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Aspectos religioso-ideológicos no Período de Uruk (PU, 4000-2900)

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1.3 Aspectos da Vida na Suméria

1.3.4 Aspectos religioso-ideológicos

1.3.4.2 Aspectos religioso-ideológicos no Período de Uruk (PU, 4000-2900)

O PU oferece amplo material para que se aborde um dado já evidenciado no PUb, através da existência de templos, e manifestado agora em toda a sua abrangência: a religião institucionalizada. Ainda estamos lidando com o problema de que a limitação das fontes (ou nossa capacidade limitada de lê-las e interpretá-las) permite apenas uma demonstração restrita da relação entre aspectos religiosos vinculados à condição religiosa dos seres humanos sumérios em geral, e aspectos vinculados à cooptação e instrumentalização dessa dimensão por algum interesse particular. Esse interesse é geralmente das elites e evidencia-se na interseção entre “tributos” e “sacrifícios”.277

As primeiras manifestações de atos religio sos da humanidade mostram que é um elemento constante da condição humana destacar lugares particulares para se relacionar com forças divinas, fazer algo (inclusive “dar presentes”) para aplacar e agradar essas forças ou para demonstrar sua gratidão a elas, e representar essas forças em alguma forma material, inclusive para ter poder sobre elas. Nesse sentido podemos interpretar religiões institucionalizadas como a forma coletiva de organizar também este aspecto da vida humana, como se organizavam os outros. Mas a crescente presença de desigualdades econômicas e sociais, ou seja, de poder material e poder simbólico, mostra que os templos com seus sistemas cada vez mais sofisticados de ritos e sacrifícios podem ter estado a serviço das boas relações com as divindades, mas certamente estavam em grande medida (ou principalmente) a serviço das boas condições de vida da elite. É sobre esse pano de fundo que devem ser compreendidas as descrições, interpretações e avaliações que seguem.

É preciso lembrar ainda que há poucas evidências acerca da esfera privada e popular da religião da Suméria, ou seja: quase não sabemos como pessoas simples em sua vida cotidiana se relacionavam com as divindades, em que medida preservavam ou desenvolviam elementos religiosos que resistiam à religião institucionalizada e modelada pela elite, e em que medida a integravam em suas convicções e atuações pessoais. Oppenheim alertou já em 1964 sobre o fato de que os templos representavam principalmente espaços da elite e que o “povo comum” tinha contato com as divindades

277 Cf. para isso as considerações de René Girard sobre a relação entre violência, opressão e sacrifícios (GIRARD,

Violence; IDEM, Des choses cachées), e a breve apresentação em meu ensaio: OTTERMANN, Monika. “Tuas mãos deixaram o cesto: clamaste na opressão, e te libertei”: Escravidão e Libertação em Mitos Mesopotâmicos da Criação. São

que moravam neles apenas na ocasião de festas (sobre as quais se tinha pouquíssimos dados), e desde aquela época não se verificou uma maior mudança da situação das fontes.278

A maneira como os sumérios representaram suas divindades em sinais proto-cuneiformes e depois escreveram sobre elas, usando sua escrita cuneiforme, apresenta algumas particularidades que recomendam uma breve visão do desenvolvimento dessa escrita cujas fases subseqüentes estão registradas sem lacunas. Como já mencionado entre os aspectos econômicos, no PUM apareceram os primeiros sistemas simbólicos para representar objetos reais e objetos e termos abstratos (“idéias” ou “conceitos”), inclusive números. A presença de símbolos para itens abstratos mostra que já não pode ser mantida a compreensão muito divulgada de que a escrita teria se desenvolvido simplesmente a partir de uma imagem pictórica, de um sinal retrativo (pictograma), por exemplo, de que o desenho simplificado de uma ovelha teria representado pictograficamente a idéia “ovelha”. Desde o início, quase todos os sinais eram ideogramas279 que em sua grande maioria não podem ser “reconhecidos por

analogia”, e a forma de uma parte deles (por exemplo, do sinal redondo para “ovelha”) se explica pelo material usado nas primeiras fases. Isso significa que o sistema exigia indispensavelmente o conhecimento e a aceitação das convenções estabelecidas pelo grupo que as desenvolveu. Dada a íntima ligação entre aspectos religiosos, políticos e econômicos, e a imediata presença de um único sistema, sem “concorrência”, devemos pressupor que foram “funcionários/as” dos líderes político- religiosos de Uruk que realizaram a façanha da criação desse sistema, façanha essa que também lhes conferia um enorme poder sobre a sociedade em geral.280

