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Atos limites – os moradores do mangue na saga da luta pela moradia

3.1 Primeira Sinfonia – alteridade e transformação: a arte como potência humana

3.1.5 Atos limites – os moradores do mangue na saga da luta pela moradia

Com o objetivo de compreender e refletir com essa população a ocupação desse “território de risco”, em que condições se está vivendo nele, que estratégias de trabalho se dispõe e que impactos a ocupação desse espaço traz sobre a saúde dos moradores, foram estruturadas oficinas temáticas, reiteramos, onde a problemática foi discutida com o conjunto dos atores.

Partindo dessa contextualização, os grupos de debate, envolvendo jovens e adultos, discutiram as várias dimensões do tema problema. Nos relatos feitos pelos partícipes da Ciranda de Aprendizagem e Pesquisa registramos:

O processo de discussão foi conflituoso. Os moradores estão angustiados com a perspectiva de perder a moradia conquistada; e reagiram com as armas de que dispunham: algumas lideranças se retiraram da discussão, outras resistiam em se dividir em pequenos grupos.

Sempre se avalia insuficientemente o papel do risco nas lutas sociais. O risco de “perder coisas na luta”, de “entregar o que se vive para outros que não se sabe bem...” parece deixar os grupos avaliando: vale ou não vale encontrar esses novos parceiros e buscar novos campos de luta comum?

...E a arte ia aprofundando o espaço de interação que nascia, mediado por um dizer pleno de sentidos e de possibilidades de explicitar diferenças:

Mandei fazer uma Casa de Farinha Bem maneirinha que o vento possa levar Oi passa sol, passa chuva, oi passa vento. Só não passa o movimento do cirandeiro a rodar

A reconstituição da história da luta dessas pessoas para a conquista da moradia foi problematizada, em especial quando se tentava discutir as causas e determinantes da ocupação do mangue e seus impactos sobre as vidas dos que viviam em Vila Velha e cercanias.

A discussão da ocupação foi formulada gradativamente, nas rodas da Ciranda. Então, o dialogismo se instaurou com respaldo na “historicização” da luta da comunidade, feita ao modo da arte. A historicização, ao ser vivida também sob a forma da arte, parecia impelir os sujeitos (BRECHT, 1957, p. 186) a uma libertação da familiaridade que resguarda

as pessoas de qualquer mudança ou intervenção. Nas palavras do cirandeiro (segundo relato): - Estaríamos refletindo e avançando uma educação política ou naturalizando a injustiça?

Aprofundemos o que os relatos trouxeram.

Para alguns moradores, já em 1995 andaram pessoas pelo mangue de Vila Velha. Outras, apontam os anos de 2001, 2002 como sendo o dos inícios da povoação no lugar. De todo modo, chegar envolve assumir um espaço social e um locus concreto, fisicamente falando; local que é disputado em meio a competições mais ou menos veladas:

- Fui uma das primeiras pessoas que chegou aqui. Observa-se que algumas pessoas se apropriam da situação e delimitam espaço, inclusive garantindo a concessão do uso para uma ou outra pessoa.

Alguns relatos, ainda, explicitam quão significativa é a presença dos sem-teto na área do mangue – ali parece que se há de reencenar constantemente a luta por um espaço possível – um lugar para viver?

- Morava de aluguel, vendi tudo o que tinha e comprei um terreno... Há um ano e oito meses venho construindo.

Outro aspecto evidenciado na fala dos participantes é a ação governamental de desapropriação das famílias, em virtude da especulação imobiliária nas áreas costeiras:

- Morava na Costa Oeste; fui indenizada com o valor de três mil e oitocentos reais; comprei um pedaço de terra e estou construindo há oito meses.

O êxodo rural também aparece como dimensão importante na formação populacional das áreas de risco:

- Morava de aluguel no interior em Redenção; há quatro meses estou morando aqui.

A dificuldade de acesso à moradia evidencia outras questões, tais como a necessidade de políticas de geração de emprego e renda, em especial para juventudes. A economia informal como a principal estratégia de sobrevivência das pessoas que vivem no mangue é apontada pelo depoimento de uma moradora de Vila Velha:

- Sou autônoma hoje, mas já trabalhei como auxiliar de serviços gerais. Morava no Jardim Iracema e estou na ocupação há um ano e dois meses.

