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Construção: Promon Engenharia SA. Fonte: Fundação do Memorial da América Latina

A geometria deste edifício se desenvolve a partir de três arcos de circunferência, dois segmentos de reta, que possibitam a criação de duas lajes e duas retas tangentes nas extremidades do auditório. Essa oposição reta / curva é analisada por Décio Pignatari (1981) que comenta que tal solução é uma crítica ao funcionalisto extremo que une a reta funcionalista com as curvas do barroco. Essa solução foi também utilizada nos projetos dos palácios de Brasília, onde o edifício expressa uma funcionalidade e ortogonalidade e as colunas se desenvolvem a partir de um formalismo e uma plasticidade típica da arquitetura de Oscar Niemeyer. Zein (2007) enaltece o projeto do auditório e descreve

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que as curvas lembram o perfil da serra da Cantareira na zona norte de São Paulo.

Figura 1.30 – Construção do Auditório Simon Bolívar. Fonte: SUSSEKIND, 1989.

Nota-se na Figura 1.30 a concretagem da escada helicoidal que dá acesso às passarelas laterais do Auditório e a instalação dos montantes metálicos dos fechamentos laterais, nas Figuras 1.30 e 1.31 é possível observar duas das três abóbodas que compõem a cobertura do edifício, a marquise curvilínea em balanço sobre o acesso ao prédio, parte do pórtico e um dos anexos laterais.

A geometria desse projeto se desenvolve a partir de três arcos de circunferência e dois segmentos de reta, que possibitam a criação de duas lajes, além de duas retas tangentes nas extremidades do auditório.

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analisando inclusive um dos objetos de estudos desta pesquisa, o Auditório Simón Bolívar. Porém, a autora utiliza como objeto de análise o projeto preliminar do Auditório, com proporções diferentes da construída. Existem grandes diferenças entre o projeto preliminar (dezembro/1987) e o executivo (março/1988). A autora fundamentou sua dissertação na busca por retângulos áureos, investigando diferentes proporções em planta e na fachada, como observado na Figura 1.33.

Figuras 1.31 e 1.32 – Fotos externas do Auditório Simon Bolívar. Fonte: Breno Veiga, 2015.

Ao estudar a análise geométrica proposta por Mayer (2007) constata-se que a autora não identifica as conexões existentes entre arcos de circunferência e suas tangentes. Seu estudo está mais focado na relação de proporção entre partes e todo, consequentemente identificando quadrados, retângulos áureos presentes na composição forma.

Esta pesquisa tem como objetivo investigar o projeto executivo e analisar as diferentes geometrias que compõem a forma, o desenvolvimento da geometria da casca de concreto, por meio da análise dos raios de circunferências, das tangentes e dos segmentos de reta.

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computador e acrescentou: “Para um desenvolvimento de uma gramática abrangente a toda obra do arquiteto, seria

necessária a automatização do processo generativo de suas obras através do uso de computador.” (MAYER, 2007, p.

95).

Figura 1.33 – Confrontação de projetos e análises do Auditório Simón Bolívar. Fonte: VEIGA, FLORIO (2015).

Esta dissertação se propõe a dar continuidade ao estudo proposto pela autora, usando métodos de análise computacionais e utilizando métodos de fabricação digital para produzir alguns modelos tridimensionais que auxiliarão no entendimento da composição da forma empregada pelo arquiteto.

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Considerações

O Parque Ibirapuera e o Memorial da América Latina são dois grandes exemplos de edifícios implantados em conjunto e projetados por Oscar Niemeyer, um projetado nos anos 1950 e outro no final da década de 1980. Os dois exemplos apresentam uma geometria curvilínea, porém, a forma curva aparece de maneiras diferentes.

Diversos autores supracitados apontam como as principais obras do arquiteto: o Conjunto Arquitetônico da Pampulha e Brasília, nos quesitos de liberdade plástica e técnica construtiva. O projeto mineiro se tornou o primeiro experimento de Niemeyer em projetar um edifício que desafia os padrões impostos pelo funcionalismo rígido, característico da arquitetura corbusiana do começo da década de 1940 e demonstrou novas possibilidades, conciliando técnica e plástica.

Durante a década de 1950, Niemeyer adapta diversas características da geometria de Pampulha em diversos projetos paulistanos: a Fábrica Duchen, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica e até mesmo, no projeto preliminar dos Pavilhões das Indústrias e do Palácio das Artes.

É interessante notar que após sucessivas alterações no projeto executivo, as formas e a geometria das construções do Parque Ibirapuera ficaram mais restritas. Primeiramente, verificou-se que a Marquise ficou menos articulada, apresentando menor dimensão; o Pavilhão da Bienal (1952) perdeu seus pórticos; edifícios como o restaurante, que previa uma laje estaiada como cobertura, o auditório do Parque e a marquise que ligaria a Oca ao auditório nunca foram construídos.

É possível citar que existe uma notável diferença entre o Conjunto da Pampulha e o Conjunto do Ibirapuera. No projeto mineiro existe uma maior variedade de formas, enquanto no projeto paulista existe uma maior concordância entre as partes. Talvez por uma questão de escala, a distância entre os edifícios do Ibirapuera é muito menor que a da

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Pampulha, Niemeyer criou um projeto que contém uma unidade geométrica e arquitetônica.

É possível observar a criação de uma família de elementos que apresentam geometria curvilínea no projeto do Ibirapuera: pilares em V (Pavilhões da Agricultura, Nações e Estados), pilares em Y (Pavilhões das Indústrias, Nações e Estados), grandes vazios curvilíneos nas lajes dos pavimentos (Pavilhões das Indústrias, Agricultura, Nações, Estados e Palácio das Artes) e grandes coberturas curvilíneas (Pavilhões da Agricultura e Marquise).

No Pavilhão da Bienal (1952), a criação do vazio na laje, além de proporcionar uma continuação das curvas observadas no exterior do edifício, valoriza a plástica do pilar em formato de “grande tronco” (VALLE, 2000), que suporta as rampas, proporcionando uma continuidade espacial entre os diferentes pavimentos, algo que será visto em diversas obras do arquiteto em períodos posteriores. O mesmo princípio é observado no Palácio das Artes (1953), onde os vazios nas extremidades das lajes criam um único espaço contínuo sob a grande cúpula em concreto armado. Em Brasília, o arquiteto contrapõe o pensamento que a “forma deve seguir a função”, Niemeyer cria um conjunto de edifícios altamente “representativos e simbólicos”.

A geometria curva, no caso do Parque Ibirapuera, se apresenta, em sua maioria, no plano, em planta: na marquise, no vazio do pavimento tipo do Pavilhão da Bienal (1952), na marquise do Museu de Arte Contemporânea (1953) e nos pavimentos da Oca (1953). No Memorial da América Latina a geometria, em maior parte, se apresenta no volume, na geometria das sucessivas cascas de concreto, presentes nas elevações e cortes dos três edifícios analisados por esta dissertação.

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