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4.1 ESTUDO DE CASO 1 OA

4.1.4 Atores sociais e financiadores OA

Para que a formalização e ampliação das práticas acontecesse e para que o programa continue cumprindo ao que se propõe, no sentido de acolher crianças e jovens que, de fato, encontrem-se em situação de vulnerabilidade social, existem pessoas ligadas a organização, interna e externamente. Tratam-se dos atores sociais que desempenham funções e são os responsáveis pela continuidade das práticas. Neste sentido, a partir das entrevistas, foi possível identificar que, para os envolvidos, o principal ator, responsável pelo início do projeto e pelos demais apoios recebidos, é o fundador da empresa. Além dele, outros membros da alta gestão foram vinculados ao desenvolvimento das práticas.

O grande diferencial foi o Presidente das empresas, partir dele a ideia de ter um programa que atendesse criança e adolescente. Uma outra grande oportunidade foi ter alguém na área de RH sensível para a causa (E2 – JP, OA, ago./2017).

Os entrevistados também fazem referência à psicóloga organizacional e a assistente social que eram, na época, alocadas no setor de Recursos Humanos, mas que voltaram suas

atividades para a composição da equipe, elaboração e defesa do projeto para a direção e, posteriormente, na coordenação inicial das atividades. Estes profissionais foram apoiados por outros contratados em regime de terceirização, que, por sua vez, possuíam o conhecimento necessário para o desenvolvimento de uma metodologia educacional e da estratégia de OCIP.

No começo foi a gestão que deu o apoio, quis fazer, principalmente a figura do nosso fundador. A gente teve as duas pedagogas que colaboraram com as pesquisas, teve uma psicóloga que trabalhava aqui, ela se envolveu bastante com a metodologia, a gerente de RH e a assistente social, que hoje trabalha no instituto, se envolveram muito na organização, onde vai ser localizado, qual é a dimensão desse programa (E1 – MR, OA, ago./2017).

Com o projeto em andamento, foram contratados os profissionais que compõe o quadro funcional do instituto, pedagogas, instrutores e educadores(as) sociais. Além do estabelecimento de parcerias externas que contribuem para a prática. Estas parcerias externas são firmadas com as escolas localizadas nas proximidades da OA, setores governamentais, como a Secretaria Municipal de Educação (SMED), Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (SMEL) e a Fundação de Assistência Social (FAS), instituições como o Serviço Social da Indústria (SESI) e, também, apoio dos fornecedores que demonstraram interesse em contribuir com o programa.

A SMED, as escolas e a FAS auxiliam no direcionamento dos participantes que se enquadram no perfil de atendimento do programa. A SMEL e o SESI oferecem profissionais e ferramentas para incrementar as atividades existentes, tais como informática, inglês e esportes. Os Fornecedores de alimento e transporte, por sua vez, oferecem descontos para que os beneficiados possam realizar suas refeições no programa e tenham facilidade em vir da escola para o programa e do programa para casa. Nesse sentido, a Figura 16 apresenta o conjunto de atores envolvidos.

Figura 16 - Atores sociais - OA

Além dos atores sociais que viabilizam a operação das atividades do programa através da prática, também devem ser consideradas as fontes de financiamento das atividades, uma vez que também os financiadores, que contribuem para a manutenção do programa, são considerados atores. Dentre as fontes de financiamento internas estão as verbas destinadas ao instituto pelas empresas do grupo da OA e as doações de funcionários que desejam contribuir financeiramente com o programa. Inicialmente, o instituto contava apenas com estas receitas, das empresas e de valores doados por 100% dos funcionários. Entretanto, com a criação do instituto, foi possível a captação de recursos públicos através de editais e leis de incentivo a cultura. Isso permitiu a ampliação das atividades e do número de atendimentos.

Fizemos uma campanha entre os funcionários, de setor 100% PSCA e convidamos os funcionários desde o nascimento do programa a contribuir com 2 a 10 reais para manter o programa. Chegamos a ter 100% de todas as empresas contribuindo com o PSCA (E2 – JP, OA, ago./2017).

Nos primeiros anos, até a criação do instituto, era mantido com dinheiro do caixa das empresas, não tinha nenhum tipo de recurso externo [...] Quando a gente fazia o planejamento matricial o PSCA era ligado à minha área no RH e a gente tinha no planejamento matricial da empresa tinha o valor para manter o PSCA em um ano e todas as empresas davam uma dotação, a partir das despesas com folha, transporte, alimentação... tudo o que tinha e a gente rateava esse custo pelas empresas (E2 – JP, OA, ago./2017).

Com relação ao uso de editais, os entrevistados confirmam que, com a criação do instituto como uma OCIP, a doação oferecida pelas empresas e a participação em editais e leis de fomento foi favorecida.

