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ENTRE A CRUZ, O COMPASSO, O SIGMA E A FOICE E O MARTELO: AS DIVERGENTES

3. MAÇONARIA, METODISMO E INTEGRALISMO: OSCAR MACHADO E O INÍCIO DO

3.4 ENTRE A CRUZ, O COMPASSO, O SIGMA E A FOICE E O MARTELO: AS DIVERGENTES

Na documentação produzida pelas atividades educacionais do Granbery, foi possível identificar que, na década de 1930, parte das disputas políticas que existiam em nossa sociedade se fizeram presentes neste local, aspecto que, misturado com uma dis- puta por poder interna à instituição, gerou certo desconforto para alguns dos envolvidos. Na primeira reunião da Congregação do Granbery, ocorreu a apresentação de Oscar Machado e Dr. Maurício Murgel aos demais professores. Dentre os vários assun- tos que foram tratados na ocasião, sublinha-se o pedido que foi feito pelo reitor Walter Harvey Moore ao corpo docente para que não se falasse de política durante as aulas, ação que demonstra a preocupação de sua administração com a candente situação naci- onal.234

Num contexto marcado por séria instabilidade social, política e econômica ad- vindas, por um lado, de fatores externos como a ocorrência da Revolução Russa, a as- censão do fascismo, a crise da Bolsa de Valores de Nova Iorque e, por outro, de fatores internos, como a eclosão de revoltas urbanas e rurais, se concebe o porquê da existência da preocupação com manifestações políticas por parte da diretoria do Granbery.235

Nesse sentido, contrariando a solicitação feita por Walter Harvey Moore, trazen- do para o interior do Granbery aquilo que se contemplava na política nacional e interna- cional, se fizeram presentes os defensores do ideário socialista-comunista e seus inimi- gos que se encontravam situados num espaço diametralmente oposto no espectro políti- co, os defensores das experiências fascistas que se espalhavam pelo planeta no período entreguerras e que, no Brasil, possuiu sua maior personificação no movimento integra- lista.

234 Ata da Congregação do Granbery, 14/02/1930, p. 79.

235 Como exemplo destas revoltas, desde o início do século XX, podemos citar a revolta Chibata, da Va-

cina, Canudos, o Cangaço e as Greves de 1917 às quais, na década seguinte, se somaram a Revolta dos 18 do Forte e os eventos envolvendo o movimento tenentista. Quando associadas à ebulição ocorrida no cenário político-cultural brasileiro em 1922, derivada da fundação do Partido Comunista do Brasil (PCB) e da realização da Semana de Arte Moderna, ajudam a compor o painel que ajudou a acirrar ainda mais o cenário de disputas políticas nacionais que, após a eclosão do golpe de 1930, concorreria para a aparição de soluções extremistas frente à ameaça nacional e internacionalmente representada pelo avanço do “pe- rigo comunista”. Sobre os eventos mencionados ver: (NASCIMENTO, 2008; SEVCENKO, 2001; MON- TEIRO, 2011; CLEMENTE, 2009; LOPREATO, 2000; BOAVENTURA, 2000; CARONE, 1989; CHILCOTE, 1982; PACHECO, 1984 e BORGES, 1992).

Nos documentos oficiais e no jornal do Granbery, cuja supervisão até o início do ano de 1930 estava a cargo do professor Irineu Guimarães236, não foram encontradas

muitas menções alusivas ao clima político. No que concerne ao golpe de 1930, a única matéria publicada, apesar de posicionar o instituto a favor do movimento golpista e de enaltecer os reservistas do Granbery, voltou a frisar que não se permitiram manifesta- ções dirigidas ao momento vivenciado para não trazer quaisquer tipos de complicações seja em nível interno ou externo para o mesmo.

Durante os dias de revolução o collegio não suspendeu suas aulas. Ellas con- tinuaram com toda a regularidade possivel. Chamados os reservistas compa- receram quasi todos237. Alguns conseguiram transpor as fronteiras, já nos ul-

timos momentos da luta e se apresentaram as hostes revolucionarias.238 O

Granbery não prega partidos politicos. Prega o civismo que é a completa li- berdade consciente. Assim é que victoriosa a revolução e de novo a paz, as senhoras Yonne Saldanha da Affonseca e Eunice Weaver offereceram uma festa em alegria pela volta de todos, pela paz e pelo cumprimento do dever. A administração do collegio foi estremamente rigorosa em prohibir qualquer discussão em aula e qualquer manifestação que pudesse trazer dificuldades á ordem ou ao nome do estabelecimento. (O Granbery, 29/11/1930, p. 4)

