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O coordenador pedagógico no ensino médio na literatura especializada

Enquanto algumas pesquisas apontam que o estado do conhecimento é uma ferramenta necessária para se desdobrar o objeto em diversos meios de divulgação científica, tais como periódicos, teses, dissertações e livros, no campo ou área de temática específica, a revisão de literatura especializada

1Há diferentes nomeações nas redes de ensino de todo o país acerca desse profissional que desempenha a

articulação do trabalho pedagógico dentro das instituições escolares, tais como: professor coordenador, orientador pedagógico ou educacional e até mesmo supervisor. Nesse trabalho, o termo utilizado será coordenador pedagógico.

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Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.Especial, set.- dez. 2019, p.112-126 ISSN:2446-6220 congrega itinerário paralelo, entretanto, com preocupação de apresentar como e quais temáticas tem sido privilegiadas nas obras de determinados autores. Por revisão de literatura especializada entende-se a seleção minuciosa de determinadas temáticas de áreas do conhecimento, no nosso caso na área educacional, elege como temática a coordenação pedagógica no Ensino Médio. Inicialmente, dentro do contexto dos livros disponíveis, selecionamos as obras de Saviani (2006), Barros, Lopes e Carvalhêdo (2016), Libâneo (2017), Boccia e Dabul (2013). Tais obras contextualizam o surgimento e o desenvolvimento da categoria do coordenador pedagógico no âmbito da educação básica. O processo de ensino e aprendizagem na escola pressupõe interações entre todos os atores sociais envolvidos (alunos, professores, coordenadores, diretores, demais funcionários da escola, pais e toda comunidade) em busca da constante formação do indivíduo. Do conjunto de tais atores destacamos a presença do coordenador pedagógico, como mediador dos processos de ensino e aprendizagem das tensões e conflitos que transversalizam tais relações. A partir da literatura especializada, constata-se que a função de supervisionar/orientar o processo de ensino e aprendizagem existe desde muito cedo no Brasil, quando ainda existia a educação jesuíta. Dessa época para a atual, Saviani (2006) destaca que passamos por inúmeras transformações educacionais, mas é a partir da década de 1920 que os modelos tradicionais imperativos são questionados e acontecem novas mudanças para o desenvolvimento educacional. No contexto das novas relações existentes no início do século XX com a industrialização, a escola e os responsáveis pelas atividades meio e fim também necessitam de novos arranjos e organização, daí o surgimento da figura do supervisor, que já se “diferenciava” do diretor e inspetor de ensino. Nessa época, segundo Saviani (2006), tal profissional passou a ser responsável pela parte técnica da educação e o diretor pela parte administrativa.

Segundo Barros, Lopes e Carvalhêdo (2016), no período da ditadura militar em 1964, o então supervisor educacional ainda fazia parte dos profissionais que trabalhavam na escola e passou a exercer suas funções de acordo com o modelo imposto pelo governo que defendia uma educação em moldes autoritários e mecanicistas, mesmo porque iniciavam-se os acordos entre o Brasil e Estados Unidos por meio do MEC e da USAID. Até a década de 1980 a presença do supervisor educacional cercava-se de um caráter técnico e instrucional não necessariamente voltado para a construção do conhecimento do professor nas escolas brasileiras. Dessa década em diante, a conformação política, econômica e social no mundo e no Brasil exigiam novos arranjos nos modos de produção e força de trabalho, o que corroborou para o movimento de reabertura democrática no Brasil e novo olhar para a escola com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que propunha, dentre outros, no artigo 206 os seguintes princípios:

I- igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;

III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; (Inciso com redação dada pela Emenda

Constitucional nº 53, de 2006)

VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade.

VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. (Inciso acrescido pela Emenda

Constitucional nº 53, de 2006)

Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (Parágrafo único acrescido pela Emenda

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Pode-se verificar que o inciso sexto desse artigo previa a gestão democrática do ensino público. O que necessariamente para o interior da escola deveria acarretar espaços e tempos em que as vozes, votos e vezes fossem tomadas como pressupostos de toda a deliberação que a escola pudesse entender como significativa. A gestão democrática pressupõe pelo menos três eixos importantes e todos eles voltados a entendê-la como direito social. O primeiro eixo é conduzido pela descentralização, isto quer dizer que é necessário que exista empoderamento de todos os atores da escola não somente pelos cargos e atribuições pertinentes, mas todo este conjunto com vistas a atingir a finalidade educacional: as atividades-fim. O segundo eixo diz respeito à capacidade da escola se organizar de forma autônoma, utilizando os seus colegiados, as relações entre comunidade interna e externa como veículos para tomada de decisões no que interessa de fato a vida escolar e finalmente o terceiro eixo trata-se da participação, que se articula aos dois anteriores, mas que pode ser caracterizado com uma mola propulsora de todo o processo de mobilização para o alcance dos objetivos da escola.