Nesse sistema encontra-se desde o início o ideograma que significa “divindade”: a sobreposição de “+” e “x”, ou seja, o resultado de quatro linhas traçadas (ocasionalmente também de oito linhas) que se cruzam da forma geométrica mais fácil que existe. Na escrita cuneiforme plenamente desenvolvida, o mesmo sinal foi formado por quatro impressões do estilete com ponta em forma de cunha281, o que o deixava com os pequenos triângulos típicos em quatro das extremidades.

278 Cf. para esta constatação o comentário breve de POLLOCK, Mesopotamia, 192-193, e principalmente OPPENHEIM,

Adolf Leo. Ancient Mesopotamia: Portrait of a Dead Civilization. Chicago: University of Chicago Press, 1977, 171-183.

279 Por causa da problemática aqui descrita, optei por usar o termo mais atual “ideograma” em vez do termo antigo

“pictograma” ou “sinal pictográfico” que se encontra em muitas publicações. Atualmente são conhecidos (mas não necessariamente compreendidos) 60 sinais numéricos e quase 1900 ideogramas. Cf. ENGLUND, Texts, 65-71.

280 Cf. JAKOB-ROST, Museum, 40-42; LEICK, Mesopotâmia, 89-90; LIVERANI, Uruk, 53-55; LLOYD, 55-56; MIEROOP,

History, 29-32; POLLOCK, Mesopotamia, 162-166, e especialmente 169-171 a discussão sobre o aspecto do poder;

RÖMER, Sumerologie, SELZ, Sumerer, 23-26. Cinqüenta anos atrás, toda essa descrição teria cabido na frase: “A escrita foi inventada pelos sacerdotes que eram também os chefes econômicos”. As circunscrições usadas aqui são uma tentativa de romper com tais estereótipos.

1 2 3 4 5 6 Desenvolvimento do ideograma AN282

A sumeriologia costuma chamar esse sinal de “estrela” ou, procurando indicar sua forma concreta, de “estrela de oito pontas”, e ainda, referindo-se à sua pronúncia posterior, de sinal dingir283.

Essa estrela podia significar também “céu” (o que não apresentava problemas, porque quase não havia ligação com a língua falada), e inserida num quadrado, significava “mãe”. A estrela anteposta a um nome privado indica que esse nome é de uma divindade. Esse “determinativo divino” é representado na transcrição por um “d” sobrescrito (letra inicial de dingir, por exemplo, dinanna). Sendo um sinal

inteiramente simétrico, é o único dos ideogramas conhecidos que não mudou de aspecto quando, no PDI, estes sofreram uma rotação de 90 graus. Mudou somente com o desenvolvimento desde o PBA, sendo simplificado para duas linhas cruzadas, a horizontal tendo duas cunhas do lado esquerdo.Fora do sistema da escrita, a estrela de oito pontas e sua variante, a roseta de oito (ou seis) pétalas, era o símbolo da deusa Inana, desde os primeiros tempos sumérios até o fim de sua “existência”. Essa mistura intrigante entre os significados “Inana”, “divindade” e “céu” será discutida no Capítulo 2.284

Os exemplos conhecidos dos lugares considerados locais da presença física das divindades, os templos, aumentaram consideravelmente do PUb para o PU: incluem agora, além dos templos de Eridu, diversos templo s de Uruk. O templo de Eridu estava no PUI rodeado de pequenos prédios, formando um complexo templar maior, mas em algum momento desse período, tudo foi abandonado e os edifícios se encheram de areia flutuante. No PUT, o complexo foi encerrado num muro de contenção e nivelado, e foi erguido um terraço sobre o qual foi construído o grandioso “Templo I”.285

No Complexo Ocidental de Uruk havia neste período sete templos sucessivos, o último deles sendo o chamado Templo Branco. Embora construído no PGN, ou seja, no fim do período aqui

282 Desenvolvimento do ideograma AN: 1. Ideograma numa das formas mais antigas. 2. Outra forma antiga (nos outros

sinais: aspecto depois da rotação por 90o). 3. Sinal cuneiforme em meados do 3º milênio. 4. No fim do 3º milênio. 5.

