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ORGANOGRAMA 1 – A organização do Sistema Único de Assistência Social

4 A POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: PERSPECTIVA DE

4.5 CRAS: SEU CARÁTER INTERDISCIPLINAR

Antes de abordamos as práticas desenvolvidas nos Centros de Referência da Assistência Social, é preciso aprofundar e esclarecer que base teórica norteia as práticas sociais. Neste sentido, apresentaremos breve síntese sobre a disciplina e seus derivados, multi, pluri, inter e transdisciplinar. A pretensão é estabelecer aproximações que ajudem a realizar as análises das práticas presentes nos CRAS.

Gadotti (1999); Iribarry (2003) e Alves; Brasileiro; Brito (2004), citando Japiassu, explanam as discussões em torno da disciplinaridade e suas variantes. Assim, disciplinaridade significa a exploração científica e especializada de determinado domínio homogêneo de estudo. Por sua vez, a multidisciplinaridade, evoca uma gama de disciplinas propostas simultaneamente, mas sem fazer aparecer diretamente às relações que podem existir entre elas. É um tipo de sistema de um só nível e de objetivos múltiplos; não há nenhuma cooperação entre as disciplinas. Os profissionais, nesse caso, estão inseridos em um esquema automático, o qual não gera espaço para uma articulação como em outras modalidades da disciplinaridade. O nível da pluridisciplinaridade tem características semelhantes ao multidisciplinar, envolve a justaposição de diversas disciplinas situadas, geralmente, no mesmo nível hierárquico e agrupadas de modo que apareçam as relações existentes entre elas. É um tipo de sistema de um só nível e de objetivos múltiplos; há cooperação, mas sem coordenação.

A interdisciplinaridade envolve um grupo de disciplinas conexas e definidas em um nível hierárquico imediatamente superior, o que introduz a noção de finalidade. Para Gadotti (1999) o termo "interdisciplinaridade" é muito rico e várias noções giram em torno dele. A interdisciplinaridade pode ser definida como um ponto de cruzamento entre atividades (disciplinares e interdisciplinares) com lógicas diferentes. Ela tem a ver com a procura de um equilibro entre a análise fragmentada e a síntese simplificadora, com a procura de um equilibro entre as visões marcadas pela lógica racional, instrumental e subjetiva.

De modo semelhante, Alves; Brasileiro; Brito (2004), ao falar da prática interdisciplinar diz que a interdisciplinaridade é apontada como saída para o problema da disciplinaridade. Ela pressupõe a intercomunicação entre as disciplinas, de modo que resulte uma modificação entre elas, através de diálogo compreensível, uma vez que a simples troca de informações entre organizações disciplinares não constitui um método interdisciplinar.

Veiga Neto, citado por Alves; Brasileiro; Brito (2004), também entende a interdisciplinaridade como um processo pertencente à disciplinaridade e não como posição antagônica que deve ser superada. Entende a interdisciplinaridade como um trabalho conjunto de várias disciplinas em direção do mesmo objeto de pesquisa, com o propósito de aproximá-lo, cada vez mais, da realidade objetiva, à medida que constrói sua perspectiva dialética.

E a transdisciplinaridade? Esta é entendida como a coordenação de todas as disciplinas e interdisciplinas do sistema de ensino inovado sobre a base de uma axiomática geral, ética, política e antropológica. A transdisciplinaridade, de acordo com Caon apud Iribarry (2003), é um desafio colocado pelo interesse de uma equipe de profissionais que estão reunidos pela metáfora proposta por uma situação de transdisciplinaridade, na qual cada um problematiza os conceitos de diferentes campos. Cada um entra na disciplina do colega e olha pela luneta do outro, interrogando os dispositivos práticos e teóricos utilizados pelo outro e com os quais ele vê aquilo que diz ver.

Cabe salientar que o nível da transdisciplinaridade não é um estilo de interação superior em relação aos demais níveis. Iribarry (2003) citando Bourguignon mostra a transdisciplinaridade como um esforço para integrar ao conhecimento tudo aquilo que não pode ser explicado pelo domínio de uma única disciplina, de modo a se recolocar o homem no centro do conhecimento. A transdisciplinaridade é um dispositivo que faz avançar as relações entre as áreas de conhecimento.

O estabelecimento do diálogo entre as diferentes áreas de conhecimento e pesquisa, então surge à frente daqueles que desejam levar adiante o desafio da transdisciplinaridade à necessidade de trabalhar em equipe. Por isso, o método transdisciplinar terá de cumprir algumas proposições básicas: trabalho em equipe; geração de novos dispositivos; familiarização dos profissionais com cada área

diferente da sua; legibilidade e compartilhamento dos discursos e tomada de decisão horizontal.

