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Associativismo, Cultura e Animação

Inês João Sousa e Joana Gonçalves

4. Associativismo, Cultura e Animação

No que concerne à pergunta: “O que leva as pessoas a juntarem-se e criarem associações?”, talvez seja mais fácil refletir primeiramente sobre qual tem sido o papel do Estado e a sua atuação, para obtermos uma resposta mais clara. O Estado, primeiramente tem o dever de intervir sobre certos aspetos relativos à oferta e formação cultural, providenciando em determinadas cir- cunstâncias um apoio económico de forma a propiciar uma homogeneização sobre a possibilidade de frequência de todos indivíduos, o que de facto não acontece tão nitidamente. O acesso a espetáculos em salas específicas con- gregadas a autarquias, por exemplo, continua com vários acessos restritos quando se relata a questão monetária. Sabemos pois que numa situação tão precária e de crise, o cidadão é levado a deixar de lado a Cultura e o seu con- sumo, em troca de necessidades que ele próprio considera mais relevantes. Neste sentido, as associações culturais, ainda que territoriais, são essenciais nesta descentralização de atuação, e acima de tudo, capazes de presentear cada sujeito com atividades, na sua maioria, gratuitas, ou de baixo custo. Não que este deva ser um fator de excelência ou único a considerar, mas percebe- -se pois o aumento sobre esta participação cultural em localidades, sobre a

sua frequência a grandes cidades.

O problema é que se assume a Cultura, numa grande parte dos casos, como forma de entretenimento, e não como forma de fomentar a capacidade crítica nos indivíduos. Tal aspeto é mais percetível quando se consideram as políticas culturais apresentadas pelos governos/poder central que, acima de tudo, de- veriam incidir na educação e formação das pessoas, e não no ato de facultar espetáculos meramente ocos de significado. Um outro exemplo disto é quando em 2011 deixamos de ter presente um Ministério da Cultura, que se secundariza para uma Secretaria de Estado da Cultura, percebemos pois a relevância que os governos e as suas estratégias políticas atribui à Cultura que lhe é inerente. Mais uma vez existe uma maior preocupação com a oferta do que com a procura,

deveria saber-se distinguir o que é ocupação, do que é compromisso cultural. Esta preocupação é hoje também tida nestas “pequenas” associações, pois quem frequenta e acompanha manifestações culturais entende e exige um rigor e cria- tividade sobre o que quer consumir (Serrano, 2008).

É essencial não esquecer que manter a população educada culturalmente, atenta e consequentemente participativa, como refere Maria de Lourdes dos Santos (Santos, 2007), pode beneficiar a criação de hábitos culturais, o estímulo sobre a procura de oferta cultural, o aumento de nível de exigência, e por fim, mas não menos importante, propiciar a emergência de mais carreiras artísti- cas. Mas é essencial entender também como funciona este campo de públicos consumistas, apela-se pois à necessidade de avaliação destas experiências, es- petáculos, através de estudos que saibam perceber o porquê da ausência na vida cultural, ou até o que leva as pessoas a sentirem necessidade de manifestações culturais, e quais são, de forma a ser possível programar cada vez melhor. Este aspeto em muitos dos casos falha nas associações, nas quais se prefere ostentar um número elevado de participantes, ou até de lucros que advêm de um deter- minado evento, do que perceber a real necessidade cultural (Serrano, 2008) da sua comunidade envolvente.

Quando perguntamos a nós próprios porque estaríamos, ou estivemos envolvidos numa associação cultural/recreativa, a maioria entende que existe ainda uma possibilidade de mudar, e fazer algo diferente e melhor, do que o que é apresentado comummente. As formas de experiência artística e estética devem ser um direito dos cidadãos (Lopes, 2007) e por vezes não é apenas o facto da desadequação ou falta de programação, é ainda a não distribuição igualitária de atividades sobre as diversas faixas etárias. Por exemplo, nos Ser- viços Educativos de Museus a oferta está demasiado virada para camadas mais juvenis. Outro exemplo que descredibiliza a frequência a espaços/equipamen- tos culturais, bem como o seu consequente consumo e retorno financeiro, é o acesso fácil dos media. Veja-se a televisão e a rádio, que permitem, de forma massiva, o acesso indireto à Cultura, mas onde se perde o contacto pessoal, as trocas e experiências vivenciais, e por vezes o completo ato de deslocamento à ação cultural. Por outro lado, e de forma positiva este facilitismo publicitário consegue também, um maior retorno financeiro dos investimentos efetuados solucionado pela publicidade e a explosão de conteúdos que conseguem fazer chegar a um número vasto de indivíduos.