Babilônico antigo. 6. Neo-assírio. Cf. JAKOB-ROST, Museum, 41.

283 A etimologia dessa palavra é obscura; supõe-se que seja uma palavra emprestada de uma língua substrata, cf. BAUER,

Geschichte, 498. Na sumeriologia convencionou-se a transliteração com “ng” (dingir) em vez de “g”, por motivos práticos, mas especialmente a literatura estritamente científica e os dicionários usam “g”.

284 Cf. BAUER, Geschichte, 497-499; BOTTÉRO, Religion, 58; JAKOB-ROST, Museum, 40-41.204 (com outros exemplos de

desenvolvimentos dos sinais); LEICK, Mesopotâmia, 89; MIEROOP, History, 31; NISSEN/HEINE, 56-57 (com gráfico que mostra os desenvolvimentos dos estiletes e dos sinais); POLLOCK, Mesopotamia, 167-169; ROAF, Mesopotâmia 1, 66-68; RÖMER, Sumerologie, SELZ, Sumerer, 23-26.

285 LLOYD, 39-40 (com gráfico de reconstrução); ROAF, Mesopotâmia 1, 53; SAFAR/LLOYD, 46. Esse terraço com seu

discutido, preserva todas as características de templos do PUb. Apenas dispõe de uma plataforma ampliada, com uma grande escada, mas não é um zigurate, como pensaram os primeiros escavadores. Sua importância arqueológica reside justamente no fato de ser o exemplar mais tardio existente do tipo “templo de plataforma” que é considerado protótipo do zigurate. Em nenhuma camada arqueológica do Complexo Ocidental foi encontrado qualquer documento iconográfico com símbolos divinos ou qualquer documento filológico, de modo que não há indicações da divindade nele cultuada.286

A Eana era, nos 400 anos desde o PUM até o fim do PGN, o complexo enorme de arquitetura monumental descrito no Item 1.3.3.2 que foi quatro vezes totalmente reconstruído, abrangendo em cada novo “Conjunto” edifícios de maior caráter cúltico e outros de maior caráter administrativo.

A existência de um edifício chamado Gipar287, originalmente, ao que tudo indique, o armazém

central do templo ou parte da residência do EN e posteriormente a residência da sumo sacerdotisa, tão importante no rito do hieros gamos a partir de Ur III, não pode ser provada em Uruk antes do PDS. No entanto, isso não significa que não havia, dentro do distrito templar da Eana, um edifício assim chamado ou que não havia armazéns e residências de governantes político-sacerdotais. Acerca de sua função de armazém deve-se lembrar que a Eana tinha não apenas funções diretamente cúlticas, mas também de arrecadação e redistribuição de tributos, e para isso, os armazéns eram indispensáveis.288

O que Charvát discute como possível Gipar (no Edifício de Pedras frente ao Complexo Ocidental) é uma cela com uma construção elevada central sobre esteiras de junco, com sinais de libações. Ele se aproveita da esteira de junco (nos alicerces!) para amarrar sua teoria do hieros gamos entre EN e NIN, uma idéia criativa, mas sem base em dados comprovados e até em contradição com eles.289

A diferença fundamental entre o Templo Branco e os edifícios monumentais da Eana passa pelo tamanho, e com isso pelo número de pessoas que podiam participar de eventos religiosos e/ou profanos que aconteceram neles. No Templo Branco cabiam ao máximo entre 10 a 14 pessoas. Na sala central do Templo C da Eana cabiam mais de 300 pessoas sentadas, e no Palácio (Sala) E, mais

286 Cf. HEINRICH, Text, 35. Nos poucos selos encontrados são representadas plantas (tamareiras? espigas?) e feixes de

junco do tipo URI3, mas diferentes do MUŠ, o símbolo de Inana; cf. abaixo, Item 2.1.

