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Autarquias, museus e educação

Ana Moderno

5. Autarquias, museus e educação

Nas duas últimas décadas, o conceito de “serviço educativo” tem vindo a ganhar um lugar prioritário nas funções das instituições culturais. A educa- ção associada aos museus ganha força a partir da reformulação dos velhos conceitos da museologia e detrimento de uma museologia mais consciente da realidade social. Graças ao esforço de profissionais da área dos museus, de educadores e ao imprescindível papel de organismos nacionais e internacio- nais relacionados com a cultura, o património e a educação, hoje os serviços educativos dos museus vêm dar uma resposta positiva e complementar ao ensino oficial. Estes serviços, que também têm lugar noutras instituições cul- turais, como os teatros, estão ao dispor das escolas e das famílias. A legislação sobre a acção museológica garante igualmente o cumprimento deste serviço por parte museus e suas tutelas.

A educação é, com efeito, entendida como um processo que desperta a reflexão e a transformação do património cultural. Aquando do planeamento das actividades educativas, a análise e a interpretação das múltiplas realidades dos aspectos da história, da arte e características ambientais locais são factores importantes a considerar.

Museologia e educação estabelecem um processo de interacção, através do conhecimento, do saber e da transmissão de informação. Devendo ser de- senvolvida, desde cedo, junto dos mais jovens, através de políticas culturais de integração, a educação nos museus contribui para a formação de cidadão res- ponsáveis, conscientes e sensíveis à preservação do seu património. «O museu não substitui a escola e nem a escola substitui o museu» (Nabais, 2006, p. 46), mas através do desenvolvimento de iniciativas como visitas temáticas, confe-

rências, actividades de animação cultural, ateliers, museu e escola desenvolvem uma necessária intercomunicabilidade que garante prestação de serviços das duas instituições.

Falamos do museu colega frente ao museu professor e do museu interpretador frente ao museu informador. Esta atitude pode permitir que os museus se transformem em modelos de aprendizagem activos onde, para além do tra- dicional apoio ao ensinamento dos jovem na escola para promover a cultura e o património nos primeiros anos de formação. (Mercedes, 2012, p. 9).

Enfatizamos, uma vez mais, o exemplo MCCB, que, no que à educação diz respeito, promove, para além do seu serviço educativo habitual, “Observató- rio Museu/Escola”. O projecto surge da iniciativa da parceria com o Núcleo de Educação do MINOM (Movimento para a Nova Museologia) e aplica-se na Batalha, na Casa-Museu João Soares de Cortes – Leiria e no Museu de São Brás de Alportel – Algarve. Na Batalha, os “Heróis do Museu por um ano” são os alunos do primeiro ano do primeiro ciclo do Ensino Básico do Agrupamento de Escolas da Batalha. Com o apoio permanente da autarquia, estes alunos visitam e fazem actividades no Museu, na Vila, no Mosteiro e na Escola, com a colaboração dos professores. Pretende-se, desta forma, levar todos ao museu e, consequentemente, estender o interesse às suas famílias. O observatório permite ainda analisar a percepção que as crianças têm sobre um museu e sobre o seu papel.

Não se pense, porém, que a educação apenas se aplica ao público escolar. Efectivamente, o trabalho articulado e bem gerido entre museus e os agrupa- mentos escolares, com o imprescindível apoio logístico das autarquias, permite um caminho integrado na formação dos jovens. Mas aos museus cabe tam- bém o desafio de “educar” e contribuir para o enriquecimento sociocultural do público adulto que, em muitos casos, não teve a oportunidade de visitar e participar em museus durante a sua formação escolar. Enquanto mediadores do património, os museus têm ao seu dispor ferramentas privilegiadas para «ajudar a transformar as sociedades multiétnicas em espaços de interculturali- dade pacificadora e democrática, contribuindo para adquirir, em conjunto com

a sociedade que os rodeia, valores culturais cada vez mais fortes e solidários. (Mercedes, 2012, p. 9)

Os museus contribuem, desta forma, para o conhecimento, apropriação e valorização da sua herança cultural e natural, propiciando o melhor usufruto dos bens e permitindo a produção de novos conhecimentos num processo contínuo de criação cultural. O conhecimento crítico e a apropriação cons- ciente pelos indivíduos e pelas colectividades do seu património são factores indispensáveis para garantir a preservação sustentável destes bens, bem como no fortalecimento da identidade e da cidadania. A educação patrimonial é, portanto, um instrumento de alfabetização cultural que possibilita fazer uma leitura do mundo que nos rodeia, permitindo-nos compreender o ambiente sócio-cultural e natural em que estamos inseridos.