“A dificuldade de conseguir um espaço impele as pessoas a provocar agressões ao ambiente” – observam os cirandeiros. Dessa forma, humanos e natureza produzem uma luta permanente pela sobrevivência, na qual ambos saem feridos, mas onde se vê o esforço da sobrevivência:

- Vim do Jardim Iracema,...no fundo da minha casa tem uma lagoa, venho aterrando com muito esforço.

Muitos moradores, preocupados com a presença dos órgãos da Prefeitura e do Estado nas rodas das Cirandas fazem com vigor maior a defesa da permanência da área. É evidente o conflito entre os moradores e a visão que a Prefeitura de algum modo insiste – a de “crime ambiental” (devido ao fato desta população residir em local de mangue). Veja-se nos relatórios dos cirandeiros, que compõem a Ciranda de Aprendizagem e Pesquisa:

A relação com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente tem se revelado conflituosa e sua atuação não tem possibilitado a construção de diálogos. A Secretaria chegou ao local, em um momento anterior, de forma autoritária e coercitiva, com o objetivo de expulsar os moradores da área de ocupação, promovendo o embargo de todas as obras iniciadas, instalações elétricas etc. Isso gerou por parte da população uma atitude defensiva no sentido de garantir a manutenção da moradia conquistada a qualquer preço e uma hostilidade para com os diálogos com a Prefeitura.

A arte parecia trazer certa força dionisíaca surgente nas rodas das cirandas. Como diz Fischer (1976, p. 50): “a condição do ‘ficar fora de si mesmo’ é a de um enérgico esforço de recriação do coletivo, da unidade (rompida) do mundo”. Na verdade, como o autor observa, a arte, ela própria é uma realidade social.

Por outro lado, como anota Fischer (2002, p. 49),

à medida que o homem vai se separando da natureza e do coletivo, e que a unidade com o grupo vai sendo destruída pelo individualismo, com a propriedade privada e com a divisão de trabalho, parece haver uma busca da unidade que se tinha no mundo arcaico do totem, por meios diversos, em especial a arte.

Fischer mostra essa busca de unidade, quando registra a descrição de Strelow sobre as cerimônias que juntavam ritual à arte (FISCHER, 2002, p. 48-49) e que assim expressavam certo caráter arcaico, de busca do coletivo e da unidade que o totem (símbolo do próprio clã imortal) inspirava:

Logo que uma mulher sabe que está grávida, isto é, que um ratapa (totem) entrou nela, o avô da criança esperada vai a uma árvore mulga e corta um pequeno tjurunga (o secreto e oculto corpo totêmico que une o indivíduo a seus ancestrais e ao universo), no qual ele faz com um dente de gambá sinais ligados ao totem ancestral, que é o seu totem... O totem – o totem ancestral ou o descendente – o que significa seu portador (aquele que nas cerimônias encarna o totem por seus ornamentos e por sua máscara) aparece nas canções como unidade indivisa (grifo nosso).

Poderíamos dizer que essa busca de unidade estava a ser tentada nas Cirandas em Vila Velha? As Cirandas e o contexto do diálogo que elas teciam, também por meio da arte, traziam de volta algo da natureza gregária dos grupos sociais que ali estavam?

Ouçamos mais a população:

- Quando eu cheguei aqui, esse mangue era cheio de bandido, era lugar de desova e de estupro. Nós não somos bandido, somos gente de bem. Por que botar polícia atrás da gente?

- Viemo morar aqui porque foi esse o lugar que a gente conseguiu.

- Vamo deixar de enrolação e vamo dizer logo: vocês querem que a gente diga quem é que fica e quem é que sai, é?

Ao mesmo tempo em que marcavam seu lugar de dizer e seu espaço, enfrentando as visões dos que pertenciam à Prefeitura, os moradores de Vila Velha iam revelando as conquistas e as necessidades percebidas no convívio cotidiano dali:

[...] não tinha luz, nem água e até hoje não tem iluminação publica.

Interessante é que os moradores também revelavam os espaços que são inadequados e apontavam formas de solucioná-lo:

- A parte baixa do mangue alaga quando chove... [...] Na Vila Velha lll quando chove alaga...

