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Data: 08-04-2013

Convidados: Ary Vanazzi, presidente da Famurs (Federação das Associações de

Municípios do Estado do Rio Grande do Sul), foi prefeito de São Leopoldo e o secretário do Município de Canoas, engenheiro Carlos Todeschini, representante do escritório de Engenharia e Arquitetura da Prefeitura de Canoas, foi vereador e presidente do Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE) de Porto Alegre.

1. Exposições

Em exposições, Ary Vanazzi falou sobre a realização de um congresso que reuniu quase 380 municípios em fevereiro, em data próxima ao acontecimento de Santa Maria, e em torno de setenta por cento dos municípios disseram que não têm condições técnicas de fazer fiscalização e controle de segurança contra incêndio, pois não têm quadro técnico capacitado e qualificado na sua cidade para fazer os laudos de inspeção. Sustentou que muitos municípios não têm hoje um plano diretor adequado; não têm um código de postura elaborado – se têm, foram planos diretores, códigos ou legislações feitos ainda nas décadas de 70 e 80. Naquela época, contratava-se uma empresa de São Paulo, que muitas vezes fazia um plano diretor sem saber qual era a cidade e onde se localizava. Explanou que existe uma série de dificuldades nos municípios em função das deficiências técnicas ligadas à própria modernização da gestão pública. Avaliou que é preciso olhar a política de modo geral, a partir da contextualização política, econômica e social do nosso país, e não extrair dados pela média ou com base em números que não são reais. Explicou que, avaliando as cidades gaúchas, talvez quarenta por cento da áreas estejam em situação ilegal. Isto se deve ao fato de que até dez anos atrás, o loteador, quando iniciava um loteamento, fazia um traçado, abria as ruas – não colocava esgoto, não colocava nada –, e marcava o lote e o vendia com contrato de gaveta. Isto faz com que até hoje, o comprador não tenha escritura, bem como que o terreno não conste do mapa da cidade. Afirmou que boa parte do funcionamento do comércio se dá a partir do conhecimento real da cidade mas, do ponto de vista objetivo, o local não está

no mapa da cidade, e o proprietário não tem escritura. Muitos proprietários, quando vão pedir uma instalação, não têm habite-se de onde moram. Eles têm Imposto Predial Territorial Urbano) IPTU pago, mas o imóvel não está legalizado porque a cidade foi sendo construída assim nos últimos 40 ou 50 anos. Afirmou que em consequência da grande migração, as cidades não têm planejamento. Em São Leopoldo, de 15 a 20 mil domicílios ainda não têm documento objetivo da sua terra, porque é área ilegal. Informou que, nesses casos, a prefeitura tem de autorizar pois é uma moradia de 30, 40 ou 50 anos, ou seja, a prefeitura a reconhece. Depois fez os seguintes questionamentos: Como se faz um projeto? Como se pede a licença de instalação? Como se monta o negócio em um caso como este? Entende que estas questões tem de ser consideradas no debate sobre a nossa legislação, sob pena de ocorrerem problemas do ponto de vista da institucionalização e da operacionalização. Expôs as dificuldades de comunicação entre os diversos entes envolvidos no licenciamento e fiscalização (proprietários, entidades profissionais, engenheiros, arquitetos, prefeitura, bombeiros). Acredita que todos os envolvidos cumprem o seu papel, mas falta transversalidade. Disse que na maioria das cidades há um conflito entre os bombeiros e a prefeitura municipal, pois há dinheiro envolvido no licenciamento. Contribuiu afirmando que padronizar a legislação vai permitir que haja transversalidade e um poder de decisão um pouco mais coletivo e transparente. Hoje as ações não são transparentes, e isso gera uma série de dúvidas, uma série de dificuldades na elaboração e na estruturação dos projetos nas nossas cidades. A maioria dos órgãos públicos do Rio Grande do Sul não está adaptada às novas normas. Citou como exemplo, a falta de aplicação da Lei da Acessibilidade. Acredita que talvez trinta por cento dos prédios que existem atualmente nas cidades do Rio Grande do Sul já estão de acordo com a Lei Federal. Em prédios de 40 anos, não há como colocar um elevador. Também não se pode derrubar parte de certos prédios para fazer calçada. Reconheceu que temos hoje um gargalo estruturante extraordinário. Sugeriu que para resolver o problema, é necessária uma ação forte do Ministério Público e de outros órgãos de justiça. Afirmou que a Famurs está trabalhando muito pela qualificação desse setor, ajudando a elaborar o arcabouço legislativo nas câmaras municipais, para que elas possam se modernizar e se adaptar. Disse que a entidade está prestando assessoria aos municípios, e tentando construir um padrão que dê a possibilidade de melhorar o processo de controle e fiscalização na questão das licenças e da operação das instituições municipais. Lembrou que ainda existe medo do controle público sobre a gestão privada, onde vinte por cento dos negócios no comércio são informais. Os negociantes não procuram a prefeitura para se legalizar, apesar de todos os programas que facilitam a vida do empreendedor. Por exemplo, se esses pequenos empreendedores

