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FRANÇA, Luís (1993) Portugal – valores europeus, identidade cultural Lisboa, IED.

Inês João Sousa e Joana Gonçalves

2 FRANÇA, Luís (1993) Portugal – valores europeus, identidade cultural Lisboa, IED.

crática e ao mesmo tempo para a expressão da sua cidadania. O associativismo dá um forte contributo para a consolidação e dinamização do território, e é um importante fator de transformação e inovação social. Garantindo a Consti- tuição da República Portuguesa o direito à livre associação de pessoas e grupos, nunca como no momento presente as associações e o seu papel fizeram tanto sentido. As Coletividades podem constituir-se como um verdadeiro motor de desenvolvimento, dada a capacidade enorme que detêm na construção de solidariedades, na execução de práticas de cidadania e na afirmação e defesa de uma comunidade.

A importância e o valor do associativismo decorre do facto de constituir uma criação e realização viva e independente, é uma expressão da acção social das populações nas mais variadas áreas (…) É uma escola de vida colectiva, de coope- ração, de solidariedade, de generosidade, de independência de humanismo e cidadania. (Pinho, 2007, p. 22)

O seu contributo é meritório a nível da promoção da participação cívica e da integração social, ou seja, do exercício da democracia e da cidadania, subs- tituindo-se frequentemente aos agentes formais com responsabilidades nestes domínios. O associativismo constitui uma das mais importantes componentes da nossa vida coletiva, em sociedade. O ser humano, enquanto animal social, precisa do outro para, em conjunto, conseguir níveis de realização que, de forma isolada, não poderia atingir. Deste modo, este movimento representa uma forma de or- ganização de cidadãos livres, que voluntariamente se mobilizam para responder a necessidades sentidas pela comunidade, e/ou para concretizar iniciativas de interesse comum. Para uma cidadania plena nestes novos tempos é imperioso promover a participação cívica dos portugueses nas instituições.

Reconhece-se no associativismo um exemplo de escola de cidadania parti- cipativa, onde é fundamental o papel da comunidade na difusão dos valores democráticos, através do seu envolvimento em atividades associativas.

Considera-se que estamos perante novos paradigmas e novas funções no associativismo, uma vez que de acordo com dados recentes da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto, existirão cerca de 30.000 coletividades/associações culturais, recreativas e desportivas que

contribuem, de modo decisivo, para a coesão e inclusão social com benefícios para as populações.

3.2. A Participação Voluntária dos Agentes Associativos e a sua Importância na Comunidade

Ao falarmos em Associativismo – pelo menos em Portugal – referimo-nos es- sencialmente a um conjunto de cidadãos, apaixonados pela terra, pelo gosto de sair do conforto e ter uma atitude (interventiva) no que concerne à sociedade: “gente com fome de alimento para a mente, com fome de cultura” (Fontes, Sousa

& Lopes, 2014, p. 11). Percebemos que localmente, em especial nas pequenas ter- ras/aldeias, os cidadãos se congregam através de associações e exercem funções interventivas junto da comunidade através da representação de uma coletividade. A questão que se realça é esta entrega inteiramente voluntária, de indivíduos que

abdicam do seu tempo pessoal, em prol da integração de outros sujeitos com a comunidade, e essencialmente em prol da defesa cultural, em troca de (quase) nada, apenas o facto da execução e do usufruto cultural. Usualmente como forma de praticar este ritual os agentes agregam-se, oferecendo à comunidade atividades culturais, ensaios/workshops/formações, numa tentativa de - eles pró- prios – colmatarem falhas intrínsecas que (pensam que) sucedem pelos agentes municipais ou institucionais locais. Oferecem experiências (Ventosa, 2009).

Esta atitude voluntária pretende atingir um benefício maior do que a satis- fação pessoal, mas uma mudança coletiva, pois como refere Trilla (Trilla, 2004, p. 282) voluntariado é o “conjunto de atitudes ou disposições pessoais quer uma forma organizada de presença e acção social”. Ser voluntário é ter voz na participação social comum. Ser voluntário enquanto agente associativo local é ser, não apenas um despoletador de mudança, mas ser um agente interventivo predisposto a agir culturalmente.

A vantagem de serem (normalmente) compostos por pessoas do lugar pode facilitar o entendimento das necessidades territoriais. Esta aproximação à po- pulação acaba por reconhecer estes agentes como comunicadores, que fomen- tam a sociabilização, o trabalho autónomo (em grupo) e a consideração pelos valores da sociedade. Características muito semelhantes às de um animador, reconhecendo-se ainda, que cada indivíduo pode ser um “facilitador da partici- pación” (Ventosa, 2009, p. 43). Por vezes – sem se aperceberem – estão a “educar para la participación y educar en valores” (Ventosa, 2009, p. 31) através de uma

educação não-formal. Quando organizam atividades como forma de atingir competências no próprio tempo livre de cada um, objetivam uma “intencio- nalidad pedagógica” (Ventosa, 2009, p. 41), deixando de lado o entretenimento pelo entretenimento. Fazem muito mais do que isso.

