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APRENDIZAGENS, TRANSFORMANDO O ESPAÇO ESCOLAR E A PRÁTICA PEDAGÓGICA

ATIVIDADE OBJETIVOS DA ATIVIDADE

PESQUISA SONORA: A atividade iniciou com

uma música suave. Quando a música terminou, todas permaneceram de olhos fechados procurando ouvir o máximo de sons possíveis no ambiente que estavam ocupando ou mesmo fora dele. Depois, as participantes relataram às demais os sons que ouviram.

Vivenciando essa atividade, os participantes deveriam ser capazes de:

• Identificar diferentes fontes sonoras;

• Discriminar os sons ouvidos quanto à agradabilidade, quanto às diferenças de timbres; • Relatar aos demais participantes os sons ouvidos.

Quadro 4.8 – Atividade desenvolvida com as professoras em 25/02/2002

Posteriormente aos momentos de silêncio, necessários à atividade, cada professora relatou o que pôde ouvir durante o tempo em que permaneceram em silêncio (máquinas trabalhando, vozes, burburinho) e na seqüência discutimos sobre a atividade e sua possível aplicação com os alunos: que objetivos seriam buscados pelas professoras ao aplicarem uma atividade como essa em sala de aula. As professoras, nesse primeiro momento do diálogo, não aprofundaram a questão, restringindo-se a afirmar que a atividade poderia ser desenvolvida com os alunos no pátio interno como atividade de relaxamento, ao que propus que se realizassem quantas adaptações fossem necessárias para desenvolver as atividades dentro ou fora da sala de aula, adequando-se os procedimentos aos objetivos previstos. Elsa comentou sua apreciação em relação à atividade afirmando que, se não a houvesse vivenciado naquele dia, a teria solicitado, pois realmente estava precisando desenvolver com seus alunos tanto a atenção quanto o relaxamento, o que foi um depoimento importante no sentido de mostrar o quanto a música já se fazia necessária no espaço escolar, apesar do curto espaço de tempo em que ali estávamos atuando.

Nessa primeira reunião, não foi possível realizar todas as atividades programadas devido ao tempo esgotado. Havíamos planejado trabalhar algumas atividades de experimentação vocal e expressão corporal a partir da canção Samba-lê-lê, o que foi transferido para a reunião posterior. No entanto, Elsa e Inês acharam a idéia de desenvolver atividades com essa canção tão interessante que se propuseram a já começar a trabalhar com as crianças durante a semana ao menos a sua letra. Diante da proposta, ouvimos a canção e as professoras copiaram a letra. Ao fazerem-no, Inês observou que, no mesmo CD em que constava a canção Samba-lê-lê, havia outras pequenas canções das quais interessou uma cujo tema era sobre “peixes”. Ela sugeriu que trabalhássemos mais canções com temas de animais, pois ia ao encontro do projeto que estava desenvolvendo com seus alunos.

Diante da concordância de Elsa, comprometemo-nos a direcionar as canções para o tema sugerido.

Na 2a reunião (04/03/02), tivemos novamente a participação das professoras Elsa, Inês, e contamos também com a presença de Rose, a diretora. Foi a primeira reunião em que utilizamos como instrumento de registro um pequeno gravador, o que auxiliou no resgate dos diálogos ocorridos durante ela. Iniciamos a reunião com uma nova atividade de pesquisa sonora (Quadro 4.9).

ATIVIDADE OBJETIVOS DA ATIVIDADE

PESQUISA SONORA 2: Durante alguns minutos, as participantes permaneceram em silêncio procurando ouvir o máximo de sons ao redor. Em seguida, escreveram todos os sons que ouviram numa folha de papel e relataram oralmente às demais, diferenciando os sons quanto à agradabilidade ou não, quanto à localização (dentro ou fora da sala de aula, perto ou longe), quanto à intensidade. Foi solicitado então que representassem alguns desses sons por meio de desenhos, o que poderia ser feito com lápis de côr, giz de cêra ou outros materiais (tinta, cola...) Depois, cada participante apresentou às colegas a representação do som escolhido e imitou-o.

Vivenciando essa atividade, os participantes deveriam ser capazes de:

• Identificar diferentes fontes sonoras;

• Discriminar os sons quanto à agradabilidade, localização e intensidade;

• Representar graficamente um som ouvido durante a atividade;

• Apresentar aos demais participantes sua maneira de representar o som graficamente e imitar o som escolhido.

Quadro 4.9 – Atividade desenvolvida com as professoras em 04/03/2002

Encerrado o tempo destinado à escuta dos sons, as professoras relataram tudo o que haviam ouvido (carros, vozes, ventilador, revistas cujas folhas eram agitadas pelo ventilador) e, dando continuidade, cada participante escolheu um dos sons de sua lista e o representou por meio de desenho. As professoras tiveram um pouco de dificuldade para expressar, no papel, os sons que haviam ouvido. Iniciei então a atividade, o que parece ter tornado mais fácil para as demais participantes realizarem o que fora solicitado. Havia muita dúvida sobre o que era “certo” e “errado”:

Inês – Eu imaginei o ventilador, eu imaginei ele virando em volta...