Nos anos seguintes, o tema política só voltou a ser mencionado no jornal do ins- tituto em 1933 quando, em matéria intitulada Renovação, o autor, sob o pseudônimo “Benco”, explanou a crise econômica mundial e enfatizou que o presidente norte ameri- cano Franklin Delano Roosevelt (1933-1945) havia criticado o liberalismo econômico, colocando-o como um dos responsáveis pela situação vivida aquela época. (O Gran-

beryense, 08/09/1933, p. 3)

236 Irineu Guimarães deixa a redação d’ O Granbery. O Granbery, 15/03/1930, p. 3.

237 A matéria se reporta aos reservistas do tiro de Guerra do Granbery. Sobre o tema, entre outros artigos

do periódico, ver: (O Granbery, 10/11/1928, p. 54 e O Granbery, 10/11/1929, p. 51).

238 Sobre os embates do movimento em Minas Gerais e, em especial, na região de São João del Rei e Juiz

de Fora, tivemos: “Belo Horizonte foi ocupada e boa parte de sua população aderiu aos batalhões de voluntários que logo se formaram. Prevendo resistência no setor da Mantiqueira e na região de Juiz de Fora, o comando do movimento bloqueou as estradas de ferro, isolando o 12º RI e impedindo a circulação de tropas, equipamentos e informações. Em seguida, deslocou seu quartel-general para Barbacena, ao mesmo tempo em que determinava o ataque ao 10º BC, sediado em Ouro Preto. Ao primeiro combate, essa unidade se dispersou e parte de seu contingente se deslocou para São João del Rei, onde se juntou às tropas do 11º RI, sediado naquela cidade. O 4º Regimento de Cavalaria Divisionária, de Três Corações, também ofereceu resistência. Na luta travada em torno dessa cidade, morreu Djalma Dutra, veterano da Coluna Prestes, vitimado por uma bala de suas próprias forças. As tropas governistas reunidas em São João del Rei capitularam no dia 15 de outubro, enquanto em Juiz de Fora resistiram até o dia 23. Alguns dias antes, quando a vitória da revolução já estava praticamente assegurada em Minas, uma coluna de forças revolucionárias partiu em direção ao Espírito Santo, ocupando Vitória no dia 19 de outubro.” (ABREU, s/d) Sobre o evento que ficou conhecido como Revolução de 1930, além do verbete supracitado, entre outros, ver: (FAUSTO, 1997; FERREIRA; PINTO, 2003 e PANDOLFI, 2003).

Apresentado sob uma concepção bastante diferente daquela vista em relação ao liberalismo de cunho conservador difundido desde o final do século XIX por parte do metodismo, salienta-se que, desta vez, ele foi colocado como símbolo de atraso.

Na leitura do autor, as conquistas obtidas graças ao liberalismo derivaram de um contexto específico no qual pairava a ignorância dos povos, posto que ele teria resultado na vida privilegiada de uns poucos em prejuízo da maioria. Por conseguinte, somente a força da juventude é que poderia contribuir para a renovação e restauração geral através do Estado Corporativo, apontado como a solução para a crise da liberal-democracia, seja nos EUA, Itália ou Brasil.

De tudo isso se conclue que as corporações de todos os que trabalham em qualquer profissão ou função, cabe a iniciativa de, pelo espírito renovador que os anima, intervir na vida política, isto é, na realisação do bem publico, por intermedio da juventude ainda não contaminada por idéas que devem, por archaicas, ser relegadas ao dominio das cousas futeis. O Estado Corporativo, com sua feição profundamente humana e social, resolverá as dificuldades atuais, nos Estados Unidos, como aconteceu na Itália, está acontecendo na Allemanha e como necessariamente acontecerá no Brasil. (O Granberyense, 08/09/1933, p. 3)

Se teria ocorrido um certo eclipse entre a aparição da matéria que havia se posi- cionado sobre aos eventos de 1930 e esta de 1933, sabe-se que, à revelia do posiciona- mento da administração do Granbery, as manifestações políticas não cessaram por completo, sendo este último texto analisado um indício disto. Desde as décadas iniciais de sua existência, como se pôde perceber pelos fatos ocorridos em 1908, quando eclodiu uma greve estudantil, conclui-se que existia uma tradição de uma ativa participação dos alunos em atividades e órgãos da escola nos quais a política era um dos elementos abor- dados. (NOVAES NETTO, 1997, p. 61)

