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O conhecimento dos solos existentes de uma determinada região se configura como um importante instrumento na proposta de minimizar os problemas gerados pelo uso do solo, em decorrência do aumento da pressão sobre os mesmos, o que pode trazer consequências ao comprometerem sua capacidade produtiva e, em alguns casos, sua completa degradação. Desse modo, para o planejamento efetivo do uso desse recurso, é imprescindível a compreensão da distribuição espacial das diferentes classes de solos e o conhecimento das características ambientais da área onde ocorrem (OLIVEIRA, 2012).

A relação entre a classificação e o levantamento de solos se estabelece no momento em que um conjunto de solos analisados/levantados possuem propriedades consideradas semelhantes, podendo, assim, serem agrupados em classes seguindo um padrão de classificação, que no caso do Brasil é o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA, 2013). A combinação das classes de solos com informações relativas ao ambiente ao qual ele pertence se constitui na base fundamental para composição de unidades de mapeamento. Assim, a unidade de mapeamento é o grupamento de área de solos, estabelecido para possibilitar a representação da distribuição espacial em bases cartográficas (IBGE, 2007).

Um levantamento pedológico é um prognóstico da distribuição geográfica dos solos como corpos naturais, determinados por um conjunto de relações e propriedades observáveis na natureza. O levantamento identifica solos que passam a ser reconhecidos como unidades naturais, prevê e delineia suas áreas nos mapas, em termos de classes definidas de solos. (IBGE, 1994, p. 18)

51 Os levantamentos pedológicos podem ter diversas funcionalidades, tais como a geração de conhecimento, o agrupamento de áreas de homogeneidade pedológica com a menor variabilidade possível, a caracterização dos solos e até o planejamento do uso da terra para diversos fins. Além disso, as informações presentes em um levantamento pedológico subsidiam a avaliação das potencialidades e restrições de uma área (IBGE, 1994).

De maneira geral, a realização de um levantamento pedológico visa identificar e separar unidades de mapeamento. O mapeamento compreende um mapa com legenda e um texto explicativo, que define, descreve e interpreta, para diversos fins, desde a geração de conhecimentos sobre o recurso solo de um país ou região, até o planejamento de uso da terra para diversos fins, em nível de propriedade, as classes de solos componentes das unidades de mapeamento. O mapa/carta é parte fundamental de um levantamento. Mostra a distribuição espacial de características dos solos e a composição de unidades de mapeamento, em termos de unidades taxonômicas, ressaltando também, características do meio ambiente (IBGE, 2007). Ainda de acordo com o IBGE (2007), a classe de solo é definida por características morfológicas, físicas, químicas e mineralógicas, apoiado em um sistema taxonômico organizado e constitui a unidade fundamental na composição de unidades de mapeamento e no estabelecimento das relações solo/paisagem. Portanto, haverá sempre uma classe de solo correspondente a cada nível hierárquico dos sistemas taxonômicos.

De um modo geral, as técnicas tradicionais de estudos de solos são distribuídas em três âmbitos de trabalho distintos, mas complementares e interdependentes, sendo eles: escritório, campo e laboratório (VENTURI, 2005). O estudo dos solos contempla duas fases importantes, que são as informações de campo alicerçadas em análises de escritório e laboratório. Sobre o assunto, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, 2013) destaca que muitas conclusões, a respeito de várias tecnologias são baseadas no acúmulo de informações de campo atrelado a resultados analíticos, onde as constatações de campo e de laboratório tendem a se completarem.

Exemplos de pesquisas realizadas em bacias hidrográficas localizadas em parte da área de estudo do trabalho, que seguiram etapas de escritório, campo e laboratório são vistos em Costa (1999) e Silva (1999). Estes autores consideraram que as diversas classes de solos e sua distribuição ocorrem em função da interação de elementos físico, químicos, bióticos e topográficos. Assim, realizaram levantamentos e mapeamentos de solos nas Bacias Hidrográficas dos Rios Açu e Imbassaí, respectivamente. Inicialmente realizaram o

52 levantamento bibliográfico e a fotointerpretação, para a elaboração de um mapa fotopedológico (etapa de escritório). Posteriormente, esse mapa foi confrontado em campo, onde houve o levantamento pedológico com identificação dos solos por meio da observação de perfis em trincheiras e barrancos em cortes de estrada e com o auxílio de tradagens. Essas tradagens, também serviram para identificar os limites das unidades de solos. Após as amostras serem encaminhadas para análises laboratoriais, os solos foram classificados e, então, foi obtido o produto temático de distribuição espacial dos solos.

Nas duas pesquisas supracitadas, o relevo foi um dos critérios utilizados para separar as unidades de mapeamento e fornecer subsídios para o estabelecimento das classes de relevo: plano, suave ondulado, ondulado e forte ondulado. Outros autores que utilizaram como critério as formas do relevo foram Diniz et al. (2005), que, por sua vez, tiveram como objetivo principal associar os tipos de solos mapeados ao relevo da porção norte da Bacia do Ribeirão Chiqueiro, no município de Gouveia, MG. Para alcançar seus resultados, os autores inicialmente identificaram as formas de topos, encostas, vales, litologias, hidrografia, erosão e outras informações, tais como a vegetação e o uso da terra, a partir de fotointerpretação e com observações em mapas topográficos e geológicos que facilitaram a identificação das primeiras unidades de mapeamento. Os autores utilizaram a técnica de prospecção ao longo de topossequências proposta pela EMBRAPA (apud DINIZ et al., 2005), onde os solos e suas variações foram correlacionados com as superfícies geomorfológicas em que ocorrem: alta, média e baixa vertente, sobretudo, onde ocorriam as maiores rupturas do declive. O mapa foi, então, elaborado a partir de dados de laboratório e campo, com as unidades taxonômicas substituindo as unidades fisiográficas definidas com a fotointerpretação.

Desse modo, foi observado que “os solos estudados se desenvolveram em função da combinação entre os diferentes materiais de origem e formas de relevo, demostrando, em associação com outros aspectos do ambiente, diferenças na paisagem” (DINIZ et al., 2005, p. 22).

Seguindo os estudos de análise estrutural da cobertura pedológica de Boulet et al. (1982), Boulet (1992) realizou um estudo em Paulinia, SP, demonstrando o papel principal dos processos superficiais sobre a diferenciação lateral da cobertura pedológica. Boulet (1992) inicialmente realizou a reconstituição utilizando a aproximação geométrica da organização vertical dos solos a partir de tradagens e trincheiras segundo transectos geralmente orientados de acordo com a linha de maior declividade. Posteriormente, realizou uma aproximação geométrica da projeção no plano horizontal dos limites laterais ou das variações de espessura

53 destes horizontes, representada em um mapa de curvas de isodiferenciação. Como resultado final desse método tem-se uma representação tridimensional da cobertura pedológica, que permite raciocinar sobre a geometria real, ou seja, a anatomia da organização da cobertura do solo.