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Data: 04-03-2013

Convidados: Engenheiro Civil Luis Capoani, presidente do CREA-RS e Professor Luis

Carlos Pinto da Silva Filho, Coordenador da Comissão de Especialistas constituída

pelo CREA-RS, que analisou o sinistro da boate Kiss em Santa Maria, diretor do Centro Universitário de Estudos e Pesquisa sobre Desastres (CEPED/RS) e diretor da Escola de Engenharia (EE) da UFRGS.

1. Exposições

O presidente do CREA-RS, Alcides Capoani, iniciou sua fala falando da luta dos engenheiros pela uniformização da lei de segurança contra incêndio. Mencionou incidentes recentes em Capão da Canoa e na Arena do Grêmio. Fez observações sobre a formação dos engenheiros, do trabalho conjunto destes e dos bombeiros e a complementaridade do projeto de prevenção contra incêndio. No que diz respeito ao sinistro ocorrido em Santa Maria, sugeriu a necessidade de trabalho integrado entre municípios, estado, Ministério Público, Delegacia Regional do Trabalho, engenheiros e bombeiros.Citou o Decreto n.º 37. 380/1997, que em seu artigo 3º diz: ''Compete ao

Corpo de Bombeiros da Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, a qualquer tempo, planejar, estudar, analisar, aprovar, vistoriar e fiscalizar todas as atividades, instalações e equipamentos de prevenção e proteção contra incêndios e outros sinistros em todo o território do Estado''. Falou sobre a responsabilização técnica quanto aos

projetos complementares; competências de cada profissional (engenheiros, bombeiros, fiscal do trabalho, promotor público) e a necessidade de respeitar o conhecimento técnico que o engenheiro tem sobre projetos e obras, e que os outros profissionais não tem. Mencionou a missão do CREA-RS, que é a fiscalização do exercício profissional em defesa da sociedade. Acredita que o CREA-RS também deveria ter o poder de embargar obras. Disse que a solução é criar um Departamento de Fiscalização para a

integração de todos os profissionais que atuam desde o projeto, execução, manutenção e fiscalização das obras.

O próximo painelista a discursar foi o professor Luiz Carlos da Silva Pinto. Informou que faria a apresentação do Relatório Técnico sobre o Incêndio Boate Kiss, ocorrido em 27 de janeiro de 2013, em Santa Maria. Disse que o mesmo foi elaborado pela Comissão Especial do CREA-RS, em cumprimento à missão institucional de fiscalização do exercício profissional e promoção da defesa da sociedade, e na compreensão da responsabilidade de envidar todos os esforços para entender o acontecido e tirar lições e aprendizados técnicos que ajudem a elucidar quais as falhas, deficiências e demandas de melhoria do sistema gaúcho de Segurança contra Incêndio e Pânico (SCIP). Fizeram parte da Comissão os seguintes especialistas: professor e engenheiro Luiz Carlos Pinto da Silva (coordenador), engenheiro Carlos Wengrover (coordenador adjunto), engenheiro Eduardo Estevam Camargo Rodrigues, engenheiro Telmo Brentano e engenheiro Marcelo Saldanha. O relatório se estruturou da seguinte maneira: 1. Estrutura do Relatório Técnico: introdução, escopo, considerações sobre a estrutura atual da legislação de segurança contra incêndio e pânico, histórico de utilização da edificação, parecer técnico (preliminar), proposta de ações e anexo. Para a elaboração do relatório, foram examinados documentos, tais como arquivos do CREA- RS, Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), alvarás e licença, Plano de Prevenção e Combate ao Incêndio (PPCI), testemunhos, relatos e também foi feita visita ao local, em 31-01-2013. Na visita, foi feita a análise do material (composição, toxicidade e reação ao fogo), a dinâmica do incêndio quanto à deterioração de materiais, marcas de fumaça e verificação da configuração dos espaços. 2. Parecer Técnico: Causas do incêndio: emprego de revestimento acústico inflamável sem licença prévia e sem informar autoridades; ausência de requisitos de norma/certificação; ausência de projeto de Segurança contra Incêndio e Pânico (SCIP) elaborado por profissional qualificado; uso de material pirotécnico sem licença e sem informar autoridades; uso de material inadequado. Falhas no combate à propagação do incêndio: falha do extintor; uso inadequado e falta de treinamento para uso; falta de percepção de risco; falta de treinamento para controle de pânico; não havia equipamentos de combate ao incêndio como sprinklers; equipamento de exaustão de fumaça; cortinas; Powder Balls; aberturas; havia bloqueio das saídas de emergência e ocupação acima do permitido; sem alarme e falha da iluminação de emergência. 3. Ações Urgentes: 3.1) Desfragmentar,

