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As atribuições do coordenador pedagógico no Ensino Médio Nessa seção, dentre outros, foram utilizadas as contribuições de Lima e Santos (2007), Clement

(2001), Libâneo (2017), Placco, Souza e Almeida (2012). A escola é espaço multifacetado. Trabalhar no ambiente escolar requer muitas habilidades, responsabilidades e dedicação. É o caso do trabalho do coordenador pedagógico, que tem por atribuição o compromisso de mediar os saberes e fazeres pedagógicos consoante a intervenções planejadas e reflexivas, materializadas para e com os professores. (LIMA e SANTOS, 2007, p.77). Destaca-se que em meio à espaços que exige desse profissional olhares e intervenções diversas, a busca por sua identidade profissional, não raras as vezes, é vista de maneira difusa. De acordo com Lima e Santos

[…] Nos anos de 1970 a presença deste profissional se fazia presente nas escolas profissionalizantes de 2º grau (hoje Ensino Médio). Posteriormente foi incluída nos CEFAMs (Centros de Formação e Aperfeiçoamento para o Magistério) nos anos de 1980 no Projeto noturno, no Ciclo Básico nos anos de 1988, e introduzido nas escolas Padrão nos anos de 1990, oscilando suas atribuições entre o caráter técnico e de aconselhamento aos docentes frente ao trabalho pedagógico cotidiano. A despeito desta trajetória, ainda hoje, muitos profissionais que exercem o cargo ou função de coordenador pedagógico ainda não tem total clareza da identidade e delimitação de sua competência na vida escolar (LIMA e SANTOS, 2007, p 81-82).

A oscilação das atribuições do trabalho do coordenador pedagógico dá-se pelo fato de ser uma função relativamente nova e pela ausência de implementação de uma formação específica:

A falta que um trabalho de formação faz para o coordenador também é fator que interfere em sua prática. Cada vez mais fica explicitada a necessidade de os profissionais se aprofundarem e estudarem para desenvolver um trabalho consciente e responsável (CLEMENTI, 2001, p.53)

Se a realidade acerca do cargo do coordenador pedagógico é através de concurso na rede pública, porém, não exigindo que seja pedagogo na rede estadual; por indicação na rede privada, independentemente do tipo de formação; e sem projeto de formação continuada após a ocupação do cargo, fica evidente a dificuldade dele se encontrar em sua própria prática pedagógica. Cada escola possui uma realidade, cabendo ao coordenador pedagógico refletir e agir dentro do contexto em que está inserido, mas acaba perdendo o foco não raras vezes, visto as condições e múltiplas tarefas que lhe são atribuídas. Para Lima e Santos (2007), são lançados múltiplos olhares sobre a

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identidade e função do coordenador pedagógico, o que acabam por responsabilizá-lo por tudo o que ocorre no cotidiano escolar. Esses autores destacam que

Várias metáforas são construídas sintetizando o seu papel e função na escola com distintas rotulações ou imagens, dentre elas, a de “bom-bril” (mil e uma utilidades), a de “bombeiro” (o responsável por apagar o fogo dos conflitos docentes e discentes), a de “salvador da escola” (o profissional que tem de responder pelo desempenho de professores na prática cotidiana e do aproveitamento dos alunos). Além destas metáforas, outras aparecem definindo- o como profissional que assume a função de gerenciamento da escola, que atende pais, alunos, professores e também se responsabiliza pela maioria das “emergências” que lá ocorrem, isto é, como um personagem “resolve tudo” e que deve responder unidirecionalmente pela vida acadêmica da escola (LIMA e SANTOS, 2007, p.79).

Para Libâneo, há diferenças marcantes acerca de posições sobre o trabalho do coordenador pedagógico, porém defende que:

O coordenador pedagógico ou professor-coordenador supervisiona, acompanha, assessora, apoia, avalia as atividades pedagógico-curriculares. Sua atribuição prioritária é prestar assistência pedagógico-didática aos professores em suas respectivas disciplinas, no que diz respeito ao trabalho interativo com os alunos. Há lugares em que a coordenação se restringe à disciplina em que o coordenador é especialista; em outros, a coordenação se faz em relação a todas as disciplinas. Outra atribuição que cabe ao coordenador pedagógico é o relacionamento com os pais e a comunidade, especialmente no que se refere ao funcionamento pedagógico-curricular e didático da escola e comunicação e interpretação da avaliação dos alunos (LIBÂNEO, 2017, p. 109)

Placco, Souza e Almeida realizaram uma pesquisa em 2011 sobre o coordenador pedagógico no Brasil e um dos pontos que destacam é que:

[…] As atribuições desses profissionais, definidas pelas legislações estaduais/ municipais, são muitas, envolvendo desde a liderança do projeto político pedagógico até funções administrativas de assessoramento da direção, mas, sobretudo, atividades relativas ao funcionamento pedagógico da escola e de apoio aos professores, tais como: avaliação de resultados dos alunos, diagnóstico da situação de ensino e aprendizagem, supervisão e organização das ações pedagógicas cotidianas (frequência de alunos e professores), andamento do planejamento de aulas (conteúdos ensinados), planejamento das avaliações, organização de conselhos de classe, organizações das avaliações externas, material necessário para as aulas e reuniões pedagógicas, atendimento de pais, etc., além da formação continuada dos professores (2012, p.761)