Um dos centros fomentadores deste ativismo dos alunos seriam os Grêmios Lite- rários formados no instituto, que desenvolviam atividades de debate acerca de aspectos culturais e políticos e também os espaços de formação política, a exemplo do Centro Cívico que, neste mesmo ano de 1933, era dirigido por Irineu Guimarães.239

239 Arabela Campos Oliven, ao debater sobre as influências que os Colleges norte-americanos exerceram

sobre as faculdades brasileiras, destacou a existência destes órgãos como os grêmios literários, fraternida- des, dentre outros que existiam nos EUA desde o século XIX: “Na segunda metade do século XIX, estu- dantes universitários fundaram diversas organizações como grupos literários, sociedades secretas, times de futebol, clubes sociais, bem como fraternities (fraternidades).” (OLIVEN, 2005, p. 115) Sobre a tradi- ção dos órgãos estudantis no Granbery como os Grêmios Literários que fomentavam o debate e a partici- pação dos alunos em temas que envolviam o universo político ver: (DELMONTE, 2010).

Nas informações trazidas pelo jornal O Granbery, esse órgão foi fundado pelo docente que, desde 1928, também foi seu presidente.

Fundador do Centro Civico, é o nosso redactor chefe o seu presidente desde 1928. O Centro Civico tem nas suas actividades o promover conferencias por homens ilustres em qualquer esfera social. Espera trazer neste anno o escrip- tor Goulart de Andrade da Academia Brasileira de Letras. Tambem de seus regulamentos das a todo socio de 21 anno o titulo de eleitor para o voto cons- ciencioso de uma patria livre. (O Granbery, 25/04/1929, p. 1)

Como se constata na matéria acima, escrita por ocasião do aniversário de Irineu Guimarães no ano de 1929, o mesmo havia fundado o Centro Cívico do Granbery que, além de funcionar como um local onde se realizavam palestras com personalidades na- cionais, também se incentivaria a participação nas eleições por parte dos membros que já se encontrassem habilitados para tanto.

O Cento Civico d’OGranbery, fundado em 12 de Outubro de 1928 pelo pro- fessor Irineu Guimarães, vem, desde o seu início, exercendo as suas ativida- des, colocando-se á frente de todos os movimentos patrióticos no seio da mo- cidade granberiense, despertando na mesma o interesse pelo civismo nacio- nal. As sessões civicas do colegio caracterizam-se pela solenidade com que são revestidas. Todos os feriados, bons oradores fazem ressaltar os aconteci- mentos históricos mais célebres. E as datas mais significativas, com carinho, são relembradas e homenageadas, insuflando no espirito da coletividade o verdadeiro amor pelo que é nosso e o modo pelo qual havemos de prosperar. Vários vultos de valor nos têm visitado, trazendo o estimulo e eloquência da palavra. (O Granberyense, 20/10/1933, p. 1)

No bojo dos eventos realizados pelo Centro Cívico, Oscar Machado foi um dos inúmeros palestrantes que tiveram sua vez em tal órgão, em virtude da realização de comemorações das diversas “datas nacionais” dos povos que teriam constituído nossa população. Obedecendo a essa lógica justificadora de sua existência, as reuniões reali- zadas no mês de setembro de 1932 contaram também com a participação de represen- tantes dos Grêmios Literários do Granbery para que esses também discorressem sobre as temáticas que envolveriam algumas destas “datas nacionais”. (O Granbery, 30/09/1932, p. 7)

Logo, cumprindo com essa tarefa de explorar temas ligados à história de nosso país, buscando sempre contar com a presença de personalidades de nosso cenário cultu- ral e político foi que o órgão, em 1933, a convite do professor Irineu Guimarães, trouxe ao Granbery Gustavo Barroso240, um dos três principais líderes do integralismo ao lado

240 No ano de 1923, Gustavo Barroso teve sua condição de intelectual reconhecida nacionalmente ao ser

de Plínio Salgado e Miguel Reale, para a realização de uma série de conferências de caráter cívico-literária, consoante noticiou o jornal O Granberyense:241