287 A palavra gi.par pode significar, posteriormente, uma parte da residência do en (acádico enu ou feminino: en.tu), a parte

de uma casa privada, um pasto ou gramado ou simplesmente “tabu”. Supõe-se que seu sentido original era “esteira de junco”. Cf. JACOBSEN, Development, 1957, 137, nota 32.

288 Cf. WEADOCK, Penelope N. The Giparu at Ur. In: Iraq, 37. Londres: British School of Archaeology in Iraq, 1975, 124. 289 Cf. o resumo das evidências arqueológicas em STEINKELLER, Rulers, 109-111. A opinião defendida em CHARVÁT,

101-102, mostra mais uma vez que a coleção de dados arqueológicos de Charvát tem pontos positivos (um ponto negativo nesse caso concreto, porém, é o fato de ele não mencionar evidências literárias do Gipar, provavelmente porque sua pertença a tempos posteriores não se encaixa em sua teoria do hieros gamos de EN e NIN), mas que as interpretações desses dados são geralmente pouco úteis.

de 1000. Isso indica caracteres muito diferentes das atividades que aconteceram em cada um deles e é um dos indícios de que o Templo Branco nunca tinha uma função pública, ou pelos menos nunca uma função no interesse de toda a comunidade de Uruk. Contudo, a especulação de que os prédios grandes da Eana não teriam sido templos e armazéns ou prédios vinculados à sua organização, mas “edifícios cerimoniais para refeições ou outros fins comunais semelhantes”290, carece de fundamento.

Está baseada em observações etnográficas modernas e não nos dados sumérios: os textos econômico-administrativos achados neles, e a continuidade comprovada de suas funções no PDI.291

Nossos conhecimentos sobre a religião propriamente dita são extremamente limitados, pois os tabletes conhecidos mencionam freqüentemente nome s de divindades (quase sempre inclusive de Inana), mas não oferecem os contextos necessários para maiores compreensões. Por exemplo, em textos administrativos, especialmente nos primeiros esboços de “calendários” agrícolas (ou em parte cúlticos?), aparecem termos que podem ser interpretados como nomes de festas cúlticas: EZENb U4

AN MUŠ3a (festa da Inana “da manhã”), EZENb SIG AN MUŠ3a (festa da Inana “da noite”)292, GIBIL

NUNa (novo crescimento de Enki[?]). No entanto, ignoramos quaisquer detalhes dessas festas.293

Embora nenhum de tais textos declarasse Inana explicitamente como deusa da cidade de Uruk e “Senhora” da Eana, as listas de oferendas feitas a ela e a presença dos seus símbolos não permitem outra conclusão. Além disso, a tradição de cultos locais (vinculados a determinadas cidades) das divindades sumérias é tão essencial que não pode haver dúvida disso, e que é impossível formular alguma hipótese diferente.294

Constata-se também que não há outras divindades cuja tradição cúltica fosse tão bem atestada como a de Inana. Ainda assim, para Enki, o deus da cidade de Eridu, pode-se supor uma tradição tão antiga como a dela. Mas no caso de An, que teve grande importância em Uruk – provavelmente maior do que Inana – a partir do Período Babilônico Antigo, não há evidências de tradições antigas, e a denominação do “Complexo Ocidental” como “Complexo de Anu” está baseada num mal-entendido.295

Contudo, estes são assuntos centrais desta tese que serão desenvolvidos nos Capítulos 2 e 3.

290 Essa teoria foi defendida por alguns estudiosos franceses; sua expressão mais clara encontra-se em: FORREST, Jean

D. La grande architecture obeidienne: sa forme e sa fonction. In: HUOT, Jean-Louis (org.) Préhistoire de la Mésopotamie: la

Mésopotamie préhistorique et l’exploration récente du Djebel Hamrin; colloque international du Centre National de la Recherche Scientifique, Paris, 17-19 décembre 1984. Paris: CNRS, 1987, 385-423.

291 LIVERANI, Uruk, 60-61; NISSEN/HEINE, 35-36.

292 Para as manifestações de Inana como Vênus, a Estrela Vespertina e Estrela d’Alva, cf. abaixo, Item 2.2.1. 293 ENGLUND, Texts, 127-128.

