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4.9. Análise comparativa dos instrumentos que regem a responsabilidade do

4.9.3. Base da responsabilidade

4.9.3.6. Atraso na entrega das mercadorias

407A exigência de contrato para segmento especifico não vai contra a lógica subjacente do transporte

multimodal, i.e. único contrato, única prestação.

408 Cf. regra 6.4. esta disposição tem em consideração as relações que se estabelecem entre o

transportador multimodal e terceiros, assegurando assim o direito da ação de regresso do transportador multimodal perante aqueles

409 Vide regra 6 “Explanation of the rules. 410 Cf. artigo 19.º.

411 No mesmo sentido RR, al. b) n.º 1 art. 6.º, desde que se reúnam os seguintes pressupostos: a) dano

tem de ser conhecido, b) o regime alternativo de responsabilidade tem de provir de instrumento internacional, c) só se aplicam disposições imperativas que correspondam aos limites de responsabilidade e tempo para intentar ação. Reunidos todos os pressupostos os limites das RR não terão aplicação, aplicando-se os limites do segmento em que ocorreu o dano. “Because the limitation

amounts are in some circumstances higher under de Rotterdam Rules and in other circumstances higher under other conventions such as CMR or CIM-COTIF, the limited network system sometimes benefits the carrier and sometimes benefits the cargo claimant”. Cf. JERNEJ SEKOLEC,The Rotterdam Rules, The UN

123 É frequente a ocorrência de atrasos –“el retraso supone una entrega

efectivamente realizada pero, evidentemente, fuera de plazo”412 – no âmbito do transporte multimodal413. Uma vez que esta modalidade de transporte é composta por várias fases, é natural que a aplicação das regras de atraso resultem mais complexas do que nas situações de transporte unimodal. Nesta sede, “El retraso se

computa en relación a la duración del transporte multimodal en conjuto, y no respecto de cada fase”414.

Da análise comparativa das disposições dos instrumentos multimodais, verifica-se que constitui prática comum o estabelecimento de limites de responsabilidade específicos para as situações de atraso na entrega das mercadorias distintos dos limites estabelecidos para os casos de perda ou avaria das mercadorias. Não obstante, é possível que o atraso resulte em perda415 ou dano. Neste contexto, “Cuando el retraso de las mercancias conduce à la perdida o daño de

las mercancias el proprietario puede dirigirse contra el porteador de acuerdo com las reglas que rigen la responsabilidade por perdida o daño. Pero si las meercancías se entregam tardíamente, pero en buen estado, surge propriamente la responsabilidad por retraso”416.

No que diz respeito às situações de atraso as Regras UNCTAD/ICC de 1992, a Convenção de Genebra de 1980 e as Regras de Roterdão estabelecem limites de responsabilidade do transportador com base no preço de transporte417.

De acordo com a regra 5.1 das Regras UNCTAD/ICC de 1992, o transportador multimodal só terá de indemnizar o lesado por dano que advenha de atraso quando

412 Cf. FRANCISCO CARLOS LOPEZ RUEDA, El régimen jurídico del transporte multimodal, cit., p. 592. O prazo

de entrega pode ter sido expressamente acordado pelas partes ou não. Quando não seja acordado tem de se ter em consideração um prazo razoável, de acordo com a regra 5.2 “in the absence of such

agreement, within the time which it would be reasonable to require of a diligent MTO, having regard to the circumstances of the case.”

413 Vide o documento da Comissão Europeia intitulado Intermodal transportation and carrier liability

European Comission. Intermodal transportation and carrier liability.

414 Cf. FRANCISCO CARLOS LOPEZ RUEDA, El régimen jurídico del transporte multimodal, cit., p. 584. 415 Nos termos da regra 5.3 das Regras UNCTAD/ICC de 1992, a mercadoria considera-se perdida se

após o período de 90 dias a contar da data em que as mercadorias deviam ter sido entregues não aparecerem.

