• Nenhum resultado encontrado

Data: 22-04-2013

Convidados: Promotor de Justiça Fábio Roque Sbardelotto, que atua na Promotoria

Especializada da Habitação e Defesa da Ordem Urbanística do Ministério Público Estadual, e defensor público João Otávio Carmona Paz, dirigente do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública.

1. Exposições

O Dr. Fábio Roque Sbardelotto iniciou falando da promotoria especializada em Porto Alegre que trata da proteção e da defesa da habitação e da ordem urbanística. Disse que, historicamente, o Ministério Público tem atuado na prevenção de incêndios e na fiscalização. Falou que a Promotoria atua no âmbito dos inquéritos civis para apurar irregularidades em estabelecimentos comerciais, bares, restaurantes, casas de diversão, prédios multi-habitacionais e inclusive prédios públicos que muitas vezes tem problemas de prevenção contra incêndio. Disse que, no Município de Porto Alegre há uma diversidade de legislações sendo aplicadas. Salientou que, no interior do Estado, o panorama encontrado é que em alguns municípios maiores, há uma legislação local vigente concomitantemente à legislação estadual mas, em grande parte dos municípios, inclusive em alguns de porte médio ou até grande, não há legislação local. Neste caso é levada em conta a legislação estadual. Afirmou que não há uma legislação federal específica de prevenção de incêndio. Sugeriu que em âmbito federal haja uma legislação “guarda-chuva” estabelecendo as regras básicas mínimas de prevenção de incêndio e de estabilidade estrutural dos prédios. Quanto à legislação estadual, falou da atuação do Corpo de Bombeiros. Registrou que é uma corporação que desempenha de forma exemplar as funções a despeito das dificuldades que sempre encontraram. Falou que, a partir da legislação estadual, os estabelecimentos protocolizam o PPCI nos Bombeiros, mas mesmo antes da emissão do laudo, entendem que já estão aptos ao funcionamento. Arrazoou que outro problema é o vencimento dos alvarás, que por lei devem ser renovados. Afirmou que a lei diz que os bombeiros podem interditar se não houver as

mínimas condições de segurança. Sugeriu a previsão de prazos de renovação e especificações sobre interdição. Disse que há muitos estabelecimentos irregulares e que a medida da interdição é terrível. Em prevenção de incêndio não há margem de tolerância porque o risco é irreparável. A seguir falou da complexidade das cidades, por isso a recomendação da Promotoria para área de prevenção de incêndio é de ação imediata no sentido da regularização e/ou interdição. Fez referência à interdição por medida judicial do prédio que abriga a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e a Fepam. Em seguida entregou minuta de projeto de lei como contribuição do Ministério Público no sentido do aperfeiçoamento da legislação existente.

O Dr. João Otávio Carmona Paz iniciou sua fala abordando a atuação da Defensoria Pública na tragédia de Santa Maria, focada no acolhimento e na proteção das pessoas vitimadas no evento. Após foi feito um processo de conhecimento e responsabilização, onde foram constatadas as falhas da leis. Afirmou que a existência de lei local e lei estadual sobre a mesma matéria não é o mais adequado. Salientou que o profissional que vai atuar na prevenção de incêndios deve conhecer a fundo a legislação que incide sobre a matéria, e que a mesma seja o mais abrangente possível, em termos de território, como um código estadual de segurança contra incêndios e pânico, com aplicação em todo o Estado. Referiu que as mortes muitas vezes acontecem por asfixia e que a legislação não prevê procedimentos para exaustão da fumaça. Também, nestas situações de emergência, sempre ocorre a falta de conhecimento e treinamento dos funcionários das empresas, empreendimentos e boates que registram um fluxo muito grande de pessoas em suas instalações. Sugeriu que a nova lei deve prever esta capacitação e que atividades econômicas de risco devem oferecer seguro para seus clientes. Quanto à questão dos licenciamentos, mesmo com a revisão anual, afirmou que pode haver irregularidade pela irresponsabilidade dos proprietários quanto à manutenção dos equipamentos de prevenção, devendo a fiscalização ser sistemática. Afirmou que a superlotação das casas noturnas é uma regra em todo o Estado. Finalizou falando do aparelhamento do Corpo de Bombeiros, pois de nada adianta tratar a prevenção, se não há bons equipamentos para os bombeiros extinguirem os incêndios.

O deputado Gerson Burmann (PDT) destacou a importância da fiscalização. Concordou que as responsabilidades precisam ficar bem claras na nova lei. E que a lei tem de informar quem pode fechar uma casa e não permitir que funcione. Precisa ficar claro se são os bombeiros, ou se é a prefeitura. Disse que se o Ministério Público fizer um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), a responsabilidade será dele; se o juiz der uma liminar, a responsabilidade será dele.

