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A atuação de Oscar Machado na Igreja Metodista Central de Juiz de Fora

2. OSCAR MACHADO: UM INTELECTUAL A SERVIÇO DO METODISMO EM JUIZ DE

2.7 A IGREJA METODISTA CENTRAL DE JUIZ DE FORA E SUAS DIFICULDADES FINANCEI-

2.7.1 A atuação de Oscar Machado na Igreja Metodista Central de Juiz de Fora

No primeiro capítulo, observou-se que as atividades educacionais metodistas se davam de diferentes formas que variavam segundo os objetivos e o público alvo ao qual os missionários se direcionavam.

Se, por um lado, seus colégios ambicionavam formar futuros líderes, oriundos de uma elite simpática ao ideário liberal por eles propagado, aos quais se somavam tam- bém os futuros quadros que iriam ingressar na Igreja e em suas instituições estudantis, por outro, havia o esforço voltado aos filhos das camadas mais humildes para os quais se dirigiam as atividades das escolas paroquiais e dominicais.166

Na Ata da reunião da Assembleia da Igreja Episcopal de Juiz de Fora, realizada em abril de 1934, corroborando o mencionado clima de otimismo que se fazia presente na comunidade metodista, o pastor Isaias Sucasas destacou que a fraternidade e a espiri- tualidade estavam melhorando na Igreja, assim como a frequência de seus membros

164 É importante frisar que, mesmo contando com cerca de 1000 membros, o que se observou na primeira

metade da década de 1930 na documentação produzida pelas atividades da Igreja foi que constantemente se realizava um trabalho para evitar que seus fiéis deixassem de participar das atividades cotidianas, não raro, sendo enviados alguns membros para a visitação das residências dos faltosos com o intuito de se apurar as razões para o afastamento. Entre outros documentos, ver: (Ata da Assembleia da Igreja

Episcopal de Juiz de Fora 1930-1934, 04/02/1932, p. 3; Ata da Assembleia da Igreja Episcopal de Juiz de Fora 1930-1934, 07/04/1932, p. 5; Ata da Assembleia da Igreja Episcopal de Juiz de Fora 1930-1934,

05/05/1932, p. 5.1-8 e Ata da Assembleia da Igreja Episcopal de Juiz de Fora 1930-1934, 29/11/1930, p. 1, 1.1).

165 Eles vieram a fazer parte da Igreja Metodista Central da cidade desde 09 de janeiro de 1930,

ingressando Oscar Machado como seu membro número 1719. Ver: (Rol n.º 1719, livro n.º 01, pág. 58. Transferido para Porto Alegre em 11/09/1934).

166 Em Juiz de Fora, as informações relativas à presença de escolas dominicais dão conta de que, no ano

de 1934, cinco destas estavam em funcionamento, além daquela que iria ser criada em Bicas. Distante quase 30 quilômetros de Juiz de Fora, Bicas era um distrito do município de Guarará, cuja independência se deu no ano de 1923, vindo a mesma se tornar comarca em 1935. História de Bicas. Disponível em: < http://www.bicas.mg.gov.br/detalhe-da-materia/info/historia-de-bicas/6506>. Acesso em: 07 jun. 2017.

estava aumentando, sendo a mesma acompanhada pelas atividades realizadas nas esco- las dominicais do centro e dos bairros:

O pastor dá em seu relatorio conta do estado geral da Igreja, sendo que os trabalhos todos continuam animados, não obstante o pessimismo em razão de alguns irmãos, cuja critica não afecta em absoluto a grandeza do evangelho. Diz da fraternidade e da espiritualidade da Igreja que tem melhorado sensi- velmente, notando ainda augmento da frequencia aos cultos não só de dia como de noite e bem assim nas diversas Escolas Dominicaes, do centro e dos bairros; sendo que já se contam em numero de oito as Escolas na parochia, com uma matricula de 637 alumnos, aproximadamente.167

Nesta mesma reunião, após explanar sobre a situação na qual se encontravam as sociedades de senhoras, de jovens e crianças, cujo funcionamento estava a contento se- gundo o gabinete episcopal, o tema central voltou a ser as finanças. Foram apresentados os planos para aumentar a arrecadação da Igreja com a criação de um sistema de cotas, pois, apesar de ter melhorado, as receitas ainda não conseguiam cobrir as despesas. Lo- go depois de tal explanação, passou-se a palavra aos superintendentes das escolas domi- nicais, que detalharam a situação financeira de cada uma delas, cujos dados foram sinte- tizados na tabela abaixo:

