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2.2 OS ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS E A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS

2.2.1 Os processos morfopedológicos

A compreensão da distribuição espacial dos solos requer uma interdisciplinaridade. Vidal-Torrado et al. (2005) destacaram a importância da geologia, hidrologia e geomorfologia para os estudos pedológicos. A geomorfologia pode subsidiar substantivamente outros estudos, sobretudo, os integrados, pois o modelado do relevo é o aspecto da paisagem mais facilmente identificável, além de estar fortemente associado às estruturas geológicas, gênese e evolução dos solos e formações vegetais.

O relevo se constitui em um elemento de grande relevância para os estudos da natureza e, em especial para o estudo dos solos. Segundo Kampf e Curi (2012, p. 222), “o relevo é a configuração da superfície do terreno e relaciona-se com a distribuição espacial dos solos em todas as escalas da paisagem, da subcontinental à vertente”. Nesse sentido, o conhecimento geomorfológico tem sido cada vez mais relevante, por auxiliar no entendimento das formas do relevo, dos processos endógenos e exógenos atuantes, além do desenvolvimento dos solos, da interferência das rochas, do desenvolvimento das plantas e da evolução da vida humana (GUERRA; MARÇAL, 2006).

As feições geomorfológicas possuem um papel importante no levantamento de recursos naturais, pois, ao mesmo tempo que ecologicamente representativas, são rapidamente identificáveis, medidas, delimitadas, interpretadas tanto no campo como na fotografia aérea.

43 Com isto é facilitada a análise sistêmica das inter-relações do ambiente, possibilitando que a interpretação das mesmas seja extrapolada por áreas mais extensas do que as amostradas (AUGUSTIN, 1985). Corroborando com os estudos de Augustin (1985), Ross (1992) afirmou que:

[...] o entendimento do relevo e sua dinâmica, passa obrigatoriamente pela compreensão do funcionamento e da inter-relação entre os demais componentes naturais (águas, solos, subsolo, clima e cobertura vegetal), e isto é de significativo interesse ao planejamento físico-territorial. [...] as formas do relevo de diferentes tamanhos têm explicação genética e são inter-relacionadas e interdependentes dos demais componentes da natureza. (ROSS, 1992, p. 1)

Para Campos (2012), as formas do relevo exercem papel decisivo no tempo de exposição dos materiais, na intensidade e direção do fluxo da água no perfil do solo, e regulam as variações nos processos pedogenéticos. Compreende-se que o relevo, além de influenciar na formação dos solos, também contribui para a análise da espacialização dos solos, uma vez que ele possui feições mais facilmente identificáveis e favorece a realização do planejamento de campo e a amostragem dos solos para fins de mapeamento.

Boulet et al. (1982), propuseram o método da análise estrutural da cobertura pedológica, com o objetivo de realizar um estudo detalhado dos solos analisando a sua organização, tanto vertical, quanto horizontal, do interflúvio ao talvegue adjacente. No entanto, a discussão mais antiga acerca da relação solo-relevo encontra-se em Milne, citado por Queiroz-Neto (2002) e Campos (2012), que criou o conceito de catena, sendo esta uma unidade prática de mapeamento e representa uma busca pela interpretação dos processos responsáveis pela distribuição dos solos nas vertentes e nas paisagens. A catena abrange solos com características fundamentais diferentes, cuja ocorrência está atrelada às condições topográficas, onde solos se repetem nas mesmas posições da vertente e em classes de declividade semelhantes. Dessa maneira, Queiroz- Neto (2002) compreende que os solos se organizam em catena, pois eles são um meio contínuo, cujas diferenciações são devidas ao movimento interno das soluções.

Boulet (1987) destacou que, por muito tempo, os pedólogos privilegiaram a diferenciação vertical do solo, devido ao caráter histórico da pedologia, a qual desde o início se preocupou com a diferenciação vertical e a significação genética, apesar da escala dos observadores de campo e dos meios de pesquisa, que limitavam os pesquisadores. No entanto, o autor ressaltou também que a organização horizontal não pode ser interpretada isoladamente das organizações verticais.

44 No Brasil, muitos autores substanciaram a análise da lateralidade dos solos em associação com o relevo e a evolução da paisagem, ressaltando que os solos possuem variação vertical e horizontal que devem ser compreendidas, tais como Ross (1992), Castro e Salomão (2000), Barbalho (2002), Queiroz-Neto (2002), Vidal-Torrado et al. (2005), Lohman (2005) Diniz et al. (2005), Queiroz-Neto (2010), Espindola (2010), Queiroz-Neto (2011).

Algumas questões levantadas por Queiroz Neto (2011) explicitam a importância do relevo para os solos e vice-versa: (i) a interpretação da evolução da vertente com relação à autoctonia ou aloctonia dos materiais de origem dos solos; (ii) a variação das propriedades dos solos ao longo das vertentes, como a granulometria, as bases trocáveis e outras características; (iii) a distribuição do solo e a relação com a forma do relevo; (iv) a pedogênese é um dos elementos da morfogênese, sobretudo nos estágios iniciais, quando há os primeiros processos de alteração das rochas, na mobilização e na acumulação de íons; e (v) a formação do solo e a morfogênese ocorrem simultaneamente. Todos esses pontos demonstram a relevância de compreender os solos em conjunto com o relevo, pois o relevo interfere na formação e evolução dos solos e os solos interferem na dinâmica geomorfológica.

A necessidade de compreensão da espacialização e gênese dos solos, bem como da evolução da paisagem a partir dos aspectos pedológicos e geomorfológicos, fez surgir a abordagem morfopedológica (pedogeomorfológica), que é definida por diversos autores, como sendo, sobretudo, produto da análise solo-relevo (Quadro 01).

Quadro 01: Diferentes definições de Morfopedologia.

AUTOR DEFINIÇÃO DE MORFOPEDOLOGIA

CASTRO; SALOMÃO (2000)

Possibilidade de expressar e caracterizar ordens de grandezas intermediárias ou pequenas com o auxílio da relação entre o substrato rochoso, os solos e o relevo.

SALGADO (2005)

Análise ambiental que engloba conhecimentos de cunho geomorfológico, pedológico e noções de estratigrafia (material de origem do solo).

LOHMAN (2005)

Técnica que propõe o conhecimento do meio físico, descrição e dinâmica, com vistas à sua análise considerando-o como um sistema, onde as interações específicas definem a unidade de igual estrutura, evolução e com problemas comuns.

O estudo integrado do material de origem, dos solos e do relevo, em conjunto com análises bi e tridimensionais da cobertura pedológica, permite mapear e caracterizar a distribuição e organização lateral dos horizontes pedológicos ao longo de eixos topográficos. Ao mesmo tempo, corroboram com a viabilização da avaliação de correspondências espaciais

45 com o levantamento de hipóteses sobre a relação entre o relevo e materiais a ele associados, principalmente, os solos (CASTRO; SALOMÃO, 2000).

Para estudos morfopedológicos, Castro e Salomão (2000) indicaram que as médias e grandes escalas espaciais são as mais satisfatórias, pois permitem integrar os estudos pedológicos face às suas relações com o modelado, bem como com o uso e ocupação que se estabeleceram. Também destacam a importância de fotografias aéreas e imagens de satélites de maior resolução, sem abdicar do trabalho de campo para elaboração e validação da produção cartográfica.

O intuito principal dos estudos morfopedológicos, de acordo com Salgado (2005), é o de compreender os eventos determinantes na configuração da paisagem, não havendo, necessariamente uma preocupação de elaborar leis gerais.