A visita intelectual que nos honra, deixará nos anais da nossa história, uma página auri-fulgurante de um acontecimento inapagavel! O dr. Gustavo Bar- roso é um desses brasileiros preclaros, que se impõem pela personalidade in- tangivel e pelo idealismo sadio, bem como pelo carater inflexivel. Autor de cincoenta e tantos livros, colaborador de inúmeras revistas e jornais, redator- chefe do nosso popular “Fon-Fon”, conhecedor profundo de todo o movi- mento politico do Brasil, coloca-se ainda como leader invulnerável do Parti- do Integralista. Sua excia não virá realisar um desejo seu, mas, sim, atender gentilmente a um convite nosso, pelo que, desde já hipotecamos-lhe a nossa sincera gratidão, certos de que sua vinda ao Granbery marcará um ponto lu- minoso nas nossas páginas e será um dos raros acontecimentos na nossa vida colegial. Certos de que tudo o que pleiteamos é pela honra da pátria, sauda- mo-la na pessoa ilustre do dr. Gustavo Barroso! (O Granberyense, 20/10/1933, p. 1-2)

Denota-se que, mesmo descrita como uma conferência cívico-literária, em sua própria divulgação no jornal O Granberyense, era evidente que o evento se caracteriza- va por seu aspecto político. Na matéria, adstritas às atividades intelectuais de Gustavo Barroso, salientou-se também seu conhecimento do ambiente político nacional, mencio- nando-se que, neste, ele também se colocava como um dos líderes do “Partido integra- lista”, situação que demonstra claramente que o Centro Cívico e seu presidente eram conhecedores daquilo que viria a ser proferido por Barroso.

Isso pode ser comprovado na leitura de seu livro O integralismo de norte a sul, no qual Gustavo Barroso reproduziu na íntegra o conteúdo das duas conferências que realizou no Granbery nos dias 20/10/1933 e 21/10/1933. Na primeira delas, intitulada “A inquietação do seculo XIX e a Reconstrução do seculo XX”, após criticar o libera- lismo e o socialismo como vetores da inquietação e destruição da sociedade, sua incli- nação para a defesa do antissemitismo esteve bastante presente em sua fala:

O seculo XIX separou, dividiu tudo, fenómenos, teorias e homens. Pensando destruir de vez a sociedade, o espírito do judaismo-cosmopolita preparou os meios duma sintese que lhe será fatal. O seculo XX veiu encontrar a desunião e a desordem em todos os mundos; porem, dentro delas, o enriquecimento da ciência pelos fátos concretos e pelas relações de fenómenos em todos os campos do saber. Procedeu á sistematização dos conhecimentos adquiridos e das descobertas feitas, aplicando-os á economia, á arte, á religião, á moral e

Histórico Nacional em 1922, permanecendo como seu diretor até o ano de seu falecimento em 1959. Na verdade, entre 1930 e 1932, houve um pequeno interregno em que acabou ficando afastado do cargo em razão de algumas discordâncias dele em relação ao governo Vargas. (DE SOUZA; FAULHABER, 2010)

241 Desde 14/06/1933, o jornal, anteriormente chamado O Granbery, passou a ser intitulado O

sobre uma nova concepção do mundo alicerçando os edifícios politicos das nações. (BARROSO, 1934a, p. 99-100)

Em seu discurso, num tom bastante próximo do detectado na matéria antes cita- da que havia sido publicada no jornal O Granberyense, ele colocou que os problemas e inquietações que enxergava na sociedade eram frutos de projeções intelectuais errôneas como o liberalismo e o socialismo que haviam influenciado as esferas econômica, polí- tica e social. (BARROSO, 1934a, p. 107-108)242

Para resolver estas inquietações, acreditando na importância do labor intelectual e no poder que ele teria para alterar o estado das coisas, Gustavo Barroso preconizou que a saída para os problemas vividos seria a reconstrução da sociedade a partir das doutrinas totalitárias que iriam se adaptar à realidade brasileira intermediadas pela atua- ção, não de políticos, mas sim dos pensadores aos quais caberia a tarefa de se erigir o “Brasil Novo” sustentado nesses pilares. (BARROSO, 1934a, p. 107-108)

No dia seguinte, na segunda conferência que realizou no Granbery, intitulada “O

sentido novo da politica, da educação e da economia”, ele discorreu sobre a importân-

cia de se realizar uma educação adequada em contraposição ao que se estava ensinando. Em sua argumentação, os educadores teriam um papel primordial para que se pudesse erigir os pilares que iriam modelar nossa sociedade em conformidade com as aspirações intelectuais e espirituais que deveriam reger nossas vidas em detrimento do que pregava o materialismo.