Elsa – Eu também imaginei isso... eu não tinha entendido se era isso mesmo... (...)

Inês – E eu, por exemplo, não vou poder dizer para a criança que está errado o que ela fez porque é o dela, né? Então, por exemplo, eu falo, eu entendi o que você falou mas eu senti uma dificuldade tremenda...

A dificuldade expressa pelas professoras permitiu discutirmos um pouco a necessidade de aceitação pelo outro, o receio de realizar algo que não seja correto aos olhos

do outro. Dialogamos sobre o objetivo da atividade proposta no sentido de permitir não apenas a sensibilização do ouvido, da atenção, da expressão escrita de uma forma lúdica, mas também a quebra da dicotomia entre o “certo” e “errado” que tanto permeia o cotidiano escolar. Nesse início da segunda etapa, foi possível observar uma certa cautela por parte das professoras em expressar opiniões a respeito do cotidiano escolar em geral. Participar das atividades práticas em nenhum momento representou uma dificuldade, mas falar sobre a própria atuação docente, sobre a dinâmica do dia-a-dia da escola, sobre as peculiaridades de cada sala de aula foi algo que necessitou de um tempo maior para se desenvolver.

Ainda na 2a reunião, tivemos oportunidade de iniciar a leitura de um texto que abordava sobre a música e a escola22 e também conversamos sobre a realização de atividades musicais com os alunos. Sobre a aplicação de atividades musicais em sala de aula, as professoras afirmaram não terem tido grandes dificuldades:

Inês – Eu achei que foi legal, todos participaram, aceitaram...não tive nenhuma dificuldade... Keila – Você fez a atividade com eles sentados na carteira?

Inês – Na carteira, sentadinhos em sala de aula mesmo...Falei da necessidade de eles falarem baixinho, né...

Elsa –Eles falam gritando, eles falam muito alto, né? Eu acho que nem eles mesmos percebem...

O diálogo permite inferirmos sobre uma dificuldade das professoras não expressa com palavras: sair do ambiente da sala de aula ou mesmo da carteira para realizar alguma atividade de expressão corporal parecia ser um problema. Possibilita também verificarmos que as atividades musicais foram bem aceitas pelas crianças logo de início. A afirmação de Elsa nos deu pistas do que realmente representava um incômodo para ela: o barulho excessivo e desnecessário em sala de aula.

Nos momentos seguintes as professoras contaram como havia sido o desenvolvimento de atividades musicais com os alunos durante a semana transcorrida: quais as reações das crianças, quais as contribuições para a dinâmica da sala de aula, quais as expectativas das professoras frente aos acontecimentos:

Inês – Eu acho que a atenção....

Keila – E na sua classe Elsa, como foi, você teve dificuldade?

Elsa - ... Aí eu fiz ( referindo-se a uma atividade realizada com os alunos), eles gostaram, ficaram quietinhos...a carinha deles me marcou, sabe? Parecia que eles estavam flutuando, sabe? Não tinha um barulho...Não tinha um barulho, Rose!

22

JOLY, I.Z.L. Movimento, Ritmo e Dança – uma proposta para educação musical integrada. São Carlos: UFSCar, 2000.

Keila – E agora? Você sente que teve alguma mudança?

Elsa – Você sabe que deu uma melhorada de quinta para cá? ...Na sexta eu achei que eu já consegui falar melhor, hoje também...

Novamente verificamos o quanto a atenção é importante no cotidiano da sala de aula por meio do depoimento da professora Inês e como uma simples atividade musical foi capaz de conseguir isso. Já a professora Elsa revela surpresa ao observar seus próprios alunos realizando a atividade em silêncio e, mais do que isso, demonstrando tamanha alegria que não queriam que a música que estavam ouvindo terminasse. Em tão pouco tempo de aplicação de atividades com os alunos, elas já deram mostras de que a música é bem vinda à sala de aula, assim como também as professoras deram mostras de que a oficina estava lhes possibilitando novas aprendizagens e habilidades em termos musicais. O medo de lidar com o “desconhecido” já estava cedendo perante a euforia dos alunos.

Após esses momentos de reflexão sobre a reação dos alunos diante das propostas de atividades musicais, ainda cantamos e improvisamos uma pequena dança com a canção Samba-lê-lê ( Quadro 4.10).

Após a atividade, ainda discutimos sobre o quanto esta poderia contribuir para o desenvolvimento da coordenação motora, da interação entre o grupo – na medida em que era necessário observar o outro para realizar os movimentos sincronizadamente – da participação de crianças mais tímidas, da experimentação da voz, da capacidade de improvisação. A cada reunião, as reflexões em torno da importância de ampliar a formação da criança e adequar a prática pedagógica e o ambiente escolar para essa formação foram se intensificando, e as professoras demonstrando maior segurança ao expressarem opiniões a esse respeito.

Na 3a reunião (11/03/02), tivemos a presença de uma nova participante, Cristiane, encarregada de uma 3a série, que iniciou sua participação na oficina logo após ingressar na escola como professora contratada.