Deste modo, uma equipe será transdisciplinar quando sua reunião congregar diversas especialidades com a finalidade de uma cooperação entre elas sem que uma coordenação se estabeleça a partir de um lugar fixo. Ora, a transdisciplinaridade deve ser encarada como meta a ser alcançada e nunca como algo pronto, como um modelo aplicável, e como um desafio que serve de parâmetro para que todos os membros da equipe estejam atentos para eventuais cristalizações e centralizações do poder.

Não se pode esquecer que o trabalho em equipe numa perspectiva transdisciplinar requer humildade e disponibilidade por parte de cada profissional, pois é, em suma, um movimento de reconhecimento de posições diferentes em relação a um mesmo objeto. Quando uma equipe está reunida e deseja optar por um funcionamento transdisciplinar é preciso que cada membro exponha suas ferramentas de trabalho, suas teorias, seu entendimento do caso e também exija de seu colega a mesma exposição.

Assim, a transdisciplinaridade visa promover um diálogo entre diferentes áreas do conhecimento e seus dispositivos. O diálogo serve como ensejo para uma situação de cooperação entre as diferentes áreas. Transdisciplinaridade é, portanto, diálogo e cooperação entre diferentes áreas do conhecimento.

Gadotti (1999) mostra que, "usamos quase indistintamente as palavras interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, embora tenham conotações diferentes (complementares, não antagônicas), para designar um procedimento que visa à construção de um saber não fragmentado; um saber que possibilita a relação entre as áreas disciplinares diferentes. A interdisciplinaridade está no âmago de cada disciplina. As disciplinas não são fatias do conhecimento, mas a realização da unidade do saber nas particularidades de cada uma".

Esta breve discussão nos ajuda compreender e analisar as práticas que são desenvolvidas no CRAS, tendo como alvo alcançado as perspectivas inter e transdisciplinaridade.

Mesmo estando em processo de implantação desde o ano de 2004, o SUAS se depara com vários desafios para sua concretização e consolidação, uma vez que está sendo implantado num contexto de ajuste fiscal, se situando numa tensão entre os interesses econômicos e sociais e um dos grandes desafios posto com o SUAS é fazer com que as equipes incorporem ações e atitudes que permitam promover a proteção básica de modo que transcenda os limites da disciplinaridade.

Entretanto, como bem salientou Leis (2005), um obstáculo sério para entender o sentido da atividade interdisciplinar reside no fato de que os profissionais estão envolvidos em idiossincrasias das quais eles não são totalmente conscientes, entrando em debates intermináveis sobre um tema que é profunda e extensamente polissêmico, que circula por todos os lugares geográficos e institucionais, mas com significados diversos.

É neste cenário contraditório que se situam as nossas inquietações e nos desafia a buscar elementos, que subsidiem as análises acerca do funcionamento da política de assistência social no contexto do SUAS e especificamente nos CRAS.

Com o intuito de entendermos melhor como esta organizada a política de garantia de diretos e como se efetiva no cotidiano das ações desenvolvidas na base, fez-se necessário construir um organograma com as leis e normas que baseiam as prática profissional dos Assistentes Sociais, bem como um vislumbre maior, por parte dos usuários, sobre como está organizado o Sistema Único da Assistência Social.

PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA

PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL

CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

PROGRAMA DE ATENÇÃO INTEGRAL A FAMÍLIA

NOB/SUAS NOB/RH

SISTEMA ÚNICO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

CENTRO DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL POLÍTICA NACIONAL DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

Em posse dessas informações, o desenvolvimento do próximo capítulo ficará mais claro para o seu entendimento. A proposta de apresentar um perfil do profissional de Serviço Social que atuam nos Centros de Refêrencia da Assistência Social na Região Conurbada de Florianópolis, nos leva a uma busca por um entendimento acerca da atuação desse profissional em consonância com as normas e legislação apresentadas anteriormente, não deixando de lado, também, a necessidade de aprimorar seus conhecimentos sobre sua estrutura e funcionamento. Sobre esse assunto trataremos a seguir.

5 O PERFIL DO PROFISSIONAL DE SERVIÇO SOCIAL: AS PRÁTICAS DOS ASSISTENTES SOCIAIS NOS CENTROS DE REFÊRENCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL – CRAS

Este capítulo focaliza e apresenta os dados e a análise da pesquisa realizada nos CRAS da Região Conurbada de Florianópolis.