A Cultura deve desafiar as pessoas levando-as a sair da sua zona de conforto, e induzindo à deteção de um valor cultural, deve despoletar para intervir e revelar uma atitude e pensamento crítico. É sobre estas atitudes que os públicos participam ativamente e distintas manifestações culturais, fomentando o inte- resse e procura por mais atuações, o que levará a novos meios comunicacionais entre pessoas, e a emersão de outras atividades decorrentes.

É necessário estimular e recuperar as identidades culturais, sendo essencial aperfeiçoar a relação Estado e sociedade civil, admitindo as suas distinções, mas aproximando ambos os papéis, e as respetivas obrigações. As atividades são essenciais não apenas pela vertente cultural, elas premeiam desenvolvi- mento ao local onde são implementadas. Atualmente os agentes associativos são relativamente distintos dos de outras décadas anteriores: não são pessoas sem formação cultural, mas pessoas críticas, com estudos superiores, muitas vezes desempregadas, mas que ainda assim pretendem dar o seu tempo sobre a construção de algo útil, contribuindo para uma mudança na sociedade através de expressões artísticas, o exemplo é a melhor forma de atuar. Nem o Estado pretende substituir voluntariado, nem o voluntariado quer passar por cima do papel do próprio Estado, mas as novas necessidades sociais e culturais sentem carência de ambos. Recorde-se que, através destas associações, as pessoas têm uma voz junto do poder central, promovendo-se assim uma democracia muito mais participativa.

Localmente as pessoas unem-se e formam associações, pretendem levar ideias, e construir algo com a comunidade. Mas até aqui estas associações de- vem ter uma finalidade, e objetivos sobre os quais medeiam os seus caminhos: não se pode programar somente com intuito de entreter, ou com o mediatismo de querer obtenção de lucros para o funcionamento da associação. É necessário encontrar um equilíbrio adequado para o funcionamento da associação, em especial com a relação dos seus participantes locais, criando uma melhoria na qualidade de vida. Estas associações agregam várias pessoas, de múltiplas nacionalidades, de distintas idades, sexo, profissões ou preferências culturais e ainda assim são capazes de se organizar e trabalhar junto de uma comunidade, apesar de todas as diferenças o seu ideal é maior, o que permite um entendi- mento. Apela-se pois em reuniões de assembleia geral a participação ativa de todos os sócios que partilham da vida da associação. É com esta partilha que as possibilidades de necessidades são expostas.

Uma questão a considerar é a fulcral significância da avaliação de cada momento propiciado ao público interveniente, muitas das vezes descarta-se a informação que advinha deste teste avaliativo para perceber a eficácia, a adequação da programação (Serrano, 2008) cultural a oferecer. Entende-se que estas agregações territoriais emergiram também através dos valores esta- belecidos, que hoje estão também em crise. As pessoas voltaram a olhar para o “antigamente”, o que se fez e o seu valor patrimonial, mesmo que imaterial, o que

poderiam investir e modificar.

Como análise anterior estes participantes associativos desempenhavam tarefas muito próximas das cumpridas pelos animadores, sem com isso se dar conta, pois não se conformaram com o normal, preferiram ser interventivos, permitiram-se à mudança, nunca procurando um benefício próprio, nem tão pouco um louvor sobre o trabalho que executam. São, tal como o animador, essenciais no desenvolvimento comunitário. São intermediários, mediadores, comunicadores, pró-ativos, destemidos e com muita garra, mesmo quando em tempos os entendimentos eram bem diferentes.

O Associativismo é portanto um palco de experiências culturais, visando a criação de resoluções sociais, numa tentativa de consolidação e dinamização da comunidade em que se insere.

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