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CONCEITO DE ACIDENTE DE TRABALHO

De acordo com Cardella (2012) é necessário uma abordagem holística para compreender a questão do acidente de trabalho. Para o autor não há uma causa única para o acidente, pois “o acidente é um fenômeno de natureza multifacetada, resultante

de interações complexas entre fatores físicos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais”.

A Lei Nº. 6.367 de 19 de outubro de 1976, em seu artigo 2º, conceitua acidente do trabalho como “aquele que ocorrer pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, ou perda, ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.”

Segundo Oliveira (2012b) cabe algumas considerações a partir da interpretação da lei, quais sejam: a) o acidente deve ser apreciado em relação tão somente à pessoa, ou seja, as indenizações são decorrentes à lesão do corpo ou à saúde (doença); b) o acidente de trabalho é aquele resultante do exercício do trabalho, ou seja, decorrente do seu desempenho, mesmo que em certos casos, seja fora do respectivo lugar e horário de trabalho; c) o acidente tem sentido amplo, abrangendo também as chamadas moléstias profissionais, para efeitos de reparação do dano sofrido pelo trabalhador.

Podem ser equiparados aos acidentes de trabalho os seguintes casos (OLIVEIRA, 2013, p. 110):

- O acidente que acontece quando se está prestando serviços por ordem da empresa mesmo que fora do local do trabalho;

- O acidente que ocorre quando se está em viagem, a serviço da empresa; - O acidente que acontece no trajeto entre a casa e o trabalho ou vice-

versa;

- A doença profissional que é aquela provocada pelo tipo de trabalho; e - A doença do trabalho que é aquela causada pelas condições do trabalho. Para Garcia e Cremonesi (2006, p. 2) o acidente de trabalho é a “ocorrência imprevista e indesejável, instantânea ou não, relacionada com o exercício do trabalho, que provoca lesão pessoal ou risco próximo ou remoto dessa lesão”. As autoras classificam os acidentes de trabalho da seguinte forma:

- Acidente típico: é o acidente que ocorre no exercício do trabalho; - Acidente sem lesão: é o que não causa lesão pessoal;

- Acidente de trajeto: acidente sofrido pelo funcionário no percurso entre a sua residência e o trabalho ou vice-versa;

- Acidente impessoal: é aquele cuja caracterização independe de existir acidentado;

- Acidente inicial: é um acidente impessoal desencadeador de um ou mais acidentes.

Segundo as autoras após o acidente pode ocorrer a) lesão que é o dano sofrido pelo trabalhador em consequência do acidente de trabalho; b) lesão com perda de tempo: que é a lesão pessoal que impede o acidentado de voltar ao trabalho e c) lesão sem perda de tempo: que é aquela que não impede o acidentado de voltar ao trabalho no dia imediato ao do acidente.

Conceito importante neste contexto é o de ato inseguro que segundo Garcia e Cremonesi (2006) pode ser definido da seguinte forma:

é toda ação imprudente, como o uso incorreto ou a recusa no uso de equipamento de proteção individual (EPI), a operação de máquinas e de equipamentos sem habilitação e sem treinamento, as brincadeiras com os colegas, o levantamento de cargas com utilização defeituosa dos músculos, o transporte manual de cargas sem ter visão do caminho, a permanência debaixo de guindastes e de cargas, o uso de fusíveis incorretos, o uso de solda ou chama em locais inflamáveis ou na presença deles, o ato de correr em corredores e escadas.

Por outro lado, pode-se definir comportamento seguro, segundo Mota (2012) como um conjunto de relações estabelecidas entre os aspectos humanos e sociais com as consequências antes, durante e após cada ação. Assim, pode ser visto como o resultado da relação do indivíduo com o seu meio ambiente, colegas de trabalho e com a empresa. Quanto aos estudos dos riscos, a autora cita que devem ser considerados também a questão do excesso de confiança que pode ser danoso ao fazer com que indivíduos coloquem em risco sua vida e de terceiros por desconsiderarem a possibilidade de ocorrência de determinados acidentes.

