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A atuação combativa do Ministério Público e da Polícia Federal no combate à corrupção

4.4 A necessidade de proteção da moralidade administrativa no ordenamento pátrio: a

4.4.6 A atuação combativa do Ministério Público e da Polícia Federal no combate à corrupção

É de se aplaudir, neste contexto, a atuação do Ministério Público, que tem atuado no sentido de proteger o bem jurídico da moralidade e efetivar este direito no seio social. Na verdade, a atuação desta instituição só é possível em face da ação conjunta com a Polícia Federal, órgão que também tem grande importância na luta contra a corrupção. Juntas, as duas instituições têm alterado o panorama do combate à corrupção no Brasil.

Neste sentido, principalmente o Ministério Público tem assumido uma postura eminentemente política no combate à corrupção no Brasil, encabeçando diversas políticas públicas com o objetivo de educar a sociedade e melhorar o ambiente democrático.

Apenas a título de exemplo, cite-se o caso dos Núcleos de Combate à Corrupção nas Procuradorias da República e nas Procuradorias Regionais da República, grupos que têm como objetivo trabalhar a prevenção e repressão da corrupção, o que tem permitido uma melhoria real na quantidade e qualidade das ações promovidas pelo Ministério Público Federal (MPF) neste sentido. Para se ter uma ideia, atualmente encontram-se em andamento no MPF 26 mil investigações diretas sobre casos de corrupção, sendo que 1.229 ações de improbidade e 901 ações penais foram ajuizadas apenas em 2015.502

Uma ação muito importante do MPF foi a criação de uma plataforma on line com acesso público onde é possível visualizar todos os inquéritos civis, ações de improbidade, ações penais e demais ações de interesse da coletividade. A partir deste instrumento, a sociedade tem acesso direto às investigações em curso nos casos de corrupção em cada estado federado. Pode-se, inclusive, verificar o número destes processos e o andamento dos mesmos, o que se configura como um verdadeiro instrumento da política de publicidade da atuação do Estado.503

Outro exemplo que pode ser dado é a criação da campanha “10 medidas contra a corrupção”, que tem por objetivo avançar no aprimoramento da legislação anticorrupção através de um projeto de iniciativa popular que busca alterar profundamente o microssistema processual

502 MPF. 100 casos de corrupção em 2015. Disponível em: <https://slate.adobe.com/cp/DgF4n/>. Acesso em:

15/01/2016.

503 MPF. Estatísticas. Disponível em: <http://www.combateacorrupcao.mpf.mp.br/estatistica>. Acesso em:

15/01/2016. Cf. FILGUEIRAS, Fernando. Além da transparência: accountability e política da publicidade. In

Revista Lua Nova. São Paulo, SP, n. 84, p. 353-364, 2011. Disponível em: <http://democraciaejustica.org/cienciapolitica3/sites/default/files/alem_da_transparencia_-

responsável pela punição da corrupção, diminuindo a impunidade e melhorando a qualidade da democracia.504

O fato é que as ações destes órgãos possuem um impacto positivo na sociedade, na medida em que diminuem a sensação de inação dos poderes públicos diante dos escândalos de corrupção. Desta forma, contribuem de forma visível para o combate à corrupção, aprimorando de forma reflexa o sistema de controle social, uma vez que suas ações colaboram para a recuperação da confiança dos cidadãos na democracia e no próprio Estado.

4.4.6.1 As propostas do Ministério Público para a melhoria do combate à corrupção no Brasil

Como dito linhas atrás, o Ministério Público tem protagonizado uma série de ações para combater à corrupção, como é o caso das “10 medidas contra a corrupção”. Assim, esta campanha tem como objetivo alterar a legislação pátria de combate à corrupção atual que tem permitido um alto grau de impunidade, lentidão e morosidade no julgamento dos processos. Além disto, prevê medidas a serem realizadas para melhorar a qualidade do serviço público. Entre as medidas propostas, estão505:

1. Investimento em prevenção

a) Regras de accountability: a fim de tornar as ações mais céleres, propõe-se a publicação de estatísticas anuais sobre os julgamentos das ações relativas aos casos de corrupção no âmbito dos TRFs, TJs e nos próprios MPs;

b) Teste de integridade: para preparar melhor os agentes públicos para a realidade do exercício da função pública, o Ministério Público propõe também a criação do “teste de integridade”, que consiste em uma avaliação periódica dos agentes, de forma aleatória ou dirigida, por meio de simulações em que será testada a sua conduta moral dos agentes;

504 MPF. 10 medidas contra a corrupção. Disponível em: <http://www.combateacorrupcao.mpf.mp.br/10-

medidas>. Acesso em: 15/01/2016.

505 MPF. Propostas legislativas. Disponível em: <http://www.combateacorrupcao.mpf.mp.br/10-

c) Percentuais de publicidade: para educar os cidadãos acerca da moralidade administrativa, do combate à corrupção, propõe-se a fixação de um percentual mínimo de publicidade nas ações e programas do Poder Público;

d) Sigilo da fonte: prevê a regulamentação do sigilo da fonte em casos de denúncias relacionadas aos crimes de corrupção;

2. Criminalização do enriquecimento ilícito do agente público: prevê um “art. 312-A” no Código Penal, criminalizando a conduta do enriquecimento ilícito do agente público. 3. Corrupção com pena maior e como crime hediondo segundo o valor: prevê a majoração

das penas previstas para os crimes contra a Administração Pública no Código Penal, e elementos de majoração da pena a depender do valor desviado.

