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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 ASPECTOS TECTÔNICOS E SUA INFLUÊNCIA NA PAISAGEM DA ÁREA DE

Conforme Saadi (1997) e Bigarella et al. (2003) a compreensão e análise da evolução da paisagem podem ser subsidiadas pelos aspectos tectônicos em função da evolução geomorfológica regional. Abordando o litoral brasileiro, autores como Tricart e Silva (1968), Bezerra (1998) e Suguio e Nogueira (1999), demonstraram a incotestabilidade da relevância do papel da tectônica na sua evolução. Desse modo, é importante reconhecer que muitas das feições litorâneas são resultado do fenômeno da tectônica ressurgente, cuja origem remonta ao Pré-cambriano (BIGARELLA et al., 2003).

Os movimentos crustais (tectônica) resultaram em fraturas e falhas, e estas exerceram grande influência no processo evolutivo das paisagens do Litoral Norte da Bahia, afetando diretamente os aspectos geomorfológicos e pedológicos por meio, sobretudo, das mudanças na dinâmica dos fluxos de drenagem. Assim, os eventos tectônicos foram de grande relevância para determinar as atuais feições geomorfológicas e a evolução pedológica.

O mapa de lineamentos estruturais se constitui em uma representação espacial dos lineamentos de falhas causados por fatores tectônicos. A compreensão da distribuição espacial dos referidos lineamentos possibilita a interpretação da evolução do relevo e dos solos. Isso decorre do fato de que, a partir do tectonismo, uma nova dinâmica se instala, pois processos erosivos ou de convergência de fluxos podem ser desenvolvidos e/ou acelerados.

Na APA Litoral Norte da Bahia, entre os rios Pojuca e Imbassaí, foram identificados e delimitados 477 prováveis lineamentos estruturais a partir do modelo digital do terreno, como demonstrado na figura 17.

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Figura 17: Mapa de prováveis lineamentos estruturais da APA Litoral Norte, entre os rios Pojuca e Imbassaí –

BA

A partir do tratamento estatístico preliminar com stereonets (Figura 18), foi possível identificar que as tensões atuais convergem em torno de um vetor compressivo horizontal de direção média NW-SE, com algumas variações locais para E-W, N-S e NE-SW, provavelmente relacionadas a tensões residuais locais, o que concorda com Saadi (1993), Lima (2010) e Maia e Bezerra (2014).

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Figura 18: Diagrama de rosetas demonstrando os direcionamentos dos lineamentos estruturais.

A partir da instalação das falhas na área de estudo uma nova dinâmica fluvial e erosional passou a se desenvolver. Assim, os processos de dissecação passaram a acompanhar os falhamentos, uma vez que a região afetada pelos falhamentos torna-se preferencial para a instalação de processos erosivos. É importante destacar que, como demonstrado no mapa, a drenagem também é condicionada pelos lineamentos estruturais, o que atribui à mesma, de modo geral, um direcionamento concordante com o direcionamento dos lineamentos de falhas e o desenvolvimento de padrões de drenagem retilíneos, formando ângulos de 90º, sendo estes característicos de sistemas de lineamentos (Figura 19).

Observa-se que o controle estrutural na drenagem da área de estudo se dá pelo seccionamento do relevo e pelos rios retilíneos (Figura 19), com padrão de drenagem dendrítico/paralelo e também orientados nas direções preferenciais NW-SE, W-E, NE-SW e N- S. Além disso, o controle estrutural também pode ser observado nas mudanças abruptas dos padrões de drenagens, nas anomalias da drenagem que modificaram o sentido da dissecação, nos falhamentos que afetaram as incisões e a densidade das drenagens, na criação de vales encaixados ou com fundo chato, os quais apresentam vales largos e preenchidos por aluviões e comumente apresentando zonas alagadiças. Segundo Bittencourt et al. (1982), Brasil (1983) e Bittencourt et al. (1999), os efeitos tectônicos pós-Barreiras geraram falhamentos perpendiculares e oblíquos ao longo do Litoral Norte da Bahia e orientaram a formação de cânions, que se apresentam com compartimentos rebaixados limitados por falhas reativadas, alguns afogados até hoje (COSTA JÚNIOR, 2008).

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Figura 19: Exemplo de condicionamento estrutural da drenagem no rio Pojuca.

Fonte: Elaborado pela autora.

Em relação à orientação dos lineamentos de cristas e vales preferencialmente nos direcionamentos NE-SW e E-W, Maia e Bezerra (2014) sinalizaram que estes são causados por deformações de caráter dúctil. Por outro lado, a relação entre os lineamentos, o condicionamento da dissecação do relevo dos tabuleiros e a deposição dos sedimentos quaternários da Planície Litorânea, resultam de deformações de caráter rúptil (MAIA; BEZERRA, 2014). Isso ocorre por meio do controle estrutural da drenagem que os rios apresentam ao atravessarem zonas de falhas ativas.

Baseando-se, principalmente, em critérios geomorfológicos e fisiográficos, foram observados por Fortunato (2004), os tipos de evidência do controle estrutural na evolução da paisagem: 1) adaptação da drenagem a linhas de falhas, como demonstrado na figura 19, na qual é observável anomalias de drenagem e a formação de ângulos de até 90°; 2) evolução de

92 vales dissimétricos a partir de blocos de falhas basculados; 3) frentes de erosão controladas por falhamentos.

Muitos pesquisadores, como Ucha (2000), Fortunato (2004) e Costa-Junior (2008) buscaram relacionar a neotectônica com a gênese dos solos presentes nos tabuleiros costeiros. Esses autores constataram as correlações existentes entre elementos fisiográficos, depressões e unidades pedológicas (principalmente os Espodossolos) com lineamentos de falhas no Grupo Barreiras identificadas a partir de fotos aéreas e trabalhos de campo.

Segundo Fortunato (2004), em uma paisagem formada dominantemente por tabuleiros, um regime de umidade diferenciado é estabelecido a partir da infiltração das águas em pontos específicos na superfície, em função da convergência de fluxos para estes locais, sendo que esses fluxos são condicionados pelos falhamentos.

No caso específico da área de estudo desse trabalho, foi identificada a presença de Espodossolos em topos tabulares largos e em suas encostas côncavas (ver item 5.3). A evolução dos Espodossolos nessas áreas pode ser explicada pelo desenvolvimento de áreas depressionárias a partir do intercruzamento de falhas. Dessa forma, utilizando-se dados de campo e sensoriamento remoto, é possível que a evolução pedogeomorfológica seja fortemente e diretamente controlada pelas reativações das zonas de cisalhamento, como proposto por Maia e Bezerra (2014).