Segundo a NR 18 há que se considerar a diferença entre o acidente fatal que é aquele que provoca a morte do trabalhador e o acidente grave que ocorre quando provoca lesões incapacitantes no trabalhador.

Estão previstos também, nas alíneas do inciso III (art. 2º) os danos sofridos pelo empregado no local e durante o trabalho que sejam em consequência de:

a) ato de sabotagem ou de terrorismo praticado por terceiros, inclusive companheiro de trabalho;

b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada com o trabalho;

c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro inclusive companheiro de trabalho;

d) ato de pessoa privada do uso da razão; e) desabamento, inundação ou incêndio;

f) outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior.

A lei 8.213/91 em seu artigo 19 conceitua acidente do trabalho de forma semelhante ao da lei de 1976 e acrescenta em seu art. 20 as entidades mórbidas que são consideradas como acidentes de trabalho:

I – doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social.

II – doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizada e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I.

Como exemplo, Oliveira (2013, p. 127) cita a doença profissional pode ser chamada também como doença ocupacional (conforme NR 18) e são aquelas decorrentes de exposição a substâncias ou condições perigosas inerentes a processos e atividades profissionais ou ocupacionais, tendo como exemplo a Silicose5. Já as doenças do trabalho são aquelas que podem ser adquiridas ou desencadeadas pelas condições inadequadas em que o trabalho é realizado, expondo o trabalhador a agentes nocivos à saúde, como por exemplo, as dores de colunas em motoristas que trabalham em condições inadequadas.

A lei ainda faz a previsão, (§1º do inciso II) do que não é considerada como doença do trabalho, quais sejam:

a) a doença degenerativa;

5 Segundo Oliveira (2013) a Silicose é uma doença grave causada pela inalação de poeira de sílica

(SiO2), em geral quartzo, mas também outros tipos de poeira, como cristobalita e/ou tridimita, que

conduz à inflamação e cicatrização do tecido pulmonar. Quando o trabalhador inala partículas de sílica, o tecido pulmonar reage criando nódulos ao redor da partícula. Com o evoluir da doença, esses nódulos se aglomeram e formam placas maiores, impedindo as funções básicas do pulmão. A

b) a inerente a grupo etário;

c) a que não produza incapacidade laborativa;

d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante da exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho

Entre as definições de acidentes de trabalho, deve-se considerar segundo Oliveira (2013, p. 8) dois aspectos, que são o legal e o prevencionista:

- Do ponto de vista legal, é quando o acidente ocorre no exercício do trabalho e a serviço da empresa, provocando lesões corporais ou algum tipo de perturbação funcional que cause a morte, perda ou redução permanente ou temporária da capacidade para o trabalho.

- Sob o ponto de vista prevencionista é quando há alguma ocorrência não programada, inesperada ou não, que interrompe ou mesmo interfere no processo normal de uma atividade, e que pode acarretar em perda de tempo útil e/ou lesões nos trabalhadores, além de danos materiais. Segundo o mesmo autor, no que se refere à classificação do tipo de acidentes eles podem ocorrer: a) no trajeto, b) ato de terceiros, c) força maior e d) condições e atos de baixo padrão.

Fato importante apontado por Vilela et. al. (2004) é que tanto no Brasil quanto no mundo há a compreensão de que o acidente é um “evento simples, com origens em uma ou poucas causas, encadeadas de modo linear e determinístico”, cuja abordagem privilegia a ideia de que os mesmos decorrem de falhas dos operadores, que podem ser ações ou omissões, de intervenções decorrentes do desrespeito à norma de segurança. Os comportamentos destes indivíduos seriam escolhas livres e conscientes, o que acarretaria na sua responsabilização.

Dentre as várias teorias com teor semelhante, verifica-se que abordam modelos explicativos tradicionais, reducionistas que consideram o acidente como fenômeno simples, de causa única, centrada, geralmente, nos erros e falhas das próprias vítimas. Este tipo de concepção, segundo Vilela et. al. (2004) mantêm-se hegemônica e prejudica o desenvolvimento de políticas que sejam preventivas e que melhorem efetivamente as condições de trabalho.