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Data: 06-05-2013

Convidados: José Carlos Tomina graduado em Obras Hidráulicas pela Faculdade de

Tecnologia de São Paulo e em Engenharia Civil pela Universidade de Mogi das Cruzes, mestre em Engenharia Civil pela Politécnica de São Paulo, superintendente do CB-24 do Comitê Brasileiro de Segurança contra Incêndio da ABNT e pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT – de São Paulo, e participa da elaboração do Código Nacional de Segurança contra Incêndio que está sendo coordenado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça – Senasp/MJ.

1. Exposições

O painelista José Carlos Tomina sublinhou que a nova lei deverá ter cunho prático, pois já existem muitas leis nesta área. Disse que há 64 normas técnicas de segurança contra incêndio geradas pelo Comitê Brasileiro de Segurança contra Incêndios. Há também 27 regulamentações nos estados, e algumas legislações municipais. Diversos órgãos federais também legislam nesta área; Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Empresa Brasileira de Infraestrutura AeroPortuária (Infraero). Disse que precisamos de um código nacional que estabeleça um mínimo necessário para que haja um nível adequado de segurança. Informou que somente quatorze por cento dos municípios contam com Corpo de Bombeiros. Cerca de 4.800 municípios não possuem serviço de bombeiros. Anualmente ocorrem cerca de 70 mil incêndios em São Paulo e mais de 200 mil no Brasil. Diariamente acontecem milhares de incêndios que resultam em 1.200 a 1.300 mortes, por isso as autoridades têm que agir com rigor e com responsabilidade. Segundo o relatório de 2006 da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), para cada 19 incêndios registrados pelos Corpos de Bombeiros

Militares, apenas um laudo foi concluído, perfazendo assim um percentual de cinco por cento de incêndios investigados. Porém, apenas cinquenta e três por cento desses laudos foram concluídos com a identificação da causa, o que representa, então, menos de dois e meio por cento dos incêndios com causas conhecidas. Falou da importância do trabalho em parceria com os prefeitos e autoridades locais. As autoridades têm de assumir suas responsabilidades, mas é preciso que profissionais habilitados, o Confea, o CAU organizem-se num grande Programa Nacional de Cursos de Treinamento e Especialização. Depois falou do trabalho realizado junto a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) através de um programa chamado Qualinstal, um programa de qualidade das instalações. A FIESP credencia as empresas, vistoria o seu trabalho e verifica se está sendo feito corretamente. A seguir iniciou a apresentação intitulada “Brasil sem Chamas” com utilização de datashow. O “Projeto Brasil sem

Chamas” nasceu da necessidade de se conhecer a situação da Segurança Contra

Incêndio no Brasil tendo sido inspirado nos estudos da Commission of Fire Prevention

and Control dos Estados Unidos, que resultaram na publicação do “America Burning Report”, em 1973. Disse que foi encomendado estudo à diversas instituições no âmbito

do Programa TIB – Tecnologia Industrial Básica do MCT, com recursos do Fundo Verde e Amarelo e contratado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O projeto foi encomendado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia com recursos do programa do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e da Finep. Além do apoio financeiro da Finep, o projeto conta com as participações de diversas entidades, como a Liga Nacional dos Corpos de Bombeiros Militares (Ligabom), o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), o Instituto Nacional de Tecnologia (INT), a Universidade de São Paulo (USP) – Escola Politécnica e Faculdade de Arquitetura –, a Secretaria Nacional de Defesa Civil, a Secretaria Nacional de Segurança Pública, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP). A primeira etapa do projeto (2005 a 2007) consistiu em estudos que visavam diagnosticar a área, de forma abrangente, abordando questões mercadológicas, capacidade competitiva, deficiências, demandas, necessidade de formação e qualificação profissional, normalização, regulamentação, qualificação dos produtos e serviços, visando à organização e desenvolvimento do setor e o aperfeiçoamento do marco legal. Na segunda etapa, de 2008 a 2010 foram encaminhadas as conclusões para os problemas identificados na primeira etapa, bem como elaborado diagnóstico aprofundado da

