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3.3. Partes do contrato e outros intervenientes

3.3.2. O operador de transporte multimodal

O operador de transporte multimodal constitui uma figura contratual que nasce com o contrato de transporte multimodal. Surge definida de modo consensual em vários instrumentos legais76.

Assim, no n.º 2 do artigo 1.º da CG de 1980, o operador de transporte multimodal vem definido como “any person who on his own behalf or through

another person acting on his behalf concludes a multimodal transport contract and who acts as a principal, not as an agent or on behalf of the consignor or of the carriers participating in the multimodal transport operations, and who assumes responsibility for the performance of the contract”.

Desta definição é possível concluir, desde logo, que o operador de transporte multimodal é o sujeito que celebra o contrato de transporte multimodal com o carregador, sendo parte direta neste contrato. A importância deste sujeito é notória em face do seu papel preponderante77 traduzido na obrigação que constitui o cerne do contrato, isto é, a obrigação de deslocar as mercadorias de modo incólume e atempadamente de um local para outro78. Esta obrigação repercute-se no regime da responsabilidade, sendo o único responsável por toda a operação79.

Pergunta-se: será a denominação “operador de transporte multimodal” a mais correta? É verdade que esta figura se compromete a planear toda a operação de transporte e tem funções que vão para além da deslocação das mercadorias. Contudo, tendo em consideração que a obrigação de transporte constitui a obrigação principal que caracteriza o contrato julgamos que o termo “transportador

76 Cf. artigo n.º 2 do artigo 1.º CG de 1980, regra 2.2 das Regras UNCTAD/CCI de 1992, cl. 2.º do

Multidoc 95 e as definições da FIATA FBL de 1992.

77 Cf. FRANCISCO CARLOS LÓPEZ RUEDA, “El transporte multimodal internacional, La viabilidade de un

regime jurídico uniforme”, cit p. 344

78 Seguimos FRANCISCO CARLOS LÓPEZ RUEDA,El régimen jurídico del transporte multimodal, cit.,p. 551,

quando afirma que “el OTM no es um porteador típico, porque típicos son tradicionalmente los

transportes unimodales y quines los prestan (ya que cada modo se presta en un vehículo típico y no hay un vehículo tipicamente multimodal), pero su situación sí es la típica de un porteador, pues asume la obligación de resultado por el transporte, aunque no lo ejecute personalmente com médios próprios.”

79 Neste sentido vide a parte final do n.º 2 do artigo 1.º da CG de 1980, a regra 2.2 das Regras

31 multimodal” se afigura mais adequado. Neste sentido, a regra 2.2 das Regras UNCTAD/ICC de 1992 definem o operador de transporte multimodal como qualquer pessoa que atua como transportador.

Concordamos com MARIA HOEKS ao afirmar que o termo “operador de transporte multimodal” “is not considered entirely appropriate. By using this

expression the MT Convention fails to appreciate that a multimodal carriage contract is just that: a contract of carriage. The term ‘operator’ places too much emphasis on the services a multimodal carrier may provide in addition to the carriage contracted for, such as providing storage facilities between transport stages.”80

A obrigação de transporte constitui a obrigação principal do contrato de transporte multimodal, sem a qual este não existiria81. Neste sentido, julgamos preferível o termo “transportador multimodal”82.

Neste sentido, um transitário ou um transportador unimodal podem assumir funções de transportador multimodal, sendo essencial que contratualmente assumam a obrigação de deslocação da mercadoria, i.e., a obrigação principal do contrato de transporte.

Além disso, o conceito de “operador de transporte multimodal” tenderá a confundir-se, pelo menos de um ponto de vista literal, com a pessoa que realiza a operação material de transporte, e, não raras vezes, este sujeito socorre-se, por via da subcontratação, de outros sujeitos para realizar a operação material de transporte83 , pelo que também por isso se acha preferível o conceito de transportador multimodal. No entanto, julgamos que a definição de transportador multimodal devia fazer menção expressa à subcontratação. De facto, ao assumir contratualmente a obrigação de deslocação das mercadorias, o mesmo não se obriga

80 Cf. MARIA HOEKS, Multimodal transport law, the law applicable to the multimodal contract for the

carriage of goods, cit., pp. 50.

81 Neste sentido, ALIKI KIANTOU-PAMPOUKI refere o seguinte: “Two basic conditions are required for a

multimodal transport a) a contract for carriage of goods, and b) performance of the carriage by two or more different modes of transporte.” – cf. Multimodal Transport Carrier Liability and Issues Related to the Bills of Lading, cit., p. 7.

82 Em consonância com este entendimento, as regras 2.2 das Regras UNCTAD/ICC de 1992 definem

o operador de transporte multimodal como qualquer pessoa que atua como transportador. Este é também o termo utilizado no Código Civil holandês.

83 “In addition, the definition also fails to mention the taking over of the goods by the multimodal carrier.

The motivation for this omission is the frequent deployment of subcontractors to perform the actual transport, in which case the multimodal carrier does not physically take over the goods himself.” – cf.

MARIA HOEKS, Multimodal transport law, the law applicable to the multimodal contract for the carriage

32 a executar a operação material mas sim a garantir a obtenção dos meios que assegurem o seu cumprimento. Pode recorrer ao serviço de transportadores para a realização dos segmentos de transporte, o que não afeta a sua posição contratual84. Nesta hipótese o transportador será objetivamente responsável pelos atos ou omissões das pessoas a cujos serviços recorra para o cumprimento das suas obrigações no âmbito do contrato de transporte multimodal85.

Ao longo do presente trabalho será, portanto, utilizado preferencialmente o termo “transportador multimodal”.