Quem são estas pessoas? São profissionais da Cultura? São habituantes locais? Essencialmente as duas: são pessoas que deixam o seu sofá, e com ou sem formação, pretendem abraçar novos projetos e desafios. Não é necessário, obviamente, ter algum tipo de experiência profissional ou conhecimento teóri- co sobre a questão em si, é acima de tudo imprescindível possuir uma vontade imensa de trabalhar. Estamos a falar de “personas que realizan acciones que consideran formas de animación” (Ander- Egg, 2008, p. 6), que nasceram através destas uniões para trazer soluções e dinamizar o tecido social. São chamados de “nuevos actores sociales” (Ander-Egg, 2008, p. 9). “Animar es dar a vida; el animador es incitador de vida” (Ander-Egg, 2008, p. 19) e a verdade é que somente o que tem vida pode sofrer este processo, ao considerar que estes indivíduos estavam a ser animadores, antes mesmo de se falar em animação como “prática conceptualizada” (Trilla, 2004, p. 281). O animador pretende ensinar a participar (Fontes, Sousa & Lopes, 2014) propiciando uma atitude transformadora, e é esta postura que os agentes associativos assumem.

Considerando que, maioritariamente, as associações criadas não emergem de grandes fundos económicos, se não apenas das suas atividades e iniciati- vas, relembremos a importância da estratégia, sobre a finalidade associativa. Quando consideramos o espaço, os recursos existentes, as pessoas envolvidas, percebemos a sua preocupação social quando disponibilizam do seu tempo, para criar algo, para dar algo às pessoas, algo mais. Quando existe uma preocu- pação voltada acima de tudo para a presença das pessoas em espaços culturais, e quando essa preocupação se congrega com adequação da programação, seja através de faixa etária, seja através da comunicação, apenas poderá resultar numa boa intervenção.

Muitos foram os que em tempos idos, através das associações, pretendiam buscar a sua identidade, muito pelas necessidades que eles próprios revelavam: falta de convívio social, necessidade de algo nas suas vidas – para além do esforço laboral – como forma cultural de usufruir do seu tempo livre. Foram estas carências que reuniram pessoas, que se juntaram em associações, muda- ram e intervieram em várias comunidades locais pelo país fora. Muitas destas

associações tornaram possíveis atividades e convívios inalcançáveis para alguns em décadas anteriores, recordemos a enormíssima importância das associa- ções pós-25 de abril de 1974, já aqui mencionada. Associações que deram voz a várias pessoas através de linguagens artísticas como o teatro, a música, ou até com grupos de folclore, desporto, entre outros. Foi então o associativismo que facilitou e uniformizou o acesso de participação cultural. Que tamanha rele- vância tiveram estas associações sobre as comunidades, envolveram e criaram relações com as pessoas, estimularam desafios e mantiveram-se no ativo até hoje. Manifestaram

(…) la idea de promover la participación de la gente es quizás la más importante, ligada a la dinamización el tejido social, de infundir vida en los grupos que promueve (Ander-Egg, 2008, p. 7).

Este tempo livre de ócio, como Marcelino (Marcelino, 2008) refere, é o tempo de recreação/lazer que advém após as várias obrigações da nossa vida, e que considera “a vivência de situações e experiencias agradáveis, querida e, por conseguinte, livremente escolhida” (Trilla, 2004, p. 335). Numa pers- petiva social em que a participação feminina é muito inferior à dos homens (Marcelino, 2008), em especial pelas tarefas domésticas, o ócio é entendido como uma opção, e não como um divertimento. Quem se predispõe a esta participação ativa cultural e social, questiona valores e o processo de transmissão que vigora na sociedade. Assume-se o ócio como um processo emancipatório, revelando-se enquanto momento de liberdade, satisfação numa perspetiva de gratuitidade (Cuenca, 2014). E esta atitude crítica é fomentada através de um “desenvolvimento pessoal e social” (Marcelino, 2008, p. 6) através das diversas atividades acrescentadas. Desta forma ao democratizar e homogeneizar o acesso cultural a distintos entendimentos e processos artísticos – ainda que maioritariamente aconteça nas aldeias e/ou em meio rural – não nos podemos esquecer que este espaço cultural passou também ele a ser um espaço de consumo (Marcelino, 2008), sobre o qual todos os dias é exigido mais e mais. Se considerarmos um prazer individual sobre esta participação associativa deveremos ter em atenção que todos, sem exceção, têm o direito de acesso e usufruir desse mesmo tempo (Trilla,

2004). Tal como os agentes associativos pretendem programar atividades/ manifestações de cariz cultural nesse tempo livre, também a “animação so- ciocultural sempre se preocupou com o emprego correto do ócio e, tradicio- nalmente, manteve um diálogo enriquecedor com a pedagogia dos tempos livres” (Trilla, 2004, p. 335).

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