regularizam sua situação, estarão também contribuindo para a sua aposentadoria. Afirmou que o estado ainda é visto como um ente fiscalizador, complicador e perseguidor, e não como indutor do desenvolvimento econômico. Disse que a resistência à regularização é cultural e muito presente no investidor, empreendedor, empresário e comerciante. Citou um projeto de lei do Tribunal de Contas que trata da corresponsabilidade do secretário municipal em todos os atos que ele pratica. A partir disso se constrói uma cadeia de responsabilidades que vai ajudar no controle e fiscalização. Concluiu dizendo que os prefeitos não conseguem ler todos os alvarás que assinam, por isto tem que confiar nos secretários e demais agentes públicos. Por isso também é preciso construir um debate para articular, nos municípios e no Estado, todos os órgãos que fiscalizam. É preciso que tenham um balizador, sem padronizar tudo. Seria necessária uma legislação que considere a transversalidade do ponto de vista da fiscalização.Concluiu afirmando que o problema é que não há interação entre os órgãos competentes e responsáveis.

O painelista Carlos Todeschini falou que uma lei de sua autoria, que regulamenta a inspeção predial, não foi aprovada em Porto Alegre, mas que em Canoas já está em vigor, a exemplo de outras cidades brasileiras. Afirmou que uma medida lúcida, que consta da lei, foi fazer com que o Poder Público compartilhasse com os órgãos paraestatais, no caso o CREA, a responsabilidade pelas edificações. Disse que os problemas diminuíram depois que se transferiu essa responsabilidade para um profissional com o recolhimento da ART e fiscalização do Conselho. Salientou que o Certificado de Inspeção Predial está embutido nessa ideia de compartilhar com a sociedade e com os profissionais habilitados a responsabilidade pelo controle. Quando se tem uma lei de inspeção predial, é de responsabilidade do engenheiro ou do arquiteto a verificação de todas as condições, e o laudo vai permitir ao Poder Público entregar um certificado de inspeção predial. Afirmou, portanto, que o ''jogo de empurra'' ocorrido no caso da boate Kiss não poderá mais acontecer, porque, primeiramente, haverá um profissional habilitado, preparado e especializado na matéria. Disse que ele será responsável pela verificação das condições mínimas de salubridade, de funcionamento, de todos os quesitos e de todas as exigências que vão autorizar o funcionamento daquele equipamento, seja de coberturas, de fachadas, de lajes, de tubulações e de gases. Afirmou que o Certificado de Inspeção Predial atribui ao profissional uma grande responsabilidade, o que é difícil para o Poder Público, porque são muitas idas e vindas

com relação ao Corpo de Bombeiros, à fachada, ao funcionamento, ao exaustor, à porta de emergência e ao ruído. Salientou que com o certificado se terá um profissional autorizado e credenciado para responder qualquer problema. Falou que os custos foram avaliados em torno de dez reais por apartamento, por ano, mais ou menos, nos anos em que forem feitas as inspeções que deverão ser feitas nos prédios novos - de zero a 20 anos -, uma vez a cada cinco anos. Disse que no município de Canoas, para fins de inspeção, as edificações foram classificadas em três categorias: em edificações de 20 a 50 anos, as inspeções devem ser feitas uma vez a cada três anos; de 50 anos em diante, uma vez a cada ano. Haverá categorias conforme a complexidade: baixa, média e alta complexidade, com custos variáveis. Observou que a questão dos custos é um dos óbices à aprovação das leis que regulamentam a inspeção. Falou que a Lei Municipal nº 5.737/2013, cria o Certificado de Inspeção Predial em Canoas, que determina que um profissional apresente um laudo afirmando que todos os itens foram atendidos, e a Prefeitura de Canoas emite sem custos o certificado, pois o custo da contratação do profissional será do proprietário. Em Canoas, não será exigido o laudo de residências unifamiliares de até dois pavimentos e de prédios de programas habitacionais de até cinco pavimentos, mas os demais - incluindo todos os prédios comerciais - estarão sujeitos à inspeção exigida em lei. Ressaltou que depois de 50 anos de construção, os prédios de programas habitacionais também estarão sujeitos à inspeção anual, uma vez que as edificações sofrem como as pessoas, que, com o passar da idade, vão adquirindo patologias. Concluiu dizendo que deverão ser feitas revisões construtivas, sendo que a inspeção deverá ser balizada de acordo com as normas da ABNT. Disse, ainda, que a lei de inspeção municipal será regulamentada por decreto.

