessário uma abordagem holística para compreender a questão do acidente de trabalho. Para o autor não há uma causa única

Imagem

Figura 1: Relacionamento do risco com a informação e incerteza
Figura 3: Etapas realizadas na pesquisa
Tabela 1: Peritos Criminais Federais por área e classe
Figura 4: Relação entre o total de peritos e respondentes
+7

Referências

Documentos relacionados

Sobre as vendas online, 23 marcas consumidas no Brasil possibilitam comprar pela internet, seja diretamente no site da marca 13, seja direcionando para sites de farmácias e lojas

Observação: Não se aplica caso o Órgão Gerenciador seja o Ministério da Economia e nas hipóteses em que a contratação de serviços esteja vinculada ao fornecimento de bens de

102, III, a, da Constituição, foi interposto contra acórdão do Superior Tribunal de Justiça que, em recurso especial, ao simples entendimento de que lei estadual, com base em

O cultivo consorciado entre espécies visa otimizar o uso da área e trazer algumas vantagens, como a antecipação na formação de pastagem, cobertura do solo pós silagem,

Com o aparecimento da pandemia, excecionalmente e enquanto a situação do país assim o justificar, a validade das receitas foi estendida, algumas até mesmo 1 ano, bem como

( ) Os Municípios e as Organizações Não gover- namentais (ONG’s) organizarão, em regime de colaboração, seus sistemas de ensino.. ( X ) A União, os Estados, o Distrito Federal

grau de cifose torácica e diminuic¸ão significativa no pico de torque concêntrico e excêntrico de extensores de tronco nas velocidades de 20 o /s e 45 o /s no grupo de mulheres

Não é fácil a questão do regime de bens relativamente ao tempo que medeia a instauração da ação de divórcio e a partilha dos bens do casal dissolvido, variando entre