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Associações: espaços de proximidade

CAPÍTULO

3.1. Associações: espaços de proximidade

A maior parte dessas ações foi promovida a partir de centros e associações. Atualmente existem 413 espaços como esses espalhados pelo mundo401

399 Durante o franquismo, o dia 25 de julho torna-se uma festa oficial em toda a Espanha, com o nome de Día del Patrón de España, com um marcado caráter religioso.

, e muitos servem como pontos de apoio a políticas desenvolvidas pela Xunta ou pelo governo espanhol. Essa grande rede é resultado do volume de pessoas atingidas pela emigração, da continuidade do processo ao longo do tempo, renovando elos com a terra natal, da

400 Touriño proclama que la cultura gallega "habría perecido" sin los gallegos de Argentina. Europa Press. 18/05/2008. Disponível em: <http://www.europapress.es/galicia/noticia-tourino-proclama-cultura- gallega-habria-perecido-gallegos-argentina-20080518181120.html>

401A lista completa de associações galegas no mundo pode ser acessada no seguinte endereço: <http://www.galiciaaberta.com/centros_asociacions/2>

existência de uma cultura específica e de um movimento nacionalista, e da ausência de apoio governamental aos emigrantes. As associações cumpriam funções socioeconômicas, educativas e culturais. Nesses espaços os emigrantes podiam buscar trabalho, saber dos conterrâneos, partilhar experiências comuns, ter notícias da família e amigos e encontrar pessoas que podiam levar dinheiro e outras ajudas para quem ficou na Galícia. Construída com recursos dos próprios emigrantes, hoje essa rede conta com o apoio dos governos espanhol e galego, que além de buscar reconhecer problemas do passado, tem interesses econômicos e políticos na manutenção desses vínculos.

Foi também a partir do fortalecimento dessas associações e da melhoria das condições de vida de alguns emigrantes que puderam ser construídos hospitais e escolas para a comunidade. Esses espaços também serviam como ponte para a promoção de melhorias nos povoados: caminhos, fontes e, principalmente, escolas, fundamentais para uma região marcada pela falta de acesso ao conhecimento. A realização desses projetos exigia que os emigrantes se reunissem e trabalhassem em prol da coletividade, em benefício de uma sociedade que eles continuavam a se sentir parte.

A afiliação é importante em razão de que os membros da comunidade política devem uns aos outros e a ninguém mais, ou a ninguém no mesmo grau. E a primeira coisa que devem é a provisão comunitária de segurança e bem-estar social. 402

Além disso, tais ações marcam a diferença entre quem faz parte do grupo e quem está fora dele. “Se não provêssemos uns aos outros, se não reconhecêssemos diferença entre membros e estrangeiros, não teríamos motivo para formar e manter comunidades políticas”403.

Essas associações e pequenos centros institucionalizam práticas sociais e iniciam um processo de formação de redes que permite aos emigrantes viver a milhares de quilômetros de distância e, ao mesmo tempo, participar da vida das aldeias. Ressalta-se que era comum que pessoas de uma determinada vila emigrassem para a mesma localidade. Em razão disso, nesses espaços a fronteira entre a Galícia e o lugar da nova moradia tornava-se mais tênue. Além do cumprimento do calendário das festas locais,

402 WALZER, Michael. Esferas da Justiça. Uma defesa do pluralismo e da igualdade. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p.85.

que se repetia a cada ano, atualizando os laços com a região de origem, nas associações e centros também se sabia sobre casamentos, nascimentos e mortes dos povoados e se tinha notícias sobre a situação econômica e política da Espanha, que poderia piorar a realidade dos que lá estavam, sendo necessário, então, encontrar formas de enviar mais ajuda ou conseguir algum trabalho na emigração para os que tinham condições de se deslocar.

Muitas associações existentes são resultado de fusões com outras entidades menores, ligadas a vilas e paróquias, lugares aos quais os emigrantes se sentiam pertencentes. Zygmunt Bauman nos conta que pouco antes da Segunda Guerra Mundial o governo polonês realizou um grande censo e os funcionários foram treinados para coletar informações sobre a auto-identificação nacional de todos os indivíduos. Em cerca de um milhão de casos os entrevistados simplesmente não entendiam o que era uma “nação” nem o que significava “ter uma nacionalidade”. Apesar das pressões, eles diziam somente: “somos daqui”, “somos deste lugar”, “pertencemos a este lugar”. Como aponta Phillippe Robert, “durante a maior parte da história das sociedades humanas, as relações sociais têm se mantido firmemente concentradas nos domínios da proximidade” 404.

Entre os emigrantes galegos a situação não era diferente. A sensação de pertencimento se dava mais com as localidades especificas, até por conta da espacialidade geográfica da região, do que com a Galícia de forma mais ampla, relação que foi sendo desenvolvida a posteriori,405 quando já se era influenciado também pelas diferentes realidades dos locais para onde haviam emigrado. Mantinha-se a unidade de grupo, mas se olhava para a Galícia a partir de uma perspectiva mais matizada. E era essa nova perspectiva, tornada clara em momentos de retorno, que provocava críticas a esse coletivo, tanto pelos mais pobres como por aqueles que tinham mais poder406.

404BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2005, p. 24.

405 De acordo com pesquisa publicada em 2007, o apego à localidade continua forte na Galícia. Em 1995, 43,3% da população, ao serem perguntadas a que grupo geográfico se sentiam pertencentes, responderam que era o lugar onde vivem, em segundo lugar veio a Galícia (28%), sendo seguida da Espanha (19%), Europa (1,5%) e o mundo (8,2%). Em 2001, os números eram 56,6% (lugar onde vivem), 19,6% (Galícia), 14,8% (Espanha), 0,8% (Europa) e 8,2% (mundo). MIGUEZ GONZALES, Santiago. “La cultura política de los gallegos” in VEIRA VEIRA, José Luis (org). Las actitudes y los valores sociales

em Galicia. Madrid: Centro de Investigaciones Sociológicas, 2007, p. 195.