Nesse contexto da rodas das Cirandas da vida, homens e mulheres, crianças, jovens e adultos do mangue detêm-se sobre as transformações de realidades e os enfrentamento dessas situações-limite.

Dessa forma dialógica, algumas ações foram estruturadas; sempre ousando provocar a constituição e o fortalecimento de grupos de trabalho – no sentido de fortalecer as potencialidades apontadas – e, nesse caminho, as ações comuns iam sendo tentadas, conforme asseriu o cirandeiro-pesquisador da área:

Se a gente trabalha com a comunidade e seus grupos, temos de pensar as ações que façam os grupos viver. Uma dessas ações foi a realização de uma oficina de teatro para discutir as possibilidades de um grupo com mulheres empreendedoras, na perspectiva da sócio-economia- solidária. A questão norteadora do encontro foi a organização da produção artesanal das mulheres, para a venda coletiva dos produtos e aprimoramento da qualidade.

Na roda, ao som de um violão, os registros da Ciranda de Aprendizagem e Pesquisa lembram as oferendas que chegaram, em uma das rodas, com uma das artesãs de Vila Velha, que trouxe um tapete e disse:

Aprendi com a minha tia; trouxe também toalhas com ponto de cruz, centro de mesa e algumas fotos. Os meus trabalhos custam cinco reais.

Ante a expressão espontânea da artesã, diz a cirandeira:

- Isso é fruto da nossa inteligência. Vamos buscar caminhos e pensar como construir juntos, como juntar tudo isso.

A cirandeira se incluía como cooperadora dessa trilha proposta; ao situar-se como sujeito da ação comum a ser empreendida, não estaria levando mais claramente o outro a se ver como sujeito conhecedor? Parecia haver ali histórias cruzadas, trocas de saberes e de lugares que, ali, criavam a intersecção da ação com o conhecimento.

Assim é que, ao propor interpretações da realidade comum, cada sujeito que convivia no dialogismo das rodas fornecia a si mesmo elementos para um novo pensar e sentir, podendo situar-se, então, diante do que estavam a viver ou do que se propunham fazer de modo diferente.

Por esse novo modo plural de tentar desvendar as problemáticas comuns indagadas é que o cirandeiro-pesquisador Johnson teve necessidade de fazer reflexões mais aprofundadas sobre a moradia em Vila Velha, e, como seus antigos moradores eram os índios, foi buscá-los. Das discussões desse tempo, o registro da estranheza com que parecia serem recebidas estas ações:

A interface com os Distritos de Meio Ambiente e a Educação, segundo pensamos, deve possibilitar ao setor saúde organizar interfaces com a população indígena da etnia Tapeba e construir reflexões onde o olhar dos povos tradicionais é compartilhado com os moradores do mangue hoje. Penso que se pode fazer mediações nesse sentido. Como elas serão aproveitadas pela esfera institucional? Pelo que estou vendo, esta escuta e estas práticas não são familiares aos funcionários de lá.

Johnson referia-se à possível rigidez dos modos institucionais de lidar com problemas sociais. Ali, nas rodas da Ciranda, os problemas pareciam buscar seus núcleos para estabelecer o autocentramento, e, então, os grupos criarem com a arte, também, uma transformação cujas conseqüências poderiam ter impacto sobre as estruturas e as relações presentes no mundo de vida de Vila Velha. Continuemos com a fala do pesquisador- cirandeiro Johnson:

Nesse processo das rodas iniciais de Vila Velha, grupos culturais como o Vidança, Emaús e outros grupos locais foram fundamentais na construção dos primeiros atos-limite. A interação com a [Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza-]HABITAFOR e o estímulo ao envolvimento de atores locais nas plenárias do Orçamento Participativo possibilitou a inclusão de trinta e cinco famílias na liberação de moradias populares em áreas próximas ao mangue. Isso não é suficiente, é quase risível. No entanto, pode-se dizer que a esfera política está a ser tentada com vigor? Esta nossa escuta não garante mudanças – ela garante o que?

[...] A articulação com a Empresa de Limpeza Urbana (EMLURB) viabilizou o início da coleta de lixo no lugar, o que vem proporcionando algumas mudanças importantes, como por exemplo, o fato das crianças passarem a organizar a coleta seletiva do lixo. Seria isso a esfera política revivida?