Tabela 3: Dados das Escolas Dominicais de Juiz de Fora até abril de 1934 Escola Matrículas Professores e

oficiais

Arrecadação Despesas Saldo

Centro 322 25 1:101$600 1:045$800 55:800 Wesley 45 5 133$000 99$500 33$500 Levingstone 43 5 83$500 63$200 20$300 Bethel 22 4 68$000 52$300 15$700 Bonfim 45 4 23$700 12$300 11$400 Total 477 43 1:409$800 1:269$100 140$700

Fonte: Ata da Assembleia da Igreja Episcopal de Juiz de Fora 1930-1934, 26/04/1934, p. 15.1.168

É interessante analisar estes dados acima, em especial aqueles disponibilizados na Ata da Assembleia Episcopal169, pois eles indicam que os alunos nas escolas domini-

167 Ata da Assembleia da Igreja Episcopal de Juiz de Fora 1930-1934, 26/04/1934, p. 15.1.

168 A tabela foi elaborada com base nos dados apresentados na referida reunião cujos montantes tinham

como prazo limite o mês de abril de 1934. Nesta ocasião, o pastor Isaias Sucasas mencionou que nem todas as escolas dominicais apresentaram seus balanços, pois eram no total de oito com aproximadamente 637 alunos, o que não se observa na tabela. (Ata da Assembleia da Igreja Episcopal de Juiz de Fora

cais representavam um total de, aproximadamente, 640 matrículas. Esta situação de- monstra que a cúpula metodista esperava que as novas gerações ampliassem o tamanho de sua comunidade na cidade, justificando todo o esforço em tal empreendimento em Juiz de Fora e as ações que ficavam sob a responsabilidade de Oscar Machado, como se verá adiante.

Acerca da rotina que as escolas apresentavam, usualmente, elas funcionavam no horário iminentemente anterior à celebração dominical, consoante se observou nas discussões realizadas na Assembleia da Igreja Episcopal do dia 24/04/1933, na qual, por efeito da alteração do horário do culto, se discutiu qual seria o melhor horário das aulas.170

Sobre seu funcionamento interno, a contar pelas informações referentes àquela adjacente à Igreja Central da cidade, no dia 31/05/1931, a Classe Rosa de Saron, além das 10 visitas, recebeu 21 alunos e totalizou 21 ausências. Junto do alto absenteísmo, pôde-se perceber que, entre as crianças, se realizava a coleta para a manutenção da escola que atingiu o montante de 3$600.171

Nessa ocasião, encontrou-se a primeira menção ao envolvimento de Oscar Machado com tal segmento educacional do metodismo, posto que ele havia também apresentado a professora que iria substituir a então regente da sala, pois esta alegou que estava com muito trabalho no Granbery, necessitando, por isso, deixar a turma do domingo.172

Sobre a mesma sala, em 11/10/1931, registrou-se a presença de 21 alunos, a ausência de 9 e a visita de 6, com uma arrecadação de 2$100. Neste domingo, a professora regente apresentou a sugestão de que fosse organizada uma festa nos jardins da casa do professor Oscar Machado, sendo que cada aluna – ao que tudo indica pelo nome da turma se tratava de uma classe só de mulheres – deveria ficar responsável por levar uma caixa de doces que seriam vendidos aos rapazes, proposta que foi aceita,

169 Ata da Assembleia da Igreja Episcopal de Juiz de Fora 1930-1934, 26/04/1934, p. 15.1.

170 Sobre a discussão ver: (Ata da Assembleia da Igreja Episcopal de Juiz de Fora 1930-1934,

24/04/1933, p. 12.1, 13). Afora a escola dominical Wesley ter modificado seu horário de funcionamento, conforme informou seu superintendente em 08/03/1933, (Ata da reunião do Gabinete Episcopal de Juiz

de Fora, 08/03/1933, p. 5-5), havia sido aprovado, em 29/11/1930, que as Escolas Dominicais dos bairros

iniciassem suas atividades no mesmo horário que as do centro. (Ata da Assembleia da Igreja Episcopal de

Juiz de Fora 1930-1934, 29/11/1930, p. 1-.1.1)

171 Ata da Classe Rosas de Saron, 31/05/1931, p. 57. 172 Ata da Classe Rosas de Saron, 31/05/1931, p. 57.

ficando também acertado que, no sábado seguinte, a professora iria ensinar as alunas a fazer sorvete.173

A menção à presença de Oscar Machado nas duas ocasiões das aulas da classe Rosas de Saron se deve ao fato de que foi informado na reunião da Assembleia da Igreja Episcopal de 29/11/1930, pelo professor Irineu Guimarães, que Oscar Machado iria assumir a superintendência das Escolas Dominicais.174