4. Aperfeiçoamento do sistema recursal processual penal

a) Recurso manifestamente protelatório: O Ministério Público propõe o disciplinamento do trânsito em julgado dos recursos manifestamente protelatórios, evitando-se a postergação desnecessária das ações;

b) Pedido de Vistas: propõe também o disciplinamento dos pedidos de vista nos tribunais, evitando-se que membros dos mesmos ultrapassem determinados lapsos de tempo e posterguem ainda mais as ações;

c) Revisão dos recursos no Código de Processo Penal: objetiva melhorar a eficiência do processo judicial a partir da reformulação dos recursos existentes na atualidade; d) Execução provisória da pena: com este Projeto de Lei, objetiva-se alterar o texto do

art. 96 da Constituição Federal, incluindo-se um parágrafo único que irá prever a possibilidade de execução provisória da decisão penal condenatória, mesmo que ainda esteja na pendência o julgamento de recurso especial ou extraordinário; 5. Maior eficiência da ação de improbidade administrativa

a) Agilização do trâmite da LIA: nesta medida, propõe-se o fim da notificação prévia, dentre outras medidas;

b) Varas especializadas: o Ministério Público propõe, aqui, a criação de varas especializadas para as causas relacionadas à corrupção, o que traria ainda mais agilidade às tramitações neste sentido.

c) Acordo de leniência: prevê a possibilidade de ser realizado acordo de leniência, no âmbito da LIA, com pessoas físicas ou jurídicas, facilitando-se a investigação dos casos de improbidade;

6. Ajustes na prescrição penal contra a impunidade e a corrupção 7. Ajustes nas nulidades penais contra a impunidade e a corrupção

8. Responsabilização dos partidos políticos e criminalização do “caixa 2” 9. Prisão preventiva para evitar a dissipação do dinheiro do desviado 10. Medidas para recuperação do lucro derivado do crime.

Cada medida apresentada pelo Ministério Público será proposta por meio de um projeto de lei de iniciativa popular, medida que tem por objetivo estimular o cidadão a participar de maneira ativa no processo de mudança no atual quadro normativo. Tais medidas, de fato, possuem o condão de melhorar o sistema de persecução civil e criminal da corrupção. Por isto, a participação da sociedade neste processo é imprescindível, na medida é preciso uma mudança substancial no sistema de persecução civil e criminal para dar fim à impunidade e dar efetividade às medidas de combate à corrupção no país.

5 OS TRATADOS INTERNACIONAIS ANTICORRUPÇÃO INCORPORADOS AO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Como ficou exposto no capítulo anterior, a moralidade administrativa é um direito fundamental. Enquanto tal, precisa de uma ampla proteção do ordenamento jurídico pátrio. Vários instrumentos foram criados, desta forma, para protegê-la através do combate dos diversos tipos de corrupção. Mas é preciso levar em consideração, também, que dentro do quadro geral de normas protetivas da moralidade, no ordenamento pátrio, encontram-se três tratados internacionais da mais alta importância, que foram devidamente incorporados ao quadro de normas anticorrupção por meio dos Decretos 4.410/2002,506 3.678/2000507 e 5.687/2006,508 alterando de maneira permanente o panorama do combate a este problema no Brasil.

Reconhecendo-se que tais instrumentos jurídicos compõem o ordenamento jurídico brasileiro, este capítulo tem por objetivo analisar os mesmos, avaliando em que medida eles têm contribuído para o combate à corrupção no Brasil. Não se quer, com isto, ingressar em discussões que ultrapassam o objeto de estudo do presente trabalho, restrito ao âmbito interno, por isto as discussões que seguem se circunscrevem, tão somente, à compreensão dos instrumentos jurídicos introduzidos no ordenamento brasileiro, dos conceitos e normas que nascem a partir dos mesmos.

Assim, serão analisadas, de maneira sucinta, as principais normas e disposições trazidas por cada um destes tratados, bem como a influência que exercem no ordenamento jurídico pátrio, na melhoria das instituições e criações das leis.

506 BRASIL, Decreto nº 4.410, de 8 de outubro de 2002. Promulga a Convenção Interamericana contra a

corrupção, de 29 de março de 1996, com reserva para o art. XI, parágrafo 1º, inciso “c”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4410.htm>. Acesso em: 12/12/2015.

507 BRASIL, Decreto nº 3.678, de 30 de novembro de 2000. Promulga a Convenção sobre o Combate da Corrupção

de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais, concluída em Paris, em 17 de dezembro de 1997. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3678.htm>. Acesso em: 12/12/2015.

508 BRASIL, Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de 2006. Promulga a Convenção das Nações Unidas contra a

Corrupção, adotada pela Assembléia-Geral das Nações Unidas em 31 de outubro de 2003 e assinada pelo Brasil em 9 de dezembro de 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004- 2006/2006/Decreto/D5687.htm>. Acesso em: 12/12/2015.