O deputado Paulo Odone (PPS) falou que, na condição de presidente da Comissão Extraordinária de Representação Externa, acompanhou o trabalho da Defensoria Pública e dos Promotores de Santa Maria. Uma das sugestões da Comissão foi que o processo indenizatório, aos familiares da vítimas, seja viabilizado com rapidez. Falou da dificuldade em disciplinar matérias de prevenção de incêndio, gestão de multidões e ambientes coletivos Disse que no exterior, principalmente na Inglaterra e nos Estados Unidos, há faculdades dirigidas com cursos e cadeiras sobre gestão de multidões e envolvendo ambientes fechados. Também salientou que, quanto à questão das fiscalizações contínuas, é preciso saber quem faz essa fiscalização no dia a dia e quem segura o excesso de lotação na porta de um estabelecimento. Finalizou dizendo que é necessário disciplinar a responsabilidade compartilhada no caso da segurança contra incêndio.

O engenheiro Carlos Wengrover sugeriu que a nova legislação adote o laudo técnico mensal como forma de fiscalização contínua dos equipamentos de segurança contra incêndio. Falou que os proprietários dos estabelecimentos sujeitos ao laudo técnico terão que pagar um responsável técnico que fará revisões mensais no edificação, a exemplo do que acontece nas edificações com elevador.

O senhor Carlos Todeschini falou do compartilhamento de responsabilidades e do papel que a sociedade civil tem no controle e fiscalização permanente.

O senhor Sergio Diehl fez comentários sobre a necessidade de seguros em eventos que utilizem pirotecnia; fiscalização contínua e do responsável técnico para eventos.

O Dr. Alexandre Saltz disse que trabalhou no grupo do Ministério Público que concluiu pelo encaminhamento da proposta de lei ao Governador do Estado. Disse que a proposta parte de alguns pressupostos constitucionais, como a possibilidade de todos os entes legislarem sobre a matéria. À União cabe estabelecer as regras gerais, ao Estado definir aquelas que são de sua competência e, aos municípios cabe detalhar os regramentos de forma mais restritiva. Afirmou que a responsabilidade é do profissional que trabalha no meio. Para resolver alguns problemas, o projeto de lei prevê que nenhuma autorização, seja licença ambiental, seja o alvará de funcionamento, seja a licença precária, que é dada aqui em Porto Alegre, possa ser concedida sem que haja o alvará do Corpo de Bombeiros. O segundo pressuposto é o de que, na dúvida, a única providência cabível para os bombeiros seja a interdição do local, e não só a fiscalização de maneira geral. A manutenção daquele estabelecimento funcionando passa a ser uma atividade excepcional e, por isso, precisa ser fundamentada, porque a exceção fundamentada pode ser razoável. O terceiro pressuposto é trabalhar o conceito da responsabilidade técnica. Relatou que no TAC, o qual foi assinado para a adequação sonora da Boate Kiss, previu somente adequação sonora; quanto às demais autorizações, havia um profissional responsável da área da arquitetura. Disse que há uma ART que está no inquérito. Afirmou que certamente cabia àquele profissional encaminhar, junto à prefeitura, a aprovação daquele projeto para cumprir o TAC. Então, a culpa do incêndio não foi do TAC. Há um profissional, com a ART, que não cumpriu com a sua função. O PL prevê outros estabelecimentos além das casas noturnas, como hospitais, supermercados, restaurantes, shoppings, repartições públicas, escolas, creches em que o resultado de um evento desses pode ser muito mais desastroso do que aconteceu na Kiss.

O engenheiro Alexandre Rava Campos disse que a formatação atual da legislação e do SIG-PI passa para o proprietário toda a responsabilidade. No entendimento do participante a responsabilidade é técnica e não do proprietário.

O Dr. João Otávio Carmona Paz esclareceu que no processo de responsabilização existe a parte criminal e a parte civil de indenização. A parte civil cabe à Defensoria Pública.

3. Considerações Finais

Em considerações finais, o Dr. João Otávio Carmona Paz falou das multas e fechamento do estabelecimento para que as edificações fiquem mais seguras para seus frequentadores.

O Dr. Fábio Roque Sbardelotto voltou a frisar a necessidade de interdição por parte do Corpo de Bombeiros dos estabelecimentos que apresentam irregularidades. Disse que isto é importante para evitar as zonas cinzas, onde o Poder Público já sabe que há problemas com a edificação, mas expede multas ou pedidos de regularização. Quando as irregularidades oferecem risco de vida, deve haver a interdição pelo corpo de Bombeiros, para que as adequações sejam feitas. Concluiu falando da falta de prevenção contra incêndio nos hospitais e escolas do interior. Salientou ser necessário que a lei estabeleça que estas edificações terão que se adequar às normas de segurança.

O senhor Heraldo Perin solicitou esclarecimentos em relação às competências legais dos municípios e do Corpo de Bombeiros. Os painelistas reafirmaram as competências legais complementares dos municípios, bem como a competência legal do Corpo de Bombeiros de interditar os estabelecimentos que ofereçam risco à permanência de pessoas.