• Nenhum resultado encontrado

Data: 29-04-2013

Convidados: Dr. Rodrigo Pugina, coordenador-geral da Comissão de Direitos

Humanos Sobral Pinto da Ordem dos Advogados do Brasil

1. Exposições

O Dr. Rodrigo Puggina iniciou falando do acompanhamento que a OAB/RS fez aos acontecimentos de Santa Maria. Disse que o resultado deste acompanhamento foi a instituição de uma comissão específica para tratar da questão da legislação de prevenção de incêndios. Afirmou que a OAB/RS apresentará um relatório final dos trabalhos desta Comissão, ainda em maio. Após destacou alguns problemas que foram constatados pela comissão: a lei não traz uma definição clara sobre responsabilidades objetivas, uma vez que determinadas responsabilidades são do município e determinadas responsabilidades são da Brigada Militar. Observou que seria importante que a nova legislação tenha uma sistematização dessas responsabilidades. Depois falou dos entraves que a hierarquia militar pode ter no combate a incêndios. É de se questionar se é preciso toda esta estrutura militar para operar um sistema eficiente de prevenção e combate a incêndios. Outro problema é que grande parte dos municípios não têm Corpo de Bombeiros. Também falou da incapacidade que muitos estabelecimentos tem para se adequar à legislação. Elogiou o esforço da Famurs que está auxiliando os municípios na regularização da questão dos licenciamentos e alvarás. Destacou a interiorização da OAB com 106 subseções no Estado. Esta estrutura pode ajudar no levantamento de deficiências locais quanto à segurança e prevenção de incêndios. Também citou as medidas legais que os agentes públicos, responsáveis pela fiscalização, devem tomar, com relação a estabelecimentos que oferecem risco à vida, por apresentarem irregularidades quanto à segurança e prevenção de incêndios. Arrazoou que essas medidas podem ser notificação, multa e interdição. O que ocorre é que a lei não é enfática quanto à interdição. Afirmou que a lei ainda tem lacunas e que deve haver

maior rigor quando é necessária a interdição. O presidente elogiou a fala do Dr. Rodrigo Puggina que demonstrou o comprometimento da OAB-RS com a melhoria da legislação, inclusive com a produção de um relatório contendo sugestões jurídicas à nova lei.

2. Debates

O senhor Eraldo Perin questionou a falta de diálogo entre a Constituição Estadual e a Constituição Municipal quanto à matéria de prevenção e combate a incêndios. Disse que esta falta de sintonia faz com que aconteçam as lacunas legais, por isso é importante melhorar também estas diretrizes. Como exemplo citou a responsabilidade pela interdição.

O professor Cláudio Hanssen lembrou que a criação de bombeiros municipais civis deveria ser estimulada, porque a hierarquia militar do Corpo de Bombeiros, na sua forma atual, envolve um grande custo. Assim, sugeriu a criação de corpo de bombeiros nos municípios. Citou o exemplo do município de Marau, onde existe um corpo de bombeiros voluntário. O Município, usando de uma atribuição que lhe concede a Constituição Federal, celebrou um convênio com esse corpo de bombeiros voluntário. As questões técnicas são resolvidas por um engenheiro que examina os projetos e acompanha as inspeções.

O professor Paulo Beier informou que integra o corpo docente da Engenharia Mecânica da UFRGS e é diretor de Ensino e Treinamento da Associação Sul Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Aquecimento e Ventilação (Asbrav). Informou que sua experiência não é com incêndio, mas com ventilação dos mais diversos tipos possíveis. Disse que nos incêndios o que mata é a fumaça, e não o fogo. Explicou que sua área é a ventilação e extração de contaminantes, por isso defende muito a questão da ventilação e da exaustão natural. A exaustão natural está muito ligada à geometria da edificação e também à forma como é projetada uma edificação para otimizar, por exemplo, a

extração natural de fumaça. Afirmou que para a pressurização das escadarias é necessária a ventilação mecânica. Disse que a nova legislação deve prever a adequação dos prédios ao controle e exaustão da fumaça. Observou que na sua visão o Corpo de Bombeiros de São Paulo é hoje o que tem a melhor legislação. No site da corporação encontram-se todas as normas sobre segurança contra incêndios, de forma pública e gratuita, diferentemente da ABNT, onde é necessário pagar para obter as normas.

