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ORGANOGRAMA 1 – A organização do Sistema Único de Assistência Social

3.2 A ASSISTÊNCIA SOCIAL: DE 1964 A 1988

No período que vai de 1964, ano do golpe militar, a 1988, ano da constituição democrática, o país se desenvolveu economicamente com a expansão da produtividade, modernização da economia e a entrada do capital estrangeiro em parceria com o Estado. A ditadura se caracterizou por forte censura, ausência de eleições, controle do congresso nacional pelo poder militar, então no executivo, e repressão violenta aos opositores, considerados subversivos.

Dezenas de trabalhadores foram presos, torturados, exilados, mortos, desaparecidos. Em 1978, os sindicalistas do ABC paulista (Santo André, São Bernardo e São Caetano) se mobilizaram contra o regime através de greves. Parte da igreja também questionou a repressão, junto com um número expressivo de intelectuais. Muitos empresários estavam insatisfeitos com a falta de negociação entre trabalhadores e patrões.

A partir da conjunção das lutas dos operários, de movimentos de base, de contribuição de intelectuais e de setores progressistas da igreja católica foi amenizado com a criação do partido dos trabalhadores (PT) em 1980, rompendo com a mudança partidária da ditadura que só admitia dois partidos, a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), governistas, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) oposição tolerada. Nesse contexto de relações do Estado com a sociedade, sem legitimidade política, embora houvesse uma falsa democracia, o bloco militar- tecnocrático-empresarial no poder procurou obter o apoio da população com certas medidas sociais.

Em 1966, foram unificados, de cima para baixo, os institutos de previdência num único organismo, dentro da política centralizadora do governo federal, a que nomeava inclusive governadores. Assim foi criado o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), cuja administração ficou nas mãos da tecnocracia. Foram feitos convênios entre o INPS e grandes empresas para que o trabalhador fosse atendido no local de trabalho, usando-se o esquema de saúde e segurança no

trabalho que deveria contribuir para o aumento da produtividade. Vários industriais contribuíam também para o financiamento dos órgãos diretos de repressão.

Numa conjuntura de emprego, embora com arrocho salarial, os limites estruturais da economia também impediram que se ampliasse à previdência aos trabalhadores rurais (1971) e, aos empregados domésticos (1972), aos jogadores de futebol (1973) e aos ambulantes (1978). Os trabalhadores rurais apenas tiveram acesso a uma previdência de meio tamanho, com benefício de meio salário mínimo e sem contribuição direta. Uma pequena parcela do financiamento desse benefício vinha da taxação da comercialização dos produtos orais.

Nas eleições consentidas pelos militares, a ARENA, apoiada pelo governo, ganhava as eleições nos chamados fundões, por pequenas cidades do interior, controladas por poderosos políticos da época. Nesse contexto, era estratégico obter o apoio dos trabalhadores do campo e estimular a economia no meio rural com a distribuição de benefícios em dinheiro para um vasto setor excluído do mercado de consumo de bens industrializados e de serviços.

Em 1974, os idosos pobres, com mais de 70 anos, foram beneficiados por uma lei que incrementou a renda mensal vitalícia no valor de um salário mínimo para os que houvessem contribuído, ao menos um ano, com a previdência social. Nesse mesmo ano foi criado o Ministério da Previdência e Assistência Social que incorporou a LBA, Fundação para o Bem-Estar do Menor (FUNABEM), a Central de Medicamentos (CEME), e Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social (DATAPREVE).

Vale ressaltar o importante papel que a FUNABEM representou no campo da assistência social, no que diz respeito especialmente ao menor infrator.

As primeiras medidas tomadas pelos poderes públicos sobre a questão do menor no Brasil tiveram caráter jurídico e datam da época do Império. Em 1927, foi promulgado o Código de Menores. O artigo primeiro desse Código instituía que o menor abandonado ou delinqüente, menor de dezoito anos, seria submetido às medidas de assistência e proteção contidas no próprio Código. No entanto, a "proteção" dada caracterizou-se mais pelo caráter policial e punitivo do que assistencial. Essa característica encontra sua expressão mais conhecida na criação

do Serviço de Assistência ao Menor – SAM (pelo Decreto-Lei n° 3.779, de 1941, que transformou o Instituto 7 de Setembro, existente desde 1913).

A gestão do SAM tornou-se progressivamente alvo de crescentes críticas que denunciavam os estabelecimentos por maus-tratos aos menores e práticas de politicagem clientelista.

Em 1959, a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou a Declaração dos Direitos da Criança, conferindo cidadania à criança e responsabilizando o Estado pelo seu bem-estar. Essa concepção contradizia a natureza coercitiva intrínseca à ação estatal brasileira o que fortaleceu a posição dos grupos que combatiam o Estado nessa época.

Em dezembro de 1964, a Lei n° 4.513 extinguiu o SAM e criou a FUNABEM vinculada ao Ministério da Justiça. O objetivo era transformar o modelo de atendimento carcerário em um novo modelo terapêutico-pedagógico. À Fundação foram atribuídas a definição e implantação da Política Nacional do Bem-Estar do Menor – PNBEM. O mecanismo de funcionamento montado foi o de repasse de recursos, por convênios, a projetos de assistência a menores apresentados pelos Estados (pelas FEBEMs), Municípios e entidades particulares, reservando-se à FUNABEM as funções normativas e de execução de projetos experimentais.

Em 1980, ela passou a integrar o Ministério da Previdência e Assistência Social vinculada à Secretaria de Assistência Social, perdendo de certa forma parte de sua autonomia administrativa e financeira. Como Fundação ligada à assistência social, compôs o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social – SINPAS.

A ação da FUNABEM teve uma primeira fase (até 1970) caracterizada pela atenção centrada na organização da nova estrutura institucional, e uma outra fase de hegemonização (até 1979), em que criou um corpo técnico próprio distinto daquele herdado do antigo SAM e formulou a PNBEM. A partir de 1980 passa a desorganizar-se e entra em uma fase de politização e paralisia. Em 1982, a distribuição dos recursos foi feita como instrumento eleitoral do partido no governo, o que causou escândalos, denunciados por toda a imprensa.

Em 1990, passou a denominar-se Fundação Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência – FCBIA. Da mesma forma que a FLBA, a FCBIA foi

vinculada a diferentes Ministérios até ser extinta, juntamente com o Ministério do Bem-Estar Social e a FLBA.

Embora o escopo institucional da FUNABEM tenha privilegiado apenas a execução de projetos experimentais, em 1985 ela respondia por 21 entidades educacionais que atendiam a menores, de ambos os sexos, de seis a dezoito anos, carentes, abandonados e autores de infração penal, em regime de internato, semi- internato e externato, além de manter escritórios regionais em todos os Estados. Nessa época tinha um quadro de 2.695 funcionários. Em 1986 efetuou 2.786 convênios.

A FUNABEM teve dificuldades para operacionalizar a transferência da execução da prestação de serviços para os Estados e também para implementar as diretrizes preventivas e educacionais. A estadualização dos institutos aconteceu de forma lenta, sendo que, após 1986, no momento de sua extinção, ainda restavam dois institutos sob sua administração.

O juizado de menores, que detinha o poder de indicação das medidas a serem adotadas em cada caso, optava, como regra, pelo internamento e não por medidas assistenciais possíveis. A alteração do Código de Menores em 1980 ampliou a competência do Judiciário sobre menores em situação irregular e aumentou o elenco de medidas que compunham a indicação do tratamento a ser dado na sentença judicial. Esse aumento de competências apenas fez crescer a tendência já existente.