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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.6 SÍNTESE DA ANÁLISE MORFOPEDOLÓGICA

5.6.1 Gênese dos Solos e Paisagens associadas

Concordando com Fortunato (2004), as análises pedológicas realizadas nesse estudo permitiram uma compreensão da gênese dos solos e de paisagens a eles associadasm associação. Dessa forma, tendo em vista as variações climáticas ocorridas após a deposição do Grupo Barreiras, vale destacar a concomitante instalação de diferentes processos pedogenéticos, dentre eles o processo de podozolização e o desenvolvimento da paleocobertura pedológica e das duricrostas, tendo como material hospedeiro os diamictitos e como material cimentante, géis de alumínio e sílica (UCHA, 2000; FORTUNATO, 2004; COSTA-JUNIOR, 2008; NUNES, 2011). Com a exumação das duricrostas, afetadas por esforços geodinâmicos, foram gerados novos condutos naturais nas intersecções de falhas, onde desenvolveram-se depressões no relevo e, com isto, condições para a gênese Espodossolos.

Os eventos tectônicos durante e após a deposição do Grupo Barreiras interferiram diretamente no desenvolvimento do relevo e da cobertura pedológica sobre as duricrostas, por viabilizarem o aprofundamento do intemperismo e a recarga de aquíferos. Assim, houve a polarização de setores bem drenados, nos quais se desenvolvem Latossolos e Argissolos e setores temporariamente mal drenados, locais das intersecções de falhas, onde se desenvolveram Espodossolos (FORTUNATO, 2004; MAIA; BEZERRA, 2014) (Figura 48).

Figura 48: Modelo de evolução da paisagem em Tabuleiros Costeiros proposto por Fortunato (2004).

151 Os topos dos Tabuleiros Costeiros Preservados, que abrigam os Espodossolos supracitados, passaram por processos pedogenéticos associados à movimentação vertical da água subsuperficial, como proposto por Bigarella et al. (2003). Entretanto, devido à formação dos horizontes espódicos, há a presença de horizontes adensados (duricrostas), que dificultam a percolação por se constituírem como um impedimento físico para o aprofundamento de tais processos.

Assim, os processos de podzolização nos topos dos Tabuleiros Costeiros, iniciados após a reativação tectônica e com o favorecimento das condições climáticas úmidas, com condições de oxidação e redução, desencadearam o desenvolvimento de Espodossolos essencialmente quartzosos, ricos em MO nos horizontes A e Bh, podendo estar sobrepostos ao horizonte Bhs, o qual apresenta adensamento e altos teores de MO.

Tendo em vista a presença de horizontes endurecidos nos Espodossolos dos Tabuleiros Costeiros, Ucha et al. (2012) ressaltaram que a medida que ocorre a degradação dos horizontes endurecidos, há a perda do material cimentante e o retorno às condições de friabilidade, permitindo a penetração do ar e da água. Assim, a partir da degradação dos horizontes endurecidos dos Espodossolos, aceleram-se os processos erosivos e intempéricos, favorecendo o entalhamneto dos talvegues. Esse entalhamento, por sua vez, favorece o aumento das encostas côncavas, que ocorre proporcionalmente ao processo de podzolização, até que a gleização passe a ser predominante, dando origem à solos pálidos, como os Gleissolos.

Ao mesmo tempo, nas encostas convexas, onde ocorre o predomínio da erosão em detrimento do intemperismo, os processos pedológicos são pouco evoluídos, dando origem à solos rasos e que ainda preservam características da rocha subjacente próxima. Assim, a medida que os horizontes espódicos e as duricrostas vão sendo destruídos, desenvolvem-se solos rasos próximos aos diamictitos (Cambissolos Háplicos Tb Distróficos petroplínticos, ex. P11 e P12) e/ou solos com gradiente textural (Argissolos Amarelos Distrocoesos abrúpticos, ex. P10). Esses Argissolos Amarelos são os mais frequentes nos Tabuleiros Costeiros Dissecados, onde a continuidade do sistema morfogenético dos Tabuleiros Costeiros Preservados foi praticamente destruída por causa do entalhamento dos cursos fluviais, como proposto por Nunes (2011).

A dinâmica dos Tabuleiros Costeiros Dissecados, que, provavelmente, constitui-se em uma evolução das condições pedológicas dos Tabuleiros Costeiros Preservados, possui características diferenciadas, sobretudo devido à constatação de solos de textura mais fina e

152 com horizontes coesos, como nos perfis 10 (Argissolo Amarelo Distrocoeso abrúptico), 11 (Cambissolo Háplico Tb Distrófico petroplíntico) e 12 (Cambissolo Háplico Tb Distrófico petroplíntico).

