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3.5. Modalidades de transporte plural

3.5.6. Transporte sobreposto “Roll-on/roll-off”

Estamos perante uma situação de transporte sobreposto quando o veículo que transporta a mercadoria é carregado noutro modo de transporte, sem rutura de carga179/180.

Esta modalidade de transporte plural encontra referência no artigo 2.º da CMR e na al. j) do artigo 2.º do Ato Uniforme da Olhada.

Se não existir “rupture de charge” o regime da CMR será aplicado à totalidade do transporte. Suponhamos que ocorre um dano durante o segmento marítimo. Na medida em que a mercadoria se encontra dentro de um veículo não marítimo e não existiu rutura de carga - sem prejuízo do dano ter ocorrido no segmento marítimo - terá aplicação o regime da CMR.

É no entanto possível a aplicação do regime de convenção não estradal à responsabilidade do transportador rodoviário181, desde que para o efeito se encontrem reunidos os seguintes requisitos cumulativos: i) se for realizada prova

178 Cf. JANUÁRIO DA COSTA GOMES, “Do transporte “port do port” ao transporte “door to door”, cit., p. 384. 179 Cf. GOMÉZ DE SEGURA, “El contrato de transporte multimodal internacional de mercancías”, cit., p.

588, apresenta como exemplo “los casos del llamado transporte ro-ro, en el que un vehículo terrestre

cargado com sum mercancía (o. p. ej. con un contenedor) es translado en un ferry por vía marítima, art. 48.º COTIF/CIM) ou casos de piggy-back en el que um un «camión» es translado por vía férrea”.

180 Existe “rupture de charge”, por exemplo, no “transporte multimodal transmarítimo, quando o

transporte marítimo que intervém após uma fase de estrada, implica uma “manutenção da mercadoria e não do veículo” – cf. JANUÁRIO COSTA GOMES, “Do transporte “port do port” ao transporte “door to door”, cit., p. 386.

181 A CMR aplicar-se-á às restantes áreas. A Convenção não estradal só se aplicará ao regime de

55 de que a perda, avaria ou atraso na entrega da mercadoria ocorreu num segmento não estradal; ii) se for provado que o dano não foi causado por ato ou omissão do transportador rodoviário; iii) for efetuada prova de que o evento danoso só poderia ter tido origem num modo de transporte não rodoviário. Ter-se-á ainda, como decorre da parte final do artigo 2.º, de ficcionar a celebração de um contrato entre o expedidor e o transportador (não rodoviário)182 para a aplicação do regime da convenção não estradal ao transportador rodoviário.

No transporte sobreposto existe mais do que um contrato de transporte: o primeiro corresponde ao contrato de transporte principal celebrado entre o expedidor e o transportador – no qual este último assume a obrigação de deslocação das mercadorias; no segundo, o transportador contratual – que celebrou o contrato de transporte com o expedidor – recorre aos serviços de outro transportador (subtransportador) para a execução material da obrigação de deslocação das mercadorias. No entanto, neste segundo contrato o subtransportador tem duas obrigações, a saber: obrigação da deslocação das mercadorias e obrigação de deslocação do veículo que contém as mercadorias.

A natureza multimodal do artigo 2.º da CMR é controvertida.183 Seguimos IGNACIO ARROYO184, quando defende que resulta preferível a tese de que o artigo 2.º da CMR não se aplica ao contrato de transporte multimodal, uma vez que o artigo 2.º da CMR parte da realidade do artigo 1.º cujo objeto é o transporte de mercadorias

182ANDREA LA MATTINA, “La responsabilità del vettore multimodale: profili ricostruttivi e de iure

condendo”, Il diritto marittimo, 2005, p. 42, faz referência a um “hypothetical contract system”.

183 Sobre a aplicabilidade da CMR ao contrato de transporte multimodal fora do âmbito do artigo 2.º,

são possíveis três soluções: a) aplicação da CMR independentemente do troço rodoviário ser internacional ou nacional, desde que o contrato de transporte multimodal seja no seu todo internacional; b) aplicação da CMR, desde que no contrato multimodal exista um troço rodoviário internacional; c) não aplicação da CMR aos contratos de transporte multimodal, na medida em que o objeto da CMR é o transporte rodoviário.

184 Cf. IGNACIO ARROYO, “Âmbito de aplicación de la normativa uniforme: su extensión al transporte de

puerta a puerta”, cit., pp. 438 e ss.. No mesmo sentido, vide ALIKI KIANTOU-PAMPOUKI, Multimodal

transport carrier liability and issues related to the bill of lading, cit., p. 10, pronunciou-se sobre esta

matéria começando por afirmar que este género de transporte sucita vários problemas de interpretação: “some consider it as multimodal transport; some other consider it as a specific mode of

transport; while others consider it as an extension of the preceded mode of transport.” Acaba por

concluir que“the transport described in article 2 CMR and such like, is not multimodal transport in a

narrow sense, because no trans-shipment takes place in the process of transportation. And additionally, because the promotion of goods to the next stage is not effected by a different mode of transport exactly.”

Contra, ponuncia-se MARIA HOEKS,Multimodal transport law, the law applicable to the multimodal

contract for the carriage of goods, cit., p.82,afirmando que o transporte sobreposto é multimodal se o conceito for interpretado num sentido amplo, alegando que o veículo que carrega a mercadoria passa a ter função de um mero contentor, “although the goods remain ‘on wheels’, it is not these wheels

56 por terra. Afirma, assim, que neste caso existe um contrato de transporte unimodal em que se recorre a um modo diverso para transportar o veículo que carrega as mercadorias, ou seja, estamos perante transporte unimodal de execução plurimodal.