A Constituição Federal de 1988 trouxe como diretriz a necessidade de elaboração de uma lei de diretrizes e bases da educação nacional que pudesse exprimir o novo tempo e o processo de redemocratização brasileira, logo, oito anos depois , surge a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996), que em seu artigo 3º, inciso VIII, corrobora o princípio de uma gestão democrática e, de forma mais específica, trata das incumbências das instituições de ensino como se segue:

Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:

I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;

II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola;

VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola; (Redação dada pela Lei nº 12.013, de 2009)

VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de 30% (trinta por cento) do percentual permitido em lei; (Redação dada pela Lei nº 13.803, de 2019) X - promover medidas de conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de violência, especialmente a intimidação sistemática (bullying), no âmbito das escolas; (Incluído pela Lei nº 13.663, de 2018)

X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz nas escolas. (Incluído pela Lei nº 13.663, de 2018)

XI - promover ambiente escolar seguro, adotando estratégias de prevenção e enfrentamento ao uso ou dependência de drogas. (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019) (BRASIL,1996, sic)

Sobre a gestão pedagógica, o texto da LDBEN destaca:

Art. 64. A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós- graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. (BRASIL, 1996, sic).

A década de 1990 é marcada por uma efervescência de ações concernentes à forma de organizar e regulamentar o ensino, o currículo, a formação de professores, dentre outros. Destaca-se deste período a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), diretrizes elaboradas pelo

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Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.Especial, set.- dez. 2019, p.112-126 ISSN:2446-6220 MEC com o objetivo de subsidiar e orientar o trabalho dos professores, bem como auxiliar na elaboração e revisão curricular das instituições que atuam. Anos mais tarde, surge também a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Segundo o portal do MEC, a BNCC é documento obrigatório que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas da Educação Básica.

Outro tema do período que merece destaque é o desenvolvimento de avaliações em larga escala para a educação básica, inclusive para o ensino médio. Em todo esse contexto, o coordenador pedagógico categorizado por tal terminologia, tinha sob a sua responsabilidade grande parte da demanda escolar articulando a dimensão burocrática e pedagógica (assistência ao professor), além de dirimir tensões dos discentes.

Atualmente, o coordenador pedagógico no Brasil é um profissional que faz parte da gestão escolar, que busca exclusivamente a articulação de todo o trabalho pedagógico. A gestão escolar tem por objetivo por meio de equipe específica, o desenvolvimento de atividades meio para o assessoramento de professores na concepção de seus fins. Dentre os atores que compõem a equipe, ao coordenador pedagógico compete atribuições voltadas às dimensões pedagógicas. Uma das funções do coordenador pedagógico é trabalhar com a formação continuada dos seus professores. Para Libâneo (2017) o coordenador pedagógico responde pela viabilização, integração e articulação, do trabalho pedagógico-didático em ligação direta com os professores, em função da qualidade de ensino. Conforme Boccia e Dabul, para ocupar o cargo de coordenador pedagógico:

No Município de São Paulo, o provimento deste cargo dá-se por concurso de acesso (Lei n. 14.660 de 26 de dezembro de 2007), tendo por pré-requisito a graduação em Pedagogia. […] Já no estado de São Paulo, o provimento não é por concurso. Trata-se de função de professor coordenador e o candidato passa por prova de credenciamento nas Diretorias de Ensino, sendo exigidos 50% de acertos na prova. O pré-requisito é possuir graduação no ensino superior em qualquer área. Na rede privada, o coordenador pedagógico é indicado pelo diretor ou mantenedor da unidade e se exige formação específica em Pedagogia (BOCCIA e DABUL, 2013, p.16).

Em algumas redes municipais brasileiras, há editais de concurso para o provimento do cargo de coordenador pedagógico, que elenca quais serão as suas atribuições. Vale ressaltar que nas instituições privadas, o coordenador pedagógico do Ensino Médio não precisa, necessariamente, ter formação específica em Pedagogia, conforme havia destacado Boccia e Dabul. Como veremos na próxima sessão, o Ensino Médio possui certas especificidades, pois é compreendido como o último segmento da educação básica, que visa à formação do estudante para o ingresso à graduação e/ou

para o mercado de trabalho. Nessa fase, os adolescentes transitam entre esses dois eixos (continuidade da vida escolar ou mercado de trabalho) e, nesse contexto, o coordenador

pedagógico pode ser o profissional que irá ajudá-los nesse processo de formação. Encontra-se atualmente na gestão pedagógica das instituições de ensino, agentes como diretores, coordenadores, orientadores educacionais e assistentes. Por se tratar de uma função extremamente importante, porém não tão bem delimitada, o enfoque do presente trabalho problematiza as dimensões de suas mediações e relevância profissional e diálogo dos docentes conforme se verá no decorrer desse trabalho.

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