Este acima nos ajuda a refletir sobre a intersetorialidade no âmbito da gestão municipal, como espaço de articulação entre as políticas e setores. Olhando a partir da saúde, dialogamos com Andrade (2006, p. 32), com o qual perguntamos: “como operacionalizar

políticas públicas intersetoriais capazes de impactar os determinantes e condicionantes de saúde da população?” Na experiência vivida no mangue em Vila Velha, notamos que essa possibilidade que timidamente se delineava ia adquirindo um novo contorno quando a arte tomava seu lugar nesse diálogo com a gestão. O que se pôde ver de grande riqueza na intersetorialidade que se anunciava foi a possibilidade do princípio da comunidade assumir a dianteira, como novos sujeitos sociais, no diálogo com a gestão ali representada pelas instituições de saúde, moradia, limpeza urbana, ambiente, educação dos poderes municipal e estadual do território. Assim é que vimos o Vidança, como grupo artístico atuante no território, protagonizar movimentos de articulação com escolas locais que propiciam a ida da arte para a escola e o estabelecimento de uma diversidade de relações parceiras. Nesse tempo, um grupo de mulheres articuladas junto ao movimento EMAÚS partiu para demandar uma experiência com teatro fórum que pudesse ser um campo de reflexões sobre economia solidária. Estávamos mais uma vez a ver novos sujeitos sociais, do lugar da arte partindo para o diálogo com a esfera institucional?

Nos diálogos que se travariam tentando dar conta de uma intersetorialidade que ai se gestava, também se tensionava o que as políticas públicas podiam trazer para a comunidade e o que no plano do concreto, de fato, as instituições estatais e municipais conseguiam ali realizar?

Ao mesmo tempo, a discussão nas rodas das “Cirandas da Vida” fomentava o diálogo da gestão municipal com a população de centenas de famílias excluídas, órfãs das políticas públicas ao longo dos anos, que se perdia no que fazer diante do confronto nítido entre as leis de proteção ambiental e a realidade concreta de pessoas de Vila Velha. A fala do cirandeiro é reveladora dessas contradições:

Viver no mangue é irregular, mas se buscou, lutou no Orçamento Participativo por moradias. A população havia criado todos os vínculos necessários para viver ali.

Sair para outro lugar, ter que articular outras formas de sobreviver, pagar água, luz, transporte [...] Terão dinheiro para isso? – eles pareciam se perguntar de algum modo.

E agora como pesquisador, pergunto: Como não ficar refém do que se está propondo? Será que é bastante ajudar a ampliar a consciência e reflexão sobre o ambiente? Se não, como seria ir além disso?

As rodas iam, decerto, possibilitando a reflexão sobre as diversas dimensões do tema problema, e revelando a necessidade de adentrar causalidades e determinantes da ocupação do mangue. Seus impactos sobre a vida dessas pessoas iam mostrando retratos de uma história que precisava ser conhecida, debatida e transformada. E, assim como eram estabelecidos, também passavam a ser construtores de identidades.

O que seria morar no mangue hoje – área de proteção ambiental permanente, um ecossistema, vital para o equilíbrio ambiental da cidade? As expulsões das populações pobres tinham uma história dolorosa e a população tinha informações de inúmeros logros, como os do Iguatemi (shopping center de Fortaleza, erguido em região de mangue):

- Por que não tiram o governador do Iguatemi? Ali é área de mangue!

Diante desse contexto, o cirandeiro-pesquisador traz uma outra questão:

Será que é possível construir tecnologia social que possibilite a permanência daquelas pessoas nos arredores do mangue? Como se poderia replantar o mangue sem sair dali.

E a discussão vai trazendo a dimensão do território afetivo, amoroso, das pessoas com seus vínculos ao lugar de ficar e a pergunta vai se reconfigurando:

Como conviver com o mangue e criar ambientes de vida trabalhando a dimensão do cuidado? Como a arte pode ajudar as pessoas a construir esse processo de ação-reflexão-ação?

