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Exemplo de participação no mundo associativo

Inês João Sousa e Joana Gonçalves

5. Exemplo de participação no mundo associativo

Neste capítulo pretendemos apresentar o nosso testemunho pessoal de agentes associativos, uma vez que ambas integramos a constituição de uma associação cultural Artes Sem Fim, localizada na Batalha.

A ideia de criar a Artes Sem Fim surgiu de uma inquietude criativa e explora- da de um conjunto de pessoas que reúne interesses comuns na vertente cultural e artística e quiseram representar esse interesse publicamente. A ideia pretende, desde da gênese, encetar esforços em promover, criar e divulgar atividades cul- turais, empreender formação, debater ideias e promover culturalmente diversas vertentes artísticas. Neste projeto cultural estão envolvidas nove pessoas, com áreas distintas profissionais, que vão desde a arquitetura, às artes plásticas, ao design, turismo, engenharia, ensino, animação e outras.

A Associação Artelemniscata (denominação fiscal) foi constituída a 9 de julho de 2014, embora seja reconhecida como Artes Sem Fim e tem como ob- jetivo promover o desenvolvimento e a prática cultural, recreativa, desportiva e

social, junto da comunidade, contribuir para o melhoramento dos tempos livres dos seus associados e não associados, desenvolvendo várias iniciativas, como por exemplo: realização de conferências e palestras culturais, organização e manutenção de cursos de formação. Pretende também incentivar a divulgação sobre legislação social, bem como de conhecimentos essenciais em matéria cultural, orientar atividades com interesse educativo, bem como a organização de eventos, criação ou apoio à organização de grupos artísticos, dinamização de exposições, espetáculos de teatro e cinema.

Desde setembro do presente ano, esta Associação já dinamizou várias atividades em diversas áreas, entre as quais se destacam: um atelier de artes para crianças; uma exposição fotográfica “Olhares Sobre a Batalha” do Ruben Borges; vários Workshops nas áreas de “Bijutaria em Cortiça”, “Fotografia Di- gital – Iniciação” e “Escrita Criativa”; participação com stand promocional em eventos como o 2.º Aniversário do Gabinete de Apoio à Família e Comunidade da A.S.S.V. São Jorge, o V Congresso RIA | Feira de Animação e na Feira do Bandido, em Leiria.

A última atividade, que foi a que registou o maior nível de conquista e reali- zação de todo o grupo, foi a exposição “Contemplari”, que teve lugar no passado dia 7 de dezembro, junto ao Mosteiro de Santa Maria da Vitória e que consistiu numa instalação artística com cadeiras e a que se juntou um grupo de aguare- listas convidados que de forma espontânea explorou todas as possibilidades cromáticas, tendo como cenário principal o Mosteiro.

A continuada crise económica e social que estamos a atravessar, tem obri- gatoriamente consequências, agravando as dificuldades e obstáculos no cum- primento dos objetivos desta associação sem fins lucrativos e que vê nos in- vestimentos pessoais o seu “motor de arranque” para além do apoio de vários artistas que de forma voluntária colaboram na dinamização de vários projetos da Artes Sem Fim.

Em jeito de conclusão, a decisão de constituir esta associação vem afirmar a opinião de Pedro Santos e mostrar que, em tempos de crise, surgem vontades de contrariar as tendências depressivas e apáticas da sociedade, criar projetos que venham estimular o desenvolvimento local e gerar ferramentas de incremento cultural e formativo. A constituição desta associação veio confirmar que, tal como destaca Marcelino Lopes (Lopes, 2008) estas entidades surgem das necessidades, inquietações e vontades de realização dos seus fundadores/associados.

Como tentativa de promover junto de uma comunidade a mudança de mentalidades, sobre as diferentes expressões artísticas, considera-se que a Artes Sem Fim tem uma missão acrescida, na medida em que se verificam muitas resistências e até mesmo desconhecimento sobre a Arte, independentemente da sua génese, criando uma espécie de bloqueio e obstáculo na participação e integração da comunidade. Contudo, e tendo em conta as diferentes ações já realizadas por esta associação, acrescentando o forte empenho e apoio voluntá- rio de vários elementos, o caminho está a completar-se, lentamente, mas com determinação.

Reflexões finais

Percebemos que o 25 de abril de 1974 foi um marco revolucionário em muitos sentidos, também em grande parte para o Associativismo, pois a partir des- ta data poderemos considerar o forte impacto das associações em Portugal. Escreve-se uma nova história sobre a participação coletiva de indivíduos numa tentativa de solucionar questões culturais que os satisfizessem. Estes sujeitos partilhavam interesses idênticos sobre níveis de participação, distinguindo a recreação e o lazer comum por um “ócio” como escolha cultural meditada. Esta emancipação populacional através do movimento associativo teve impactos bastante consideráveis sobre a participação territorial em atividades/eventos culturais, conseguindo os mesmos uma participação acentuada por parte de outros simpatizantes, com o decorrer do tempo. Este ato voluntário por parte de muitos, esta dedicação implícita foi fulcral na mudança quer de pensamento, quer de atitude, e o lançamento para uma excelente política de desenvolvimen- to e confraternização de pessoas. Apesar de, ao longo do artigo, destacarmos a essencial relevância das associações em localidades mais pequenas, como as aldeias, sabe-se que o seu impacto em cidades também foi progressivo, no que respeita à descentralização das atividades e sobretudo o seu acesso. Até numa cidade existem carências económicas e restrições sociais que nem sempre dei- xam que a fruição cultural seja inteiramente alcançada.

Apresentou-se a criação e motivação da associação Artes Sem Fim, prova do exemplo de trabalho local, com representantes do território, que retrata a realidade da vontade de querer fazer, mudar e intervir numa vila, que apesar da preocupação cultural, entendemos que a componente artística não é suficiente, nem tão pouco chega a todos, de igual forma. A associação representa um mar-

co e um impulso artístico na vila da Batalha e é de facto o resultado alcançado quando vários sujeitos se unem sobre causas sociais e culturais necessárias sobre o seu território, pois se tais não fossem indispensáveis, não seriam igual- mente aceites.

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