Certamente, o entendimento em relação ao trabalho do coordenador pedagógico varia de acordo com experiências vividas e concepções acerca da educação. Mas, o que não se pode negar é que se já existe um problema de identidade quanto às atribuições de forma geral desse profissional, mais complexo ainda é tratar do mesmo inserido num segmento que também sofre problemas identitários desde sua existência. Falar do coordenador pedagógico do Ensino Médio, portanto, é falar sobre um profissional que lida com problema duplo (identidade e atribuições). Há inúmeras atividades pertinentes ao trabalho do coordenador pedagógico que podem ser direcionadas especificamente aos estudantes, à equipe gestora, à comunidade em que a escola está inserida, porém, o recorte que se faz no presente trabalho é voltado às atividades com os docentes.

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Considerações finais

Segundo Campos e Aragão (2012), quando voltada para a formação docente, a atuação do coordenador pedagógico pode dar visibilidade para seu desempenho e demarcar a importância de sua existência na composição da equipe gestora da escola. Como exemplos de atividades pedagógicas principais, há quatro dimensões apontadas por Piletti (1998, apud Lima e Santos, 2007):

a) acompanhar o professor em suas atividades de planejamento, docência e avaliação;

b) fornecer subsídios que permitam aos professores atualizarem-se e aperfeiçoarem-se constantemente em relação ao exercício profissional; c) promover reuniões, discussões e debates com a população escolar e a

comunidade no sentido de melhorar sempre mais o processo educativo; d) estimular os professores a desenvolverem com entusiasmo suas

atividades, procurando auxiliá-los na prevenção e na solução dos problemas que aparecem.

Percebe-se que as atividades citadas acima são atividades que podem abranger todos os segmentos da educação básica. Uma vez que não foi encontrado na literatura especializada discussões pormenorizadas centradas na figura do coordenador pedagógico no Ensino Médio, sintetizamos algumas atribuições desse profissional, conforme se segue:

• Supervisão de entrada e saída de professores e alunos;

• Atendimento aos pais e alunos em relação a assuntos de diversas situações, tanto pedagógicas como pessoais;

• Participação em reuniões com toda a equipe gestora a fim de criarem estratégias para o melhor desenvolvimento do cotidiano escolar;

• Acompanhamento das mais variadas atividades burocráticas (emissão de documentos; elaboração de relatórios para diretores, professores, pais e alunos; registro do cotidiano escolar; seleção de estagiários bem como leitura de seus relatórios; organização de eventos e saídas com os alunos; entre outras);

• Substituição de aulas de professores, diante às ausências de última hora;

• Organização do espaço escolar ( conferir o funcionamento das salas de aula, pátio, cantina, banheiros e outros espaços);

• Encontros com professores nas reuniões pedagógicas para ajustes da rotina na escola ou problemas pedagógicos mais graves, pois com poucas reuniões pedagógicas, não há a possibilidade de se discutir todos os problemas existentes;

• Auxílio aos alunos formandos em relação aos vestibulares;

• Auxílio aos alunos dos 1º e 2º anos em relação à organização de estudos;

• Acompanhamento do planejamento de aula de cada docente bem como do material didático;

• Elaboração de calendário de aulas, provas e atividades extracurriculares;

• Agendamento com psicólogos para melhorar o suporte psicológico destinado aos alunos. Analisando as atribuições citadas acima bem como sobre o posicionamento dos autores, o papel do coordenador pedagógico, embora sendo múltiplo, tem certamente uma especificidade: auxiliar na consolidação das atividades fim da escola. Ainda que a formação de professores seja destacada

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como uma das principais funções do coordenador pedagógico, percebe-se que essa função, em muitas vezes, acaba sendo deixada de lado por conta de outras demandas. Nesse contexto, é importante destacar o olhar do docente sobre o coordenador pedagógico: o que pensa sobre o seu trabalho; sobre suas atribuições diárias, a contribuição ou não do trabalho dos professores com o trabalho da coordenação pedagógica; as ênfases sobre as dimensões trabalhadas e não trabalhadas; os setores contemplados ou não, objetos que será fruto de maior aprofundamento em artigo a ser publicado.

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*Mestranda em Educação pela Universidade Federal de São Carlos – Campus Sorocaba. Formada em Direito e Licenciatura em Pedagogia. Membro do GEPLAGE – Grupo de Estudos e Pesquisas Estado, Políticas, Planejamento, Avaliação e Gestão da Educação, vinculado ao CNPq. E-mail: dani.xfg@gmail.com.

Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar-campus Sorocaba. Vice-coordenador do mesmo programa. Líder do GEPLAGE. E-mail: paulolima@gmail.com.

Recebido em 15/12/2019 Aprovado em 20/12/2019

A INFLUÊNCIA DAS FUSÕES E AQUISIÇÕES NO PROCESSO DE

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