2. Debates

O engenheiro Carlos Wengrover sugeriu que a inspeção predial deve incluir a prevenção de incêndio.

A senhora Rosemarie Stein criticou o fato de ter sido chamado um americano para palestrar, mostrando nossa dependência em relação aos Estados Unidos, que não se justifica pois temos tecnologia e capacidade técnica para resolver nossos problemas.

O senhor Regis Olsen Nunes reforçou a necessidade de que todos os municípios tenham Defesa Civil.

O tenente-coronel Riccardi elogiou o prefeito de Canoas, Jairo Jorge pela agilidade com que foram tomadas providências no sentido de haver uma lei municipal de inspeção predial.

O deputado Vinicius Ribeiro (PDT) disse que é arquiteto e hoje atua também como legislador. Salientou que fez projetos de casas noturnas em Caxias do Sul, que estão licenciadas, fiscalizadas e em funcionamento. Falou que mesmo depois do incidente em Santa Maria, em que pese ainda não ter ocorrido mudanças na legislação, mudou-se a postura e a interpretação. Como deputado depara-se com toda a realidade estadual e também com a legislação de Porto Alegre. Relatou que o prefeito José Fortunati está tomando todas as providências para regularização das casas de diversões de Porto Alegre.

O presidente, deputado Adão Villaverde (PT), questionou os expositores sobre os instrumentos que os municípios levam em consideração quanto ao plano de prevenção contra incêndios. Indagou onde estão as principais lacunas em relação a essas questões e como é visto o sistema de segurança, desde o estudo de viabilidade urbana.

O deputado Jurandir Maciel (PTB) questionou os expositores sobre o alvará de localização versus alvará de funcionamento.

Em considerações finais, o secretário de Canoas, Carlos Todeschini afirmou que a lei só é eficaz na medida em que é objetiva, clara e capaz de dar conta de todos os aspectos envolvidos na inspeção. Por isso, a ideia do Certificado de Inspeção Predial simplifica, pois a responsabilidade será do profissional habilitado junto ao CREA ou ao CAU, que fará a síntese da verificação de todos os elementos que devem ser considerados: plano diretor, e as previsões legais, o funcionamento, a atividade e os demais aspectos que devem ser levados em conta tecnicamente. Afirmou que o laudo de inspeção compreende: PPCI, condições de habitabilidade, salubridade, funcionamento, equipamentos. Quanto à multidisciplinaridade, disse que deveria ter um instrumento eficaz para parar o ''jogo do empurra'' e que, para isso, é preciso simplificar a legislação. Nem toda norma precisa virar lei, mas toda norma tem de ser obedecida mediante a responsabilidade de um profissional. Disse que quando se trata de regularização, geralmente os cidadãos perguntam: Como vou fazer? Meu prédio tem 50 anos e nem

planta tem. Respondo: Se o seu prédio tem 50 anos e nem planta tem, é uma boa hora de o senhor começar a se preocupar em fazer a planta e saber o que tem sobre sua cabeça e o que tem sob seus pés. Esse é o mínimo de norma e regra que temos para

quem quer viver em uma cidade.

O senhor Ary Vanazzi dissertou, brevemente, sobre os aspectos culturais que envolvem o cumprimento das leis, e as dificuldades que as prefeituras têm quanto à fiscalização e atualização das leis. Explicou que não é fácil enfrentar inúmeros debates que têm de ser feitos nas nossas cidades: a poluição visual; a normatização da mobilidade urbana; a fiscalização predial; o cumprimento do plano diretor, entre outros. Finalizou dizendo que nestas questões legais, sempre há aspectos culturais, políticos e econômicos envolvidos.