As reflexões acerca do processo explodem em musicalidade e poesia na voz de artistas locais, como o próprio cirandeiro-músico Jonhson:

Para a sede Tínhamos o rio Para a fome, O peixe, O caranguejo, Às vezes o pão. Para os pulmões, O ar,

O verde também para os olhos. Aí vieram os outros,

Uns poucos, Armados de idéias,

Réguas e metas mirabolantes, Trouxeram papéis,

Legalizaram tudo, Expulsaram uns tantos, Trouxeram amordaçados, Tomaram posse.

Vieram os tratores.

Para a segurança, também soldados. Produziram sal do sal dos homens. Encheram de óleo os rios.

Asfixiaram os peixes.

O mercúrio profanou as profundezas da terra.

Depois de tudo arrasado, O mato todo derrubado, Gastado as gentes da terra,

Se foram com seus bolsos abarrotados. E na terra agora devastada,

Uma outra luta começava: Homens, mulheres e crianças, Pela divisão dos despojos. Às vezes,

Uns contra os outros, Às vezes,

Contra a natureza, Mas sempre, A favor da vida.

Pelos tortuosos caminhos das batalhas diárias pela sobrevivência,

Num lugar que um dia fora exuberância, Agora apenas a esperança

Na gritaria dos meninos: Como fossem plantinhas, Matinho teimoso, Que continua a reviver A cada corte.

A cada queima.

Outros atores locais trazem sua versão poético-musical na linguagem do repente nordestino

Era pobre, muito humilde e não tinha onde morar Não podendo escolher, vejam onde fui parar

Eu dei tudo quanto tinha, a tv e o celular E agora vem um moço, querendo me expulsar Mas não sabe o sacrifício que eu tive que passar

(Jacinto e mulheres do mangue)

A subida ao rio Ceará foi um momento importante. No encontro temático ”Olhares sobre o Mangue”, discutíamos como seria importante para os moradores do mangue, ouvir outras pessoas que também convivem com essa realidade; descortinar outras percepções sobre essa realidade. Foi então que resolvemos navegar no rio Ceará. No barco que nos levava, estavam homens, mulheres e crianças moradores do mangue, jovens do Vidança, atores institucionais do campo da saúde, da educação e do meio ambiente a ouvir dos índios tapebas que vivem do outro lado do mangue como o cuidado com sua preservação representa também a preservação da sua cultura e sua identidade. Aquele foi também um momento de estabelecer vínculos com o trabalho grandioso de duzentas e oitenta bailarina-dançarinos- percussionistas locais do Vidança que decidiu retomar o espetáculo de dança com a temática do mangue para contribuir com a discussão que estávamos a travar.

Nesse novo olhar ao mangue, com os índios indicando o caminho, retomamos a questão do ambiente e da saúde. Nesse contexto, o cirandeiro Johnson retomou o relato sobre a experiência e a interface com o Vidança. Diz ele:

No encontro “Olhares sobre o Mangue” o espetáculo do Vidança sobre o qual já nos referimos, foi o mote para aprofundarmos a problematização sobre a situação limite para a qual buscávamos transformação. O espetáculo nos levava a pensar sobre coisas que os discursos, por vezes inflamados dos moradores nem sempre deixavam transparecer. É como se aqueles meninos e meninas nos dissessem com arte, coisas sobre o ambiente e mais especificamente o mangue, que não estava claro na fala. Mas sabíamos que o grupo tinha uma leitura sobre a agressão ao ambiente e seus impactos. Essa leitura se dúvida ajudou a gente a construir boa parte da reflexão sobre o mangue. Percebendo a importância do grupo para o processo, fizemos a provocação de retomar o espetáculo incluindo novas crianças do mangue, o que, aliás, já era um desejo da coordenadora do Vidança. A nós das Cirandas, coube a tarefa de mobilizar as crianças. Ao grupo, incluí-las no universo da dança.

Da fala do cirandeiro vamos retomando aspectos importantes dessa sinfonia. Reavemos a importância desse dizer com arte no diálogo com Linhares (2004, p. 57), que nos lembra as possibilidades de nos relacionar com o mundo, não apenas mediante o pensamento lógico, o verbal, mas de outras formas que propiciam aos sujeitos vivenciar a “história de sua cultura, mediante suas próprias palavras e imagens, desse modo particular que é o processo criativo ao modo da arte.” Outro aspecto que a fala nos revela diz respeito ao processo de

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