A educação é a própria substancia da vida, sobretudo da sua parte espiritual. Assim, somente na escola verdadeiramente se póde modelar a sociedade. A educação traçará as normas mentais que configurarão a alma e os anélos da mocidade. A nação fórma-se, portanto, estratifica-se nos bancos das aulas e, mais do que a nação, mais amplo do que ela, o proprio espirito duma época. Daí a gravissima responsabilidade que pesa sobre os ombros dos homens que educam a juventude. Êles teem deante de si um terreno virgem e adubado de entusiasmo juvenil, no qual germinará viçosamente o que plantarem, o bem ou o mal, a coragem de afirmar ou o mêdo da negação, raizes que durarão to- da a vida e que, mesmo arrancadas, deixarão a profunda marca de sua exis- tência. Cuidado, pois, ó mestres, com a qualidade das sementes que ides se- mear! Se elas fôrem as da dúvida ou as da destruição, vosso crime é o maior de todos os crimes, porque é o envenenamento consciente do futuro! (BAR- ROSO, 1934a, p. 109-110)

É possível perceber no teor de seu discurso um ponto de aproximação com aqui- lo que se arraigava nas práticas pedagógicas metodistas: a ideia de que mediante um modelo educacional concebido como moderno se poderia moldar a sociedade. Essa as-

serção é erigida sobre a lógica de que um de seus desígnios, o de formar lideranças para influir nos centros decisórios de modo a difundir o corolário de ideias defendidas pela denominação religiosa, constituía-se como um dos pilares de sua atuação no setor edu- cacional, no qual se tinha uma preocupação muito grande com o papel desempenhado pelos docentes.

Na continuação da fala de Gustavo Barroso, novamente ele voltou a criticar o liberalismo, com o falso intelectualismo dos partidos burgueses. Em seu encadeamento, os princípios desagregadores desta corrente de pensamento se difundiram em várias gerações como uma espécie de vírus que levava à desordem mental, à indisciplina, ao pragmatismo e à total materialização do sentido da vida. (BARROSO, 1934a, p. 102)

Em seu pensamento, estes comporiam aspectos a serem combatidos por um en- sino adequado que misturasse teoria e prática com o desígnio de impedir o avanço de falsas teorias que estavam a serviço daqueles que estariam por detrás da bancarrota total para onde caminhava o mundo, os banqueiros judeus. Todavia, essa conspiração secreta internacional243 seria derrotada pelo advento do fascismo que assim foi por ele definido:

De um modo geral o fascismo de agora não é uma simples ditadura como vulgarmente se pensa ou se procura propagar, porem uma filosofia que reali- za essa sintese e a projeta na cultura e na fórma da sociedade, creando um novo sentido da vida, renovando e reconstituindo a verdadeira doutrina poli- tica dos Estados cristãos, cuja unidade social valoriza o individuo pelo respei- to á autonomia de sua personalidade, subordinando-o, contudo, aos interesses da comunhão. (BARROSO, 1934a, p. 120)

Na parte final da conferência, Gustavo Barroso atestou que o estado de crise vivido, que parecia ter uma natureza eminentemente econômica, possuía, de fato, como causa, o aspecto espiritual. Para o líder integralista, o espírito teria sido deixado de lado quando a matéria teria se elevado ao apogeu da dominação universal, situação para a qual os pensadores como ele já teriam se atentado e passariam a se digladiar com a

243 Como uma dessas falsas teorias sobre as quais se organizava o equivocado modelo de ensino, Gustavo

Barroso destacou as ideias defendidas por Sigmund Freud, que atacariam as bases tradicionais de nossa sociedade, a fé, o amor e o espírito de sacrifício em prol de ideais superiores que estavam sendo minadas pelo que chamou de “Espírito das Trevas”, orquestrado por um ataque advindo daqueles que manejavam o dinheiro, os judeus. Em suas palavras: “A Inglaterra atual é a prova provada disso e a América foi a vítima dessa autocracia de nova especie, cuja pretensão só é igual á sua leviandade. O que agora se afun- da descamba numa decrepitude que insuspeita testemunha, o sr. Luicien Romier, assinala não é propria- mente o capitalismo, porém seu exagero sob a fórma bancaria ou produtiva. Entretanto, indubitavelmente, a ruina total arrastará com os responsáveis pelos excessos, muitos inocentes e já a economia média expia cruelmente erros de que não é responsável senão por descupavel descuido. A bancarrota final do mundo,