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filipe Tchinene Calueio Tânia Welter

O 18º Congresso da União Internacional de Ciências Antropológicas e Etnológicas recebeu inscrição de pessoas de 94 nacionalidades diferentes. Isso exigiu uma atenção extrema por parte da comissão de organização do evento quanto às informações concernentes à obtenção de vistos, estadia no Brasil, documentações pessoais, vacinas e outras.

Para a coordenação do congresso não era só imprescindível dar infor- mações precisas, mas também garantir a segurança das/os congressistas e do congresso em si, tal como a do país como um todo.

Desde a criação das Organizações das Nações Unidas (1948-1949), o Brasil foi um dos incentivadores das relações diplomáticas não secretas e do bilateralismo nas relações internacionais como base do progresso, da democracia e do desenvolvimento (SARDENBERG, 2013). Tanto na Améri- ca Latina, na União Europeia e na Europa como um todo, existem relações duradouras e consolidadas com o Brasil, que garantem agilidade e um dife- rencial em congressos de tais magnitudes.

Essas relações se intensificaram nas últimas décadas com a atuação do chanceler e chefe da diplomacia do mandato do presidente Lula (2003- 2010), Celso Amorim. O investimento para que as relações internacionais fossem fortalecidas seguiu nos mandatos da presidenta Dilma (2011-2016). Essas boas relações diplomáticas garantiram intercâmbios e comércios entre pessoas, recursos financeiros e pessoas jurídicas criando assim uma interação entre pessoas e empresas transnacionais (DEUTSH, 1970). Esta

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interação possibilitou espaços de padronização de comportamentos, de práticas, de hábitos, costumes, instrumentos mediadores, dando voz a uma culturalidade fundida em um pensamento comunitário (MITRANY, 1948).

Síntese

Assim que iniciamos a organização do Congresso, realizamos um levanta- mento das exigências para obtenção dos vistos de participantes estrangei- ros. Muitas pessoas vinham ao Brasil pela primeira vez.

Descobrimos que a formação de blocos regionais tem sido uma estra- tégia adotada por diversos países para ampliar o comércio, especialmente com países mais próximos. Este tipo de iniciativa de desgravação tarifária e integração comercial em regiões mais específicas – como a União Europeia, o Nafta e o Mercosul - é denominada de Regionalismo. O regionalismo não só possibilita uma área de livre comércio, mas também, dependendo do acordo dos blocos regionais, se permite o livre acesso de circulação de pessoas e bens, sem a necessidade de visto (SEABRA, 2009). Descobrimos que congressistas que vinham de países pertencentes ao Mercosul, a União Europeia ou de países que têm acordos bilaterais com o Brasil, como é o caso da Rússia e África do Sul, não necessitavam de visto para entrada no Brasil. Neste caso, os processos foram muito agilizados.

Como um país emergente, o Brasil tenta estender as relações com os demais países e adotar o chamado processo de simplificação dos vistos, que já é uma realidade com países como os Estados Unidos da América, Japão, Austrália, Canadá e Nova Zelândia. Nestes casos, os/as congressistas pode- riam solicitar os vistos por meio eletrônico.1

Na primeira exportação de dados que se fez no sistema, tivemos o cui- dado de cruzar a nacionalidade e o país de residência das/dos congressistas estrangeiras/os, isto para termos noção de quantas nacionalidades estavam inscritas e a quais países pertenciam. No final das inscrições, soubemos que

estavam inscritas pessoas de 94 países, dos cincos continentes existentes, que falavam mais de vinte línguas. A partir daí, foi feito um levantamento de dados sobre embaixadas e regulamentação jurídica normativa do âmbito interno e internacional para maximizar o tempo e a facilidade de informa- ções. Este levantamento permitiu:

• Exportar tabelas com nomes de congressistas inscritos, docu- mentos de cadastro, países, nacionalidades, instituições de ensi- no, nomes do crachá e datas de nascimento. Foi possível também contabilizar e organizar listas por nacionalidade.

• Criação de uma tabela constando os idiomas; tipos de relações di- plomáticas com o Brasil; necessidade ou não do visto; endereço, telefone ou correio eletrônico da embaixada ou consulado brasi- leiro no país de origem das/os congressistas. Em países com uma grande extensão territorial, como é o caso da China, Índia, Estados Unidos da América, Rússia, Canadá e Nigéria, relacionamos mais de um ponto (embaixadas e consulados) estratégico para solicita- ção dos vistos.

• Para a agilidade neste processo, contamos com a ajuda do setor da direção nacional de imigração do Itamaraty (Palácio Itamaraty, Esplanada dos Ministérios, Bloco H, Brasília Distrito Federal). • Fizemos levantamento dos requisitos exigidos para elaborar a

carta convite de cada país. Foram enviadas cartas por meio ele- trônico e por correio para todas as comissões diplomáticas bra- sileiras localizadas nos países das/os congressistas. Esta medida objetivava garantir a eficiência e segurança do congresso e dos/ das congressistas.2

Devido à conjuntura da política internacional, que não é igual para todos os países, essas listas, tabelas e cartas necessitavam recorrentemen- te serem atualizadas ou modificadas, pois, muitas vezes, o nome ocidental

2 www.portalconsular.itamaraty.gov.br/tabela-de-vistos-para-cidadaos-brasileiros e http://www.portalconsular.itamaraty.gov.br/vistos-para-viajar-ao-brasil

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de uma pessoa da China, Índia, Tibete ou do continente africano não é igual ao nome que consta no passaporte. Assim, em países como China, congres- sistas receberam o passaporte apenas depois de o governo autorizar a sua saída, seguindo e respeitando os trâmites legais e ordenamento jurídico chinês. Isso dificultou a emissão da carta convite, pois o número do passa- porte é um dado requisitado nela e se obtém esse número após autorização, o que muitas vezes ocorre em data bastante próxima ao evento. Em função desta dificuldade, muitas cartas convites foram enviadas duas ou três vezes.

As cartas convite enviadas eram assinadas pela coordenadora geral do congresso, a professora Miriam Pillar Grossi, cuja assinatura era reco- nhecida no cartório em Florianópolis. Foram enviadas 600 cartas convites ao custo de cinco reais e cinco centavos por cada reconhecimento em car- tório, totalizando mais de três mil reais.