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2.2 INOVAÇÃO

2.2.2 Inovação social

2.2.2.2 Definições de inovação social

Dentre as primeiras definições de inovação social, está a de Taylor (1970), que considera tratar-se de uma busca por respostas às necessidades sociais, introduzindo invenções sociais, ou seja, novas formas de fazer as coisas, uma nova organização social com o objetivo de atender às demandas sociais. Com base em seus trabalhos de pesquisa interdisciplinares, o autor questionava-se sobre o uso de pesquisas na comunidade, sobre a implementação e consolidação da mudança e como adequá-la às particularidades da cooperação interdisciplinar. Segundo este autor, uma inovação de produto não necessariamente exigirá, dos envolvidos, alterações no estilo de vida, bastaria substituir o antigo produto pelo novo e seguir suas vidas, porém, mudanças sociais não são introduzidas tão facilmente. A pesquisa social altera a forma de atuação da e na sociedade, substituindo ações improvisadas por novas formas de agir e intervir neste contexto. Para tanto, elas deveriam ser testadas quanto a sua utilidade e, então, comercializadas (TAYLOR, 1970).

Cloutier (2003) e André e Abreu (2006) definem inovação social como uma resposta nova para uma situação social insatisfatória. Seu efeito deve ser duradouro e proporcionar o bem-estar dos indivíduos e/ou comunidades. Indicando a amplitude e diversidade de definições possíveis para inovação social, Phills Jr; Deiglmeier e Miller (2008) afirmam que pode ser um produto, processo, tecnologia, um princípio, uma ideia, uma legislação, um movimento social, uma intervenção e, ainda, uma combinação entre eles, a qual se apresente como uma solução eficaz, eficiente e sustentável para um problema social. A inovação social pode ser, também, uma estratégia, conceitos, ideias e padrões organizacionais que atendem às necessidades sociais de todos os tipos, desde as condições de trabalho e educação até o desenvolvimento comunitário e a saúde, e que ampliem e fortaleçam a sociedade civil (LÉVESQUE, 2002; HARAYAMA; NITTA, 2011; LUNDSTRÖM; ZOHU, 2011).

Embora a inovação social não tenha sido contemplada em nenhuma das três edições do Manual de Oslo (ECHEVERRÍA, 2008), no ano 2000 o programa Local Economic and

Employment Development (LEED) da OECD criou o Fórum sobre Inovações Sociais (FSI),

disseminação internacional e compartilhar as melhores políticas e práticas em inovação social (HARAYAMA; NITTA, 2011). O FSI também procurou esclarecer a situação e fornecer um entendimento comum da inovação para enfrentar os desafios sociais. O princípio-chave da definição operacional estabelecida neste fórum é que as inovações sociais podem ser encaradas como o bem-estar dos indivíduos e das comunidades, tanto como consumidores quanto como produtores. O bem-estar social é uma meta, não uma consequência e está relacionado à qualidade de vida e atividade. Assim, consideram que há inovação social sempre que novos mecanismos e normas consolidam e melhorem o bem-estar dos indivíduos, comunidades e territórios em termos de inclusão social, criação de emprego e qualidade de vida (OECD, 2010; 2017).

Para Murray, Caulier-Grice e Mulgan (2010) e Caulier-Grice et al. (2012), trata-se de novas soluções (produtos, modelos, mercados ou processos), que atendam uma necessidade social ao passo que introduzam capacidades, relações ou uso dos recursos de uma nova ou significativamente melhorada maneira. Ou seja, sugerem a análise schumpteriana da inovação social, a partir do tipo de economia que pode ser gerada e acumulada e quais são, caso existam, os processos de destruição criadora na economia social, que permitem que novas formas de atender às demandas sociais substituam as antigas.

Moulaert et al. (2013) consideram que além das ações específicas, inovação social também remete aos processos de mobilização, participação e ao resultado de ações que conduzem a melhorias nas relações sociais, estruturas de governo e empoderamento coletivo. Neste sentido, Harayana e Nitta (2011) complementam indicando a necessidade de abranger, entre outras coisas: 1) novos padrões organizacionais, como métodos de gestão e organização do trabalho; 2) novas formas institucionais como mecanismos de distribuição de energia; e, 3) novos papéis e novas funções ou novos mecanismos de coordenação e de governança.