Dois anos depois, em reunião realizada em 13/03/1932, Oscar Machado ainda se encontrava como superintendente da escola dominical central, passando, desde esta data, também a acumular o cargo de secretário das reuniões do Gabinete Pastoral, espécie de órgão colegiado máximo da Igreja Episcopal de Juiz de Fora. Nesta mesma reunião, além dos afazeres que acumulava, foi-lhe atribuída a tarefa de coordenar a abertura de uma escola dominical no bairro Botanágua, para a qual se recomendou também a atribuição de uma pessoa para ajudá-lo em tal empreitada.175

No ano seguinte, em reunião do Gabinete pastoral, Oscar Machado sugeriu que se criasse o cargo de Diretor Geral das Escolas Dominicais, proposta que foi aceita com a ocupação deste posto pelo professor Wesley M. Carr, ficando o professor Oscar Machado incumbido de definir quais seriam as reais atribuições desta nova função.176

A importância e o alcance das escolas dominicais foram alvos das discussões presentes durante a realização do 2º Concílio Geral da Igreja Metodista, realizado no ano de 1934, no qual o bispo J. W. Tarboux apresentou inúmeros dados destas, atinentes ao quadriênio de 1930-1933, que foram sintetizados na tabela abaixo:

173 Ata da Classe Rosas de Saron, 11/10/1931, p. 66.

174 Ata da Assembleia da Igreja Episcopal de Juiz de Fora 1930-1934, 29/11/1930, p. 1-1.1. 175 Ata da reunião do Gabinete Episcopal de Juiz de Fora, 13/03/1932, p. 3.1-4.

176 Ver: (Ata da reunião do Gabinete Episcopal de Juiz de Fora, 08/03/1933, p. 5-5.1). No dia seguinte,

na reunião da Assembleia da Igreja Episcopal de Juiz de Fora, a sugestão do nome do professor Wesley M. Carr para assumir o cargo de Diretor das Escolas Dominicais foi aprovada. (Ata da Assembleia da

Tabela 4: Resumo estatístico das escolas dominicais do quadriênio 1930-1933

Ano Escolas Domini-

cais Professores Alunos 1930 323 1491 16.601 1931 329 1669 18.503 1932 355 1741 20.153 1933 357 1842 21.457

Fonte: Atas do 2º Concílio Geral da Igreja, 1934, p. 9.

Esses dados, ao serem comparados com as informações alusivas às escolas dominicais dos anos de 1882, 1900, 1924 e 1928, possibilitam avistar o notável crescimento das escolas dominicais. Quando se observa que, em 1928, existiam 298 escolas dominicais e que, dois anos depois, este número já chegava a 323, compreende- se que os esforços não cessavam, ainda que o número de alunos tenha diminuído de 16.634 para 16.601.177

Em conjunto, tais dados revelam que, malgrado esta diminuição do número de alunos, que poderia ser explicada pela rotatividade destes nas escolas, conforme se observou também em Juiz de Fora, os esforços realizados para a expansão de tais órgãos da Igreja na cidade se mostraram bastante significativos, tomando Oscar Machado um papel de destaque nesta.

Todavia, além de suas funções nas escolas dominicais, que se aproximavam bastante dos afazeres que Oscar Machado possuía no Granbery, seja por se vincular a seu ofício de educador ou ainda por funções de secretariado dos órgãos deliberativos dos quais participava, a exemplo da Congregação da Faculdade de Teologia do

Granbery, ele também atuou em outras comissões da Igreja.

Sobre os primeiros, tem-se que, ao lado de Derly Chaves, Josué Cardoso d’Afonseca, Isaura Silva e Juanita Campos, Oscar Machado foi escolhido para integrar a Comissão de Educação Cristã, numa reunião na qual o pastor Isaias Sucasas recomendou que a Igreja elaborasse um boletim trimensal para se divulgar as atividades realizadas e as ações desempenhadas por suas associações.178

177 Os dados das escolas dominicais, nos anos supramencionados foram extraídos do Anual Report, anos

1883, 1900 e 1924; Registro Official da Conferência... 1930, p. 44, letra “o” e se encontram disponíveis em: (MESQUIDA, 1994, p. 146).

Nesta ocasião, abrindo a palavra aos membros da assembleia, Derly Chaves propôs a elaboração de um relatório semanal. Sua ideia foi endossada por Josué Cardoso d’Affonseca, que sugeriu também que a elaboração deste material deveria ficar a cargo do Gabinete Pastoral.179 Na reunião seguinte do Gabinete Pastoral, a elaboração

do referido relatório voltou a ser assunto, sendo que o pastor anunciou que pensava em mandar imprimi-lo tão logo as finanças da Igreja o permitissem.180

Para se ter uma noção do conteúdo deste material, o trabalho de Messias Matheus de Jesus, que analisou a comunicação religiosa da igreja por meio da impressão de seu boletim – que no ano de 2014 completou oitenta anos de existência, demonstrando que as discussões realizadas nestas reuniões acima mencionadas foram frutíferas, tornando-se perenes na cultura metodista local – nos permitem notar através da apreciação de suas capas alguns aspectos da rotina do domingo na Igreja, com destaque especial para o programa que era realizado nas Escolas Dominicais. (JESUS, 2014)

Na citação abaixo, integrante do boletim semanal produzido pela Igreja Metodista Central de Juiz de Fora em janeiro de 1937, se pode observar um pouco mais da dinâmica existente nas escolas dominicais que, em parte, foi abordada quando se analisou a documentação produzida pelas atividades da classe Rosa de Saron.