A gente manda projetos para ajudar a pagar o transporte, uma parte da alimentação. Mandamos o projeto para o Conselho da Criança e do Adolescente, por exemplo, que é do Imposto de Renda, que tem um fundo lá da criança e do adolescente. O conselho avalia os projetos e distribui o valor. O CDCA, por exemplo, é o Conselho da Criança e do Adolescente Estadual, aí é via ICMS que eles usam, aí tem um fundo deles que envia para o conselho deles. Este ano conseguimos a aprovação de um projeto. Dentro dos projetos de música, a gente apoia o projeto de música, por exemplo, e na contrapartida eles dão alguma aula para os alunos que precisam aprender música. São parcerias... (E1 – MR, OA, ago./2017).

Uma outra oportunidade que eu acho é conseguir, através de legislação, captar recurso público. Desde que o instituto foi criado nós começamos a entender mais dessas legislações que dá para utilizar para acessar recurso público e agente também vem mantendo uma boa parte do trabalho agora, por exemplo, esse programa de segurança no trânsito, uma grande parte do recurso a gente consegue via projetos de leis de incentivo; incentivo à cultura; na área da criança e do adolescente também tem recursos do conselho municipal da criança e do adolescente; no conselho municipal de assistência social; também tem uma outra fonte de recurso que é a lei da solidariedade que é estadual... então a gente vêm acessando esses recursos de lei de incentivo, desde a criação do instituto (E2 – JP, OA, ago./2017).

faz os projetos... e a gente tem uma captação de recursos que eu acho que é muito pequena frente ao nosso gasto, mas existe [...] as atividades de música também são em parceria, buscamos recursos via Lei Rouanet [...] Quando olhamos o todo, a gente sabe que o dinheiro vem dos editais, mas a gente sabe que o valor é pouco (E3 – Cr, OA, out./2017).

As entrevistadas também afirmam que, sem esse apoio do governo, através das verbas oriundas dos editais e das leis de fomento, o programa ainda seria realizado, entretanto provavelmente não teria crescido e a quantidade de atividades oferecidas não teria aumentado. Portanto, a coordenadora do programa procura sempre destacar a importância de continuar investindo nestes projetos e captando recursos:

Nos preparos para as reuniões eu mostro para a presidente que a gente só fez tal coisa, porque conseguiu tal coisa. Tu tens que mostrar... é uma trabalheira, por exemplo, ter um projeto com a FAS, eles vêm fazer supervisão, tu tens que ter as listas todas alinhadas... eles fiscalizam porque eles e o CONDICA também, põem dinheiro. É só 100 mil que eu sei que não faz muita coisa, mas eu preciso ir buscar para que a empresa veja que a gente também está fazendo a nossa parte. Tudo por edital (E3 – Cr, OA, out./2018).

A própria obtenção de recursos financeiros para os processos internos da OA é favorecida através da comprovação da realização e do investimento em práticas sociais.

[...] o espaço físico teve uma ampliação, foi um recurso que a empresa recebeu em uma linha de financiamento, mas era a contrapartida, só sairia o recurso de financiamento se eles fossem investir no social, então foi feita a ampliação de uma das casas. Na sede, houve o desejo de fazer um espaço e para isso se faz um projeto via lei de solidariedade (E3 – Cr, OA, out./2018).

Há, ainda, uma verba oriunda das franquias sociais. Cada franqueado paga ao instituto um valor para manutenção das ferramentas e da consultoria oferecida pelo instituto para a promoção das suas atividades sociais. Conforme afirmam os profissionais, não é uma verba que configure qualquer lucro para o programa, mas sim para suprir os custos de deslocamento, ferramentas e capacitações que lhes são oferecidas a eles pelo instituto. As fontes de financiamento do instituto estão indicadas na Figura 17.

Figura 17 - Fontes de financiamento - OA

Observa-se pelo relato que constituir o instituto como uma OCIP é uma via de mão dupla em termos de benefícios financeiros, pois a OA e todas as empresas que compõem seu grupo podem fazer as doações ao instituto e comprovar em seu relatório que estão contribuindo para uma causa social. Ao mesmo tempo, têm a possibilidade de apoiar os projetos inscritos a partir das leis de fomento e abater o valor total ou parte do valor investido dos impostos devidos, relativos a Lei em questão. Isso favorece o alcance dos resultados constituídos por ganhos primários e secundários, como veremos a seguir.

É possível afirmar que o fundador da OA exerceu inicialmente a função de Empreendedor Social, angariando posteriormente o apoio dos demais diretores e na etapa seguinte, dos demais atores envolvidos. Esta afirmação é embasada na alegação de Harayama e Nitta (2011) e Shintani (2011), de que dentre as características de um empreendedor social, está a busca por melhorias sociais reais à comunidade. Contudo a entrega aos investidores ocorre através de ganhos sociais – considerando os interesses do governo e instituições; e, incentivos fiscais e retorno de mídia – considerando os interesses das empresas privadas. Ao contrário do que propõem Andrew e Klein (2010), neste caso, o governo não desempenha diretamente o papel de integrador entre os setores, mas sim o papel de agenciador financeiro, propondo benefícios em troca de destino de verbas, mantendo financeiramente boa parte das custas dos projetos, seja destinando valores a partir de editais ou isentando percentuais de imposto.