consolidar e atualizar a legislação, 3.2) Atualizar e complementar as normas 3.3) Materiais, 3.4) Compartilhamento de obrigações de fiscalização, 3.5) Estabelecer papel do projeto de segurança contra incêndio como parte fundamental da maioria dos PPCIS, 3.6) Capacitação técnica do Corpo de Bombeiros, 3.7) Assegurar a autonomia com recursos: bombeiros, prefeitura e CREA-RS, 3.8) Reformar o Sistema SIG-PI, 3.9) Orientar e incorporar protocolos legais, 3.10) Facilitar a fiscalização através de sistemas de informação integrados e criar força tarefa emergencial com o tripé: engenheiro, arquiteto e Corpo de Bombeiros. 4. Proposta de Ações: 4.1 Criação de forças tarefa nos municípios de grande porte para analisar a situação vigente em locais de risco, 4.2 Criação de uma Comissão de Estudos para mapear as deficiências no corpo normativo relacionados à matéria, 4.3 Criação de uma Comissão Parlamentar Multipartidária para elaborar um Código Estadual de Segurança contra Incêndio e Pânico, 4.4 Edição de decreto do Governo de Estado disciplinando, provisoriamente, questões urgentes relativas à SCIP, 5) Criação de uma Comissão de Estudos para desenvolver um projeto ao Sistema CONFEA-CREA, 6) Criação de uma Campanha Institucional Estadual para divulgação de informações e melhoria da percepção de risco, 7) Criação de uma Comissão de Trabalho para estudo e implementação de um Plano Emergencial de Capacitação específico para os profissionais atuantes na área, 8) Solicitar à ABNT, através do CB-24, a abertura de Comissão Especial visando elaborar propostas de normas brasileiras para especificação de materiais de revestimento e requisitos mínimos para SCIP em edificações destinadas a reuniões de público, 9) Criação e operacionalização de um Departamento Técnico no Corpo de Bombeiros, 10) Buscar linhas de financiamento para criação de um Centro de Referência Laboratorial, 11) Criação de uma Comissão de Trabalho para analisar avanços nos Sistemas de Sinalização e Iluminação de emergência, 12) Estabelecer uma Comissão de Trabalho para revisar e melhorar o Sistema Integrado de Gestão de Prevenção de Incêndio (SIG- PI), ou criar um novo modelo de gestão digital.

2. Debates

Nos debates, o deputado Valdeci Oliveira (PT) informou que, em contato com a Coordenadoria de Saúde de Santa Maria, soube que mais de 800 pessoas já procuraram

os setores de saúde do município para atendimento. Disse que a nova legislação deverá ser articulada com o Governo Federal e o Congresso Nacional.

O engenheiro Carlos Wengrover, que atua na área de segurança (elaboração de PPCI) lembrou do trabalho realizado pelo deputado Adão Villaverde em 2004, quando foi elaborada uma minuta de lei que não teve andamento nesta Casa.

3. Considerações Finais

O convidado Alcides Capoani afirmou, em suas conclusões, que não é contrário ao SIG- PI, pois é uma ferramenta que o Corpo de Bombeiros pode utilizar. Disse que após a tragédia de Santa Maria, todos deveriam evitar qualquer corporativismo: os engenheiros, os arquitetos, a Justiça, o Ministério Público, o Governo do Estado e os legisladores. O professor Luiz Carlos Pinto salientou que o PPCI é estratégico e deve explicar o que fazer em caso de incêndio. Quanto ao SIG-PI, disse que é um sistema que utiliza códigos básicos, mas precisa da inteligência dos engenheiros. Falou da necessidade de valorização da carreira de bombeiros e da necessidade de criação de bombeiros civis, que poderão agir em complementação ao Corpo de Bombeiros. Sustentou que a questão da educação para a prevenção é primordial.