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Data: 04-03-2013

Convidados: Arquiteto Tiago Holzmann da Silva, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB/RS) no Rio Grande do SUL, graduado pela UFRGS, mestre pela Escola Politécnica Superior de Barcelona, Universidade Politécnica da Catalunha. É professor da UniRitter e suplente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) e arquiteto

Roberto Py Gomes da Silveira, presidente do Conselho de Arquitetura e

Urbanismo/RS (CAU), graduado pela UFRGS, especialista em Urbanística Técnica pelo Instituto Politécnico Milão e em Engenharia do Trânsito. Atua como sócio titular de escritório na área de edificações, urbanismo e planejamento e é professor titular da UFRGS – Faculdade de Arquitetura, onde foi chefe de departamento. Atuou, também, na prefeitura de Porto Alegre.

1. Exposições

O arquiteto Roberto Py Gomes da Silveira disse que sua apresentação seria acompanhada da exibição de slides sobre a atuação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU); 1. Atuação do CAU: Ao Conselho compete a fiscalização do exercício da profissão do arquiteto urbanista. Falou sobre o impacto do incêndio de Santa Maria, e que representantes do CAU estiveram na cidade na terça-feira após o incêndio. No dia 07 de fevereiro, foi realizado um encontro em Santa Maria que se chamou “Controle Municipal de Edificações”. Enfatizou que é preciso compreender que tudo o que se normatiza, (nos níveis federal, estadual, privado e municipal), concretiza- se em solo municipal, por isso entende que o controle das edificações deve ser feito pelo município. Referiu as repetidas tragédias que acontecem nos municípios, relativas às enchentes, e que devem ser controladas pelas autoridades locais. Afirmou que a legislação federal obriga que todos os municípios, com mais de 20 mil habitantes, tenham Plano Diretor, mas a mesma legislação não obriga que os municípios tenham um arquiteto urbanista. Defendeu que a presença do arquiteto é essencial ao serviço público. Quanto aos projetos de prevenção contra incêndio, afirmou que têm que ser

olhados do ponto de vista de toda a edificação e não isoladamente. Entende que todos os projetos complementares à estrutura de um prédio ou à estrutura de uma pavimentação, não podem ser verificados de forma isolada do próprio projeto da estrada ou do próprio projeto da edificação, pois são um conjunto único e assim devem ser olhados. Falou sobre o evento realizado em Santa Maria, onde compareceram 110 arquitetos, que também se manifestaram no sentido de que o controle das edificações cabe ao Poder local. Disse que o CAU também registra as Anotações de Responsabilidade Técnica (ARTs), que são contratos sociais do arquiteto, que se compromete perante toda a comunidade, quanto à responsabilidade sobre o projeto que será executado. 2. Execução e Licenciamentos - Nas instalações da casa noturna de Santa Maria aconteceram inúmeras reformas e modificações. O problema não foi somente a falta de equipamentos contra incêndio, mas também a falta de acessibilidade e degraus. O PPCI necessita de vistorias periódicas, bem como, é necessário treinamento contínuo. Encerrou sua fala reiterando que a chave da questão é capacitar e qualificar os municípios para exercerem com rigor as funções de liberação de alvarás e fiscalização.

O palestrante Tiago Holzmann da Silva, presidente do IAB/RS, informou que sua apresentação teria o título: “A atuação do Arquiteto e Urbanista para a Simplicidade e Transparência do Processo”. A mesma foi dividida da seguinte maneira: Parte 1- Atribuições Legais e Formação do Arquiteto – Os arquitetos são os organizadores do espaço, os projetistas e executores dessa organização, mantendo relação com o meio ambiente, com materiais e com projetos complementares. A lei 12.378/2010, em seu artigo 2º, elenca as atribuições do arquiteto. No entendimento do palestrante, a fiscalização de projetos e de obras que têm responsabilidade técnica específica não pode ser realizada por leigos. Observou que existem inúmeras prefeituras que não têm engenheiros ou arquitetos no seu quadro funcional, fazendo com que pessoas sem qualificação sejam responsáveis pela aprovação de projetos, fiscalização e autorização de funcionamento. Parte 2 – Processo Normal de um Projeto – Fazem parte de um processo normal os agentes que são o proprietário, o profissional, o gestor, o construtor e o legislador. O profissional compreende o arquiteto, o urbanista, o engenheiro civil e outros especialistas que atuam na área da construção civil. Os gestores são os prefeitos, secretários, funcionários públicos de carreira de diversas áreas, setores e empresas públicas, agências regulatórias. Os construtores são os mestres, os empreiteiros, os executores, as empresas especialistas em manutenção e equipamentos. Os legisladores