Outra maneira de compreender a inovação social é considerá-la como sinônimo de empreendedorismo social, uma vez que ambos associam a criação de valor e mudanças sociais, ponderando sobre a necessidade de integração entre processo e resultado (HULGARD; FERRARINI, 2010). Neste sentido, o crescimento, o desenvolvimento local e o bem-estar social seriam viabilizados por meio de ações de empreendedorismo social através das quais as organizações podem fornecer produtos e serviços às comunidades que estão à margem do mercado (TONDOLO, 2013). Nas políticas públicas, este tipo de inovação relaciona-se intimamente com as estruturas democráticas e participativas dos governos e surge da relação entre Estado, mercado e sociedade civil. Assim, inovação social e empreendedorismo social emergiram como fatores importantes na renovação dos serviços de bem-estar e na contribuição

para a mudança social, estando intimamente relacionados às estruturas democráticas e participativas do governo (HULGARD; FERRARINI, 2010).

A partir de uma crítica referente às diferentes definições de inovação social propostas por Heiscla (2007); Young Foundation (2007); Centre for Social Innovation (2008) e Forum

on Social Innovation (2000), Pol e Ville (2009) apresentam, em suas conclusões, uma definição

de inovação social que toma por base a macroqualidade de vida, caracterizada como o conjunto de opções válidas que um grupo de pessoas tem a oportunidade de selecionar, sendo estas opções no âmbito coletivo. Assim, a melhora da qualidade de vida, segundo tais autores, se dá pelo aumento no número de opções que os indivíduos podem ter à sua escolha e a inovação social, pode ser considerada como qualquer ideia nova com potencial para melhorar tanto a macroqualidade de vida das pessoas quanto a quantidade de vida. Uma síntese das definições discutidas é apresentada no Quadro 6.

Quadro 6 - Síntese das definições de inovação social

AUTOR(ES) DEFINIÇÃO

Taylor (1970) Novas maneiras de fazer as coisas ou formas aperfeiçoadas de ação para suprir

necessidades sociais.

Cloutier (2003); André e Abreu (2006)

Processo que visa responder de forma inovadora uma situação social insatisfatória, cujo efeito deve ser duradouro e proporcionar o bem-estar dos indivíduos.

Phills Jr; Deiglmeier e Miller (2008)

Produto final que se apresenta como uma solução eficaz, eficiente e sustentável para um problema social.

Pol e Ville (2009) Ideia nova com potencial de melhorar a qualidade de vida das pessoas e/ou

aumentar as oportunidades de vida dos indivíduos.

Hulgard e Ferrarini (2010)

Sinônimo de empreendedorismo social voltado a criação de valor e mudança sociais, intimamente relacionados às estruturas democráticas e participativas do governo.

Lévesque (2002); Harayama e Nitta (2011); Lundström e

Zohu (2011)

Processo que visa atender as necessidades sociais para ampliar e fortalecer a sociedade civil, envolve estratégia, conceitos, ideias e padrões.

Murray, Caulier-Grice e Mulgan (2010); Caulier-Grice et al.

(2012)

Processo através do qual são propostas novas soluções às necessidades sociais com a introdução de novas ou melhoradas capacidades, relações ou uso de recursos.

Moulaert et al. (2013) Processo que envolve mobilização, participação e resultados que visem melhorias

nas relações sociais, estruturas de governo e empoderamento coletivo.

OECD (2010; 2017) Processo que resulta em melhoria social através da implementação de novos

mecanismos e normas. Fonte: elaborado pela autora (2017).

Diante do exposto, é possível considerar a inovação social como um processo, cuja implementação é iniciada pelos os atores sociais (VAILLANCOURT, 2017) e resultam em melhoria da qualidade ou da quantidade de vida (POL; VILLE, 2009), estimulam a coparticipação da sociedade civil em resposta às demandas sociais em áreas como educação, cultura, saúde, relações sociais (HARAYAMA; NITTA, 2011; MURRAY; CAULIER-GRICE;

MULGAN, 2010; CAULIER-GRICE et al., 2012; MOULAERT et al., 2013; OECD 2010; 2017; VAILLANCOURT, 2017).