segurança contra incêndio nas indústrias do petróleo e do álcool; e incêndios florestais. Dentre as deficiências apontadas verifica-se a necessidade de capacitação laboratorial, com a criação de um conjunto de laboratórios para dar suporte à melhoria da qualidade dos produtos e serviços na área. Com isto haverá o desenvolvimento das investigações de causas dos incêndios, com definição de perícias investigativas nas situações em que não houver indícios de ação criminosa, em princípio, envolvendo os Corpos de Bombeiros nesse processo. Afirmou que a formação continuada pode se dar através de um programa de formação e treinamento para profissionais que atuam na área de segurança contra incêndio em edificações, (engenheiros e arquitetos, entre outros). Disse que os Programas de Capacitação Profissional podem ser desenvolvidos pelo Sistema Confea/Crea e Inmetro e programas de qualificação de Produtos: Qualincêndio e Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade, e Tecnologia (INMETRO) bem como a qualificação de empresas. As Propostas do projeto Brasil Sem Chamas: 1. Ampliar o número de cidades atendidas por bombeiros; 2. Administrar a rede informações estatísticas sobre a área de SCI. Apoiar o desenvolvimento de sistemas, programas e aplicativos para registro, coleta e tratamento de dados referentes à SCI, bem como os estudos de alternativas para novos sistemas operacionais, utilitários e aplicativos visando à universalização e padronização dos registros no território nacional. 3. Gerenciamento de dados para apoio às tomadas de decisões dos setores público e privado, envolvendo programas públicos de governo, meio segurador, competitividade empresarial, áreas do petróleo, álcool, florestal, etc. 4. Manter e disponibilizar o Cadastro Nacional de fornecedores, equipamentos, serviços e laboratórios que estejam em conformidades às regulamentações técnicas da área de SCI. 5. Capacitação, Qualificação e Certificação de profissionais 6. Cursos de pós-graduação e especialização em Engenharia de Segurança Contra Incêndio. 7. Gerenciar e disponibilizar as informações sobre propriedade industrial e incentivar o desenvolvimento de inovações na área. 8. Avaliação da Conformidade de Produtos e Serviços e ampliação da capacitação laboratorial necessária. 9. Organizar e disponibilizar a informação bibliográfica, dados, coleções de periódicos, livros, normas e regulamentações técnicas, folhetos, relatórios técnicos, catálogos técnicos, mapas e outros, visando à disseminação do conhecimento técnico produzido na área. 10. Realizar campanhas de prevenção e disponibilizar material para esse fim, seja por mídia impressa ou digital. (revistas, séries de coleções, folhetos, prospectos e cartazes) 11. Promover programas e projetos de cooperação e parcerias estabelecidos em acordos, convênios e congêneres, de caráter regional, nacional e internacional. 12. Realizar congressos, seminários e eventos científicos com o objetivo de disseminar o

conhecimento produzido na área. Neste ponto, o convidado abordou os principais resultados do projeto “Brasil sem Chamas”, que foram a elaboração do Código Nacional de Segurança contra Incêndios, que está em fase final de discussões, e a criação do ''Observatório Brasil Sem Chamas''. Afirmou que o código irá auxiliar os mais de 4800 municípios que não tem legislação de segurança contra incêndio. O marco regulatório ira auxiliar nas questões de sobreposição de leis e normas nas diferentes instâncias/entidades, uma vez que há vários órgãos normativos legislando, criando um verdadeiro emaranhado de leis, em alguns casos, divergentes e até contraditórias. Destacou que o Código Nacional de Incêndio fará a orientação técnica para as autoridades estaduais e municipais na definição dos seus requisitos técnicos regionais, especialmente, para aproximadamente, 4.800 prefeituras que não dispõe de Corpos de Bombeiros. Sobre o Observatório, disse que as informações coletadas em todo o território nacional estarão organizadas e disponibilizadas ao público em um portal web chamado “Observatório Brasil Sem Chamas” sob a coordenação da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp). Seu objetivo maior é criar um Sistema Nacional de Informações de Incêndios, articulando outros sistemas existentes no País, tais como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Sistema Único de Saúde (SUS), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), entidades do setor privado, Secretarias Civis e do Meio Ambiente, universidades, institutos de pesquisa e Defesa Civil. Esse observatório seria um grande portal onde poderão constar as informações, laudos, perícias dos incêndios como no caso da boate Kiss. O convidado fez uma rápida explanação sobre o Código Nacional de Segurança contra Incêndios onde destacou a proposta de criação do Conselho Nacional da Área de Segurança Contra Incêndio. Disse que este conselho reunirá a rede, os diversos atores que atuam na área, e que irão deliberar sobre ações conjuntas. A partir daí, cada um vai para seu Estado, seu Município, para seu órgão federal com o que foi acordado. É um pacto federativo, já que a Constituição dá autonomia para os estados, para os municípios, para os órgãos federais. Informou que o Código terá tabelas, medidas e controle de materiais. O presidente sugeriu que a representação do Rio Grande do Sul junto a Senasp fosse ampliada para um integrante do Corpo de Bombeiros e um integrante da sociedade civil. O convidado concordou com a sugestão e mencionou o art. 4º que diz que os municípios podem contar com o serviço de fiscalização de segurança contra incêndio, prioritariamente em suas áreas urbanas. Disse que não foi possível colocar a questão dos municípios formarem seus bombeiros civis, por ser inconstitucional. Reafirmou que têm que ser encontradas soluções para os oitenta e seis por cento de municípios que não tem