416 Cf. FRANCISCO CARLOS LOPEZ RUEDA, El régimen jurídico del transporte multimodal, cit., p. 588. 417 A responsabilidade foi limitada ao valor do frete, deste modo o transportador pode conhecer

antecipadamente o montante a sua responsabilidade. Cf. regra 6.5 das Regras UNCTAD/ICC, vide Report of last joint UNCTAD/ICC Working Group.. 17 october, 1990, anexo II, p.3; Vide FRANCISCO CARLOS LOPEZ RUEDA, El régimen jurídico del transporte multimodal, cit., p. 617. No mesmo sentido das regras veja-se a al. e) cl. 12 Multidoc 95; cl. 8.7 FIATA FBL 1992. Cf, ainda o n.º 4 do artigo 18.º da CG de 1980 e artigo 59.º das RR.

124 o carregador tiver feito uma declaração de interesse na entrega das mercadorias num prazo específico e esta tenha sido aceite pelo transportador418. Resulta do exposto que o transportador multimodal poderá decidir a sua responsabilidade419. Apesar do transportador ter possibilidade de escolha, as Regras UNCTAD/ICC de 1992 preveem a responsabilidade do transportador por atraso na entrega, o mesmo não se verificando com as Regras de Haia-Visby – estas não preveem a responsabilidade do transportador marítimo por casos de atraso na entrega da mercadoria.

Por isso, se porventura o atraso na entrega das mercadorias ocorrer numa fase marítima que esteja submetida às Regras de Haia-Visby, aplicando o regime de responsabilidade do sistema uniforme (i.e. aplicando as Regras UNCTAD/ICC de 1992 ao contrato de transporte multimodal), o transportador multimodal teria de suportar o prejuízo sozinho, sem possibilidades de ser ressarcido pelo transportador efetivo. Mais: a aplicação do regime uniforme implicaria a coexistência de dois regimes aplicáveis distintos – o regime das Regras UNCTAD/ICC de 1992 (aplicável ao contrato de transporte multimodal) e o regime das Regras de Haia-Visby (aplicável ao contrato unimodal celebrado entre o transportador multimodal e o transporador marítimo). Para evitar esse tipo de resultados defendemos para este tipo de situações uma aplicação analógica420 do regime aplicável ao segmento em que ocorreu o dano, o que significa que o transportador multimodal benificiária das mesmas possibilidades de defesa do transportador unimodal.

418 Nas Regras de 1975 o transportador não tinha de responder em caso de atraso se o dano fosse

oculto. “La Reglas del 75 dejaban la responsabilidade del OTM por atraso en la entrega al arbitrio de la

normativa unimodal aplicable a la fase en que se produjo aquélla”, está solução era inadequada para a

proteção dos interesses dos carregadores como dos transportadores, não permitindo determinar com antecedência o montante de limitação aplicável. Nas Regras de 1992 “La interncíon inicial del

Grupo de Trabajo era no someter la responsabilidad del OTM a la condición de que así lo dispusiera la normativa modal, pues el retraso sólo podría establecerse en el momento en que el transporte multimodal hubiese finalizado.” Contudo o grupo de trabalho UNCTAD/ICC considerou que uma

responsabilidade segmentada em fases e dependente da localização do sítio em que ocorreu o dano não é adequada ao transporte multimodal “cuyo promitente lo es por el conjunto del transporte,

cualesquiera fases lo puedan constituir y una vez que há sido totalmente ejecutado” Cf. FRANCISCO CARLOS LOPEZ RUEDA, El régimen jurídico del transporte multimodal, cit., p. 589 e Report of last joint UNCTAD/ICC Working Group.. 17 october, 1990, anexo II, p.3; UNCTAD/ICC draft rules.. doc. n.º 321- 34/1 p.5

419 Vide FRANCISCO CARLOS LOPEZ RUEDA, El régimen jurídico del transporte multimodal, cit., p. 590 420 Dado que o transporte multimodal constitui uma realidade diferente, com objeto distinto do

125 A Convenção de Genebra de 1980421 e as Regras de Roterdão422 – por contraposição às Regras UNCTAD/ICC – estabelecem a obrigação do lesado avisar o transportador multimodal se pretender ver-se ressarcido dos prejuízos. O aviso constitui um requisito de exigibilidade da indeminzação, sem o qual a mesma não será devida.

Cabe, ainda, referir que o desenvolvimento tecnológico – na medida em que altera as circunstâncias que rodeiam a segurança dos transportes (permitindo diminuição dos riscos naturais do transporte) - poderá influir nos limites de responsabilidade do transportador.423