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Este Manual serve de referência à intervenção por parte dos profissionais do Sector de Assessoria Técnica aos Tribunais (SATT), do Núcleo de Infância e Juventude (NIJ) do Instituto da Segurança Social Através das

No documento Intervenção Cultural e Educação Artística (páginas 159-163)

Joana Vieira

3 Este Manual serve de referência à intervenção por parte dos profissionais do Sector de Assessoria Técnica aos Tribunais (SATT), do Núcleo de Infância e Juventude (NIJ) do Instituto da Segurança Social Através das

funções profissionais que tive oportunidade de exercer no referido Sector, obtive os conhecimentos descritos no presente texto.

te abandono familiar ou falecimento da figura que prestava os cuidados, não havendo outra capaz de a substituir, assegurando a prossecução desses cuidados; incapacidade para a imposição de regras e limites ao menor, comprometendo a sua segurança e bem-estar; carências ou privação alimentar; insuficiência ou falta de hábitos de higiene; inadequação do vestuário face às estações do ano; absentismo escolar; falta de vigilância nos cuidados de saúde, como por exem- plo incumprimento da vacinação; consumo de substâncias ilícitas por parte do menor ou da (s) figura (s) de referência; delinquência por parte do menor ou da (s) figura (s) de referência; qualquer forma de abuso físico, sexual ou psicológico contra o menor por parte de algum elemento do agregado familiar.

Posteriormente, é avaliada a existência e o grau de risco ou de perigo da criança e jovem, podendo vir a ser aberto um Processo de Promoção e Pro- tecção por parte do Tribunal Judicial da área de residência ou, se o caso for de índole criminal por parte do menor, ocorre abertura de Processo Tutelar Edu- cativo, se a sua idade for compreendida entre os 12 e os 16 anos de idade 4, ou de

Processo Crime se o jovem tiver mais de 16 anos.

Os respectivos processos passam a ser acompanhados pelas entidades com- petentes, sendo que, mediante a perpetuação da incapacidade da família nucle- ar ou alargada de cuidar e fazer face às necessidades dos menores devidamente, não existindo outro elemento de referência que se afigure como alternativa aos familiares, é aplicada a medida de “Acolhimento em Instituição” por parte do Tribunal Judicial e os menores são integrados em Instituições de Acolhimento, caso o Processo seja de Promoção e Protecção, ou em Centros Educativos, se o Processo for Tutelar Educativo ou Crime. Neste último caso, não depende das condições e competências familiares, isto é, o jovem é institucionalizado devido ao teor do seu procedimento criminal e não devido à ausência de prestação de cuidados por parte do seu agregado familiar.

Atendendo ao exposto, é de acrescentar que a institucionalização de crian- ças e jovens é sempre uma medida de último recurso, dado que crescer numa instituição nunca é como crescer em casa, se esta se constituir como um meio estruturado e facilitador, especialmente para as crianças e jovens que são trans- feridos e passam por diversas instituições. Alguns puderam ainda ter estado integrados em diversas famílias de acolhimento ou adoptivas, vivenciando uma sucessão de rupturas, que não contribuem de modo algum para o seu superior interesse, bem-estar e desenvolvimento harmonioso. Assim, de acordo com

4 Mais informações disponíveis em: http://www.dgrs.mj.pt/c/portal/layout?p_l_

Dias (1990), as crianças e jovens nas situações referenciadas deparam-se com a ausência de um modelo de identificação e de referência, bem como com a ausência de afectividade, atenção e relação, aspectos estes que podem, conse- quentemente, originar perturbações comportamentais, bem como sensações de rejeição, abandono e instabilidade.

Comportamentos Disruptivos na Infância e Juventude

Os comportamentos disruptivos podem assumir diversas formas, podendo manifestar-se através de desordens ou problemas comportamentais, os quais, na perspectiva de Hill e Maughan (2001), podem advir de adversidades a nível do relacionamento interpessoal e de distúrbios mentais, pelo que se definem social e individualmente.

Neste sentido, os comportamentos disruptivos são considerados proble- mas sociais, uma vez que abrangem situações de violação das normas sociais, verificando-se em determinadas acções, tais como a oposição e desafio, a insta- bilidade, a agressão e conflito físico-psicológico, a mentira e o roubo.

De acordo com Hill e Maughan (2001), os factores que estão na origem deste tipo de comportamentos são, essencialmente, genéticos, ambientais e familiares, psicológicos e neuropsicológicos, sociais e de interacção. Seguidamente serão explicitados alguns dos aspectos inerentes a cada um dos factores referenciados:

• Factores Genéticos: Relacionam-se com complicações no nas- cimento, que ocorrem especialmente devido à insuficiência de cuidados pré-natais, assim como ao consumo de álcool, droga e tabaco durante a gravidez.

• Factores Ambientais e Familiares: Têm a ver com as influências do meio e do agregado familiar onde a criança ou jovem está inserido, podendo incluir rejeição e negligência parental, bem como insuficiência de condições económicas.