Naturalmente que o programa a desenvolver, neste contexto, por um museu municipal de uma pequena vila portuguesa, como é o exemplo da Batalha, será necessariamente diferente àquele a promover por um museu integrado numa favela no Rio de Janeiro. Mas ambos os museus partilham o mesmo princípio: contribuir para a formação e consciencialização dos seus cidadãos através do património que defende, valoriza, preserva e comunica. Para desenvolver este trabalho, é exigido aos museus locais um planeamento estruturado, feito de acordo com prioridades orçamentais e temáticas, que permita a concretização de um conjunto de actividades que vá ao encontro da dinamização cultural não formal das pessoas.

No caso concreto da Batalha, a equipa procura desenvolver actividades como visitas guiadas, tertúlias sobre assuntos da história local, concertos no museu, mostras com os produtos endógenos do concelho, visitas sensoriais, entre outras. As iniciativas têm em vista uma captação de públicos que, de forma comunicativa, rigorosa, eficaz e emotiva, que não descura a fidelização dos visitantes e participantes. Consciente de que este trabalho não pode ser desenvolvido apenas no interior do museu, a equipa procura também sair das portas do edifício, desenvolvendo iniciativas coerentes e integradas capazes de criar hábitos culturais. Por esta razão, as parcerias com as instituições e associa- ções locais é, e reforçamos, imprescindível aos museus que se querem activos, dinâmicos e representativos das suas comunidades. Tendo o Mosteiro de Santa Maria da Vitória tão próximo, a parceria com o monumento é fundamental. A promoção de iniciativas conjuntas são motivadoras de grande adesão por

parte do público. Evidencia-se, por exemplo, o interesse despoletado por um conjunto de visitas aos terraços do Mosteiro, orientadas por uma especialista nas funções hidráulicas e forma das gárgulas do Mosteiro4. Esta iniciativa ser-

ve para exemplificar a necessidade constante com que museus e autarquias se deparam na renovação da oferta. O orçamento é, naturalmente, fundamental, mas a criatividade e a compreensão dos públicos e das suas exigências deve também ser tomada em permanente consideração.

Considerações finais

Colecções, poder e memória mantiveram-se sempre unidos desde as primeiras manifestações humanas na reunião de objectos. Das primeiras colecções pú- blicas da antiguidade clássica até ao século XXI, o conceito do museu e do seu posicionamento foi mudando, dando uma grande viragem sobretudo a partir do século XX, como resultado das consequências causadas pelos poderes po- lítico, económico, social e cultural. A museologia encontrava, assim, um novo lugar na sociedade que se pragmatiza na sua responsabilidade de intervenção social, através de acções de comunicação e de educação.

Partindo do princípio da imutabilidade da cultura, os museus assentam em espaços privilegiados de demonstração e preservação de objectos e das actividades que lhes dão corpo, sendo centros vivos e dinâmicos e espaços de aprendizagens. Em Portugal, a sociomuseologia implementa-se em diversos projectos museológicos de comunidade que contam com a iniciativa das au- tarquias locais. Atentas à nova realidade, algumas universidades portuguesas investem na formação de profissionais e técnicos capazes de actuar nos museus e nas comunidades que estes representam em articulação com a gestão autár- quica e no cumprimento da legislação que tem em consideração as funções sociais do museu.

Enquanto espaços de mediação cultural, os museus apoiam, de forma qualitativa e estruturada, a promoção da entidade dos seus territórios, contri- buindo para o seu desenvolvimento económico. Ao investir em equipamentos museológicos, as autarquias procuram potenciar os seus territórios, oferecendo espaços capazes de atrair visitantes e turistas. Os autarcas têm, nas suas mãos,

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