são os prefeitos, vereadores e secretários, deputados federais e estaduais, profissionais envolvidos com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Citou como problemas em um Processo Normal o descaso pela orientação técnica na área da construção civil, a fragmentação do projeto, a remuneração inadequada, os prazos insuficientes, a desorganização do setor, ação de facilitadores, regras contraditórias, falhas na legislação, corrupção em pequena escala na aprovação de alvarás. Falou das Diretrizes e Propostas – Simplicidade e Transparência do processo, da Unificação, coordenação e centralização do processo, da Qualificação e responsabilização dos agentes, do Respeito aos Profissionais e Responsabilidade Técnica, do Rigor na aplicação das leis e normas. Neste último tópico, esclareceu que o CAU está elaborando em nível nacional a avaliação dos projetistas para conveniar com as prefeituras. Com isso as prefeituras passam a exigir, no começo do processo, um registro de responsabilidade, uma Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) dos engenheiros ou um Registro de Responsabilidade Técnica (RRT) dos arquitetos. Ao final do processo deverá ser exigido, para liberação do habite-se, a baixa daquele registro e uma avaliação do profissional, a fim de que ele diga se o seu projeto foi bem executado, ou não. Apontou que assim, o profissional faz o projeto; depois faz o registro na prefeitura e ao final deve avaliar a execução. As principais sugestões foram: Atuar na simplificação, transparência e celeridade do processo; Unificar a legislação evitando as sobreposições e contradições nas diversas esferas; Divulgação do processo passo a passo e dos responsáveis para toda a sociedade; Campanha para a conscientização da importância do Projeto; Fiscais devem ter formação e atribuição profissional na área de fiscalização; Exigência de RRT ou ART do profissional projetista também após a conclusão da obra (para liberação do habite-se); Estimular as denúncias de corrupção e realizar investigação rigorosa com punições efetivas.

2. Debates

Nos debates, o deputado Valdeci Oliveira (PT) afirmou que é dever da Casa a elaboração de uma legislação simples, mas exigente. Avaliou que a simplificação sugerida pelo arquiteto Tiago, deve-se precisamente à necessidade de que a lei seja de fácil entendimento. Acentuou que atualmente há legislações tão difíceis de serem interpretadas que, às vezes, podem ser interpretadas de forma equivocada. Acrescentou

uma sexta diretriz à apresentação do Tiago: não basta termos legislação, não basta unificar, simplificar e fazer com que toda legislação seja centralizada se não houver multas pesadas. Disse que as audiências são fundamentais pela ampla participação de especialistas que contribuem para uma melhor redação da legislação.

O engenheiro Carlos Wengrover falou sobre a necessidade de desburocratização, pois no atual momento, acrescentou que a nova lei não pode deixar de prever a manutenção do sistema de prevenção de incêndio.

O senhor Flávio Pazatto explanou sobre a necessidade de autonomia do Corpo de Bombeiros e sugeriu que a nova legislação deva ter um capítulo sobre o servidor público e penalidades em caso de corrupção.

O deputado Adão Villaverde (PT) fez uma observação sobre a legislação municipal de São Paulo, a Lei n.º 11.228/1992, que regra o licenciamento municipal. Salientou que a lei exige que ao mexer na edificação, novo habite-se seja expedido.

O deputado Paulo Odone (PPS) falou que o SIG-PI foi implantado para agilizar a fiscalização da observância dos critérios legais, com o uso da Tecnologia da Informação. Disse que o sistema tem problemas e é usado para casos menos complexo e que na casa noturna de Santa Maria foi utilizado este sistema para liberação do uso. Afirmou que a legislação estadual não poderá invadir a competência municipal, mas que deverá ter condições de apurar responsabilidades.

O senhor Ednezer Rodrigues Flores, representante do Sindicato dos Arquitetos, entende que o responsável pela ART também deve acompanhar a execução do projeto.

O senhor Alexandre Rava de Campos, representante do Sindicato de Engenheiros, afirmou que o Corpo de Bombeiros utiliza o procedimento simplificado para liberação de edificações, inclusive em áreas industriais. Explicou que o processo simplificado é algo que demanda agilidade burocrática menos severa, que não é o caso de uma área industrial, uma fábrica de bebidas, uma fábrica de cigarros.

O senhor Fábio Leal, vereador de Eldorado do Sul, comentou que no referido município o PPCI das escolas está desatualizado e tramitando no Corpo de Bombeiros.

O major Everton Dias, da Brigada Militar, fez comentários sobre o SIG-PI, e disse que nada impede que seja solicitada a planta da edificação. Falou sobre a falta de padronização de procedimentos. Informou que nas situações de risco médio e grande são exigidas as plantas. Comentou ainda sobre a emissão de alvará, que muitas vezes é dificultada pela prefeitura, pois os prefeitos não concedem o alvará de localização.

3. Considerações Finais

O senhor Tiago Holzmann da Silva fez referência novamente à questão cultural do ''jeitinho brasileiro'', à falta de valorização dos profissionais e à desqualificação do serviço público. Concluiu que a burocracia deve ser simples e previsível, com regras iguais para todos, onde seja recuperado o processo íntegro e normal de elaboração do projeto, aprovação, construção, fiscalização e manutenção da edificação.

O senhor Roberto Py Gomes da Silveira falou da necessidade de revisão de todo o processo em caso de modificação nas edificações. Acredita ser um avanço, uma vez que reforça a ideia de que temos de ver essa concepção como um todo. Disse que a fragmentação é nociva, pois cria armadilhas. Ressaltou que a ideia do projeto ser uno tem de ser preservada, pois garantirá que tudo realmente funcione. Reforçou a questão

da competência municipal, e que a legislação estadual deverá reafirmar a necessidade da integralidade do projeto como uma coisa única.

O deputado Adão Vilaverde (PT) falou sobre a responsabilidade na tarefa de elaboração da legislação, que deverá ser clara e abrangente quanto aos conteúdos, critérios, parâmetros, competências e responsabilidade. Deverá prever todos os intervenientes no processo, abrangendo inspeções, licenciamentos, fiscalização, etc. Finalizou, salientando a fala do deputado Valdeci Oliveira (PT), onde afirmou a necessidade de haver sanções em caso de descumprimento da lei e afirmou que uma legislação só é boa se for clara desde seu conteúdo até a sua aplicação efetiva.