Buscando justificar a evolução dos horizontes coesos, alguns autores (ARAÚJO FILHO et al., 2001; FILIZOLA et al., 2001; ROMERO et al., 2001; NUNES et al., 2003; LIMA et al., 2004) indicam a influência da cimentação química, relacionada aos teores de Si, Al e Fe. Outros autores defendem que a gênese desses horizontes coesos não está relacionada à participação de agentes cimentantes químicos, podendo ser devido à distribuição granulométrica (ACHÁ PANOSO, 1976; ANJOS, 1985; MOREAU et al., 2006; CORRÊA et al., 2008; LIMA NETO et al., 2010; SILVA et al., 2011; NUNES et al., 2011b).

Nesse âmbito, as análises químicas dos solos estudados não possibilitaram a observação da tendência de aumento dos teores de Al, o que pode indicar que a gênese dos horizontes coesos não tem relação direta com a presença desse agente cimentante como já salientado por alguns autores (ACHÁ PANOSO, 1976; ANJOS, 1985; MOREAU et al., 2006; LIMA NETO et al., 2010; SILVA et al., 2010; NUNES et al., 2010), mas parece que pode ter relação com a distribuição granulométrica, como proposto por Corrêa et al. (2008), Nunes et al. (2011b) e Lima Neto et al. (2011). Entretanto, é importante que sejam realizadas análises químicas e físicas complementares para a melhor compreensão da gênese desses horizontes.

Na unidade do topo dos Tabuleiros Costeiros Dissecados, onde as duricrostas foram total ou parcialmente intemperizadas, pode haver uma drenagem mais eficiente, com solos mais profundos e uniformes, com o predomínio do movimento vertical da água. No entanto, a presença dos horizontes coesos (horizonte Bt do Argissolo Amarelo Distrocoeso abrúptico – Px) torna os topos com ambientes de saturação temporária de água, favorecendo o avanço da xantização e desenvolvendo, desse modo, solos amarelos (NUNES, 2011). Neste tabalho, observou-se que ocorreu uma maior degradação e erosão das duricrostas, em detrimento das áreas mais interioranas. Como essas duricrostas funcionam como um escudo para a manutenção dos topos tabulares, a sua degradação resulta na convexização dos topos e a tendência é que isso ocorra, a longo prazo, nos demais topos dos tabuleiros costeiros.

Ainda se tratando dos Tabuleiros Costeiros Dissecados, na unidade geológica dos Leques Aluviais, quando estes passam a ser submetidos às variações climáticas, inicia-se a evolução pedológica, com a formação do horizonte A a partir do incremento de MO, até formar solos, de modo geral, muito profundos, devido à grande carga sedimentar. Esses sedimentos são

153 eminentemente arenosos, também podendo ocorrer a presença de sedimentos mais finos, dependendo diretamente do material de origem. Isso repercutiu na formação de Neossolos Quartzarênicos Órticos típicos e Neossolos Quartzarênicos Órticos latossólicos.

As Planícies Litorâneas, resultantes de depósitos também datados do Quaternário, apresentam duas grandes unidades que possuem características pedológicas peculiares. A primeira é a área de inundação, onde o acúmulo de água favoreceu o desenvolvimento do processo de gleização e podzolização, dando origem, dessa forma, aos Gleissolos e Espodossolos. A segunda unidade é constituída pelos Terraços Arenosos, onde uma grande quantidade de sedimentos areno-quartzosos, quando submetidos aos processos pedogenéticos, dá origem, principalmente, aos Neossolos Quartzarênicos.

A área de inundação das Planícies Litorâneas na região estudada foi formada a partir de deltas intralagunares que se encontram entre os terraços pleistocênicos e os leques aluviais, o que não condiz com o modelo proposto por Suguio et al. (1985) que propuseram que a formação de deltas intralagunares ocorreu entre a deposição dos sedimentos pleistocênicos e holocênicos.

A figura 49 possibilita a compreensão da atual cobertura pedológica na área estudada, na qual é possível perceber que nos topos tabulares largos e nas suas encostas côncavas dos Tabuleiros Costeiros Preservados são identificados Espodossolos. Com o aumento da dissecação do relevo, diminuição dos topos e melhor eficiência da drenagem, formam-se os Argissolos e, na planície de inundação ocorrem os Gleissolos. Em função das características de cada classe de solo, como baixa capacidade de troca catiônica e, consequentemente, baixa fertilidade, que parece, nesse caso, estarem altamente relacionadas ao material de origem, o uso do solo fica limitado. Por esse motivo, como se observa na figura 49, basicamente essas áreas tem sido utilizada como pastagens, plantação de coco, silvicultura. Podendo haver regiões com vegetação secundária da floresta ombrófila densa de terras baixas e restinga.

Vale ressaltar que algumas unidades não foram representadas no perfil geoecológico, dentre elas estão os Leques Aluviais, que abrigam os Neossolos Quarztzarênicos e os Latossolos Amarelos e os Terraços Arenosos, onde ocorrem os Neossolos Quartzarênicos.

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Figura 49: Perfil geoecológico abrangendo 5 perfis de solos estudados e os três compartimentos geomorfológicos: Tabuleiros Costeiros Preservados, Tabuleiros Costeiros

Dissecados e Planície Litorânea.

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