O presidente da comissão disse que para classificar uma estrutura, para efeitos de projeto de prevenção e segurança contra incêndio, há basicamente dois grandes critérios como referência - a área e a altura da estrutura. Afirmou que ao longo das audiências públicas, foram constatados um conjunto de novos elementos variáveis e questões para se ter mais rigor e ao mesmo tempo uma legislação mais eficiente. Disse que a lei também deveria ter previsões sobre elementos como: finalidade ou uso da edificação, carga de incêndio, materiais utilizados e sua propensão à combustão, tolerância ao fogo e toxicidade desses materiais. Quanto ao conteúdo dos projetos de prevenção contra incêndio, referiu a questão das competências, atribuições, responsabilidades, quais os órgãos municipais responsáveis pelas fiscalizações, inspeções e sanções. Depois resumiu o funcionamento das sanções na legislação atual: recebe-se uma notificação, em seguida recebe-se uma advertência, depois vem a primeira multa, a segunda multa, a terceira, e assim por diante. Somente depois de “n” multas, acontece a interdição. Daí o estabelecimento recorre, e a justiça manda reabrir. Durante todo este tempo o estabelecimento funcionou de forma irregular e o Poder Público tinha conhecimento. Questionou qual é a posição da OAB/RS quanto à responsabilidade em caso de funcionamento mediante autorização judicial. A segunda questão é que todas as sugestões aqui apontam para um caminho na direção de maior rigor e eficiência, sem inviabilizar as edificações, o funcionamento, os investimentos e o empreendedorismo. Disse que a nova lei não pode ser leniente, mas também não pode travar tudo. Conclui dizendo que a nova legislação deverá avançar em matéria de sanções, para evitar o processo de advertência, multas e recurso judicial. Ao invés disso propôs a adoção das seguintes condutas: hipótese 1 - mais flexível - a notificação é feita, é aplicada, no máximo, uma multa muito pesada e, depois, há o fechamento; hipótese 2: mais dura, menos flexível: não há multa, é feita a notificação direta para o fechamento. A flexibilidade da lei atual deverá ser substituída por estas duas hipóteses.

O convidado, Dr. Rodrigo Puggina, destacou a importância da sistematização da nova legislação quanto a responsabilidades, fiscalização e sanções. Falou das competências técnicas em relação aos projetos de prevenção contra incêndios, da necessidade de fiscalização contínua, da responsabilidade tanto do Judiciário quanto do Ministério Público, quando intervém no processo. Concordou com as hipóteses apresentadas quanto à aplicação de sanções. Salientou que em casos mais brandos deve ser aplicada a multa e, sempre que houver risco à vida, deve haver o fechamento do estabelecimento. Corroborou as críticas à legislação atual quanto à fragilidade das sanções. Explicou que quando os técnicos encontram regras conflitantes, devem utilizar as regras que estão na lei e sejam mais específicas ao caso.

O professor Telmo Brentano disse que a norma americana NFPA 101 – Código de Proteção da Vida – baliza as demais normas de proteção contra incêndio, onde a vida é mais importante do que o patrimônio. A NFPA 101 – Código de Proteção da Vida – rege todas as demais legislações de incêndio nos Estados Unidos, ou seja, primeiro a vida das pessoas.

O professor Paulo Beier afirmou que além da fiscalização, multa e interdição, também deve-se falar do licenciamento de empreendimentos novos. Disse que antes de fiscalizar o que já está em operação, talvez deveria haver mais rigor na liberação para funcionamento dos novos estabelecimentos, onde o cumprimento da legislação seria um requisito básico.

O diretor técnico da Asbrav, Ricardo Vaz de Souza questionou a exigência legal de manutenção das escadas pressurizadas. Afirmou que a resolução nº 30 diz que deve ser feita a manutenção, mas não fala em penalidades. Ressaltou que muitas das escadas pressurizadas estão com os ventiladores desligados há quase dez anos. Disse que quando for necessário o ligamento, esse ventilador estará trancado, não irá funcionar por falta da manutenção periódica. Depois questionou a forma legal para aplicação de multas ou interdição num prédio comercial ou residencial.

O presidente, deputado Adão Villaverde (PT), falou da necessidade de termos uma teia de legislações. Deve haver uma legislação nacional, que dê os parâmetros gerais, e também uma legislação estadual. O controle e exaustão de fumaças, vai se dar no âmbito da legislação municipal.

O convidado concordou com o professor Telmo, quanto à necessidade da legislação ser orientada no sentido da proteção à vida e com a colocação do cumprimento da legislação ser requisito para liberação do uso de edificação novas. Citou como exemplo a liberação de novas edificações que não respeitam a legislação da acessibilidade.

O professor Telmo Brentano disse que as leis são feitas, pois o papel aceita tudo. Na vigência da lei é que começam os problemas de descumprimento, muitas vezes por que envolve aumento de custos. Citou exemplos onde a legislação está sendo cumprida por acordo entra a municipalidade, empreendedores e sociedade. Depois fez comentários à aplicação das regras de segurança em edificações. Quanto à acessibilidade, citou o exemplo do programa Minha Casa Minha Vida. Para atender a legislação, as edificações do programa podem ser construídas até determinada altura – de quatro ou cinco andares –, situando os apartamentos totalmente acessíveis no térreo.

O professor Paulo Beier explicou que a ventilação natural não é para prédios altos, mas para edificações de um pavimento ou dois, no máximo, com mezzanino. Nas edificações altas a ventilação tem que ser forçada.

O deputado Jurandir Maciel perguntou como fica a fiscalização em Municípios que não têm Corpo de Bombeiros, e solicitou a posição da OAB/RS quanto a bombeiros voluntários.

O convidado disse que a OAB/RS tem alguns estudos referentes ao funcionamento do Corpo de Bombeiros voluntários em outros países. Por fim assinalou que toda a

cidadania deve ter mais esclarecimentos sobre segurança contra incêndios, bem como ajudar a fiscalizar e denunciar irregularidades.

3. Considerações Finais

O convidado disse que a OAB/RS tem alguns estudos referentes ao funcionamento do Corpo de Bombeiros voluntários em outros países. Por fim assinalou que toda a cidadania deve ter mais esclarecimentos sobre segurança contra incêndios, bem como ajudar a fiscalizar e denunciar irregularidades.