controle, fiscalização e combate a incêndios, por falta de corpo de bombeiros. O art. 7º diz que as medidas de segurança contra incêndio aplicadas às edificações e áreas de risco estão estabelecidas nas tabelas. O convidado disse que os corpos de bombeiros militares dos Estados devem estabelecer, através de instruções técnicas, os critérios de execução das medidas de segurança previstas nesse código. Quer dizer que o código ficará nas tabelas, ele não entrará no detalhamento das medidas. O código nacional vai determinar quais proteções deve ter um shopping center de acordo com sua altura e sua área. Para criar uma padronização nacional foram inseridas as instruções técnicas no item 2. As instruções técnicas devem seguir o mesmo padrão em todos os estados. São exigências mínimas, tendo como referência as normas brasileiras da ABNT. O art. 8º determina que os materiais e os equipamentos de segurança contra incêndio, utilizados nas edificações e áreas de risco, devem ser certificados por órgãos acreditados nos termos da legislação vigente.

2. Debates

O participante Ronald Dutra pediu esclarecimentos sobre o § 2º, quanto às instruções técnicas. O convidado respondeu que deve haver uma padronização nacional. Disse que o que ocorre é que as normas da ABNT são pagas, por isso os órgãos públicos, utilizam na íntegra os textos destas normas e publicam instruções técnicas com alguns acréscimos. Isto faz com que tenhamos as mesmas normas técnicas da ABNT repetidas em instruções normativas em todos os estados, através do Corpo de Bombeiros.

O presidente falou das dificuldades em legislar tendo em vista os aspectos constitucionais. O convidado gizou que as normas técnicas são a referência para as leis.

O representante do Confea – engenheiro Melvis Barrios Junior – solicitou esclarecimentos sobre a necessidade de certificação de materiais que isto poderá deixar o processo ainda mais burocrático.

O presidente passou a palavra para o professor Hanssen. O professor apontou a necessidade de criação de corpos de bombeiros civis a nível municipal. Sugeriu que o Ministério do Trabalho volte a assumir a fiscalização de segurança em todos os locais de trabalho no Brasil e também a inclusão dos profissionais registrados no Conselho Regional de Química na elaboração de projetos. O convidado respondeu que a certificação prévia dos materiais por órgãos competentes, irá diminuir a burocracia. O convidado repisou a importância da ação em rede num somatório com bombeiros municipais onde forem necessários ou convênio com os militares.

O engenheiro Carlos Wengrover falou das centenas de milhares de imóveis que temos para vistoriar no Rio Grande do Sul e da insuficiência de bombeiros e de agentes fiscais. Sugeriu que a lei deverá prever o laudo de vistoria de proteção contra incêndio, que será feito por técnicos e de responsabilidade dos proprietários. Explicou que se um técnico tivesse passado uma vez por mês na boate Kiss para fazer uma vistoria, teria verificado que havia problemas. Observou que é preciso racionalizar recursos, o que se torna mais viável quando temos este laudo de inspeção técnica.