294 LLOYD, 39-40; NISSEN, History, 100; ROAF, Mesopotâmia 1, 53. 295 Cf. acima, Item 1.3.2.2.2.

Para obter informações sobre o pessoal cúltico da Eana é preciso cruzar dados de textos administrativos e da iconografia, especialmente de selos cilíndricos. Os últimos representam sacerdotes e sacerdotisas (figuras que ministram algum ato cúltico em posição ou lugar de destaque, não pertencendo a um grupo), além de pessoas que realizam funções secundárias como assistir ao sacerdote ou à sacerdotisa, carregar objetos (sem serem pessoas que trazem oferendas votivas ou sacrifícios), tocar instrumentos ou cantar (sem serem representadas no ato de rezar), tudo isso em postura parada ou em procissões a pé ou de barco. A existência de hierarquias entre essas pessoas manifesta-se, por exemplo, nos diferentes artefatos sobre os quais estão sentadas: tamboretes com pés de acabamento artístico (somente para sacerdotes e sacerdotisas), tamboretes sem pés, banquinhos, almofadas no chão, esteiras no chão ou chão nu. Isso condiz com evidências do PDI durante o qual abundam os dados sobre classes de sacerdotes e sacerdotisas e sobre outras categorias do pessoal cúltico. Para o PUb temos, até agora, tão-somente duas atestações do título

EN.MÍ (EN = “rei sacerdote” + MÍ = mulher) que, em tempos posteriores, é o título da sumo sacerdotisa

(da sacerdotisa en), e esta deve ser a figura representada repetidas vezes junto com o EN. A suposição geral de que, principalmente em tempos posteriores, um EN servia a uma deusa e uma

EN.MÍ a um deus, ou não vale para Uruk no PUb (é documentada a atuação de um EN no culto do

Templo Branco, tradicionalmente – mas sem indícios concretos – atribuído ao deus An), ou o Templo Branco não estava dedicado a uma divindade masculina.296 Além da Eana sabe-se de templos de

Inana, nesse período, em Lagaš (em forma oval, achados ainda não publicados).297

A ideologia das elites (ignoramos características da ideologia das camadas populares), principalmente de detentores do poder público supremo, mostra de maneira especialmente clara a interseção entre a religião e a política. Na falta de textos com auto-apresentações é precisa recorrer à iconografia. Nela, o EN é a figura central em quase todas as cenas preservadas: é ele que se relaciona diretamente com a deusa da cidade, ele é o “bom pastor” de seu povo, o herói que mata leões e submete inimigos (não caracterizados como estrangeiros!)298, e o “boêmio” que, junto com uma figura

feminina, desfruta de banquetes na presença da divindade299. Essa mistura de piedade e bondade,

296 Cf. ASHER-GREVE, Frauen, 9.18.34-38.58.

297 HANSEN, Donald. Al-Hiba, 1970-1971: a preliminary report. In: Artibus Asiae, 35,1-2. Zurique: Museum Rietberg, 1973,

72-75; POLLOCK, Mesopotamia, 138-139.

298 Cf. o Vaso de Uruk e selos que representam o EN alimentando ovelhas, caçando leões e supervisionando

espancamentos, descritos e discutidos abaixo, Itens 1.3.5.2 e 2.1.

bravura, violência e riqueza parece caracterizar a imagem que a propaganda pública procurava criar ou consagrar para a figura no topo de uma hierarquia que, nesse período, apenas estava se formando.300

Também no caso de homens e mulheres hierarquicamente abaixo do EN observa-se um respeito para com o cargo que Gebhard J. Selz chama de “sacralização”, apontando para o fato de que, em listas de divindades, aparecem ao lado de poderes naturais e corpos celestiais muitos cargos e profissões divinizadas. Isso corresponde também ao fenômeno de considerar as divindades amplamente responsáveis pela atribuição de cargos e ofícios aos seres humanos. Por outro lado, não é claro se os selos do PU são pessoais (personalizados) ou institucionais. Também na iconografia faltam traços individuais e nos textos, nomes de governantes. Tudo isso pode ser interpretado como indício de que a importância principal residia ainda na função e no cargo em si, e não no portador ou na portadora individual dele.301

1.3.4.3 Aspectos religioso-ideológicos no Período Dinástico Inicial

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