• Factores Psicológicos e Neuropsicológicos: Abrangem riscos de desordem psiquiátrica, podendo ser potenciados com a ausência de encaminhamento ou acompanhamento especializado. • Factores Sociais e de Interacção: Centram-se nas dificuldades

No que concerne ao perfil e principais características das crianças e jovens com comportamentos disruptivos associados, refere-se que, recorrendo à opinião de Hinde (2001), as crianças e jovens em apreço têm normalmente relacionamentos conturbados com o Outro; reduzidos níveis de auto-estima; dificuldades na identificação e na criação de empatia pelo Outro, sendo fre- quente o sentimento de desprezo; recurso a comportamentos deliberados de agressividade face ao Outro, podendo ter como pontos de referência sentimen- tos de receio, inveja, frustração e raiva.

Para além do enunciado, é de referir que as desordens comportamentais po- dem assumir proporções bastante elevadas, quando associadas à delinquência ou à prática criminal.

Por um lado, a Delinquência consiste essencialmente na infracção de nor- mas e valores instituídos pela sociedade envolvente, tratando-se de um com- portamento desviado dos costumes e padrões sociais que regulam as condutas da sociedade (Dias, 1990). Neste sentido, Dias (1990) afirma que “Frequente- mente o risco de passagem para a delinquência pode surgir na adolescência. Apesar de não ser um fenómeno específico da puberdade, é nesta fase ou na pré-puberdade que se manifesta e se ressente eventualmente uma educação falhada desde os primeiros tempos de vida” (pp. 136-137).

De modo a evitar a perpetração de comportamentos disruptivos por parte das crianças e jovens, verifica-se a necessidade emergente das figuras parentais imporem regras e estabelecerem limites desde os primórdios do desenvolvi- mento das suas crianças, pois assim estarão a assegurar que os menores cres- çam num ambiente seguro e tenham noção do certo e do errado. No entanto, essa imposição não deverá ser executada em excesso, pois, desse modo, pode- rá vir a ter resultados contraproducentes. Tal como foi referido anteriormente, quer a falta de supervisão parental, quer a incapacidade de resposta por parte dos progenitores face aos comportamentos desviantes das crianças e jovens, são elementos condutores à instauração da medida de Promoção e Protecção de “Acolhimento em Instituição” que, por sua vez, implica repercussões ne- fastas na vida de um menor, como também já foi anteriormente enfatizado.

De acrescentar que, de acordo com dados precedentes, os grupos consti- tuem uma referência e um modelo de identificação individual para as crianças e jovens, que por eles têm um forte sentimento de pertença, associando-o à coesão e à protecção que procuram para a sua existência. Neste sentido, segun-

do Muchielli5 (1990), “os bandos compensam as carências do meio familiar

e a dureza da miséria, e representam uma força e um poder que satisfazem a sua necessidade de segurança e de afirmação” (p. 141). Muitas vezes, os jovens deparam-se com a sua entrada em gangues, aos quais sempre quiseram perten- cer desde crianças, pois para eles é lá que podem encontrar a família que nunca tiveram, podendo, enfim, sentir-se seguros, ter acesso a bens e à distinção social, ao contrário das ofertas e representação da família com laços de sangue.

De um modo geral, esses grupos encontram-se associados ao Crime, o qual consiste, segundo Dias (1990), numa “acção anti-social, não legalizada e con- denada pela opinião pública” (p.132).

Quando os jovens que cometem prática criminal têm idades compreen- didas entre os 12 e os 16 anos, são julgados através da Lei Tutelar Educativa6,

podendo sofrer sanções que vão desde a aplicação de trabalhos em favor da comunidade até ao internamento em Centros Educativos, em regime aberto, semiaberto ou fechado, com durabilidade de alguns meses ou de apenas alguns fins-de-semana. As medidas aplicadas com base em Processos Tutelares Edu- cativos cessam obrigatoriamente quando o jovem atinge os 21 anos de idade, à semelhança do que ocorre nos Processos de Promoção e Protecção que podem ser abertos até aos 18 anos, mas durar, com a conivência do jovem, até aos 21.

De acordo com os registos das autoridades policiais relativamente às ocor- rências que envolvem crianças e jovens menores de 16 anos de idade, entre 1993 e 2011, divulgados por Carvalho (2013)7, “a delinquência registada é um

fenómeno juvenil, praticado essencialmente em contexto urbano/suburbano, com forte representação do género masculino, mais em grupo, que se reveste de carácter fundamentalmente patrimonial” (p. 7).

Para além disso, pode acrescentar-se a asserção de Dias (1990), centrada no facto de que a maioria dos delinquentes que passam pelo sistema judicial são provenientes de meios socialmente desfavorecidos, o que pode dever-se, na sua opinião, à existência de maior incidência na vigilância policial face a esses indi- víduos, bem como à vulnerabilidade que lhes está associada pela insuficiência de meios para se defenderem da Justiça.

5 Roger Muchielli, citado em Dias, I. (1990). Factores Psicossociais da Delinquência – Estudo

No documento Intervenção Cultural e Educação Artística (páginas 159-163)

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