O representante do Tribunal de Justiça, Dr. Alexandre Montana Genta, salientou que não basta a lei, é necessário que os bombeiros tenham estrutura adequada para trabalhar. Não adianta fazer uma lei nacional, se apenas quatorze por cento dos municípios estão protegidos por Corpo de Bombeiros. Não há nenhuma legislação bem feita que encontre uma solução para esse problema. O investimento, a utilização do recurso público, uma série de questões têm de ser cuidadas além da própria legislação. Disse que desde 2008 o Tribunal de Justiça vem fazendo um trabalho de regularização dos seus prédios, buscando o PPCI. Outro trabalho é de parceira com Brigada Militar, para fazer o treinamento dos servidores do TJ. Também destacou que a Brigada de Incêndio é fundamental. Não basta ter um prédio com segurança, com extintores de incêndio, se não existirem dentro desse prédio pessoas capazes de orientar e fazer a desocupação. Concordou com a necessidade de passar estes conhecimentos iniciais sobre segurança e prevenção já na escola infantil.

O engenheiro Joel Fischmann pediu explicações sobre as propostas do novo código quanto à responsabilidade sobre edificações já existentes.

O engenheiroAlexandre Rava Campos disse que entende que já existe um arcabouço de normas e legislação e que a preocupação do Senge é de que se possa perder bastante tempo com relação ao aprimoramento de todo esse arcabouço normativo e de legislação e que continuemos tendo falhas grotescas do ponto de vista da aplicação dessa legislação, sobretudo por não ter, naqueles órgãos que devem fiscalizar, profissionais habilitados e capacitados para fazer aquele papel. Também pediu explicação sobre a experiência de como são obtidos os AVCBs em São Paulo.

O senhor Morlei Soares de Souza disse que as construções de uso coletivo ( hospitais, cinemas, boates e restaurantes) deveriam basear-se num projeto arquitetônico especial para esse fim.

O senhor Henrique Rebouças dos Anjos questionou quantos laboratórios seriam necessários no Brasil. O painelista respondeu que talvez cinco laboratórios, um em cada região, seriam suficientes.

O bombeiro aposentado da Petrobras, Carlos Furlan, criticou a falta de equipamentos adequados por parte dos bombeiros. Disse que além da prevenção, que é o principal, é necessário equipar o Corpo de Bombeiros.

3. Considerações Finais

O convidado disse que o Código Nacional tem duas partes – as regras e as tabelas. Na sequência da normalização do código, serão colocadas todas as tabelas. Há tabelas para cada tipo de ocupação, de acordo com as caraterísticas. Citou a tabela que trata da carga

de incêndio: são três tipos de risco de acordo com a carga de incêndio: até 300 megajoule, de 300 a 1.200 e de 1.200 para cima. Com aproximadamente 25, 30 quilos de madeira por metro quadrado, seria um edifício de risco leve. Edifício residencial é risco leve, está abaixo de 300 megajoules; um supermercado e um shopping center é risco médio, de 300 a 1.200 megajoules. Acima de 120 quilos por metro quadrado é risco alto. Explicou que o código é prescritivo, sendo obrigatório utilizar as tabelas e que também está regrada a questão do público. Se tiver mais de 50 pessoas, são tais medidas, mais de 100 pessoas, outras medidas e mais de 200 pessoas, são outras medidas. Disse que no limite máximo, por exemplo, superior a 750 metros quadrados, precisaria de tudo: acesso de viatura, segurança estrutural, compartimentação horizontal, controle de materiais de acabamento, saída de emergência, plano de emergência, brigada de emergência, iluminação de emergência, detecção, alarme, sinalização, extintores, hidrantes e mangotinhos. Falou que chuveiros automáticos somente são necessários em edificações superiores a 30 metros. O convidado classificou a boate Kiss, que tem área construída menor do que 750 metros quadrados e altura menor do que 12 metros, dizendo que se encaixa na tabela 5. O presidente questionou sobre a utilização das tabelas que constam do Código Nacional na legislação estadual. O convidado respondeu que as tabelas precisam ser melhoradas, mas que é fundamental a adoção das tabelas que contém os critérios e as medidas de referência como sendo o mínimo a ser implementado pelos municípios e pelos estados. Disse que a lei nacional terá os conceitos de simplicidade e de flexibilidade. Finalizou elogiando o trabalho em rede no Rio Grande do Sul, envolvendo e chamando todos à responsabilidade.