ESCOLA DOMINICAL – PROGRAMMA 1 – Culto de adoração nos departamentos. 2 – Estudo da ficção nas classes.

3 – Reunião das classes no Santuário. 4 – Hymno 146, pela Escola Dominical. 5 – Leitura responsiva, Alleluia 423. 6 – Offertas e agradecimentos.

7 – Hymno 264, pela Escola Dominical. 9 – Oração e bençam apostolica.181

Iniciando com o culto, mais tarde se realizavam as lições nas diferentes salas, momento a partir do qual se entende que ocorriam as atividades de proselitismo que, de acordo com a literatura que versa sobre a presença metodista na cidade, além de fornecer instrumentais básicos para que camadas mais humildes da população pudessem realizar exercício de sua fé, atendia também aos intentos de atrair novos fiéis, dentre eles, filhos das elites locais. (CORDEIRO, 2003, p. 86-87)

179Ata da reunião do Gabinete Episcopal de Juiz de Fora 1930-1934 12/01/1933, p. 11-11.1. 180 Ata da reunião do Gabinete Episcopal de Juiz de Fora, 08/03/1933, p. 5-5.1.

Posteriormente a esta última reunião acima mencionada, Oscar Machado acabou se tornando um dos membros da Comissão de hospedagem do Concílio Regional do Norte que iria ocorrer em Juiz de Fora em julho do mesmo ano.182 Além dessas

atividades, ao lado de Irineu Guimarães, Otília Chaves e Paulina Morais, ele integrou uma comissão responsável pela dedicação do novo templo, cujas atribuições seriam as de organizar os programas, os convites, propagandas, dentre outros.183

Três meses depois, na companhia de Otília Chaves, Wesley Carr, Moyses Andrade, Paulina Morais, Djanira Ferres e Leontina Pereira, Oscar Machado fez parte da Comissão de Beneficência da Igreja Metodista, além de se encarregar, ao lado de Moyses Andrade, de estudar um local melhor para a instalação da secretaria da Igreja após as alterações pelas quais vinha passando.184

Por fim, Oscar Machado também foi uma das pessoas da Igreja Central de Juiz de Fora que esteve presente no 2º Concílio Geral da Igreja Metodista, ocorrido em Porto Alegre entre os dias 04/08/1934 e 19/08/1934. Segundo os registros das atas das reuniões do Concílio, do qual Oscar Machado foi secretário, é possível identificar uma postura bastante pró-ativa e proeminente deste membro do laicato metodista. Esse aspecto demonstra sua importância pois, em virtude de ter sido um dos delegados leigos do Concílio Regional do Norte do qual a Igreja de Juiz de Fora fazia parte, ele atuou como membro da Comissão de Memoriais e desempenhou a função de intérprete de Flora Stout, a representante da União Brasileira pró Temperança durante o evento.185

Nesse sentido, se poderia propor que, ao congregar suas atividades ordinárias no

Instituto Granbery com uma diversificada e destacada participação nas esferas decisivas

do metodismo local e nacional, ele conseguiu alçar uma posição que lhe rendeu grande prestígio. Configurando-se como um membro renomado da intelligentsia metodista, sua trajetória confirmava já, neste momento, a eficácia do projeto coletivo da denominação religiosa em formar seus quadros.

Ao mesmo tempo, nos termos de Pierre Bourdieu, naquilo que diz respeito às posições ocupadas por Oscar Machado no metodismo, poderia-se propor que ele acumulou um considerável volume de capitais que, ao lhe proporcionar vantagens nos

campos em que atuava, possibilitavam-lhe também ser reconhecido como uma

182 Ata da reunião do Gabinete Episcopal de Juiz de Fora, 08/03/1933, p. 5-5.1. 183 Ata da reunião do Gabinete Episcopal de Juiz de Fora, 07/06/1933, p. 5.1-6. 184 Ata da reunião do Gabinete Episcopal de Juiz de Fora, 11/09/1933, p. 6. 185 Atas do 2º Concílio Geral da Igreja, 1934.

autoridade a ser respeitada, tanto em meio aos intelectuais laicos, quanto em meio à hierarquia eclesiástica, fato do qual ele se beneficiaria no futuro, como se verá adiante.