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BREVE HISTÓRICO DA SEGURANÇA NO TRABALHO

A informação mais antiga encontrada a respeito da segurança do trabalho remonta a um papiro egípcio de Anastacius V que descreve as condições de trabalho de um pedreiro: “se trabalhares sem vestimenta, teus braços se gastam e tu devoras a ti mesmo, pois não tem outro pão que os teus dedos” (HOUAISS apud ROCHA, 2001, p. 10).

As primeiras referências que se tem a respeito de doenças profissionais que acometiam os trabalhadores nas minas de estanho foram descritas pro Hipócrates no século V a.C. Platão, por sua vez no século IV a.C. constatou determinadas enfermidades específicas que acometiam determinados trabalhadores no exercício de suas profissões. Neste mesmo século, Aristóteles cuidou do atendimento e da prevenção de enfermidades que ocorriam em trabalhadores de minas.

Segundo Rocha (2001) Plinius e Rotarius são considerados os pioneiros da prevenção de acidentes, pois fizeram recomendações para o uso de máscaras contra poeiras metálicas, fato ocorrido na Roma dos Césares.

Porém, segundo João Oliveira (2012, p.1) a preocupação com a segurança já existia antes de Cristo, pois grandes obras foram realizadas anteriormente ao seu nascimento, como por exemplo, as pirâmides. O autor cita que o historiador judeu Flávio Josefo em sua obra “Antiguidades Judaicas” concluiu que a causa da morte de José, o “pai” de Jesus foi acidente de trabalho, pois havia sido designado como encarregado de obra para reconstruir uma cidade quando caiu de um andaime e faleceu 3 dias após em função da gravidade do acidente.

No século II o médico Kláudius Galenus, preocupou-se com o “saturnismo” que era o envenenamento agudo ou crônico, produzido pelo chumbo ou alguns de seus compostos. Estudo este continuado por Avicena (908-1037) no século IX que indicou o saturnismo como a causa das cólicas provocadas pelo trabalho em pinturas que usavam tinta a base de chumbo (CAMPOS, 2010).

Segundo Campos (2010) no século XV, Ulrich Ellembog editou uma série de publicações em que preconizava medidas de higiene do trabalho. Na Europa, por volta do século XVI foram criadas determinadas corporações de ofício que organizavam e protegiam os interesses dos artífices que representavam. Neste mesmo século

Paracelso divulgou estudos relativos às infecções dos mineiros do Tirol e também foi neste período que surgiram algumas observações a respeito da possibilidade de que o trabalho pudesse ser o causador de determinadas doenças.

Em termos de registros históricos o autor cita que a publicação da obra “As doenças dos trabalhadores” (De Morbis articum diatriba) nos idos de 1700 do médico italiano Bernardino Ramazzini onde estão descritas inúmeras doenças relacionadas a algumas profissões que existiam na época. Essa obra obteve repercussão mundial o que elevou Ramazzini a ser considerado o “pai da Medicina do Trabalho”.

Com o advento da revolução industrial muitas modificações ocorreram, principalmente com a introdução das maquinas de fiação e tecelagem. Para manipular as máquinas eram aceitos trabalhadores homens, mulheres e crianças, independentemente de ter condições de saúde para o trabalho. Os empregadores, segundo João Oliveira (2012) aceitavam uma criança deficiente mental para cada 12 consideradas “sadias”, tudo em nome de obter um suprimento inesgotável de mão de obra barata.

Conforme explicita o autor as condições de trabalho a serem cumpridas pelos empregados eram estabelecidas pelo empregador, “não existindo qualquer regulamentação nas relações de trabalho”, o que resultava em livre acordo das partes, sendo que na verdade, era o empregador quem fixava as diretrizes, terminava as relações de emprego ou modificava-as conforme sua vontade e livre arbítrio (OLIVEIRA, Joao, 2012, p. 2)

O resultado deste cenário pode ser compreendido na citação de João Oliveira (2012, p. 3)

Todo esse quadro assumiu situações tão graves que seria inadmissível permanecer desprotegido o próprio respeito humano. Não só os acidentes se sucederam, mas também enfermidades típicas ou agravadas pelo ambiente profissional. Durante o período de inatividade, o operário não recebia salário e, assim, passou a sentir a insegurança em que se encontrava, pois não havia leis que o amparasse, e o empregador, salvo raras exceções, não tinha interesse em que essas leis existissem, nem consciência de seus deveres.

Foi nesta época que surgiram na Inglaterra, França, Alemanha e Itália as primeiras leis de proteção ao trabalho. Em 1802, na Inglaterra, criou-se a lei de amparo aos operários limitando em 12 horas o trabalho diário de aprendizes paroquianos em moinhos. Em 1819 outra lei foi criada proibindo o trabalho de menores de 9 anos e

limitando a 12 horas a jornada de menores até 16 anos. A redução para 8 horas para menores de 13 anos e o limite de 12 horas para menores de 18 anos, bem como a proibição de trabalho noturno para menores foi publicada em 1833, denominada Lei das Fábricas (Factory Act, 1833). Em 1847 a lei que estabelecia a duração diária do trabalho de 10 horas foi estabelecida e destinada à proteção de mulheres e menores. (OLIVEIRA, JOÃO, 2012; CAMPOS, 2010)

Com o estabelecimento da jornada diária de 8 horas em 1908, da folga de meio dia por semana para comerciários em 1910 e a publicação do Código de Leis Trabalhistas em 1912, pode-se dizer que a Inglaterra foi o berço da ideia de repouso semanal e da limitação da jornada diária de trabalho, o que cunhou o termo “semana inglesa” (OLIVEIRA, João, 2012, p. 3).

Nos demais países também houve iniciativas na área de segurança do trabalho. Na Escócia, em 1842, um diretor-gerente de uma indústria têxtil contratou um médico responsável por exames admissionais e periódicos, incluindo também a orientação e prevenção de doenças, ocupacionais ou não. Na França, em 1862 ocorreu a regulamentação da higiene e segurança do trabalho. A lei que previa a indenização obrigatória aos trabalhadores e responsabilizava o empregador pelo pagamento de acidentes foi publicada em 1865 na Alemanha. Já na França, no ano de 1883, Emílio Muller fundou em Paris, a Associação de Indústrias contra os acidentes de trabalho. Nos EUA, em 1902 foi promulgada a primeira lei sobre indenização aos trabalhadores e estava limitada ao empregador e aos trabalhadores federais (CAMPOS, 2010).

A criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT) com sede em Genebra ocorreu em 1919 durante o Tratado de Versalhes. No ano de 1921 nos EUA foram estendidos os benefícios a todos os trabalhadores através da Lei Federal. Na França em 1927 iniciaram-se estudos laboratoriais sobre a inflamabilidade de materiais e estabeleceram-se os primeiros regulamentos específicos com medidas e precauções a serem tomadas nos locais de trabalho (CAMPOS, 2010).

A OIT e a OMS estabeleceram uma comissão conjunta que tratou da Saúde Ocupacional em 1950. No ano de 1953 adotou princípios e elaborou a Recomendação 97 sobre a Proteção à Saúde dos Trabalhadores em Locais de Trabalho e em 1959

estabeleceu a Recomendação 112 com o nome “Recomendação para os Serviços de Saúde Ocupacional” (CAMPOS, 2010).